Nos últimos 30 anos, o Vale do São Francisco vem se
tornando um destino bastante procurado por estrangeiros que aportam no Sertão
banhado pelo Rio São Francisco em busca de oportunidades, seja como empregado
ou empreendedor. A tradição de acolher os imigrantes na região vem do tempo em
que Petrolina era conhecida por "PASSAGEM
para o Juazeiro". Quando a
fruticultura irrigada começou a mudar a paisagem árida na década de 60, a
chegada de estrangeiros oriundos do Japão e Israel foi uma das pontes de abertura
para essa migração em favor do desenvolvimento socioeconômico.
O médico
Não demorou muito e o Vale passou a figurar com um
cenário promissor no mapa do Nordeste. Atraídos pelo panorama do
empreendedorismo inicial nos segmentos da produção de frutas e vinhos,
investidores de outras nacionalidades começaram a se multiplicar, com a chegada
de italianos. Já na última década, Petrolina e a vizinha Juazeiro (BA), começou
a atrair uruguaios, cubanos, peruanos além de estrangeiros de outros países
latinos que redesenham o novo mapa econômico e cultural da região. Nem todos
estão ligados ao agronegócio.
É o caso do médico peruano Edgar Acuña Orellana,
33, que desembarcou no Brasil há dois anos, em busca de um lugar para fazer a
residência médica. “Cheguei a essa região porque a vi como um campo favorável
para a prática dos meus conhecimentos”, diz ele, concursado da prefeitura de
Petrolina. Natural da cidade de Cuzco, Edgar formou-se pela Universidad Mayor
de San Simon, na Bolívia. O jovem médico precisou fazer provas de revalidação
do diploma para exercer a medicina no Brasil.
“Acredito que para se trabalhar em qualquer parte
do mundo é preciso revalidar. Isso me deu autonomia e me deixa em igualdade de
condição a todos os médicos brasileiros. Em contrapartida, exalta as minhas
raízes, já que a melhor forma de mantê-las é atuando bem. Quando perguntarem de
que país é esse bom médico, vão responder que é do Peru”, argumenta Edgar.
Petrolina e Juazeiro estão cada vez mais
consolidadas como polo médico. Mas a região também vem se transformando em um
extenso câmpus universitário, fator que fez o professor italiano Nicola
Andrian, 47, atravessar o oceano rumo ao Sertão nordestino. Formado em Ciências
da Educação, ele desejava conhecer o Brasil e a oportunidade surgiu quando
realizava um trabalho com freiras salesianas em uma escola de rede privada,
dando aulas de vôlei.
À época, o coordenador de esportes do colégio o
convidou para participar como voluntário do projeto Pequenos Trabalhadores de
Petrolina (Petrape), uma ONG que cuida de menores em situação de risco no
Brasil, oferecendo diversas atividades socioeducativas. Ao chegar à região
sertaneja em 2000, o educador não conhecia nada sobre a cidade. “Pensava que o
nome Petrolina estivesse relacionado com Petróleo. Depois comecei a ver que não
tinha nada a ver com o que eu havia pensado”, contou.
Como sua linha de pesquisa estava direcionada para
a formação de adultos, com intuito de identificar as deficiências existentes no
auxílio à reeducação de crianças e adolescentes, Nicola permaneceu no projeto
por dois meses. “Após minha experiência no projeto, foi iniciado um convênio
entre a Universidade de Pádua-Itália e a Universidade de Pernambuco, o que deu
início a minha vida como docente em Petrolina”, explicou.
EMPREENDEDORISMO
A versatilidade do empreendedorismo também atraiu o
empresário cubano Alain Sanches Martín, 37, que chegou à cidade em 2006 para
trabalhar inicialmente na rede hoteleira da cidade. Há pouco mais de dois anos,
ele conseguiu montar seu estabelecimento investindo em pizza e crepes, com
ingredientes diferenciados. “O grande diferencial está na forma como preparo a
massa. Substituo o fermento por maçã, que é uma tradição cubana, única no vale
do São Francisco”, afirmou. O cubano se diz harmonizado na região onde
constituiu família e agora espera a chegada do filho. Ele garante estar
realizado, pois conseguiu construir o próprio estabelecimento, colocando em
prática seu espírito empreendedor. “Caso ainda estivesse em Cuba seria algo
impossível, pelas restrições e os embargos comerciais do país”, disse.
Com a crise econômica que vem assolando boa parte
da Europa – incluindo Portugal – a imigração é uma das saídas e o Nordeste tem
se configurado numa boa opção. Foi nessa região sertaneja de calor escaldante
que José de Azevedo Saldanha, 31, decidiu desembarcar com a mulher brasileira
Eliana Mariano da Silva, 31, e a filha do casal Lídia Inês, 6. A escolha por
Petrolina se deu porque parte da família de Eliana Silva é da região. “Vim
parar aqui por causa da minha esposa, que é de uma localidade próxima à Casa
Nova (BA). Ela morou em Portugal por dez anos. Devido à situação econômica
atual da Europa a gente decidiu vir pra cá”, acrescentou José que atua como
inspetor de qualidade do Parque Eólico instalado na região da Bahia.
“Lá em Portugal tínhamos um padrão de vida
melhor. Nossa filha não precisava estudar em escola particular para ter uma boa
formação. O casal ainda pensa em voltar a morar em Portugal. “Pretendemos
voltar, só não sabemos quando. O povo daqui é acolhedor e simpático.
Muitas coisas nos prende à região agora, além da gastronomia que é muito boa”,
disse o português prevendo que o Vale do São Franciscano, ainda deve
atrair muita gente de seu país.
Eliane Simões e Débora Sousa
Jornal do Commercio
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