Todo mundo, ou
quase, tem um parente ou amigo que morou ou mora no exterior. O fenômeno da
emigração brasileira tem como pano de fundo a crise econômica dos anos 1980 e
1990, a “década perdida”.
Inicialmente
formado por pioneiros que partiam e se instalavam no exterior, esse movimento
tornou-se um fenômeno generalizado e fez a fama da cidade de Governador
Valadares, em Minas Gerais. Nessa época, fluxos massivos de brasileiros
partiram do País em direção ao exterior e se instalavam principalmente nos
Estados Unidos, no Japão e também em país da Europa.
Segundo
estimativas, entre as décadas de 1980 e 1990, cerca de 2 milhões de pessoas
imigraram para o exterior. Migrar deixou de ser um fenômeno isolado de quem
sonhava em “fazer a América” para algo comum.
De tão comum, o
assunto foi até tema de novela. Quem não se lembra da novela “América” em que a
protagonista usou de todos os meios para chegar ao “El Dorado” estadunidense?
Atualmente, além
dos Estados Unidos, outros países têm recebido um fluxo importante de
brasileiros que buscam melhores condições de vida, como a França, a Alemanha e
a Suíça. Esse movimento ganhou tal amplitude em razão das redes migratórias. Formadas
muitas vezes por agenciadores e facilitadores – muitos deles membros de
verdadeiras quadrilhas -, elas participam ativamente na ida dessas pessoas para
o exterior.
Uma das
características desses imigrantes é o fato de se encontrarem em situação migratória
irregular. Os “ilegais”, muitos deles de formação superior e originários de
nossa classe média, partiram e partem em direção ao estrangeiro para ocupar
postos de trabalho inferiores às suas formações.
É comum encontrar
pessoas com curso superior como lavadores de pratos nos restaurantes de Nova
York e como faxineiras e babás das famílias ricas norte-americanas.
Além deles, há
também os trabalhadores das usinas japonesas e os pedreiros em Portugal. Esses
são casos típicos de brasileiros que, em razão da falta de perspectivas
profissionais, viram na migração uma alternativa à hiperinflação, ao desemprego
e à instabilidade econômica dos anos 1980 e 1990.
Esses são nossos
“exilados econômicos”, como apontaram a alguns estudiosos na época. A esses
indivíduos que vivem do subemprego e vivendo como ilegais somam-se, atualmente,
os brasileiros que são alvos de políticas de recrutamento de trabalhadores
qualificados, como é o caso de Québec, no Canadá e da Austrália.
Não se conhece o
real tamanho da comunidade brasileira lá fora. Os dados disponíveis provêm de
estimativas feitas pelo Ministério das Relações Exteriores que, desde 2008,
publica os números da comunidade brasileira no exterior.
Os três primeiros
anos dessas publicações revelaram aumento da emigração brasileira. Parte desse
crescimento entre 2008 e 2011, apesar da crise econômica mundial, é atribuído à
continuidade/inércia do movimento migratório motivada nos anos precedentes pela
expansão econômica nos países de destino, que incentivou a emigração.
As publicações mais
recentes de 2011 e 2012 mostram uma ligeira redução no tamanho da comunidade
‘brazuca’. Essa redução pode ser atribuída tanto aos efeitos da crise econômica
nesses países como, inversamente, ao crescimento econômico no Brasil contribuindo
para a volta de muitos brasileiros.
Entre 2012 e 2013
houve uma retomada do crescimento do movimento de saída dos brasileiros,
provavelmente ligada à remigração daqueles que voltaram e à migração daqueles
que anteriormente não quiseram ou não puderam emigrar.
Não recebendo
nenhuma atenção específica por parte do Estado, somente nos últimos 15 anos
algumas iniciativas foram tomadas em prol da diáspora brasileira buscando
atender às suas necessidades.
Houve a ampliação
de serviços, como os “consulados itinerantes”, realizando missões em locais sem
representação consular; a criação da “Subsecretaria Geral das Comunidades
Brasileiras no Exterior”; aumento de recursos destinados à assistência aos
brasileiros e a realização periódica das conferências “Brasileiros no Mundo”,
reunindo representantes das comunidades brasileiras e representantes do
governo.
Em 2010, tornou-se
oficial a iniciativa de se eleger representantes das comunidades estreitando as
relações entre a comunidade e os consulados.
Brasil como destino
Mas o Brasil não
sofre apenas o movimento de saída, uma diáspora. Nos últimos anos, o Brasil
entrou na rota das migrações internacionais como país de destino.
Os fluxos de
estrangeiros em direção ao Brasil têm aumentado sensivelmente e o caso dos
bolivianos e dos haitianos tornou-se paradigmático.
O Brasil tem
recebido imigrantes originários de países vizinhos, de países da África, do
Oriente Médio e da Ásia, que buscam no Brasil o seu American dream.
Infelizmente, esses indivíduos têm sido vítimas de agenciadores inescrupulosos
e de empregadores que os empregam em sistemas de semiescravidão, principalmente
em ateliês de confecção de roupas.
Além deles, o
Brasil tem recebido também um fluxo crescente de refugiados provenientes de
países em situação de crises humanitárias, como aquelas vividas por países da
África e do Oriente Médio.
Ademais, o Brasil
tem recebido imigrantes qualificados vindos da Europa que, em razão da crise
econômica que afeta parte dos países da região, têm buscado no Brasil uma
oportunidade profissional. Esses indivíduos vêm ocupar, principalmente, o
mercado de trabalho que têm sofrido com escassez de mão de obra, como os da
tecnologia e da engenharia.
O Brasil entrou na
rota das migrações internacionais pela porta dos fundos. Só que essa porta dos
fundos ganhou tapete vermelho, embora ainda não seja o caso de comemorar.
Há outros objetivos
a serem alcançados, como a representação política dos nossos emigrantes que
merecem eleger seus representantes na Câmara. É preciso pensar também na sorte
desses que saem de seus países e que consideram o nosso país como o “El
Dorado”. As necessidades dos nossos e dos outros que se tornaram nossos devem
fazer parte de nossa agenda política, qualquer que seja o presidente do Brasil
a partir de 2015.
foto : Jornal GGN
Brasil Debate
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Erika
Pereira de Almeida
É socióloga e doutoranda
em Sociologia pela Universidade Paris Sorbonne, França. Pesquisadora do Centre
Population et développement, INED, França
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