sábado, 29 de fevereiro de 2020

Refugiados rumam à Europa através da Turquia

Resultado de imagem para Refugiados rumam à Europa através da Turquia
Sem olhar para trás, dezenas de pessoas de várias nacionalidades, na maioria sírios, fizeram-se à estrada para cruzar a fronteira fluvial que separa a Grécia da Turquia.
Aproveitam a oportunidade criada pela pressão de Ancara sobre a Europa para chegar ao velho continente.
Com a ofensiva síria de Idlib como pano de fundo, que se traduziu na morte de 33 soldados turcos, a Turquia aligeirou o controlo das forças de segurança em relação à passagem irregular de pessoas para Europa.
O porta-voz do Partido da Justiça e Desenvolvimento, do presidente Recep Tayyip Erdoğan, fez saber que a política de refugiados se mantém inalterada, mas que o país já não estará em condições de reter essas pessoas.
Há relatos de que agentes turcos no terreno terão, inclusivamente, aconselhado algumas pessoas a entrar através da melhor zona para o fazer, a Bulgária.
A postura turca é entendida como forma de pressionar a União Europeia em relação a Idlib. O assunto ainda promete fazer correr muita tinta.
PT.Euronews
www.miguelimigrante.blogspot.com

Defensoria deve ir à Justiça por construção de abrigo para venezuelanos no Acre

A Defensoria Púbica da União no Acre deve entrar na Justiça para garantir abrigo a imigrantes venezuelanos que chegam à capital Rio Branco.
A medida pretende obrigar que o Governo Federal, o Estado do Acre e o município de Rio Branco providenciem com urgência o abrigo e construam políticas públicas para essa população.
O defensor público federal Matheus Nascimento explica que o Acre sempre foi um estado de rota de passagem de migração, como no caso dos haitianos, em 2010.
Segundo ele, a migração por causa da crise na Venezuela teve reflexo inicialmente em Roraima, mas desde o meio do ano passado o fluxo de famílias do país vizinho aumentou no Acre.
“Começou a chegar um grupo grande de indígenas venezuelanos, muitos deles fazendo a prática de coleta nos semáforos, trazendo seus cartazes pedindo dinheiro, mas não houve uma construção de abrigos. A gente chegou a fazer reuniões, mas até agora não aconteceu. Tem ocorrido também até mesmo nos outros atendimentos básicos. Crianças recém-nascidas não foram registradas”.
Em dezembro de 2019, as Defensorias Públicas do estado e da União e os ministérios públicos federal e estadual expediram recomendação à União, estado e município para que adotassem providências emergenciais em até 15 dias. Como nada foi feito, a DPU pretende adotar as medidas judiciais cabíveis para correção das irregularidades e a responsabilização dos agentes públicos.
O defensor público federal Matheus Nascimento destaca que além de ações governamentais é importante o engajamento da população.
“Se tem alguma habilidade, se são médicos, enfermeiros, professores, educadores físicos, qualquer que seja a competência deles, que possam se voluntariar em ajudar na construção desse projeto, porque a questão de atendimento migratório a gente tem que entender como não mais algo passageiro, como aconteceu com os haitianos. Essa tendência vai aumentar cada vez mais”.
Cerca de 60 indígenas vivem em condição de vulnerabilidade em Rio Branco. Segundo Matheus Nascimento, recentemente um grupo de mais de 30 indígenas venezuelanos saíram de uma casa alugada e estão em um imóvel condenado, abandonado, sem água ou energia. Cerca de 20 são crianças e adolescentes.
A produção procurou a prefeitura de Rio Branco, o Governo do Acre e o Governo Federal, mas não recebeu retorno até o fechamento desta matéria.
AC24Horas
www.miguelimigrante.blogspot.com

sexta-feira, 28 de fevereiro de 2020

Pianista João Carlos Martins apresenta-se para refugiados e migrantes em Roraima

Conhecido mundialmente no circuito de música erudita, o maestro e pianista brasileiro João Carlos Martins usou mais uma vez a música para romper barreiras e unir nações.
Em uma recente visita a Roraima, ele levou inspiração às famílias que vivem no abrigo temporário para refugiados e migrantes venezuelanos Rondon 3, o maior abrigo para esta população na América Latina. 
Conhecido mundialmente no circuito de música erudita, o maestro e pianista brasileiro João Carlos Martins usou mais uma vez a música para romper barreiras e unir nações. Em uma visita este mês (15) a Roraima, ele levou inspiração às famílias que vivem no abrigo temporário para refugiados e migrantes venezuelanos Rondon 3, o maior abrigo para esta população na América Latina.
O maestro estava em Boa Vista para capacitar músicos locais por meio do projeto “Orquestrando o Brasil”. E aproveitou para conhecer o Rondon 3, um dos 13 abrigos que funcionam no âmbito da Operação Acolhida — resposta humanitária emergencial liderada pelo governo brasileiro e apoiada por Nações Unidas, ONGs e setor privado.
Em um palco montado no pátio do abrigo, o maestro — reconhecido como um dos maiores intérpretes do músico barroco Johann Sebastian Bach — fez uma pequena e emocionante apresentação para a população acolhida no abrigo, tocando em um piano elétrico alugado especialmente para a ocasião.
Sensível e atento às especificidades do público, João Carlos Martins se dirigiu à plateia em espanhol, compartilhando um pouco da sua história de superação — ele enfrentou problemas de saúde que comprometeram sua coordenação motora e quase o afastaram definitivamente dos palcos, mas voltou a tocar e a reger com o uso de luvas biônicas.
Para as famílias venezuelanas, ele contou que mesmo com muitos não acreditando que ele poderia voltar a tocar e reger, não desistiu e está de volta aos palcos e salas de concerto. Desta forma, convidou cada refugiado a também não desistir de seus sonhos.
Na plateia, estava a família de Guillermo Martine, de 53 anos, que veio para o Brasil em setembro de 2019, e desde então vive no abrigo com sua esposa Katty Pereira, de 45, e seus três filhos.
Guillermo, que também é músico, tinha um grupo de Llanera, ritmo tradicional na Venezuela. Solista, teve que sair de seu país ao ser diagnosticado com câncer.
Sem acesso a tratamento ou medicamentos, Guillermo e sua família deixaram tudo para trás e buscaram ajuda no Brasil. Ele fez questão de trazer seus instrumentos musicais ao país: um “cuatro” (violão venezuelano de quatro cordas) e seu “maracate” (chocalho de percussão venezuelano).
“Sinto muita falta de ter um grupo musical”, disse Guillermo, pouco antes da apresentação do maestro. A música não saiu de seu coração, e ele ensinou o filho mais novo, Anrel Guillermo, de 9, a tocar o maracate. “Pelo menos assim ele me acompanha, e como ele gosta de música, de alguma forma eu continuo a tocar”, disse o pai.
Mas o desejo do músico venezuelano foi atendido quando ele menos esperava. Em uma articulação entre Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), a Associação Voluntários para o Serviço Internacional (AVSI), organização parceira do ACNUR que administra o abrigo, e o comando da Operação Acolhida, a família de Guillermo foi convidada a dividir o palco com o grande maestro brasileiro.
Durante a apresentação de Guillermo, Katty e o pequeno Arnel, o maestro os acompanhou improvisando pequenos acordes durante a cantoria — o que comoveu todo o abrigo.
“Estamos lisonjeados de receber um músico deste nível aqui no abrigo. Para nós, isso foi uma benção, e a história do maestro é como se fosse um milagre que nos inspira a continuar”, disse emocionada a venezuelana Katty.
“A música tem o poder de mover pessoas, romper barreiras e unir nações. Por meio da música as palavras solidariedade, amor e paz tomam forma na humanidade”, declarou o maestro. João Carlos Martins tocou músicas clássicas conhecidas, e contou com a participação do violinista venezuelano Rafael Dommar, que o acompanhou na Ave Maria.
O abrigo Rondon 3 acolhe atualmente cerca de 1.100 pessoas, entre adultos, idosos, jovens e crianças. Dentro dos abrigos, os refugiados e migrantes recebem alimentação, kits de higiene, além de acesso a banheiros, abrigos por família, assistência na área de saúde, educação, capacitação profissional, projetos culturais e informações sobre como ter outras necessidades atendidas.
No sábado (15), o pianista fez uma apresentação gratuita para toda a cidade de Boa Vista na Praça Fábio Marques Paracat, organizada pela prefeitura. Em entrevistas, ressaltou o potencial do estado em crescer musicalmente com a troca de experiências entre músicos roraimenses e venezuelanos.
“Roraima tem um grande potencial de virar um epicentro musical usando os talentos locais e os que estão chegando da Venezuela”, enfatizou o maestro.
“A presença do maestro no abrigou demonstrou como essas atividades são significativas para os que estão em condição de refúgio, trazendo um senso de humanidade comum”, ressaltou Esther Benizri, chefe do sub escritório do ACNUR para Boa Vista.
O maestro João Carlos Martins tem um envolvimento anterior com a causa do refúgio. Em 2016, participou do projeto “Somos Iguais”, um coral de jovens e crianças refugiadas criado para auxiliar sua integração na sociedade brasileira.
O coral já realizou várias apresentações sob a batuta do maestro, que sempre se dedicou com grande afinco à preparação e apresentação dos jovens cantores.
Onu
www.miguelimigrante.blogspot.com

História de imigrante espanhola é relatada em livro

A História do Brasil se mistura com a de muitas outras nações. É um país miscigenado que recebeu - e ainda recebe - pessoas de várias nações. Essa diversidade de povos marcou profundamente a população, a economia, a cultura e mesmo a demografia.


A imigração no Brasil tem quase a mesma idade do descobrimento. Desde 1530 recebemos cidadãos de outras localidades. Primeiro foram os colonos portugueses, que vieram para cá com o objetivo de povoar, de plantar e de explorar a região. Em seguida, nas primeiras décadas do século XIX imigrantes de vários países da Europa vieram com a intenção de melhorar as condições de vida, já que o Velho Continente passava por situações críticas em relação a trabalho, comida e mesmo doenças.


A primeira onda de imigrantes europeus foi a de suíços, mas ainda assim a imigração não foi tão grande quanto a que veio a seguir. Depois que a escravidão foi abolida, era preciso trazer mão de obra para as grandes lavouras, principalmente de café. Como o governo subsidiava as passagens de navio, incentivando a vinda, os italianos começaram a chegar, assim como os espanhóis, no final do século XIX. Além deles, o Brasil também recebeu alemães, japoneses, chineses, poloneses, libaneses e outros. E apesar de não ser considerado imigração, já que vinham forçados, a presença de africanos no país também é muito forte.

Geralmente olhamos a imigração e esquecemos que cada imigrante tem uma história. Afinal, é o conjunto desses relatos que forma o país. Desse modo, uma das vidas que foram afetadas pela imigração foi a da espanhola Francisca Galera, que nasceu em Vélez Rubio e saiu da Espanha em 1913, juntamente com os seus familiares. De uma família humilde, ela imigrou para o Brasil a bordo do navio Provence. Então desembarcaram no porto de Santos, passaram pela Hospedaria dos Imigrantes do Estado de São Paulo e foram para o município de Nova Europa, destinados a trabalhar numa fazenda de cultivo de café.

A neta da imigrante, Alcione Rosa, não quis que essa história de coragem se perdesse, por isso escreveu o livro Francisca Galera - Da Espanha ao Brasil, publicado pela Editora Albatroz. "Várias pessoas têm me procurado para falar que a biografia da minha família é igual ao relato da família deles. Fico feliz porque estou preservando a história de muitos brasileiros, que são descendentes de várias nações. De certa forma estou contribuindo para o registro e a memória do imigrante no Brasil", explica.

Passar por uma imigração não é fácil. De acordo com Alcione, ela fica emocionada sempre que pensa em algumas passagens da vida da avó, como quando já no navio para ir para o Brasil, ainda no porto, ela quer descer, mas não pode. "Isso acontece porque fico imaginando-a dizendo adeus para a Espanha e para Vélez Rubio, assim como tantos outros fizeram antes e depois". Do mesmo modo, outra passagem que a escritora relembra é já no Brasil com os filhos pequenos. Apesar da dor no coração, Francisca levava seu bebê para a lavoura e chorava ao vê-lo embaixo do pé de café sozinho. Tanto no nosso país quanto na Espanha, Francisca Galera e muitos outros imigrantes, com histórias tão semelhantes, sofreram.

Para saber mais sobre imigração no país, é possível consultar centenas de livros e artigos que contam essas narrativas. O conteúdo é rico e há inúmeras informações, histórias de vidas e de povos inteiros. Portanto, para dar fundamentos teóricos ao seu trabalho, Alcione Rosa pesquisou materiais de historiadores e em vários cartórios do Brasil, além de buscar informações no Museu da Imigração. "Ele foi fundamental para o meu trabalho, pois consegui resgatar dados que a família não tinha mais", comenta. Além disso, a própria Francisca foi fundamental para a escrita desse livro. Segundo Alcione, ela deixou parte da sua história para a família num pequeno gravador de fita cassete.  "São duas fitas, uma gravada em 1978 e a outra em 1979, que foram recuperadas e transcritas por mim", afirma.

O livro Francisca Galera - Da Espanha ao Brasil, de Alcione Rosa, foi publicado em 2019 pela Editora Albatroz.

Website: https://loja.editoraalbatroz.com.br/francisca-galera-da-espanha-ao-brasil

Terra
www.miguelimigrante.blogspot.com

quinta-feira, 27 de fevereiro de 2020

Cresce o número de pedidos de asilo na UE

Resultado de imagem para Cresce o número de pedidos de asilo na UE
O número de pedidos de asilo nos países da União Europeia cresceu 13% em 2019 em comparação a 2018, de acordo com um relatório do Gabinete Europeu de Apoio ao Asilo (EASO, no acrônimo em inglês).
"Mais de 714.000 inscrições foram enviadas à UE em 2019, 13% a mais do que em 2018", diz o documento, ao qual a Sputnik teve acesso.
Essa é a primeira vez, desde 2015, que há um aumento nas solicitações de asilo no bloco europeu de um ano para o outro.
Segundo as autoridades europeias, tal crescimento, em grande medida, se deve a solicitações feitas principalmente por cidadãos de Estados que possuem o direito de entrar em países do espaço Schengen sem visto, e não à imigração ilegal. Ainda assim, os líderes em pedidos de asilo foram cidadãos de países de fora da Europa: Síria, Afeganistão e Venezuela. 
Sputnik
www.miguelimigrante.blogspot.com

Quaresma no Chile: Campanha da Fraternidade 2020 em favor dos migrantes

A campanha pretende recolher fundos para financiar projetos em favor das comunidades migrantes no país, no setor do acolhimento, proteção, promoção e integração.

Migrantes latino-americanos
“A sua e a nossa contribuição, esperança para todos”. Este é o lema da Campanha da Fraternidade 2020 promovida pela Igreja no Chile, no Tempo da Quaresma. A iniciativa  nesta Quarta-feira de Cinzas (26/02), e se concluirá em 5 de abril, Domingo de Ramos.
A campanha pretende arrecadar fundos para financiar projetos em favor das comunidades migrantes no país, no setor do acolhimento, proteção, promoção e integração.
“Nos últimos anos, aumentou o fluxo migratório em direção ao Chile, superando as possibilidades reais de acolhimento e atenção aos migrantes vulneráveis da parte do Governo, da sociedade civil e da pastoral eclesial. Este é um grande desafio e uma responsabilidade para toda a América Latina e Caribe”, lê-se no site da Conferência Episcopal Chilena.
Graças ao fundo arrecadado em 2019, agora é possível ajudar 39 projetos dentro do país.
Durante a campanha, as paróquias e os sacerdotes do país recebem um folheto com informações e indicações para promover a iniciativa entre os fiéis, movimentos eclesiais, escolas e famílias.
“A equipe da Campanha da Fraternidade”, lê-se ainda, “convida todos a participar do projeto, pensando nos irmãos e irmãs migrantes que precisam de nós”.
A Conferência Episcopal Chilena pede para usar as redes sociais para partilhar e conscientizar cada vez mais as pessoas sobre a campanha.
Radio Vaticano
www.radiomigrantes.net 

quarta-feira, 26 de fevereiro de 2020

Comissão de Migrações e Refugiados faz primeira reunião em 5 de março

BIE - 04/05/2018 - Refugiados venezuelanos embarcam em avião da Força Aérea Brasileira, em Boa Vista (RO), com destino à Manaus e São Paulo.  Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil
No dia 5 de março ocorrerá a primeira reunião de trabalho da Comissão Mista Permanente sobre Migrações Internacionais e Refugiados. A intenção é convidar entidades como o Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) para debater a política brasileira de acolhimento a essas pessoas.
De acordo com a ACNUR e o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE), o Brasil está em quinto lugar no ranking dos países que mais recebem venezuelanos — são mais de 4 milhões de pessoas que fugiram da situação política-econômica naquele país. Segundo ACNUR e Conare, em primeiro lugar está a Colômbia (1,3 milhão), seguida por Peru (800 mil), Chile (300 mil), Equador (280 mil) e Brasil (170 mil).
Além dos venezuelanos, o país tem recebido haitianos (mais de 60 mil desde 2010), cubanos (cerca de 2 mil nos últimos 5 anos) e sírios (em torno de 1.500 também nos últimos cinco anos), de acordo com dados oficiais.
Na segunda parte da reunião, os deputados e senadores que integram o colegiado devem elaborar um plano de trabalho e um cronograma de atividades para 2020. A comissão tem como presidente e vice-presidente, respectivamente, a deputada Bruna Furlan (PSDB-SP) e o senador Paulo Paim (PT-SP).
Agência Senado
www.miguelimigrante.blogspot.com

Empresas colombianas abrem as portas para refugiados e migrantes venezuelanos

Longe de ser apenas um gesto de caridade, as empresas colombianas estão descobrindo que contratar refugiados e migrantes venezuelanos faz sentido nos negócios. Leia reportagem da Agência das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR).
César Jiménez Martínez, surdo desde que nasceu, trabalha na rede de hamburguerias Sierra Nevada, em Bogotá, Colômbia. Crédito: ACNUR / Daniel Dreifuss.
César Jiménez Martínez, surdo desde que nasceu, trabalha na rede de hamburguerias Sierra Nevada, em Bogotá, Colômbia. Crédito: ACNUR / Daniel Dreifuss.
O venezuelano César Jiménez Martínez é surdo desde que nasceu. Agora ele também é refugiado. Mas a empresa colombiana de fast-food Sierra Nevada viu além e reconheceu nele um bom funcionário.
“Quando cheguei a Bogotá, imprimi vários currículos e comecei a ir de empresa em empresa, procurando qualquer tipo de trabalho. Mas ninguém me contratou”, disse César em linguagem de sinais através de um intérprete. “Então, quando fui à minha entrevista na Sierra Nevada e eles me pediram para começar no dia seguinte, foi uma sensação muito boa”, acrescentou.
A rede local de hambúrguer e milk-shake está entre um número pequeno, mas crescente, de atores do setor privado colombiano que começaram a abrir suas portas para refugiados e migrantes venezuelanos, saindo na frente para oferecer o que os especialistas dizem estar entre os indicadores mais críticos do sucesso futuro de um refugiado: emprego estável.
Vários meses depois que César chegou a Bogotá, vindo de sua casa na cidade de Maracay, no norte da Venezuela, um amigo contou a ele sobre uma lista de empregos que ele viu na rede social Facebook e que procurava especificamente por refugiados e migrantes, pessoas da comunidade LGBTI e pessoas como ele, com necessidades específicas.
A administração da empresa tomou a decisão de adotar práticas de contratação inclusivas, chegando ao ponto de estabelecer cotas-alvo para cada um dos grupos. Valeu a pena, dizem os executivos da empresa.
“Descobrimos que os venezuelanos estão entre os nossos melhores funcionários”, disse Marcela Covelli Escobar, diretora de recursos humanos da Sierra Nevada. “Eles passaram por muita coisa e ficam tão felizes e agradecidos por terem um emprego que realmente se esforçam muito”, pontuou.
Os refugiados e migrantes venezuelanos agora representam cerca de 20% da força de trabalho dos 160 colaboradores da Serra Nevada, e César é um dos 17 funcionários surdos.
César trabalha principalmente na estação de fritura e na churrasqueira, seu local favorito. O salário que ganha cobre os custos do modesto apartamento onde ele mora com sua esposa e filho, além de todas as outras despesas da família. Ocasionalmente, ele envia dinheiro para sua mãe e outros membros da família que ficaram na Venezuela.
Estima-se que cerca de 4,5 milhões de venezuelanos fugiram de escassez, inflação desenfreada, insegurança e perseguição, principalmente para outros países da América do Sul, embarcando em jornadas rumo à vizinha Colômbia, ao norte da Argentina ou até a extremidade sul do continente, no Chile.
Em novembro do ano passado, a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e a Organização Internacional para as Migrações (OIM) lançaram um plano de 1,35 bilhão de dólares para responder às crescentes necessidades dos refugiados e migrantes venezuelanos na América Latina e no Caribe e nas comunidades que os acolhem.
Na Colômbia e em outros países, muitos lutam para obter documentos de trabalho, algumas vezes aceitando remunerações consideravelmente abaixo do salário mínimo devido ao desespero – o que acaba prejudicando tanto os trabalhadores venezuelanos quanto os colombianos. E mesmo aqueles que conseguem obter o direito ao trabalho costumam contar histórias de terem sido sumariamente dispensados de entrevistas de emprego assim que os recrutadores descobriram sua nacionalidade.
Ainda assim, Cesar não está sozinho no time dos que encontraram esperança no novo emprego.
Laura Espinosa*, 37, também está apoiando a si e à sua família, graças à decisão explícita de outra empresa privada de contratar refugiados e migrantes venezuelanos. Ex-funcionária pública da Venezuela, Laura desistiu de uma carreira profissional de mais de uma década para começar do zero na Colômbia.
Logo depois de fugir, ela soube que a exportadora de flores Sunshine Bouquets estava contratando centenas de refugiados e migrantes venezuelanos para trabalhar durante a alta temporada que antecede o Dia dos Namorados. Os selecionados seriam transportados de ônibus de Cúcuta, cidade ao leste da Colômbia e que faz fronteira com a Venezuela, que é o ponto de entrada de muitos refugiados e migrantes, para Tabio, norte de Bogotá, onde estão algumas das gigantescas estufas da Sunshine Bouquet, bem como uma instalação para fabricação de buquês de flores.
Os trabalhadores receberiam comida e alojamento – em trailers equipados com água quente e outras comodidades – durante o mês de contrato, permitindo que embolsassem o salário do mês na Colômbia, cerca de 250 dólares, mais horas extras.
“Eu sempre trabalhei em empregos de colarinho branco e nunca fiz qualquer tipo de trabalho manual”, disse Laura, que trabalha nas estufas, cuidando das fileiras de rosas e também montando os buquês que são transportados diariamente para varejistas americanos como o Walmart. “Mas fiquei muito feliz por essa oportunidade, arregacei as mangas e dei o meu melhor”, afirmou.
Laura impressionou seus chefes e recebeu um posto definitivo quando a alta temporada terminou. Seus pais e filha de sete anos se mudaram com ela para um apartamento da região. Laura sustenta toda a família com o que ganha.
“Todos os dias sou grata por terem me aberto as portas aqui, porque, por mais difícil que tenha sido a saída da Venezuela para nós, graças ao meu trabalho, nosso caminho foi muito mais fácil do que o de outras pessoas”, disse.
O emprego é um componente essencial da proteção de refugiados, solicitantes de refúgio e migrantes nos países que os acolhem. Os meios de subsistência são um dos pilares do Pacto Global sobre Refugiados, um acordo histórico de 2018 para forjar uma resposta mais forte e justa aos movimentos de refugiados.
O Pacto Global foi a base do Fórum Global sobre Refugiados, que reuniu em Genebra, Suíça, entre 16 e 18 de dezembro de 2019, governos, organizações internacionais, autoridades locais, sociedade civil, setor privado, membros da comunidade anfitriã e refugiados.
O Fórum visou aliviar a pressão nas comunidades anfitriãs, impulsionar a autonomia dos refugiados e aumentar as oportunidades de reassentamento.
Onu
www.miguelimigrante.blogspot.com

terça-feira, 25 de fevereiro de 2020

PASTORAL DO MIGRANTE EM GOIÂNIA

A maioria dos atendimentos no escritório físico é para migrantes internos, brasileiros, geralmente provenientes do Norte e Nordeste, enquanto o número de estrangeiros vem aumentando.
A presença Scalabriniana em Goiânia existe desde o final da década de 1980, mas foi em 2000 que a Pastoral do Migrante abriu um escritório na rodoviária da cidade para atender a população migrante em situação de vulnerabilidade presente no local. O objetivo é acolher, escutar, dar orientações e prover auxílio às necessidades mais básicas, como o fornecimento de roupas, alimentos, ajuda de custo para que regressem a seus locais de origem e até para tratamento médico.

Posto de atendimento da pastoral na rodoviária de Goiânia / Foto Igor B. Cunha – CSEM
A equipe presente no local é composta por oito voluntários que se alternam durante a tarde, de 14h às 18h, entre pessoas religiosas e leigas que se dedicam a ajudar o próximo. A atual diretora da pastoral é a Irmã Glória Dal Pozzo, missionária da Congregação das Irmãs Missionárias de São Carlos Borromeo – Scalabrinianas (MSCS).
Além da Congregação das Irmãs Scalabrinianas, atuam em conjunto a Congregação das Irmãs da Caridade de Montreal e a Congregação das Irmãs Vicentinas.
Espiritualidade
Uma vez ao mês as pessoas envolvidas com a Pastoral do Migrante e quem passa pela rodoviária de Goiânia são convidadas a participarem da Santa Missa presidida pelo bispo auxiliar de Goiânia, Dom Moacir Silva Arantes. Segundo a diretora da pastoral, é um momento no qual quem passa pelo local pode encontrar um espaço de religiosidade.
Advocacy
A pastoral promove mensalmente um encontro com o Grupo Inter-religioso, onde se discute sobre a situação das pessoas migrantes na região. Além disso, ainda faz parte do Comitê de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas em Goiás, que possui o objetivo de contribuir para o desenvolvimento de ações preventivas,
Em razão do Dia Internacional dos Direitos Humanos, a diretora da pastoral, Irmã Scalabriniana Glória Dal Pozzo recebeu pela Câmara Municipal de Goiânia uma homenagem conferida às pessoas que se destacaram nos trabalhos e ações no âmbito da defesa dos Direitos Humanos, Sociais, Políticos e da Cidadania. Já a prefeitura de Aparecida de Goiânia a certificou com Honra ao Mérito, junto a outros representantes de entidades que contribuem para a defesa dos Direitos Humanos. 
Novos fluxos atendidos
Além do fluxo de migrantes internos que a pastoral atende por meio de seu escritório na rodoviária – cerca de 700 atendimentos anuais, recentemente o fluxo de estrangeiros aumentou. A maioria dos que vêm do exterior são haitianos e venezuelanos em busca de novos meios de vida na cidade.
Angelica Maria Armas Gil, 33, é uma das migrantes venezuelanas atendidas pela Pastoral do Migrante de Goiânia. Ela começou sua jornada pelo Brasil há 4 anos, decidiu migrar com a ajuda de redes de contatos de amigos que já estavam no país e poderiam ajudá-la. Passou por Boa Vista – RR, Alter do Chão – PA, cidade onde foi furtada e perdeu seu passaporte, e depois Brasília – DF e logo Goiânia – GO. Na capital do país deu à luz a seu filho Jackson Alejandro, e já em Goiânia se viu obrigada a buscar um dos abrigos da prefeitura para pessoas em situação de rua, pois devido à falta de documentos e à falta de vagas nas creches públicas da cidade não consegue mais trabalhar como malabarista – sua antiga ocupação.
A migrante venezuelana relata que a vida nos abrigos da prefeitura é difícil para uma migrante: além das constantes brigas e ameaças entre as residentes, que a obriga a estar sempre atenta à sua integridade e a de seu filho, ainda, segundo ela, “alguns funcionários [públicos, do município] se sentem no poder de humilhar as pessoas”, e os casos de discriminação ocorrem frequentemente. A falta de segurança e o descaso a afligem. A pastoral atualmente está auxiliando para que ela consiga alugar um quarto pequeno em outro lugar de Goiânia.
Riscos nas casas de acolhida
Ir. Glória denuncia que os migrantes que chegam às casas de acolhida de Goiânia encontram sempre situações muito difíceis, de conflitos e falta de preparo para atender estrangeiros. Em maio de 2019, dois homens foram mortos na Casa de Acolhida de Campinas, setor central da capital goiana, e um deles era o migrante africano Mohamed Alie Jalloh, de 25 anos.
Ir. Glória Dal Pozzo – Diretora da Pastoral dos Migrantes de Goiânia / Foto Igor B. Cunha – CSEM
Segundo a diretora da pastoral, um sonho antigo é o de que seja criada uma casa de acolhida específica para migrantes e refugiados na região, para que os casos de maior complexidade possam ser acompanhados de perto por equipes especializadas.
Apesar dos riscos, Angelica conta que outros servidores públicos a ajudaram no sentido de ceder seus aparelhos telefônicos para falar com sua família na Venezuela, serviço que não é oferecido oficialmente pelas casas de acolhida da prefeitura mas comum em outras casas de acolhida pelo mundo que são específicas para migrantes.
Desafios e percepção dos brasileiros sobre a migração
Angelica notou que no último ano a rejeição aos migrantes no país aumentou: “Nos primeiros anos eu não via tanto [a xenofobia] mas agora entendo que quando é turista, tudo bem. Mas se você vem pra morar, tudo muda”. Segundo ela, as notícias na mídia que mostram migrantes cometendo delitos podem ser interpretadas por brasileiros de forma equivocada, generalizando a ligação entre criminalidade e migração.
Entre os desafios, a migrante elenca que o fato do Brasil ser o único país do continente a falar o português dificulta muito a adaptação dos migrantes estrangeiros. Apesar de alguns grupos oferecerem aulas gratuitas do idioma para migrantes na cidade, a questão linguística continua sendo uma das maiores dificuldades ao procurar por trabalhos “com mais qualidade”, ou lidar com processos burocráticos, por exemplo.
A Igreja Ortodoxa e a prefeitura de Aparecida de Goiânia estão construindo uma creche no município da Grande Goiânia e a instituição será destinada especialmente aos filhos(as) de migrantes e pessoas em situação de vulnerabilidade na cidade. O projeto nasceu devido à necessidade de grupos de migrantes haitianos que sofriam por conta com a falta de vagas nas creches locais, tendo a necessidade de deixar seus filhos para que possam trabalhar. Estima-se que no bairro Expansul existam mais de 300 famílias de haitianos e a inauguração está prevista para abril de 2020.

Saiba como ajudar
A Pastoral dos Migrantes de Goiânia atende migrantes internos e estrangeiros na capital goiana que estão em busca de emprego e outras formas de oportunidades. A contratação de um migrante ou refugiado é facilitada através da plataforma Empresas com Refugiados, uma iniciativa da Rede Brasil, do Pacto Global da ONU e da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
Pastoral do  Migrante Goiana
www.miguelimigrante.blogspot.com

'Bolsa Família', pobreza e migração no Brasil e na América Latina

Programa surgiu para transferir uma renda nacional para os extratos mais pobres da população
Engrossa cada vez mais no Brasil a fila à espera desse benefício. De acordo com as estimativas, ao redor de um milhão de famílias aguardam o atendimento. Criado para transferir algumas migalhas da renda nacional para os extratos mais pobres da população – menos de R$ 170 por pessoa – o programa “Bolsa Família” passou de governo para governo, o que significa que representa um fator de distribuição de renda, ainda que mínimo. Certo, o programa apresenta uma série brechas, contradições e falta de fiscalização, dando margem a práticas escusas de oportunismo e tráfico de influência. Tanto que a contrapartida das famílias beneficiadas, em especial a frequência à escola e os cuidados com a saúde, deixa muito a desejar. Porém, substituir um modelo de fiscalização sério e responsável por um bloqueio do programa não parece ser a solução mais adequada. O quadro de torna ainda mais grave no contexto atual de acentuado desemprego e subemprego, do crescimento do trabalho informal e da precariedade das condições reais de trabalho.
A situação das famílias de baixa renda piora ainda mais com a estridente desigualdade social que se verifica na economia globalizada em geral. Na América Latina e no Brasil, em particular, a distância entre os que ocupam o pico da pirâmide socioeconômica e os que habitam a base vem se aprofundado progressivamente com a crise prolongada. Já é conhecido e notório o fato de que, enquanto a renda tende a crescer para a faixa de 1% ou de 10% da população mais rica, diminui em proporção inversa para aqueles que se encontram entre os 80% ou 90% mais pobres. Desnecessário repetir que essa assimetria gritante e escandalosa tem consequências danosas para todo o continente e seus respectivos países.
Os resultados são evidentes a olho nu. Basta verificar o aumento das pessoas (e famílias) em situação de rua, com destaque para as grandes cidades, capitais e metrópoles; o fluxo cada vez mais intenso de migrantes e/ou refugiados em busca de novas oportunidades, como as caravanas da América Central em direção à fronteira entre Guatemala e México e entre México e Estados Unidos; os números de profissionais de várias categorias, às vezes com curso superior, dispostos a aceitar os “bicos” de toda sorte; as diversas formas de exploração sexual e/ou trabalhista das crianças, jovens e adolescentes de ambos os sexos; a sobrecarga de trabalho para os poucos “privilegiados” que ainda mantêm um emprego com carteira assinada; a remuneração inferior para o trabalho feminino em iguais condições do masculino...
Sempre tendo em vista o contexto das imensas disparidades sociais que marcam a população de nossos países latino-americanos, convém chamar a atenção para os riscos que rondam os povos indígenas, as comunidades ribeirinhas e quilombolas da região amazônica, como demonstra a Exportação Apostólica pós-sinodal Querida Amazônia, do papa Francisco. Outro olhar atento volta-se para os imigrantes indocumentados e a população afro-descendente. Não é raro ver seus representantes utilizados em serviços árduos e pesados, “análogos à escravidão”, eufemismo que dissimula os casos de escravidão pura e simples. Aqui o olhar se estende pelas regiões fronteiriças, onde centenas e milhares de migrantes são recrutados temporariamente para as safras agrícolas, outros literalmente se escondem nos porões sórdidos e insalubres da indústria têxtil, ou ainda no chamado trabalho doméstico ou autônomo, uma forma de fazer recair sobre os ombros dos trabalhadores e das trabalhadoras todo o ônus dos encargos sociais.
Sacrificar o programa Bolsa Família, em lugar de criar mecanismos eficazes de fiscalização, retrata o descaso das autoridades para com a “questão social”, além de agravar o pesadelo de centenas de milhares de famílias brasileiras.

Instituto Humanitas Unisinos
www.miguelimigrante.blogspot.com