Nos séculos 19 e 20, cerca de 70 milhões de europeus saíram de seus
países de origem rumo às Américas e a Oceania. O livro Histórias
Migrantes – Um mosaico de nacionalidades e múltiplas culturas reconstitui
histórias das imigrações desses italianos, espanhóis, portugueses, franceses,
gregos, armênios, japoneses, judeus, além de sul-americanos como peruanos,
bolivianos e paraguaios, e também de imigrações mais recentes, como a dos
haitianos, entre outros povos. O lançamento será no dia 1º de outubro, a
partir das 18h30, na Livraria da Vila do Shopping Pátio Higienópolis, é
gratuito e aberto ao público.
Os professores da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas
(FFLCH) da USP, Sedi Hirano e Maria Luiza Tucci Carneiro, são os organizadores
da obra, que foi realizada com apoio da Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado
de São Paulo (Fapesp).
“O livro é resultado de um dos mais importantes projetos do Laboratório
de Estudos sobre Etnicidade, Racismo e Discriminação [LEER],
denominado Arquivo Virtual de Histórias Migrantes”, conta a
professora Maria Luiza Tucci Carneiro, coordenadora do LEER. A proposta desta
coletânea começou a tomar forma a partir de um seminário realizado em 2012, que
reuniu pesquisadores de diversas universidades brasileiras que pesquisam o tema
da imigração e fazem parte do Projeto Arquivo Virtual Histórias Migrantes.
Segundo ela, a ideia inicial foi do pesquisador Federico Croci,
professor da Universidade de Gênova, Itália, e que foi quem desenvolveu alguns projetos no
LEER. “O objetivo era criar um site com cartas de imigrantes. A ideia foi
ampliada com o objetivo de reunir vários pesquisadores que cedessem a
documentação por eles pesquisada e reproduzida para a elaboração de suas teses
e dissertações. Era uma forma democrática de compartilhar seus acervos com toda
a sociedade. O livro é a primeira contribuição deste projeto. Já o arquivo
virtual deve ser inaugurado em breve”, informa Maria Luiza.
Assim como o Arquivo Virtual
do Holocausto (Arqshoah), o Arquivo Virtual Histórias Migrantes vai
disponibilizar, além das cartas, os jornais das comunidades de imigrantes,
fotografias, testemunhos orais, legislação imigratória, vídeos, bibliografia,
entre outros documentos.
Além dos grandes ciclos imigratórios dos séculos 19 e 20, o livro também
traz textos que discutem um outro aspecto do tema, como as migrações forçadas.
É o caso dos refugiados de guerra, dos judeus que fugiram do nazifascismo
durante a Segunda Guerra (tema do texto da professora Maria Luiza), e dos
armênios após o Genocídio armênio, além de outras perseguições políticas ou
religiosas. Racismo e xenofobia também são tema de discussão, assim como as
questões de gênero, envolvendo mulheres imigrantes.
Átopos
O professor Sedi Hirano conta que as grandes impulsionadoras para esses grandes processos imigratórios dos séculos 19 e 20 foram as Revoluções Industrial e Francesa. Em seu texto, o docente discute a história das imigrações a partir do conceito de “Átopos” (deslocado, sem lugar, inclassificável) que o sociólogo francês Pierre Bourdieu (1930-2002) trouxe dos filósofos gregos Sócrates e Platão.
“Esses imigrantes eram pessoas que não cabiam mais na estrutura
econômica e social em seus próprios países de origem”, aponta Sedi Hirano.
Segundo o professor, isso ocorria devido a diversos fatores. “Muitos imigrantes
eram filhos não-primogênitos que não tinham mais lugar naquele ambiente, por
uma questão de sucessão familiar. Outros viviam em situação de miséria ou então
precisavam enfrentar catástrofes climáticas, como frio intenso ou terremotos”,
explica.
Ele lembra que muitos imigrantes europeus como italianos e espanhóis
eram analfabetos, condição que dificultava a inserção deles no país para onde
imigravam, trazendo conflitos ligados ao decorrentes de políticas imigratórias
e de uma realidade delineada pelo racismo, exclusão social e econômica.
Histórias cruzadas
O próximo passo do projeto, em 2015, será a publicação de uma segunda coletânea, resultante do seminário internacional realizado em 2013 e que tem como objeto as histórias cruzadas entre os imigrantes. Neste novo livro, os autores irão debater a convivência cultural e étnica entre os diversos grupos de imigrantes, como por exemplo, os judeus alemães frente a comunidade alemã como um todo, entre outros.
Agencia Usp
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