quinta-feira, 30 de abril de 2020

Sem emprego, imigrantes dependem de associações para comer



Centenas de imigrantes a quem a pandemia de Covid-19 tirou o emprego encontram agora na Associação Mundo Feliz “a única ligação” a uma rede de apoio no país onde vivem e que lhes garante um saco de comida por dia.

Quando na quarta-feira os relógios bateram as 9h já marcavam uma hora de espera e ansiedade. Em Algés, concelho de Oeiras, desde as 8h que a fila se alongava rua afora até à porta da associação que passou a ser o garante de sobrevivência de centenas de pessoas e famílias. O “Mundo Feliz” prometido no nome e escrito na porta apresenta-se agora como uma triste ironia para quem faz fila por um saco de alimentos e delimita uma fronteira entre o antes e o depois da pandemia.
“Podemos dizer que a vida das pessoas desde que começou a pandemia mudou totalmente. Temos 9.000 associados inscritos, mais de 5.000 ficaram sem emprego. Quer dizer que muita gente neste momento não está a receber apoios de lado nenhum”, disse Cecília Minascurta, presidente da Associação Mundo Feliz, uma instituição de apoio à integração de imigrantes, que ajuda nos pedidos de legalização e nacionalidade, inscrição na Segurança Social, procura de casa e emprego, abertura de contas bancárias, formação e apoio jurídico, entre outros aspetos.
A este universo junta-se um crescimento no apoio alimentar, que já existia, mas que agora chega a mais de 800 pessoas por mês, o triplo das 200 a 300 pessoas que costumavam ajudar.
É uma diferença muito grande. Os números triplicaram, às vezes não temos suficientes apoios. Às vezes estamos a parar para fazer mais sacos”, disse Cecília Minascurta.
Às 11h de quarta-feira, num dia em que esperavam receber entre 300 a 400 pessoas, já era a terceira fila que as técnicas da associação atendiam. Pelo meio houve uma paragem para encher mais sacos de bens essenciais, colocados numa mesa à porta da instituição e onde quem precisa se dirige, esteja ou não inscrito. Cecília Minascurta diz que não deixam de apoiar ninguém.
Há palavras de apoio para quem já é presença habitual e perguntas para ajudar a enquadrar a ajuda necessária para quem chega de novo. Há quem passe e saia com dois sacos e um “força, tudo a correr bem”, há quem pergunte se pode levar mais qualquer coisa, porque a família é grande, há quem leve uns doces extra que não estavam no saco, para alegrar as crianças em casa.
Jorge Beloz, chileno, também fez fila na quarta-feira. Aterrou em Portugal em setembro e recorreu à ajuda da associação desde o primeiro dia em Lisboa para tratar da sua regularização. Agora, sem o emprego de vitrinistas, Jorge e o companheiro precisam dela também para comer.
Estávamos a fazer montras, em lojas de decoração. Como está tudo fechado não podemos trabalhar. Estamos à espera do que vai acontecer quando acabar o confinamento. Não sabemos se os nossos clientes vão ter dinheiro para nos poder contratar para fazer as montras”, disse
 O dia-a-dia no país “tem sido muito difícil, mas ainda assim tranquilo, porque em Portugal as coisas têm funcionado bem”, sobretudo em comparação com o Chile, comentou.
Adriano Azevedo tem uma dupla preocupação e uma dupla necessidade. Em Portugal há dois anos e meio, o cidadão brasileiro e o filho, ambos empregados na área do espetáculo, estão sem trabalhar já desde fevereiro. Foi o primeiro setor a ressentir-se, com muitos adiamentos e cancelamentos, e pode ser dos últimos a retomar a normalidade.
“Eles estão pedindo para evitar o máximo possível e a gente tem que compreender, mas é uma situação difícil”, disse, adiantando que tem contado com o apoio da associação para procurar emprego nesta fase.
O desemprego foi “o milagre da multiplicação” dos problemas para a Mundo Feliz.
Temos a listagem com as pessoas que antes da pandemia já tinham problemas e agora se multiplicaram e vieram aqueles que ficaram sem emprego. São de diversas áreas. Até agora tinham uma vida estável, tinham uma vida mais um menos equilibrada, conseguiam pagar as despesas. De repente ficaram sem poder pagar a renda, não têm comida para dar aos filhos, têm dois, três filhos em casa. Estão a passar muitas dificuldades. Pelo menos é isso que estão a passar nos telefonemas”, disse Cecília Minascurta.
Pelo telefone presta-se agora muito “apoio emocional”, com uma equipa de atendimento reforçada e que conta com 10 técnicos, mas isso também é feito a quem lhes bate à porta.
“Cada dia se notam mais os problemas que têm em casa, os conflitos, a família, já se nota uma grande diferença. Cada vez as pessoas parecem mais nervosas devido aos problemas que têm em casa, nós tentamos acalmar, mas às vezes não é fácil“, disse Cecília Minascurta.
Os pedidos de ajuda chegam não só de Oeiras, mas também de concelhos e distritos próximos, como Lisboa e Setúbal, e não apenas de imigrantes. Com o desemprego a crescer, cresceram também os pedidos de ajuda dos portugueses.
Cada vez mais temos pessoas portuguesas a pedir ajuda, porque ficaram sem trabalho. Muitas no turismo, estavam com uma vida muito boa antes de a pandemia começar e praticamente desde fevereiro não receberam nada”, disse a presidente da associação.
Cecília Minascurta afirma que o apoio recebido do Banco Alimentar Contra a Fome de Lisboa tem sido fundamental para responder aos pedidos de ajuda, mas ainda que o banco procure “dar mais alguma coisa”, a associação tem precisado sempre de mais.
A gestão das muitas necessidades e pedidos para os poucos recursos tem sido o trabalho diário do Banco Alimentar (BA) e da Rede de Emergência Alimentar montada para responder à pandemia, explicou Isabel Jonet, presidente do BA, referindo que agora é preciso prestar mais atenção a sobreposições e fraudes e garantir que os alimentos são entregues pela associação mais próxima da zona de residência de quem pede ajuda.
“Esta é uma preocupação sobretudo para assegurarmos que todas as pessoas que têm necessidades recebem, porque os pedidos são muitos e os alimentos são em quantidade limitada e o que temos que fazer […] é assegurar que todas as necessidades podem ter uma resposta. Para isso temos que garantir aqui que todos os produtos que são entregues são entregues a uma família que necessita, nas quantidades que necessita”, disse.
Os imigrantes estão cada vez mais presentes nos pedidos de ajuda. Nos últimos dias o BA recebeu de Leiria um pedido de apoio para 150 pessoas de uma comunidade de cidadãos brasileiros que ficaram sem trabalho.
Os 12.060 pedidos que já chegaram ao BA abrangem cerca de 58 mil pessoas, calcula Isabel Jonet. Uma contabilidade em atualização permanente, por excesso, feita de casos particulares e de muito desespero, como o pedido presencial, no armazém de Alcântara, em Lisboa, de um homem que perante o amontoado de caixas de fruta gritava sem perceber porque não lhe davam pelo menos uma peça de fruta.
O caso relatado por Isabel Jonet serve também para explicar a razão para o BA nunca entregar alimentos e encaminhar sempre as pessoas para as associações mais próximas de suas casas. No dia em que abrirem uma exceção nunca mais deixarão de ter filas à porta.
Por vezes, encontram-se outras soluções. Sidónio Jorge perdeu o emprego na fábrica de montagem de cozinhas onde trabalhava, mas não a esperança de o recuperar quando a atividade económica retomar. Sem qualquer apoio, dirigiu-se ao BA para pedir ajuda e agora faz voluntariado, oito horas por dia, em troca de almoço diário e da garantia de apoio alimentar numa instituição perto de casa.
Já Francisco Albuquerque vai apenas para ajudar. Está em lay-off, tal como os restantes 10 empregados do restaurante onde trabalha e que se decidiu pela paragem depois de uma tentativa pouco lucrativa na modalidade de take-away.
Já tinha feito várias campanhas, já tinha estado cá no verão a trabalhar e soube que era preciso ajuda, até foi uma amiga minha que me aconselhou. Venho duas, três vezes por semana, também para poder ajudar em casa”.
Desde o início da pandemia também os telefones do BA não param. Criou-se um pequeno call-center, de voluntários “com boa vontade” para ajudar quem está do outro lado da linha.
“Apanhou-nos a todos de surpresa o que está a acontecer, temos pedidos a toda a hora, os telefones tocam constantemente, tentamos ajudar as pessoas e encaminhá-las para a rede de emergência alimentar que está aqui a funcionar de modo as pessoas ficarem apoiadas o mais rapidamente possível. É uma aflição para nós que estamos a atender os telefones, estamos a acompanhar as situações e a encaminhá-la. É dramático”, disse Carla Fernandes que já trabalha há duas décadas nos serviços de apoio do BA.
Quem liga às vezes precisa tanto de um ouvido e de empatia como de alimentos.
“As pessoas estão a passar tempos muito difíceis, sem comida em casa, sem emprego, com filhos, a quem não têm nada que dar, com pais, muitas pessoas com idade elevada que nos telefonam desesperados, que não têm ninguém que lhes dê apoio alimentar e [o trabalho] passa por ouvir. O que peço a todas as pessoas que estão a ajudar-nos nos telefones é que mantenham sempre a serenidade e uma paz que reconforte o coração que está do outro lado”, disse Carla Fernandes.
Isabel Alves
Observador
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Impedidos de voltar ao país pela quarentena, bolivianos são assistidos pela Red Clamor Chile

Bolivianos preparam-se para seguir para Iquique, onde ficarão 14 dias em quarentenas antes de poderem retornar à Bolívia
Na noite de terça-feira, as chancelarias do Chile e da Bolívia decidiram que os migrantes bolivianos deverão permanecer em quarentena em Iquique por 14 dias e só então poderão retornar ao seu país de origem. Já os refeitórios da Diocese de Iquique, sob responsabilidade da Pastoral Social da Caritas, continuam a funcionar neste período de pandemia para alimentar as famílias e os atingidos pela emergência econômica e sanitária provocada pelo coronavírus.

É dramática a situação vivida por mais de 700 migrantes bolivianos que, depois de terem de deixar o Chile devido à pandemia de coronavírus, não podem voltar para casa devido às medidas adotadas pelo governo boliviano. Um comunicado de imprensa da Pastoral Social da Caritas Chile a este respeito foi publicado no site do Episcopado chileno.
Diante dessa situação, a Red Clamor Chile - uma organização que se ocupa da migração e que inclui o Instituto Católico chileno para as Migrações (INCAMI), o Arcebispado de Santiago, o Vicariato da Assistência Social Pastoral, a Pastoral da Mobilidade Humana, o Serviço dos Jesuítas para os Migrantes e a Caritas Chile - imediatamente se mobilizou em apoio aos migrantes. Eles foram acolhidos nas instalações da Paróquia da América Latina - INCAMI, na casa de retiros da Sagrada Família, no município de La Cisterna, e na paróquia de Santa Cruz.
Na noite de terça-feira, as chancelarias do Chile e da Bolívia decidiram que os migrantes bolivianos deverão permanecer em quarentena em Iquique por 14 dias e só então poderão retornar ao seu país de origem.
O vice-presidente executivo do INCAMI, Lauro Bocchi, informou no comunicado que "há mais de 770 pessoas apoiadas e acolhidas na paróquia italiana" e deveriam viajar durante a noite em alguns ônibus com destino a Colchane. Bocchi sublinhou a dureza da experiência que esses bolivianos - mulheres grávidas, crianças, um paciente com câncer - estão passando. Uma situação realmente comovente.
Red Clamor exorta a uma ação conjunta da Igreja em relação às famílias estrangeiras no país, para que possam receber comida, um abrigo durante a noite e uma orientação legal que os ajude a regularizar sua condição de trabalhadores e ter acesso a um subsídio de desemprego.

Diocese de Iquique mantém refeitórios abertos

 

Por outro lado, os refeitórios da Diocese de Iquique, sob responsabilidade da Pastoral Social da Caritas, continuam a funcionar neste período de pandemia - seguindo as medidas de segurança sugeridas pelas autoridades - para alimentar as famílias e os atingidos pela emergência econômica e sanitária provocada pelo coronavírus.
A Covid-19 paralisou quase completamente todas as atividades eclesiais e as celebrações, mas diante da precariedade em que vivem muitas famílias, a diocese decidiu não fechar os refeitórios, para assim ajudar os necessitados.
Rosa Marschhause, coordenadora da Pastoral Social da Caritas de Iquique, explicou no site do Episcopado chileno as duas modalidades de funcionamento dos refeitórios. Em algumas paróquias – disse ela - a comida é preparada nas cozinhas do próprio instituto, e em outras, é preparada por famílias voluntárias, depois embaladas e entregues para serem consumidas em casa.
No momento, a Pastoral Social recebeu doações de produtos alimentícios da empresa Ariztia e da própria comunidade, mas Marschhause enfatizou que a campanha para arrecadar alimentos ou dinheiro para comprá-los não surtiu os resultados esperados.
Os recursos agora disponíveis para a compra de alimentos não perecíveis e abastecimento dos refeitórios, dado o crescente número de famílias necessitadas, não serão suficientes para alimentá-las.

quarta-feira, 29 de abril de 2020

Crianças que participam da estratégia de interiorização ganham companhia especial



A partir deste mês, as crianças venezuelanas de 6 a 11 anos que participam da estratégia de interiorização do governo federal recebem a cartilha “Viajando por Brasil com Felipe y Elena”. Pela visão dos dois personagens, o brasileiro Felipe, e a venezuelana Elena, o livro apresenta o novo país aos pequenos com informações culturais e geográficas. Na última página, um quebra-cabeças do mapa do Brasil pode ser destacado para finalizar a brincadeira.

O livro, distribuído com lápis de cor, de escrever, borracha e apontador, compõe a mochila do “Passaporte para a Educação”. A iniciativa faz parte do projeto Education Cannot Wait (A Educação não Pode Esperar), implementado em Roraima pela Organização Internacional para as Migrações (OIM) e pelo Fundo das Nações Unidas para a Infância (UNICEF).

Além de apoiar as crianças e adolescentes nesse momento de transição com conteúdos informativos e lúdicos, o projeto também tem como objetivo informar as famílias de refugiados e migrantes sobre seus direitos e acesso à educação no Brasil.

O foco são as famílias que participam da estratégia de interiorização do governo federal, que leva voluntariamente os venezuelanos que se encontram em Boa Vista ou Manaus para recomeçarem suas vidas em outros estados do Brasil. Durante o processo de documentação para a viagem, os responsáveis também são informados sobre os procedimentos para matrícula nas escolas brasileiras.

Em complemento ao panfleto, os pais também recebem uma pasta onde poderão guardar os documentos da criança e uma carta para facilitar a solicitação de matrícula na futura instituição de ensino. No documento, a criança ou jovem e seu responsável são apresentados, explica-se quais os direitos que possuem como refugiados ou migrantes e o contexto em que estão inseridos. Uma versão em espanhol também é entregue aos responsáveis caso ainda não dominem o português.

A assistente de projeto da OIM, Mariana Camargo, explicou que, além de se adaptar ao novo país, os pais de crianças e jovens em idade escolar enfrentam um desafio a mais, que é o de manter seus filhos escolarizados e entender todo o processo para ingressarem na rede de ensino. “Com os informes e materiais que desenvolvemos, esperamos contribuir para que esse processo seja mais leve”, contou a assistente da OIM.

De novembro de 2019, quando o projeto foi iniciado, a março de 2020, mais de 780 famílias e 1.300 crianças foram beneficiadas com o material informativo de apoio na matrícula escolar.

Onu
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Governo decide prorrogar restrições de entrada de estrangeiros no país



O governo decidiu prorrogar por mais 30 dias as restrições de entrada de estrangeiros no Brasil por aeroportos e portos, independentemente da nacionalidade. A portaria, assinada pela Casa Civil e pelos ministérios da Justiça e Segurança Pública, da Infraestrutura e da Saúde, foi publicada em edição extraordinária do Diário Oficial da União desta terça-feira (28). O presidente da Comissão de Relações Exteriores (CRE), senador Nelsinho Trad (PSD–MS), considera prudente a medida adotada, com base em recomendação de autoridades sanitárias. Saiba mais na reportagem de Iara Farias Borges, da Rádio Senado
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Fonte: Agência Senado

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terça-feira, 28 de abril de 2020

Avanço da pandemia aumenta as tensões para os migrantes na Europa

Uma mulher carrega garrafas de água em um campo temporário de refugiados na ilha de Lesbos, Grécia, em 6 de fevereiro de 2020
Uma mulher carrega garrafas de água em um campo temporário de refugiados na ilha de Lesbos, Grécia, em 6 de fevereiro de 2020 (Elias Marcou, Reuters)
Melissa Vida
America Magazine
A Espanha, um dos países mais atingidos pela pandemia de Covid-19, com mais de 188 mil casos confirmados e 19,6 mil mortes em 17 de abril, está em estado de emergência desde meados de março. Mas para pessoas como Alejandro Hernandez, um requerente de asilo da América Central, a vida não mudou muito. Ele se levanta, vai trabalhar e à noite liga para a esposa e a filha em El Salvador. Ele se considera um dos sortudos, pelo menos em comparação com outras pessoas migrantes na Espanha que não podem trabalhar ou não têm um abrigo adequado durante a crise.
Hernandez trabalha em uma fazenda de porcos. “No começo, fiquei um pouco preocupado com o meu trabalho; então me lembrei de que a fazenda precisa de pessoas”, diz ele, falando por uma ligação em Facebook. "Os porcos precisam ser alimentados".
Hernandez chegou de El Salvador em 2018 e pediu asilo por causa de ameaças de membros de gangues que ele enfrentou em casa. Embora seu caso de asilo ainda não tenha sido resolvido, ele está confiante de que pode construir uma vida na Espanha graças ao contrato de tempo integral que seu empregador lhe concedeu.
A permissão de trabalho de Hernandez foi renovada automaticamente por um ano após o fechamento dos escritórios da administração por causa do estado de emergência. Ele mora com a mãe em uma vila na Catalunha. Seu empregador garante que ele e seus colegas, vindos da Romênia e do Senegal, usem máscaras e pratiquem distanciamento social no trabalho. "Deus me abençoou", disse ele.
Daniel Martínez, do Serviço Jesuíta de Migrantes espanhol, disse que o caso de Hernandez é uma exceção. Em toda a Europa, os requerentes de asilo normalmente vivem em abrigos ou centros de detenção lotados, campos de refugiados improvisados ou nas ruas. Apenas algumas igrejas na Espanha abriram suas portas para abrigá-los durante a pandemia, segundo Martínez.
Somente em 2019, 612,7 mil pessoas solicitaram asilo na União Europeia, com Alemanha, França e Espanha como os principais países de destino. A maioria dos requerentes de asilo vem da Síria, do Afeganistão e da Venezuela. Em 2019, mais de 60% dos pedidos iniciais de asilo foram negados.
À medida que a pandemia ganha impulso, as tensões aumentam. No Mediterrâneo, protestos eclodiram em abrigos de refugiados em Melilla, uma cidade autônoma sob domínio espanhol no norte da África. "Uma das pessoas no campo foi infectada e uma ambulância veio buscá-lo, mas o resto dos habitantes do centro não tinha informações suficientes sobre o assunto", disse Martínez. “Estes são tempos incertos; essas pessoas estão nos campos há muito tempo e começam a ficar nervosas. ”
O Serviço Jesuíta aos Migrantes na Espanha apelou às autoridades para "descongestionar" esses centros no continente africano, transferindo requerentes de asilo para a Espanha.
Na Alemanha, a Mission Lifeline está pressionando por uma transferência semelhante de requerentes de asilo de campos de refugiados superlotados na Grécia. O grupo humanitário, que realiza operações de busca e salvamento no Mediterrâneo, arrecadou dinheiro suficiente para pagar por dois voos de refugiados e pressionou com êxito o governo alemão a aceitar a transferência de 350 a 500 crianças desacompanhadas para Berlim, segundo seu diretor, Axel Steier.
Mais de 18 mil requerentes de asilo vivem no campo de Moria, na ilha de Lesbos, em uma instalação projetada para 2.500. Quase 70 mil estão no continente, segundo Steier.
Como a Grécia se tornou um importante ponto de entrada para pessoas que fogem da violência no Oriente Médio e na Ásia Central a partir de 2015, a União Europeia estabeleceu uma política de contenção que mantém os requerentes de asilo nas ilhas até que seus casos sejam processados. Como resultado, muitas pessoas foram forçadas a permanecer nesses campos superlotados por anos.
"É o resultado de políticas europeias deliberadas, que tratavam de conter pessoas e introduzir medidas que levam as pessoas a viver em condições de miséria", disse Catherine Woollard, diretora do Conselho Europeu de Refugiados e Exilados. "Eles continuam lá, presos".
Na década passada, a Grécia sofreu uma grave crise econômica que foi exacerbada pelas medidas de austeridade europeias. Seu sistema de saúde tornou-se severamente sobrecarregado. Por enquanto, o país está lidando relativamente bem com a pandemia, mas as organizações de direitos humanos estão preocupadas com a situação nos campos de migrantes.
"Se a pandemia chegar aos campos, que estão superlotados, onde não há possibilidade de distanciamento social, muitas pessoas morrerão", disse Steier. "Algumas organizações dizem que metade dos residentes do campo são pacientes de alto risco". Um campo perto de Atenas foi colocado em quarentena depois que dois casos do Covid-19 foram confirmados.
“Os refugiados nesses campos [na Grécia] estão presos; eles fecham as portas”, disse Steier. "Ninguém pode sair e quase não há serviços de saúde".
Segundo um plano de realocação de migrantes da Europa iniciado nos primeiros dias de março, a Alemanha inicialmente concordou em voar com 50 crianças, depois de receber críticas por aceitar tão poucos, concordou em aceitar centenas a mais. Todavia, muito mais precisa ser feito, disse Steier. O governo grego apoia a iniciativa, e Luxemburgo e Suíça também se comprometeram a voar em crianças dos campos.
Algumas organizações de direitos humanos relataram que os requerentes de asilo na Hungria não têm acesso aos cuidados de saúde e, em alguns casos, até carecem de alimentos. Em fevereiro de 2020, o Tribunal Europeu de Direitos Humanos ordenou que a Hungria "pela 28ª vez" parasse de privar os requerentes de asilo de alimentos, segundo a Euronews. O Comitê Húngaro de Helsinque, sem fins lucrativos, acompanha a condição dos migrantes que receberam essa assistência humanitária básica.
No início de abril, o Tribunal de Justiça Europeu decretou que a Hungria, a Polônia e a República Tcheca violaram suas obrigações de membros da UE quando se recusaram a participar do esquema de realocação de migrantes da união.
"Esses são problemas de longa data", disse Woollard, "mas as pessoas nessas situações [agora] estão mais expostas a emergências de saúde". Woollard teme que a pandemia vá alimentar sentimentos nacionais e xenófobos em alguns estados europeus.
O presidente da Hungria, Viktor Orban, recentemente garantiu novos poderes para governar por decreto indefinidamente, provocando preocupações sobre o enfraquecimento das instituições democráticas do país e a viabilidade de uma imprensa livre na Hungria.
Em 8 de abril, a União Europeia anunciou um pacote de ajuda internacional de 15,6 bilhões de euros para ajudar as nações da periferia a responder à pandemia. "A resposta da União Europeia se concentrará nas pessoas mais vulneráveis, incluindo migrantes, refugiados, pessoas deslocadas internamente e suas comunidades anfitriãs", disseram oficiais do governo.
Dentro das fronteiras da Europa, em Calais, na França, alguns migrantes dormem nas ruas, esperando sua vez em um abrigo ou uma oportunidade de chegar ao Reino Unido. O porto de Calais serve há décadas como ponto de referência na rota de migração para o Reino Unido, a 50 km de Calais, perto do túnel do canal.
Desde que os campos de refugiados de Calais foram desmantelados em 2016, as pessoas dormem na floresta nas proximidades, esperando a oportunidade de se esconderem em um caminhão que atravessa o canal pelo túnel ou por balsa. Antes de as medidas de confinamento serem implementadas na França, cerca de 200 a 300 descansavam, recarregavam seus telefones e tomavam chá na creche da Secours Catholique (Caritas França).
"Mas tivemos que fechar o centro", disse Véronique, uma das voluntárias da Secours Catholique, pedindo que seu sobrenome não fosse usado. "Não é fácil para o povo exilado; eles estão confinados lá fora. Eles ainda são assediados pela polícia e têm suas barracas e sacos de dormir destruídos”, disse ela. A cada duas semanas, apontou ela, 80 migrantes encontram um lugar em um abrigo administrado pelo governo e, enquanto isso, grupos de ajuda ainda distribuem refeições frias todas as manhãs.
A Igreja e os defensores dos migrantes na Europa usam o exemplo de Portugal como exemplo de uma resposta humana à crise. As autoridades portuguesas ofereceram documentos de residência a requerentes de asilo e migrantes durante a emergência. Isso lhes permite acessar uma ampla gama de benefícios de assistência médica.
Também na Irlanda, "as pessoas em situação irregular agora podem acessar os serviços de saúde sem documentos e sem que os médicos sejam punidos", disse Woollard. Bélgica, Holanda, Espanha e Reino Unido relataram libertações de centros de detenção de migrantes, embora não esteja claro se foram oferecidas acomodações alternativas aos migrantes libertos e muitas vezes não se sabe o que aconteceu com eles.
José Ignacio García, S.J., diretor do Serviço Jesuíta aos Refugiados da Europa, enfatiza que cuidar de migrantes e refugiados na Europa é uma maneira de cuidar de todos na Europa.
“Você não pode ter parte da sua população sem cuidados de saúde adequados. Isso representa um risco para todos ”, afirmou.
Devido ao distanciamento social exigido pela crise, o JRS-Europe adaptou seu serviço de cozinha de sopa para fornecer alimentos preparados em sacolas que os migrantes e os sem-teto podem simplesmente pegar e tentar manter linhas de comunicação e incentivo com os migrantes através da popular plataforma de mensagens móveis WhatsApp.
A comunicação nutre mais do que seus corpos. "As pessoas precisam saber que não são esquecidas", disse o padre García.
Dom Total.com
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Refugiados fazem e distribuem máscaras contra a COVID-19 em São Paulo

Em ação apoiada pelo ACNUR e UNFPA, refugiados e migrantes fazem máscaras de proteção contra a COVID-19. Elas são entregues para moradores de abrigos públicos de São Paulo.
Conheça a história da designer e do jornalista sírios que estão atuando no projeto do coletivo Deslocamento Criativo com o Ministério Público do Trabalho e a Universidade de Campinas.
Hayam Kasim estudava moda e francês em Damasco, na Síria, e estava a caminho de se tornar estilista profissional quando a guerra fez com que ela e a família deixassem o país. Há sete anos em São Paulo, sem falar português fluentemente e sem oportunidades de trabalho, ela e os três irmãos foram surpreendidos com a pandemia da COVID-19.
Agora, o talento de Hayam está sendo aproveitado para confeccionar máscaras de pano, que estão sendo distribuídas à população vulnerável de São Paulo. A ação é parte de um projeto encabeçado pelo Ministério Público do Trabalho (MPT), a Universidade de Campinas (Unicamp) e apoiado pelo Fundo de População da ONU (UNFPA) e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Hayam faz parte do coletivo Deslocamento Criativo e foi convidada a confeccionar as máscaras de forma remunerada, junto a outras pessoas com habilidade de costura que fazem parte do grupo. A ideia é estimular a atividade profissional das pessoas migrantes e refugiadas ao mesmo tempo em que garante a proteção de outras pessoas em situação de vulnerabilidade. Já foram produzidas 2 mil máscaras, que são distribuídas em abrigos para idosos, refugiados e migrantes, pessoas transexuais e para pessoas em situação de rua.
“Esse projeto auxilia essas pessoas em um momento em que migrantes e refugiados estão em uma condição laboral crítica, ao mesmo tempo em que eleva o conhecimento de saúde pública. É uma medida de mão dupla, promove saúde e conscientização”, define a professora coordenadora do Observatório das Migrações em São Paulo, Rosana Baeninger.
Sentada à máquina de costura, Hayam leva cinco minutos para confeccionar uma máscara, produzida em tecido do continente africano. Sozinha, a jovem de 29 anos já fez 450 máscaras, somente no último mês. “Eu posso fazer qualquer coisa. Esse é meu ramo”, orgulha-se. O dinheiro levantado com o projeto é o que tem sustentado a casa. “O Brasil é meu segundo país e eu peço ajuda para voar de novo. Meu sonho é ser estilista e fazer moda”, afirma.
Entrega  na Casa do Migrante – Parte do lote produzido foi distribuído aos moradores e funcionários da Casa do Migrante, abrigo mantido pela Missão Paz, entidade parceira da ACNUR no acolhimento de refugiados e migrantes. Atualmente, 66 pessoas, de 16 nacionalidades, vivem no local.
“A situação atual requer que todos trabalhemos juntos para ajudar nossos vizinhos e a cidade onde moramos. Consegui trazer a máquina de costura do estúdio onde trabalhava para minha casa, e aqui a produção não pode parar”, diz a designer síria.
A compra dos tecidos, a produção e a distribuição das máscaras estão sob a responsabilidade do coletivo Deslocamento Criativo, que conta com a participação direta de pessoas refugiadas no processo. Além da designer, outro sírio, Anas Obeid, está atuando na logística de entrega do material.
Formado em jornalismo, Anas Obeid produzia e vendia perfumes árabes sob encomenda e trabalhava em uma produtora de vídeo. Com a pandemia, se adaptou à nova realidade. Além de entregar as máscaras nos abrigos, ele explica aos refugiados e migrantes como manusear adequadamente o equipamento para garantir a higiene e mitigar os riscos de contaminação.
“Dentre os tantos trabalhos que realizo, acho importante contribuir neste momento para assegurar o bem-estar de refugiados e migrantes que vivem nos abrigos públicos, sem ter a possibilidade de conseguir um trabalho. Mas logo sairemos dessa, fortalecidos”, afirma Anas.
A refugiada venezuelana Ásia Carreño, de 58 anos, chegou na Missão Paz por meio do programa de interiorização do governo federal e ressalta a importância do uso das máscaras. “Não temos saído à rua para evitar a contaminação, mas mesmo aqui dentro, por convivermos próximos uns dos outros, as máscaras serão importantes para manter a nossa saúde”, disse. “E todos nós, idosos, crianças e adultos, vamos superar essa crise”, completa a moradora.
O coordenador da Missão Paz, padre Paolo Parise, lembra que as máscaras ajudarão na prevenção da COVID-19 junto aos moradores e funcionários da Casa do Migrante. “Estamos revendo nossas atividades para reduzirmos ao máximo a exposição das pessoas que vivem aqui ao ambiente externo e evitar a propagação do vírus. A entrega das máscaras fará com que as pessoas residentes e a equipe de trabalho possam se prevenir, inclusive durante a distribuição de cestas básicas que já realizamos no abrigo”, afirma Parise.
O coletivo Deslocamento Criativo é um projeto que mapeia e dá visibilidade à produção de refugiados que vivem em São Paulo e atuam na área da economia criativa, um setor dinâmico de negócios baseados no capital intelectual, cultural e na criatividade para gerar valor econômico. A plataforma serve como ponto de encontro para quem deseja conhecer e contratar trabalhos deste segmento, mesmo durante o contexto atual de pandemia.
ACNUR – A chefe do escritório do ACNUR de São Paulo, Maria Beatriz Nogueira, participou da entrega de máscaras na Casa do Migrante e lembrou que a pandemia exige solidariedade e cooperação de todos os setores. “É essencial assegurarmos que qualquer pessoa, independentemente de sua nacionalidade, possa ter acesso aos auxílios financeiros e aos serviços de saúde de forma plena, sem discriminação”, afirma.
O ACNUR está arrecadando doações financeiras para adquirir remédios, água potável, artigos de higiene e kits de proteção pessoal para famílias e, principalmente, idosos e crianças refugiadas em situação de vulnerabilidade. A Agência da ONU para Refugiados tem atuado no fortalecimento da comunicação com refugiados por meio da Plataforma Help e segue trabalhando de forma coordenada com os governos para garantir que as pessoas refugiadas sejam incluídas na resposta à COVID-19.
UNFPA – “Essa iniciativa vai ao encontro do trabalho que já estamos fazendo para diminuir o impacto da pandemia entre as pessoas mais vulneráveis. Ela garante renda para esses artesãos e artesãs ao mesmo tempo em que proporciona o acesso à máscara e à prevenção a um maior número de outras pessoas”, observa a representante do UNFPA, Astrid Bant.
Uma campanha de doação também está em curso pela internet, com a hashtag #euabracoestacausa, para quem deseja contribuir com a ação e adquirir máscaras produzidas por pessoas como Hayam. Basta acessar o site da campanha aqui ou entrar em contato pelo WhatsApp: (11) 95777-8549.
ONU
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segunda-feira, 27 de abril de 2020

Imigrantes bolivianos sofrem impacto da pandemia em São Paulo


Imigrantes bolivianos sofrem impacto da pandemia em São Paulo ...
Maior comunidade de imigrantes de São Paulo, os bolivianos são um dos grupos que mais têm sofrido o impacto da pandemia de COVID-19.

Segundo dados da Polícia Federal e da Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania (SMDHC), de 2019, mais de 75 mil bolivianos vivem na capital paulista. As condições precárias de moradia, as dificuldades de acesso à informação e à saúde, além da perda de renda devido às medidas de isolamento social tornam essa população uma das mais vulneráveis neste momento.

Como os bolivianos que, em sua maioria, vivem na capital, Jenny Liuca Choque, 25, e sua família trabalham em oficinas de costura que abastecem o mercado da moda. Devido à quarentena, a produção está paralisada e, com isso, falta renda para arcar com as despesas de subsistência.
“Para muitos de nós, a única entra- da econômica é pelo nosso trabalho na costura. Grande parte da comunidade boliviana tem trabalho informal e perdemos as nossas receitas com as quais pagamos nossas despesas básicas, como alimentação, água, eletricidade, gás e outras contas. E o pior de tudo, os aluguéis das casas são muito altos.”

AUXÍLIO EMERGENCIAL

Muitos desses imigrantes se enquadram no grupo dos que têm direito ao auxílio emergencial de R$ 600 do Governo Federal. No entanto, se a população em geral já está tendo dificuldade para receber essa ajuda, alguns bolivianos, além dos obstáculos com o idioma, não estão com a documentação necessária regularizada. Os que conseguem se inscrever no sistema recebem como resposta que o pedido de auxílio está sendo analisado.

Nesse sentido, entidades e organizações que realizam trabalhos voltados para os migrantes têm ajudado essa população a realizar o pedido do auxílio emergencial. Uma delas é a Missão Paz, entidade ligada à Paróquia Nossa Senhora da Paz, no centro da capital, que coloca à disposição um grupo de assistentes sociais que ajuda no cadastramento.

“Essas mesmas assistentes sociais também mapearam as famílias mais necessitadas e distribuíram cestas básicas, produtos de limpeza, higiene pessoal, leite em pó e fraldas”, explicou ao O SÃO PAULO o Padre Paolo Parise, Coordenador da Missão Paz.

ATENDIMENTO A DISTÂNCIA

Para evitar aglomerações e o deslocamento da população, desde o início da pandemia, a entidade disponibilizou alguns canais para os imigrantes e refugiados que precisam entrar em contato, redirecionando as demandas aos vários profissionais, por meio do telefone (11) 3340-6950, e-mail: protecao@missaonspaz.org e Facebook.

Há, ainda, uma psicóloga, uma advogada e uma equipe de saúde que atendem a distância, de suas casas, ajudando a solucionar problemas e tirar dúvidas.

SAÚDE

Além das dificuldades econômicas, a comunidade boliviana sofre com os riscos da própria COVID-19. Nem todas as famílias conseguem seguir por completo as recomendações preventivas de distanciamento social para evitar o contágio.

Muitas famílias moram em pequenos cômodos ou moradias coletivas que funcionam também como oficina de costura, em muitos casos com apenas um banheiro para o uso comum, sendo inevitáveis a aglomeração e o isolamento das pessoas do grupo de risco, o que dificulta os cuidados necessários com a higiene do ambiente.

Outra dificuldade é o acesso à assistência médica, pois a grande maioria depende do sistema público de saúde, que já está à beira da saturação do atendimento. Jenny relatou que muitos de seus compatriotas não sabem exatamente quando devem procurar o atendimento médico e temem se serão atendidos caso desenvolvam a forma grave da doença.
O médico Erwin Cordova Chavez é presidente do grupo Voluntários por Amor, que ajuda a comunidade boliviana com atendimentos médicos, sobretudo os que têm dificuldade em relação ao idioma.
Chavez informou à reportagem que acesso ao serviço de saúde para os imigrantes já era difícil antes da pandemia pelo fato de maioria dos bolivianos não falarem português. “Como a maioria deles se relaciona somente entre si, acabam não aprendendo a língua”, explicou.
O grupo Voluntários por Amor, em parceria com algumas instituições e como Consulado Boliviano em São Paulo, tem arrecadado cestas básicas que são distribuídas em diferentes bairros da capital.

INSEGURANÇA

“Já tenho notícia de pelo menos cinco pessoas da nossa comunidade que foram infectadas. Também sabemos de uma morte em Guarulhos (SP). Sabemos, porém, que há muito mais pessoas doentes, sem contar aquelas que não apresentam os sintomas”, destacou a jovem.

De acordo com a Associação de Residentes Bolivianos (ADRB), há, até o momento, cinco mortes de pessoas da comunidade pela COVID-19, além de algumas pessoas internadas em estado grave.
Inclusive, já há a confirmação de um dos médicos do grupo Voluntários por Amor internado com o novo coronavírus.

Maria Erasma Beserra, 62, está no Brasil há nove anos. Além de fazer par- te do grupo de risco pela idade, tem a saúde debilitada e já enfrentava dificuldades para ter acesso ao tratamento médico. Com a pandemia, ela não está em condições de trabalhar e conta com a ajuda das pessoas para poder se sus- tentar.

“Faltam comida e dinheiro para pagar as contas. É desesperador. Estamos em casa, em quarentena e em oração, na esperança de que tudo isso passe”, relatou Maria Erasma, que mora em Carapicuíba, na região metropolitana de São Paulo, com suas duas filhas e uma neta de 2 anos.
Mesmo diante da dificuldade econômica, a idosa reconhece que o isolamento social é fundamental para evitar o agravamento da pandemia. “É importante que as pessoas tomem cuidado e sigam as orientações dos médicos”, afirmou.

SOLIDARIEDADE

A Missão Paz está recebendo doações em alimentos, produtos de limpeza e higiene, como também doações em dinheiro por meio de depósitos, segundo indicação no site missaonspaz.org, na seção “Como ajudar a Missão Paz durante a pandemia de COVID-19”.
“Mais uma vez, a Missão Paz experimenta a grande solidariedade de homens e mulheres de diferentes crenças religiosas, mas unidos na solidariedade com os que mais precisam. Graças às do- ações, no último fim de semana, 18 e 19 de abril, foram distribuí- das 162 cestas básicas”, diz o Padre Paolo.

OUTRAS AJUDAS

Além da Missão paz e dos Voluntários por Amor, há outras organizações que auxiliam a comunidade boliviana:

Associação de Residentes Bolivianos (ADRB)
Recebe doações de alimentos e de dinheiro para comprar cestas básicas para as famílias que ficaram sem renda.
Telefones: (11) 99357-4934; (11) 99945-3372; (11) 98278-8736
Centro da Mulher Imigrante e Refugiada (Cemir)
Recebe doações para comprar cestas básicas e medicamentos para mulheres e famílias que passam necessidade, indicadas por líderes comunitárias.
E-mail: cemir.mulherimigrante@gmail.com
Telefone: (11) 95845-2979

Jornal O São Paulo
www.miguelimigrante.blogspot.com

Caritas Manaus orienta migrantes e trabalhadores informais sobre repasse de Auxílio Emergencial

Além da campanha de doação de alimentos “Puxirum Manauara”, os voluntários orientam sobre o repasse de R$ 600,00 do governo federal à população vulnerável. O diácono, Afonso Brito, explica: “tem a nossa advogada que se coloca à disposição também para ajudar quem mora de aluguel, que não seja despejado pelo não pagamento do local, por conta da lei em vigor que suspende tudo isso”.
Funcionários públicos ao higienizar a área do Porto de Manaus

Andressa Collet, Pe. Miguel Modino – Cidade do Vaticano
As imagens das vítimas do Covid-19 sendo enterradas em valas comuns em Manaus, no Amazonas, estão fazendo o giro do mundo e confirmando a difícil situação vivida na região norte do Brasil, tanto pelo número de pessoas testadas positivas como o de mortes que tem aumentado. Segundo o boletim deste domingo (26) do Mapa da Repam para casos da doença na Região Pan-Amazônica, que reúne dados oficiais das autoridades de saúde dos 9 países, a arquidiocese de Manaus contabiliza o pior cenário com 2.897 casos positivos e 259 mortes, seguida pela de São Luiz do Maranhão (2.125 casos e 107 mortes) e pela arquidiocese de Belém (1.502 casos e 77 mortes).

A bênção do Papa à Amazônia

Um gesto paterno e de proximidade sobre essa triste realidade veio inclusive do Papa Francisco que, no último sábado (25), telefonou ao arcebispo de Manaus, dom Leonardo Steiner. O Pontífice manifestou solidariedade às vítimas e enviou uma bênção especial para a Amazônia. Além disso, agradeceu pelo trabalho realizado pela Igreja em favor dos pobres, indígenas e ribeirinhos para amenizar o sofrimento, intensificado pela precariedade vivida durante a pandemia.

Sem fonte de renda, nem comida

O diácono permanente e coordenador de projetos da Caritas Arquidiocesana de Manaus, Afonso Brito, explica o quanto estão trabalhando para amenizar a situação de extrema vulnerabilidade vivida por esses grupos prioritários, como também migrantes e refugiados, principalmente de origem venezuelana. Sem poder realizar trabalhos informais por causa da quarentena, não há fonte de renda, mas falta de acesso à comida:
“A gente constatou aqui que, através de conferências com algumas secretarias do estado e do município, a precariedade disso, porque ela se tornou ainda mais visível, porque não havia políticas públicas voltadas para esse público, sobretudo esses que são moradores de rua e os migrantes também. Ela se evidenciou mais ainda. Então, a precariedade teve um agravamento com essa situação. Os migrantes, e aqueles que vivem da ocupação aqui, sobretudo aqueles do centro, eles viviam de pequenos bicos para comer no dia a dia. Os catadores, a mesma coisa. Então, a partir do momento que parou tudo, o comércio parou, aí não tem mais a matéria-prima ou as pessoas não estão comprando aquele cafezinho, aquele suco, aquele churrasquinho que eles vendem aqui pelo centro. Não tem público para isso, então, você imagina a precariedade que isso trouxe para eles.”

Caritas orienta sobre saque de R$600,00


Além da Campanha “Puxirum Manauara” da Caritas, que recebe doações de alimentos não-perecíveis e produtos de higiene e limpeza para poder repassar a quem mais precisa e minimizar os efeitos da pandemia, os voluntários têm orientado sobre o repasse do Auxílio Emergencial de R$600,00, que será pago durante três meses pelo governo federal. De fato, a partir desta segunda-feira (27), começam a ser liberados os saques em dinheiro das poupanças digitais da Caixa Econômica Federal (CEF), através de um calendário que se estende até 5 de maio, com base na data de nascimento do beneficiário.
“A saída é que nós estamos apoiando com as cestas básicas, mas também a gente está orientando para que eles possam acessar esse recurso dos 600 reais. Da mesma forma para os imigrantes: nós criamos aqui algumas orientações, tem a nossa advogada aqui que se coloca à disposição para orientar e tentar ajudá-los a entrar no programa dos 600 reais, mas também ajudar para que, aqueles que moram de aluguel, não sejam despejados por conta de não pagamento do local, por conta da lei em vigor que suspende tudo isso. Porém, a lei acaba sendo abstrata: o patrão ou o dono do imóvel quer receber, porque ele também tem necessidade. Estamos diante de uma situação difícil, complexa, porque essas pessoas que vivem em situação vulnerável, como os migrantes, eles que moram de aluguéis, eles estão buscando a Caritas para tentar ajudar porque o governo do Estado não consegue abrigar o quantitativo.”
Radio Vaticano
www.miguelimigrante.blogspot.com