sábado, 30 de dezembro de 2023

Milei quer cobrar taxa de estrangeiros que estudam de graça na Argentina; Gustavo Petro diz que vai repatriar 20 mil universitários colombianos

 

Javier Milei durante cerimônia de posse, no dia 10 de dezembro de 2023 — Foto: REUTERS/Agustin Marcarian

Uma das medidas para economizar dinheiro que Javier Milei, o novo presidente da Argentina, propôs é a cobrança de uma taxa de alunos estrangeiros que estudam em universidades argentinas.

A cobrança será para os alunos estrangeiros que têm residência temporária na Argentina –ou seja, depois de formados, devem voltar aos seus países de origem.

O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, afirmou na rede social X (Twitter) que o governo vai repatriar 20 mil estudantes colombianos que estudavam gratuitamente na Argentina. “(Eles foram literalmente expulsos desse país (da Argentina), para eles não houve a chamada ‘liberdade’. Vamos trabalhar para que eles sigam com seus estudos na Colômbia sem grandes obstáculos e também gratuitamente”, disse o presidente colombiano.

A citação a liberdade é uma indireta para Javier Milei, um ultraortodoxo que diz ser libertário.

Números de alunos estrangeiros na Argentina

De acordo com uma reportagem do “La Nación”, os números mais recentes de alunos estrangeiros são de 2021.

  • Total de alunos matriculados no ensino superior no país: 2,73 milhões.
  • Alunos estrangeiros: 117,8 mil, ou 4,3% do total.
  • A grande maioria (95,9%) é de latino-americanos.
  • Na Universidade de Buenos Aires, uma das mais importantes do país, a porcentagem de estrangeiros em cursos de graduação é de 9,5%, e nos cursos de pós são 16,5%.
  • O número de estrangeiros tem crescido no país. Segundo o “La Nación”, de 2015 para cá, a porcentagem duplicou.

Reação das universidades

A Universidade de Buenos Aires deve dar uma resposta formal ao projeto de lei de Milei, mas chefes de departamento já se pronunciaram.

Guillermo Durán, da Faculdade de Ciências Exatas, disse que a medida é inconstitucional porque uma decisão como essa deveria ser tomada pela universidade, e não pelo governo –na Argentina, a autonomia universitária é garantida pela Constituição.

Ele também afirma que a cobrança não faria tanta diferença do ponto de vista do orçamento.

Fonte: G1

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População mundial aumentou em 75 milhões em 2023


Foto: Ed Jones/AFP/Getty Image

Dados divulgados pelo Departamento do Censo dos Estados Unidos nesta quinta-feira (28/12) apontam que em 2023 a população mundial aumentou em 75 milhões de pessoas, com uma taxa de crescimento 0,95%.

Segundo o levantamento, o mundo superou neste ano a marca de 8 bilhões de pessoas. No dia 1º de janeiro de 2024, a população mundial deverá ser de 8.019.876.189.

O estudo calcula que, no início de 2024, deverão ocorrer a cada segundo 4,3 nascimentos e duas mortes em todo o mundo.

Imigração evita queda populacional nos EUA

Nos EUA, a taxa de crescimento populacional foi de 0,53%, pouco mais da metade do índice global. A população americana aumentou em 1,7 milhão, devendo chegar a 335,8 milhões em 1º de janeiro.

Se a tendência atual continuar até o final da década, os anos 2020 poderão ser a década de crescimento mais lento na história americana, com taxa de 4% no período de 2020 a 2030, afirmou o demógrafo William Frey da Brookings Institution.

Até agra, o crescimento mais lento da população dos EUA foi registrado durante o período da chamada Grande Depressão, nos anos 1930, com taxa de 7,3% na década.

"É claro que o crescimento poderá receber um leve impulso enquanto ainda saímos dos anos da pandemia, mas seria muito difícil chegar a 7,3%", avalia Frey.

No início de 2024, os EUA deverão ter um nascimento a cada nove segundos e uma morte a cada 9,5 segundos. Por outro lado, a imigração líquida deverá acrescentar uma pessoa a cada 28,3 segundos.

A combinação dos dados de nascimentos, mortes e imigração líquida deverá resultar em um aumento da população americana em uma pessoa a cada 24,2 segundos.

O Departamento do Censo dos EUA calcula que a população mundial tenha atingido a marca de 8 bilhões em 26 de setembro de 2023. Mas, segundo a Divisão das Nações Unidas sobre População, isso teria ocorrido em 15 de novembro de 2022.

O crescimento populacional global está desacelerando desde os anos 1960. Foram necessários 12 anos e meio para que a população mundial superasse a marca de 7 para 8 bilhões. De acordo com o Departamento do Censo americano, deverá levar 14,1 anos até o mundo chegar à marca de 9 bilhões de habitantes, e 16,4 anos até atingirmos os 10 bilhões, o que deve ocorrer por volta de 2055.

Tendência de queda também no Brasil

No Brasil, o Censo Demográfico de 2022, divulgado em outubro deste ano pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), revelou que o país teve um crescimento populacional de 6,5% entre 2010 e 2022, o que representa um aumento de 12,3 milhões de pessoas.

Nesse mesmo período, a taxa de crescimento anual da população foi de 0,52% – a menor registrada desde o primeiro Censo realizado no país, em 1872.

Em 2022, a população do país chegou a 203,1 milhões de habitantes.

Desde o início dos registros, o Brasil aumentou a sua população em mais de 20 vezes, com um acréscimo de 193,1 milhões de habitantes. O maior crescimento, em números absolutos, foi registrado nas décadas de 70 e 80, quando houve um acréscimo de 27,8 milhões de habitantes.

dw.com/pt-br

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sexta-feira, 29 de dezembro de 2023

Doação histórica de alimentos feita por alunos de medicina da UFPR garante segurança alimentar de migrantes e refugiados em Toledo

 

A quarta edição dos Jogos Interturmas de Medicina, da Universidade Federal do Paraná (UFPR) - Campus de Toledo foi promovida pela Associação Atlética Acadêmica de Medicina de Toledo (AAAMT), sendo marcada não apenas pela competição saudável entre as turmas, mas também por uma nobre ação solidária que emocionou e beneficiou migrantes e refugiados da Região Oeste do Paraná.

Competição e Solidariedade: Uma Combinação Vitoriosa

Com a participação de 10 turmas, o evento, que já se tornou tradicional na Universidade Federal do Paraná em Toledo, foi pautado nos três pilares fundamentais da atlética: esportes, integração e ação social. Além dos momentos de intensa disputa nas quase 10 modalidades esportivas, os estudantes surpreenderam ao arrecadar quase duas toneladas e meia de alimentos.

O vice-presidente da atlética, Eduardo Lang Ten Caten, destacou a importância da competição como uma forma de retribuir à comunidade que acolhe os alunos em seus estágios e atividades esportivas ao longo do ano. Ele ressaltou que a modalidade de ação social no ano anterior resultou na doação de quase 600 brinquedos para comunidades carentes, e este ano a arrecadação de alimentos alcançou a impressionante marca de 2.232 kg.

Solidariedade que Transforma Vidas

Os alimentos arrecadados foram destinados à Embaixada Solidária, uma entidade que atua como referência no atendimento a migrantes, atendendo mais de 30 países. Nunca antes a entidade havia recebido uma doação tão expressiva. Edna Nunes, presidente da Embaixada Solidária, expressou sua gratidão pela generosidade dos estudantes, ressaltando que as doações serão fundamentais para atravessar os meses de janeiro e fevereiro, tradicionalmente mais desafiadores em termos de doações.

"Ficamos emocionados com o empenho e a força de vontade de cada um dos alunos e envolvidos na ação. Além da felicidade pelo volume de doações que vai possibilitar que não falte o pão na mesa daqueles que precisam, também ficamos tocados pela atitude destes profissionais em formação. A solidariedade é algo elogiável e que eleva a prática profissional e humana", afirmou Edna Nunes.

Parceria Perene com a Embaixada Solidária

Essa não é a primeira vez que os acadêmicos de medicina estabelecem uma parceria com a Embaixada Solidária. Além das doações recentes, os estudantes já participaram de diversas ações da organização, promovendo momentos de convivência com as crianças assistidas pela entidade.

A presidente da AAAMT, Milena Belli Bochnia, expressou seu orgulho pelos resultados alcançados, destacando que a parceria entre a atlética e a Embaixada Solidária não apenas proporciona qualidade de vida e dignidade aos beneficiados, mas também fortalece o compromisso social dos futuros profissionais de medicina.

Conclusão: Um Fim de Ano Mais Feliz para Todos

O esforço conjunto dos estudantes de Medicina da UFPR/Toledo resultou em um Natal mais feliz para migrantes e refugiados, refletindo o espírito solidário e a dedicação desses futuros profissionais em fazer a diferença na vida daqueles que mais precisam.

A ação exemplar dos acadêmicos destaca a importância de unir esporte, integração e solidariedade, mostrando que, além de formar excelentes profissionais da saúde, a Universidade contribui para a formação de cidadãos conscientes e comprometidos com o bem-estar da sociedade.


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quinta-feira, 28 de dezembro de 2023

Das igrejas aos ritmos musicais, documentário resgata influência africana nos sinos do Brasil

 

Tabita Said

“Noite Feliz”, “Bate o Sino”, “Dobre de Finados”. Entre toques sagrados e repiques profanos, os sinos das igrejas, assim como de outros espaços públicos do Brasil, operaram como a voz das cidades, anunciando chegadas, partidas, incidentes e celebrações. Com a mudança da paisagem sonora e o surgimento da comunicação eletrônica, os campanários foram perdendo a centralidade que tinham no passado. Mesmo as igrejas passaram a receber sistemas eletrônicos e automatizados, que substituíram a figura dos sineiros.

Vindos da África Centro-Ocidental e compreendendo diferentes povos da faixa atlântica do continente, esses africanos de chegada forçada ao Brasil trouxeram consigo um conhecimento antigo de uso e manipulação de sinos. Mais do que isso: em um complexo sistema de línguas tonais, seus ouvidos estavam treinados para escutar e mandar mensagens por meio de instrumentos como os agogôs – sinos de campana dupla sem badalo.

“Nenhuma cultura musical ocidental alcançou esse grau de complexidade linguística. Essas pessoas literalmente ouviam, seja um tambor, um instrumento de corda, de sopro. E, neste caso aqui, os sinos falam”, explica Rafael Galante, etnomusicólogo e doutor em História Social pela Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP.

Sua tese de doutorado, intitulada Essa gunga veio de lá!” – Sinos e sineiros na África Centro-Ocidental e no Brasil centro-africano recebeu o 1º lugar do Prêmio Sílvio Romero de Monografias de Folclore e Cultura Popular 2023, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan).

O trabalho também serviu como base para a produção de um documentário do Jornal da USP, que resgatou as relações dos sinos entre europeus, africanos, brasileiros e sua influência para a formação da cultura musical do Brasil.

/jornal.usp.br

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Rafael Galante é etnomusicólogo e doutor em História Social pela USP - Foto: reprodução Canal 



Minas traça plano para acolher refugiados e migrantes; saiba ações previstas

Rovena Rosa//Agencia Brasil

Política de apoio a refugiados foi sancionada a reboque de projeto apresentado por deputada do PT

Rovena Rosa/Agência Brasi

 

O governo de Minas Gerais vai adotar uma política voltada à proteção e ao acolhimento de migrantes e refugiados que se deslocam para o estado. O plano de apoio a essas populações já foi tornado lei e consta na edição desta quinta-feira (28) do Diário Oficial do Estado.

A ideia é garantir que os cidadãos que chegam a Minas tenham espaços de acolhida emergencial e direito ao uso de seus documentos originais de identificação para acessar serviços públicos como os hospitais do Sistema Único de Saúde (SUS). Crianças e adolescentes terão direito a ingressar na na rede pública de ensino independentemente de suas situações documentais.

A lei, sancionada pelo governador Romeu Zema (Novo), é fruto de projeto apresentado pela deputada estadual Leninha, do PT. O arcabouço de medidas em prol dos migrantes e refugiados abrange, também, cidadãos apátridas e retornados.

A lista de ações voltadas a essas populações faz menção, ainda, a ações ligadas a tópicos como a inclusão no mercado formal de trabalho e o acesso a programas habitacionais.

Quatro eixos fundamentais

A política de apoio aos refugiados e migrantes está amparada em quatro princípios. O primeiro deles é o respeito aos acordos e tratados internacionais de direitos humanos seguidos pelo Brasil. Depois, há o respeito às especificidades individuais referentes a gênero, raça, etnia, orientação sexual, idade, religião e deficiência.

O acesso universal aos serviços públicos e o diálogo entre as diferentes áreas do poder público também fazem parte da nova lei.

“O Poder Executivo poderá instituir canal de denúncias para atendimento em casos de discriminação e de outras violações de direitos fundamentais da população de migrantes, refugiados, apátridas e retornados ocorridas em serviços e equipamentos públicos”, lê-se em trecho do decreto do governador Zema.

itatiaia.com.br

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quarta-feira, 27 de dezembro de 2023

O deslocamento forçado de palestinos constitui violação grave do direito internacional, dizem especialistas internacionais

 

Faixa de Gaza: campo de refugiados palestinos (Foto: IBRAHEEM ABU MUSTAFA/REUTERS)

O deslocamento forçado de palestinos constitui violação grave do direito internacional, dizem especialistas internacionais

O Conselho Norueguês para os Refugiados (NRC) alertou que qualquer tentativa de Israel de deportar e deslocar permanentemente palestinos constitui uma violação grave do direito internacional e um crime de atrocidade, informa a agência palestina de notícias WAFA.

Esta preocupação surge na sequência da transferência forçada de centenas de milhares de palestinos dentro de Gaza por parte de Israel. Os palestinos temem que novos deslocamentos possam levar a uma crise de refugiados como os acontecimentos catastróficos de 1948, conhecidos em árabe como “Nakba”.

 medida que as operações militares israelenses em Gaza aproximam os civis das suas fronteiras meridionais, aumenta a possibilidade iminente de deportação em massa de palestinos para o Egito. Esta perspectiva alarmante surge na sequência de recentes notícias nos meios de comunicação social e de declarações explícitas de responsáveis israelenses que apoiam tal deportação sem justificação razoável, alojamento adequado em locais de refúgio ou garantias de regresso às casas assim que as hostilidades terminarem.

“A transferência e deportação forçadas de uma população significativa através das fronteiras, sem quaisquer garantias de regresso, constituiria uma violação grave do direito internacional, equivalente a um crime de atrocidade”, afirmou Jan Egeland, Secretário-Geral do Conselho Norueguês para os Refugiados.

brasil247

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Mais de 11 mil migrantes esperam em acampamentos no México para tentar entrar nos EUA

 

Migrantes caminham em caravana para chegar à fronteira dos EUA pelo México, em Huixtla26/12/2023REUTERS/Jose Torres

Embora milhares de migrantes entrem ilegalmente nos Estados Unidos todos os dias, mais de 11 mil deles continuam esperando em abrigos e campos no lado mexicano da fronteira, disseram líderes comunitários à CNN. Muitos esperam entrar nos EUA pelas vias legais estabelecidas pela administração do presidente Joe Biden, como o CBP One.

Em Tijuana, no México –fronteira com San Diego, na Califórnia– cerca de 3,8 mil migrantes do país, além de pessoas de Cuba, Haiti e Venezuela, estão hospedadas em abrigos, segundo Enrique Lucero, diretor de assuntos de imigração da localidade

Ele afirma ainda que há casos em que os migrantes perdem a paciência e decidem entrar ilegalmente nos Estados Unidos em vez de esperar pela nomeação no CBP One.

Em Reynosa, no México –fronteira com McAllen, no Texas– outros 3.273 migrantes aguardam nos abrigos Senda De Vida, segundo Héctor Silva, o pastor que administra as instalações.

Na vizinha Matamoros, no México –fronteira com Brownsville, no Texas– cerca de 4 mil migrantes vivem em campos, abrigos e casas abandonadas, segundo Glady Cañas, que dirige a Ayudándoles a Triunfar (Ajudando-os a triunfar, em tradução livre), uma organização sem fins lucrativos local. “Eles estão desesperados”, disse Cañas.

Mortes não “espantam” migrantes

Em dezembro, três migrantes morreram afogados no Rio Grande, na zona de Matamoros. Apesar dos perigos, todos continuam a atravessar o rio para chegar aos Estados Unidos.

Cañas diz que muitos migrantes compreendem que não se qualificam para asilo, mas ficam cegos pelos vídeos e mensagens que recebem de outras pessoas que foram processadas ​​pelas autoridades de imigração dos EUA e libertadas em comunidades dos EUA.

“Os migrantes só compartilham a beleza, mas não compartilham a realidade. É isso que me preocupa”, disse Cañas.

Enquanto a administração Biden tenta impor consequências legais à entrada ilegal, o Departamento de Segurança Interna dos EUA anunciou que deportou ou devolveu mais de 445 mil migrantes desde maio; a maioria atravessou a fronteira sul.

Esse número supera o total de remoções no ano fiscal de 2019, informou a agência no local.

cnnbrasil.com.br

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terça-feira, 26 de dezembro de 2023

Os efeitos da violência política e desinformação no Brasil

 

 UN Women/Johis Alarcon
 
Mulher participa de uma marcha contra a violência de gênero em Quito, Equador.


Banco Mundial recomenda cooperação contínua entre governos, sociedade civil e plataformas digitais para lidar com a questão; recomendações enfatizam necessidade de colaboração contínua entre governos, sociedade civil e plataformas digitais.*

A conquista de uma paridade de gênero ainda está distante, sobretudo no contexto da política, de acordo com análise envolvendo especialistas do Banco Mundial. 

O alerta faz parte de um artigo da especialista sênior em Direito e Gênero do Banco Mundial, Paula Tavares, e do professor de Direitos Humanos e Novas Tecnologias da Universidade do Extremo Sul Catarinense, Unesc, Gustavo Borges.

Mulheres da delegação brasileira participam de evento indígena durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, COP28, na Expo City, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos
COP28/Mahmoud Khaled
 
Mulheres da delegação brasileira participam de evento indígena durante a Conferência da ONU sobre Mudanças Climáticas, COP28, na Expo City, em Dubai, nos Emirados Árabes Unidos

Baixa representação feminina nos parlamentos 

Conforme dados do Mapa de Mulheres na Política da IPU-ONU, a média global de representação feminina nos parlamentos é baixa, registrando apenas 26,5%. No início de 2023, somente 27% das nações tinham uma líder feminina, apesar das mulheres representarem 49,7% da população global

“No Brasil, no que pesem as conquistas alcançadas por movimentos femininos e avanços legislativos em prol da igualdade de gênero, a representação de mulheres na política não tem acompanhado. No cenário político nacional, a representação feminina no Congresso é de apenas 18%. Considerando âmbito municipal e recortes específicos, os índices são ainda menores. As mulheres governam 12% dos municípios do Brasil, e, quando se analisam os dados das mulheres negras, o percentual cai para 4%. As regiões com os maiores percentuais de prefeitas mulheres são o Norte (15%) e o Nordeste (17%), enquanto o Sul (9%) e o Sudeste (8%) ocupam as últimas posições.”

Promoção da igualdade de gênero

Esses números não apenas ficam aquém da média mundial, mas também estão significativamente abaixo da representação demográfica equitativa, destacando a urgência de esforços contínuos para promoção da igualdade de gênero na esfera política, em consonância com o Objetivo de Desenvolvimento Sustentável 5 das Nações Unidas.”

O especialista Gustavo Borges ressalta a interação entre atos violentos e os efeitos na política de gênero.

“A desigualdade de gênero na política é alimentada, em parte, pela violência política de gênero. Apesar de representarem a minoria da representação política, as mulheres foram vítimas de 36% dos casos de violência política registrados no Brasil entre 2020 e 2022. A violência contra as mulheres na política é cada vez mais reconhecida em todo o mundo como uma tática emergente para dissuadir a participação política das mulheres, especialmente na sociedade da informação em que as novas tecnologias ampliam a manifestação da liberdade de expressão, mas também multiplicam os riscos e ameaças no ambiente online. Dentre todas as manifestações de violência política, as formas não físicas, como assédio e abuso online, predominam.”

Ele explicou que a desinformação, que consiste na disseminação intencional de informações falsas com o intuito de causar danos, emerge como um desafio significativo nesse contexto.

Quando fundamentada em questões de gênero, ela representa uma vertente de violência política de gênero que busca minar a liberdade de expressão e enfraquecer os fundamentos democráticos.

Mulheres na vida pública

Além de ser uma arma de influência política, a desinformação de gênero é sistematicamente empregada contra mulheres na vida pública. Mesmo aquelas que alcançam votações históricas na vida política são sujeitas a uma variedade de ataques pelo simples fato de serem mulheres. 

As consequências não se limitam aos prejuízos individuais, acentuando estereótipos sexistas e fomentando atitudes misóginas, de modo a desencorajar as gerações mais jovens a buscar cargos públicos ou ingressar na esfera pública.

Paula Tavares faz uma leitura do cenário brasileiro falando das etapas até o momento atual.

“Pesquisas demonstram que, no Brasil, 58% das mulheres prefeitas afirmam ter sofrido assédio ou violência política pelo fato de ser mulher, sendo que, destas, apenas a metade registrou queixas ou boletim de ocorrência. Aproximadamente 74% sofreram divulgação de informações falsas, enquanto 66% foram alvo de ataques de discurso de ódio nas plataformas de mídias sociais. Nos últimos anos, algumas medidas foram tomadas pelo Brasil para mitigar o problema, como a promulgação da Lei Federal 14.192, de 4 de agosto de 2021, que criminaliza a violência política contra a mulher. As eleições de 2022 foram as primeiras após a vigência da lei, contando, inclusive, com uma página dedicada exclusivamente para denúncias de violência política de gênero.”

Com o surgimento das tecnologias digitais, um dos consensos foi o de ampliar a inclusão tecnológica, especialmente de mulheres e meninas
© Unicef/Srikanth Kolari
 
Com o surgimento das tecnologias digitais, um dos consensos foi o de ampliar a inclusão tecnológica, especialmente de mulheres e meninas

Propósito de reduzir a participação pública

Este cenário reforça a urgência de medidas concretas para mitigar e prevenir essa forma específica de violência política, de acordo com a especialista.

No âmbito desse tema, a relatora especial das Nações Unidas para a Liberdade de Opinião e Expressão, Irene Khan, promoveu uma consulta pública, visando reunir perspectivas sobre as relações entre liberdade de expressão e as dimensões de gênero da desinformação.

O desfecho desta consulta encontra-se detalhado em um relatório das Nações Unidas, evidenciando que a desinformação de gênero se utiliza de preconceitos, estereótipos, sexismo, misoginia e normas sociais e culturais fundamentadas em valores patriarcais. 

Essa prática visa ameaçar, intimidar, silenciar e excluir mulheres e indivíduos não conformes com as expectativas de gênero dos espaços públicos e posições de poder. O propósito final da desinformação de gênero é reduzir a participação pública, limitar a diversidade de vozes e opiniões, inclusive na mídia.

Base sólida para a implementação de estratégias

“Para a construção de um conceito claro de desinformação de gênero, é crucial considerar três atributos fundamentais: conteúdo, objetivo e alvo. O conceito tradicional de desinformação, definido como a disseminação intencional de informações falsas com o intuito de causar danos, revela-se inadequado para abordar de maneira abrangente a complexidade da violência contra as mulheres. No que tange ao conteúdo, a desinformação de gênero não se limita apenas à propagação de informações falsas; ela pode incorporar narrativas de gênero preexistentes, manipulando-as e amplificando-as para reafirmar estereótipos e preconceitos arraigados. Quanto ao objetivo, vale salientar que a desinformação de gênero não tem apenas o propósito de causar danos individuais; sua meta é dissuadir ativamente a participação das mulheres na esfera política. No que diz respeito ao alvo, é preciso destacar que a desinformação de gênero se direciona especificamente às mulheres.”

Um argumento do estudo é que se deve entender a desinformação de gênero como a disseminação de informações falsas, manipuladas ou amplificadas, que reafirmam estereótipos e preconceitos contra mulheres. 

O objetivo é dissuadir ativamente a participação feminina na esfera política, enfraquecendo instituições democráticas e minando a coesão de sociedades inclusivas.

Como avançar no combate à desinformação 

O combate à desinformação requer a atuação em diversas frentes, incluindo governos, sociedade civil e plataformas digitais. Nesse contexto, exemplos emergentes apontam alguns caminhos.

Como detalhado no relatório das Nações Unidas, governos têm adotado três tipos de legislação para combater a desinformação de gênero: leis relativas à violência online, leis que combatem a desinformação de maneira específica, e regulamentações voltadas a plataformas de mídia social para coibir a disseminação de conteúdo nocivo.

No Brasil, embora a legislação de combate à violência de gênero on-line tenha sido promulgada, uma regulamentação específica para a desinformação continua ausente. No contexto global, desde 2015, a União Europeia e seus estados-membros têm avançado no combate à desinformação utilizando como referência as experiências de diferentes países. Um esforço recente e notável é o Código de Conduta reforçado em matéria de Desinformação de 2022, uma iniciativa pioneira que incentiva as partes interessadas do setor a formular padrões autorregulatórios. Além disso, a Lei dos Serviços Digitais (DSA) da União Europeia busca combater conteúdos ilegais e a desinformação, com base na qual vários projetos de lei têm sido propostos no Brasil.” 

Além da legislação, esforços para combater a violência online incluem a promoção da confiança na governança por meio de educação cívica, alfabetização midiática e jornalismo de interesse público. 

Outras estratégias abrangem campanhas de conscientização, capacitação, monitoramento de dados e colaborações, como a Coalizão de Ação em Tecnologia e Inovação, que buscam soluções para garantir maior equidade de gênero no espaço digital

Em última instância, a recomendação é para se avançar de maneira efetiva é preciso colaboração contínua entre governos, sociedade civil e plataformas digitais, visando combater a disseminação de desinformação de gênero e, por consequência, promover ativamente a igualdade de gênero na esfera política.

* Por Sidrônio Henrique, do Banco Mundial no Brasil.


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