sábado, 18 de outubro de 2014

TERCEIRA GUERRA MUNDIAL?

Pe. Alfredo J. Gonçalves, CS
O mundo parece convulcionado. Tensões e conflitos armados se multiplicam e se agravam em diversas partes do globo. A “guerra santa”, especialmente no Iraque e Síria, contra todos os príncipios do verdadeiro Islamismo, parece ressuscitar os enfrentamentos religiosos de séculos passados. É como se retornassem os fantasmas das cruzadas, das conquistas de território e das fogueiras da Inquisição. Mais recentemente, a epidemia do “ebola” dissemina uma espécie de fobia generalizada. Juntamente com a contaminação do vírus letal, verifica-se o contágio do medo, da inquietude, da insegurança! Aguns analistas falam de um Terceira Guerra Mundial, fragmentada e dispersa, sem dúvida, mas real e amplificada pela revolução dos transportes e das comunicações. Mundial porque envolve, de uma forma ou de outra, não apenas uma grande quantidade de países, mas também uma colossal multidão anônima.
Migrantes, refugiados, prófugos, expatriados, deslocados – às centenas, milhares e milhões – tentam a todo custo escapar à discriminação, à violência, à perseguição, à xenofobia e à guerra. Outros fogem de regiões tomadas pela pobreza, a miséria e a fome, na busca desesperada de uma sobrevivência que, a cada curva do caminho ou a cada fronteira a ser ultrapassada, parece lhes escapa por entre os dedos. Nos dois casos, parte desse contingente em marcha cai nas mãos do tráfico de seres humanos, sobretudo mulheres e crianças de ambos os sexos. E não poucos, nessa condição frágil e vulnerável, acabam sendo aliciados pelo crime organizado para o contrabando de droga e armas, entrando em becos sem saída e sem retorno. Disso resulta a crescente criminalização dos migrantes, bem como a confusão (às vezes deliberada) estes estes e as máfias de todos os matizes e com raio de ação planetário.
As autoridades governamentais, em nível nacional, regional e internacional, por oum lado, os Mass media e a opinião pública e a população, por outro, em graus e responsabilidades diversas, procuram se proteger, controlar as informações ou as rédeas do poder, tomar providências. Reuniões, assembleias e encontros de cúpula – sempre recheados de bandeiras, flores, champanhe e pose para fotos oficiais – produzem uma avalanche de documentos, punições, boicotes, retaliações (aos governos da Rússia e da Síria, por exemplo). Não cessa, porém, o comércio de armas, clandestino ou à ple luz do dia. Tampuco cessa a produção em série da indústria bélica, sobre a qual alguns países em crise prolongada depõem a esperança para o crescimento do PIB ou a retomada do crescimento econômico.
Por sua vez, o Papa Francisco, a exemplo dos pontífices que o antecederam, segue emitindo insistentes e veementes apelos à paz mundial. Palavras que mais parecem “pérolas atiradas aos porcos”, para usar a forte expressão do Evangelho (Mt 7,6). Soam como ecos vazios e cínicos sobre ouvidos moucos! Igual sensação de impotência acompanha os movimentos, marchas, campanhas e todo tipo de mobilização em prol do controle de armas. “O desenvolvimento é o novo nome da Paz”, escrevia o saudoso Paulo VI na Carta Encíclica Populorum Progressio, publicada em março de 1967.
Não sem razão e preocupação, vem à memória, por uma parte, a obra de Samuel P. Huntington, The Clash of Civilizations – O choque de Civilizações  e, por outra, o livro de Daniel Jonah Goldhagen, Worse than War – Pior que a Guerra. Ambos alertam para o extermínio de massa no contexto atual da economia globalizada, extermínio que teria como cenário progressivo, entre outros fatores, o desencontro (choque) civilizacional. Aqui, porém, cabe uma observação: em grande parte dos casos, as guerras que se revestem de roupagem aparentemente religosa, cultural ou civilizacional, no fundo, escondem interesses econômicos inconfessados e inconfessáveis, tais como, para citar alguns exemplos, justamente a indústria e comércio de armas (Estados Unidos e outros); o acesso às reservas de petróleo (Iraque e oriente médio), de gás (Rússia versus Ucrânia) e de minérios em geral (alguns países da África); e, como não poderia deixar de ser, no quadro de uma geopolítica mundial, o controle dos pontos nevrálgicos em nível global (Israel versus Palestina).

Roma, 17 de outubro de 2014

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