terça-feira, 31 de outubro de 2023

Ensino superior continua inacessível para estudantes que precisam trabalhar

 

Pesquisa aponta que apesar de avanços, desigualdades ainda impactam no ingresso e na permanência na Universidade – Fotomontagem: Jornal da USP – Imagens: rawpixel.com/Freepik

 

Mesmo que o acesso ao ensino superior tenha se expandido, instituições e cursos de graduação com melhor desempenho continuam sendo mais frequentados por indivíduos de classes altas. Os estudantes de classes baixas precisam se adaptar para conseguirem concluir a graduação. É o que mostra a dissertação de mestrado de Alice Assis de Figueiredo Roza, feita na Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. 

Alice Assis de Figueiredo Roza – Foto: Arquivo pessoal

Defendido em agosto deste ano, o estudo foi intitulado As políticas de expansão e democratização da educação superior no Brasil reduziram desigualdades? Análise do perfil socioeconômico dos concluintes dos cursos de graduação no período entre 2011 e 2019. A pesquisa foi realizada no âmbito do programa de pós-graduação em Ciência Política e teve orientação da professora Marta Teresa da Silva Arretche, da FFLCH.

A pesquisa mostrou como estudantes de baixa renda ainda possuem pouco acesso a cursos considerados elitistas e a instituições classificadas com maior qualidade. Alice buscou analisar a desigualdade no ensino superior, principalmente em relação ao curso e ao tipo de Instituição de Ensino Superior (IES) em que o aluno concluiu a graduação.

Diferença entre as instituições

Mesmo que a Lei de Cotas tenha validade apenas em instituições públicas, as privadas também apresentaram aumento da inclusão entre 2011 e 2019, devido ao aumento da quantidade de instituições particulares, segundo o Exame Nacional de Desempenho dos Estudantes (Enade). A pesquisa englobou três ciclos: 2011 a 2013, 2014 a 2016 e 2017 a 2019.

O gráfico mostra o aumento de estudantes que ingressaram nas instituições por meio de ações afirmativas – Fonte: Dados fornecidos pelo Enade – Imagem: Elaborada pela pesquisadora

 

Outro ponto estudado por Alice é como a qualidade dos cursos muda de acordo com a instituição, segundo índices do Enade. “Quando analisamos o desempenho em questão de qualidade do curso em que o estudante está se formando, as universidades federais se destacam de forma absurda. A maioria é uma média acima de quatro no Enade. Já nas universidades privadas, as notas são mais baixas”, explica a pesquisadora.

Estudante de baixa renda


A partir das particularidades apresentadas por cada instituição, um aluno de baixa renda, muitas vezes, precisa escolher entre a possibilidade de trabalhar durante a graduação ou se formar em uma instituição de maior qualidade. Segundo Alice, políticas de assistência podem auxiliar os estudantes, mas elas ainda são muito pequenas comparadas à demanda. 

“Nas instituições privadas, muitos estudantes trabalham e sustentam a família. Já a maioria desses estudantes da IES pública não trabalha, dependendo da família para custear os gastos pessoais. Eles têm perfil muito parecido ao de quem, por exemplo, é de alta renda e veio da escola privada”, afirma a pesquisadora. Ela ainda destaca que muitos cursos em instituições públicas oferecem atividades em tempo integral, o que dificulta a conciliação com o trabalho remunerado.

Com 57 cursos de graduação analisados, Alice percebeu que eles apresentaram dinâmicas diferentes mesmo com a Lei de Cotas. Segundo a pesquisadora, ainda existem alguns cursos que são um pouco elitistas. Mudaram em comparação ao que eram antes, mas ainda assim apresentam um perfil de estudante bem diferente dos outros. 

Os cursos mostrados apresentaram porcentuais maiores de 50% de concluintes com perfil de alta renda em todos os ciclos – Fonte: Dados fornecidos pelo Enade – Imagem: Elaborada pela Comunicação Social da FFLCH

 

De acordo com a pesquisa, Medicina, o curso mais concorrido nos vestibulares do Brasil, manteve o perfil de alta renda como maioria dos concluintes. Relações Internacionais, Design, Engenharia da Computação, Engenharia e Engenharia Química são outros cursos que também mantiveram essa predominância. Mas, entre 2011 e 2019, todos tiveram maior distribuição de vagas entre os diferentes perfis. Segundo a pesquisa, a maior parte desses cursos também manteve maiores notas, melhor desempenho acadêmico e melhor qualidade no Enade. 

Por outro lado, cursos como Serviço Social, Letras e Filosofia apresentam maior porcentagem de alunos com perfil de baixa renda e de pretos, pardos e indígenas. Muitos dos estudantes também fizeram as graduações na modalidade educação a distância (EAD).

Igualar oportunidades

Com tanta desigualdade no ensino superior, Alice ressalta a necessidade de oferecer oportunidades semelhantes a todos para que estudantes de baixa renda não se concentrem apenas em instituições com conceito Enade mais baixo. 

A pesquisadora também explica que a desigualdade impacta no mercado de trabalho. “É difícil medir, mas sabemos que a qualidade da instituição apresenta um impacto muito grande na rede de contatos e nas oportunidades que a pessoa vai ter ao longo da graduação”, diz. 

Estudantes reunidos. Pesquisa aponta que apesar de avanços, desigualdades ainda impactam no ingresso e na permanência na Universidade – Foto: Pedro Seno/Comunicação Social da FFLCH-USP

 

Ela ainda exemplifica: “Uma pessoa que concluiu a graduação em um curso que recebe, por exemplo, a nota 5, significa que aquele curso está fornecendo uma boa base para aquela pessoa. Um outro ponto interessante é que existem universidades que têm melhor reputação no mercado de trabalho e cursos que são mais valorizados pelo mercado”.

 

* Com texto de Thais Morimoto, da Assessoria de Comunicação da FFLCH

jornal.usp.br

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Cerca de 60 mil refugiados e descendentes palestinos vivem no Brasil


 Foto Wikipedea

O povo palestino vive há décadas a expulsão e a fuga contínua de seus territórios, devido à ocupação e colonização israelense desde 1948, com a criação do Estado de Israel. A Agência da Organização das Nações Unidas (ONU) para Assistência aos Refugiados Palestinos (Unrwa) aponta que 6 milhões de pessoas dependem dos serviços da entidade nos Territórios Palestinos da Faixa de Gaza e da Cisjordânia, assim como nos países vizinhos Líbano, Síria e Jordânia. 

Refugiados palestinos
Refugiados palestinos - Antônio Cruz/Agência Brasil

Tal fenômeno não é, portanto, resultado de conflitos pontuais, nem um episódio que ficou no passado. A avaliação é de especialistas e representantes da comunidade palestina no Brasil, que apontam a existência de um regime de apartheid na região.

tensão entre Israel e Palestina, que se estende há mais de 70 anos, envolve geopolítica, terras e religião, tendo em vista que a região é sagrada para o judaísmo, o islamismo e o cristianismo.

Além dos campos de refugiados no Oriente Médio, palestinos migraram para diversas partes do mundo, inclusive o Brasil. Estima-se que 60 mil imigrantes e refugiados palestinos, incluindo os descendentes, vivem no país, sendo a maioria em São Paulo, de acordo com levantamento da Federação Árabe-Palestina do Brasil (Fepal). 

É o caso da jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh, coordenadora da Frente em Defesa do Povo Palestino, que é filha de um sobrevivente da Nakba – palavra árabe que se refere ao êxodo de palestinos de áreas que se tornariam Israel.

O pai dela tinha 13 anos quando deixou a aldeia em que vivia, junto com cerca de 800 mil palestinos expulsos de suas terras.

“O meu pai é um que foi refugiado e passou a vida inteira sonhando com o retorno, como tantos outros. São seis milhões em campos de refugiados, mais milhares na diáspora. Ele faleceu há cinco meses, com 88 anos, e ele dizia o seguinte: ‘Filha, se eu pisar na minha terra e morrer, eu morro feliz’”, contou. 

Ela lamenta que o pai não tenha conseguido voltar à Palestina. “Nem o direito de pisar na terra dele e morrer feliz, ele teve. Isso é parte da tragédia palestina que continua até hoje, então o que nós estamos pedindo é socorro”, disse.

O avô materno de Aline Baker também fugiu da Palestina, no final da década de 1950, quando tinha cerca de 20 anos. Ele veio sozinho e não sabia falar português. O avô de Aline se instalou em Catanduva, no interior de São Paulo, onde alguns primos já moravam. Com ajuda dos parentes, começou a vender roupas de porta em porta e aprendeu português. Depois, casou-se e passou a viver definitivamente no Brasil.

Mesmo com a morte do avô, Aline conta que a família ainda mantém contato com os parentes na Palestina até hoje. “O contato nunca morreu. Sempre em contato por cartas, naquela época. E ele voltava lá de vez em quando, passeava, levou minha avó, minha mãe”, relatou.

“Ele contava histórias sempre com brilhos nos olhos. A gente sempre teve muita vontade de ir para lá, porque mesmo com a violência que sempre existiu ali, que ele viveu, ele sempre contava com muito amor, como que era o tratamento das pessoas, como que eles viviam lá, sobre a colheita. Ele sempre falou com muito amor e também, lógico, com muita dor”, disse, acrescentando que o avô sempre lamentava ver as cenas de violência nos conflitos na região e como os palestinos são retratados pela mídia.

Em relação à guerra, Aline Baker disse que não há um cidadão na Palestina que não tenha sofrido as consequências do conflito. “Não tem um cidadão que não tenha alguém [da família] que foi assassinado, ou por colono ou por soldados, ou que foi preso”. 

Expulsão

De acordo com o professor de Direito Internacional da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), João Amorim, a expulsão contínua dos palestinos de seu território começou antes mesmo da criação do Estado de Israel, já com a formação de algumas milícias judaicas na época, de resistência inclusive ao mandato britânico da Palestina. Com a Nakba, o processo foi agravado e houve uma grande migração forçada. 

“Imagine você sendo forçado a largar a sua casa agora, com a roupa do seu corpo, e fugir para outro país a pé, ou de carro, com o pouco que você tem. A sensação do desterro é algo que nunca vai abandonar o refugiado. Ele foi forçado a sair do lugar da história dele, dos afetos dele, o prejuízo é imenso. Ele não queria estar onde está e na condição que está”, disse Amorim à Agência Brasil, ressaltando que o Israel tem projeto de expulsar por completo árabes e palestinos da região.

Jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh
Jornalista palestino-brasileira Soraya Misleh - Rovena Rosa/Agência Brasil

Soraya considera que o povo palestino resiste, há 75 anos, a uma colonização “brutal” e uma “limpeza étnica”. “Enquanto falo com você, mais uma família palestina está sendo dizimada. Gaza, em que vivem 2,4 milhões de palestinos sob cerco desumano há 15 anos e uma crise humanitária dramática, já tinha enfrentado outros bombardeios massivos e frequentemente vinha sendo alvo do que chamamos de bombardeios ‘a conta-gotas’ por parte de Israel, por algumas horas ou um dia, sem que o mundo se desse conta”, disse em relação à violência que assola a região. 

O governo de Israel argumenta ter o direito e dever de se defender dos ataques, como o iniciado no dia 7 de outubro, por uma questão de existência. Os israelenses alegam que o grupo Hamas, que controla a Faixa de Gaza há mais de uma década, quer destruir o país, que tem obrigação de proteger seus cidadãos.

Pelo menos 8.306 palestinos foram mortos, incluindo 3.457 crianças, em ataques israelenses em Gaza desde 7 de outubro, informou o Ministério da Saúde da Faixa de Gaza, controlada pelo Hamas, nesta segunda-feira (30). Segundo Israel, o ataque do Hamas deixou mais de 1.400 mortos e 200 pessoas foram feitas reféns pelo grupo.

Outro conflito recente ocorreu em 2021 em meio a disputas pelo avanço de Israel sobre Jerusalém. Foram dez dias de ataques, resultando em 232 palestinos mortos, segundo autoridades de saúde em Gaza, e cerca de 1,9 mil feridos em ataques aéreos. Na época, Israel informou ter matado pelo menos 160 combatentes. Foram mortos 12 israelense, com centenas de feridos, segundo Israel.

Em 2018, cerca de 40 mil manifestantes, segundo dados do Exército israelense, marchavam na divisa entre Gaza e Israel para marcar os 70 anos da Nakba e foram atacados a tiros, deixando 2.771 feridos, sendo mais de 200 menores de idade.

Refúgios em conflito

Outra realidade que envolve os refugiados é serem forçados a ir para países que também enfrentam conflitos, como a Síria. Sem condições de permanência, precisam ser novamente deslocados.

O padre Marcelo Maróstica Quadro e vice-diretor da Cáritas Arquidiocesana de São Paulo, entidade que faz acolhimento no Brasil, aponta que parte dos palestinos que estão no país foram registrados como sírios, mas, na verdade, são palestinos que já estavam deslocados. 

“No Brasil, deve ter muito mais palestinos por causa desse processo de subnotificação, porque eles estavam em outro país, vieram de outro país, pela própria situação difícil do reconhecimento do Estado palestino”, avalia.

De acordo com ele, em 2007, houve um processo de reassentamento de 108 palestinos no Brasil, que vieram de um campo de refugiados na Jordânia. Um grupo ficou em São Paulo, e o restante foi para o Rio Grande do Sul.

“Terra com povo” 

Para o professor João Amorim, o discurso que a Palestina era uma terra sem povo não condiz como a verdade, argumento usado por lideranças sionistas. Ele explica que o plano da ONU, patrocinado pela Grã-Bretanha em 1947 e 1948, contava com a divisão do território para contemplar os judeus, o que viria a ser Estado de Israel, e um território para os árabes e palestinos. 

“Se era uma terra desocupada, por que que dividiram em dois pedaços? Dividiram em dois pedaços porque existia já historicamente uma série de povos vivendo naquele território”, concluiu. 

Segundo o especialista, sob o Império Romano, há mais de dois mil anos, havia na área não apenas os judeus, mas árabes, berberes, fenícios, diversas etnias e tribos convivendo ali. “Aquela região nunca foi despovoada, nunca foi um deserto, é uma inverdade você dizer que foi colocada ali porque era uma terra sem povo”, acrescentou.  

sionismo é um movimento surgido no século 19 na comunidade judia na Europa que buscava uma solução para a questão judaica. Naquela época, o antissemitismo – que é a discriminação contra os povos semitas, entre os quais, está o povo judeu – estava em crescimento no continente.

Foi o sionismo enquanto movimento político que deu corpo à criação do Estado de Israel, em 1947, logo após o Holocausto na Europa, quando cerca de 6 milhões de judeus foram assassinados, principalmente em campos de concentração da Alemanha nazista. O termo sionismo faz referência ao Monte Sião, nome de uma das colinas de Jerusalém e usado como sinônimo de terra prometida, ou terra de Israel.

Ualid Rabah é filho de pai e mãe refugiados da Palestina, vindos para o Brasil na década de 1960. “Nós fomos expulsos do [território] que Israel se tornou, em 78% da nossa terra roubada, 88% de nós fomos expulsos. Somos de uma terra que vive a ocupação, na Cisjordânia, em Gaza e Jerusalém Oriental”, disse. 

Rabah teme que a proporção da violência do atual conflito represente o extermínio de seu povo. “Somos de uma região que [se] vive sobre escombros e cadáveres, de uma região que morre 22 palestinos para cada israelense, que vive um regime de apartheid, e que neste momento vive este morticínio”, lamentou o presidente da Fepal. 

Prisão a céu aberto 

Especialista em Direito Internacional, João Amorim afirma que a Faixa de Gaza é considerada pelas Nações Unidas a maior prisão a céu aberto do mundo. Desde o bloqueio imposto por Israel, em 2007, a região tem acesso limitado a energia e água, cerca de cinco horas por dia, não há emprego para todos e os habitantes não podem entrar e sair quando desejam, conforme o professor.  

Palestina. 29/10/2023   Israel amplia ataques e determina que população de Gaza vá para o Sul. Palestinos procuram vítimas no local dos ataques israelenses a casas, na cidade de Gaza.  REUTERS/Mutasem Murtaja
29/10/2023 Israel amplia ataques e palestinos procuram vítimas na cidade de Gaza. REUTERS/Mutasem Murtaja 

Ualid Rabah disse que o cerco, inclusive, tem impedido a retirada dos palestinos da zona de conflito. “O processo de tornar Gaza inabitável visa, aos poucos, retirar os palestinos dali. Fazer com que os palestinos não sigam mais vivendo na sua terra”, avaliou.

Desde o início do conflito, o governo brasileiro atua para retirar brasileiros que estão em Gaza. Cerca de 30 brasileiros e familiares estão sendo acompanhados pela Representação do Brasil em Ramala, na Cisjordânia, e aguardam a abertura da fronteira com o Egito. A situação é preocupante porque, apesar da Embaixada enviar dinheiro, há dificuldade em se encontrar água e alimentos. Eles estão em casas alugadas pelo governo brasileiro.

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Edição: Carolina Pimentel

segunda-feira, 30 de outubro de 2023

Crianças de Gaza rezam pela paz e agradecem ao Papa Francisco

 Em um vídeo, um grupo de crianças da Paróquia da Sagrada Família rezam o Pai Nosso e a Ave-Maria para que a guerra termine. Acompanhando as vozes cristalinas, o barulho das bombas que caem.

Que se ponha fim à guerra: essa é a invocação que vem de Gaza, da Paróquia da Sagrada Família, onde a comunidade continua rezando pela paz, apesar dos pesados bombardeios, e cujo complexo abriga dezenas e dezenas de pessoas. "Graças a Deus, todos estão bem", diz o pároco Gabriel Romanelli, de Belém, de onde não conseguiu sair, mas fica constantemente atualizado pelo vice-pároco, Iusuf Asad.

O barulho das bombas

Na Faixa de Gaza, confirmam as poucas vozes que conseguem atravessar o blecaute das comunicações, a esta altura as pessoas estão privadas de tudo: alimentos, remédios, água potável e, também, telefone e internet. Padre Romanelli, no entanto, quer testemunhar, em meio a tanta angústia, a esperança das crianças refugiadas da paróquia, que há dois dias fizeram um vídeo dirigido ao Papa Francisco e a todos os que rezam pela paz.

São menos de dois minutos de imagens, nas quais, pequenos e outros maiores, cerca de 30 ao todo, e de várias idades, fazem o sinal da cruz, recitam o Pai Nosso, a Ave-Maria e Sob sua proteção buscam refúgio, nas quais agradecem ao Papa e rezam por ele, e que se encerram com uma saudação direta a todos. E, ao fundo, o barulho das bombas.

Vatican News

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ONU pede que Paquistão suspenda deportação que afeta 1,4 milhão de afegãos

 Jovens mulheres que fugiram do Afeganistão estudam no Paquistão

© AcnurMercury Transformations
 
Jovens mulheres que fugiram do Afeganistão estudam no Paquistão

Medida do governo paquistanês deve entrar em vigor em 1 de novembro; cerca de 2 milhões de afegãos “sem documentos” vivem no país; retorno para o Afeganistão representa risco de prisões e detenções arbitrárias, tortura, tratamentos cruéis e outros tratamentos desumanos.

Mais de 1,4 milhão de afegãos podem ser afetados por um anúncio do Paquistão de que planeja deportar cidadãos estrangeiros “sem documentos” que permaneçam no país após 1 de novembro. 

A preocupação com o impacto desproporcional da medida foi divulgada na última sexta-feira em mensagem transmitida pela porta-voz do Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos, Ravina Shamdasani. 

Deportação implica graves riscos

O órgão lembra que existem mais de dois milhões de afegãos “sem documentos” vivendo no Paquistão, dos quais pelo menos 600 mil deixaram o Afeganistão após a tomada do poder pelo Talibã em agosto de 2021.

Shamdasani afirmou que muitos dos que enfrentam a deportação correrão graves riscos de violações dos direitos humanos se regressarem ao Afeganistão, incluindo prisões e detenções arbitrárias, tortura, tratamentos cruéis e outros tratamentos desumanos.

Aqueles que estão particularmente em risco são ativistas da sociedade civil, jornalistas, defensores dos direitos humanos, antigos funcionários governamentais e membros das forças de segurança. 

Além disso, o Alto Comissariado destaca preocupação especial com mulheres e meninas em geral, que, como resultado das políticas ​​atualmente em vigor no Afeganistão, são banidas do ensino secundário e superior e outras esferas da vida pública.  

Apelo para evitar uma “catástrofe de direitos humanos”

A Agência da ONU para Refugiados, Acnur, e a Organização Internacional das Migrações, OIM, já documentaram um aumento acentuado nos regressos ao Afeganistão desde que o prazo foi anunciado pelo governo paquistanês em 3 de outubro.

Um relatório recente de ambas as agências estimou que 59.780 indivíduos já deixaram o Paquistão, 78% deles citaram o medo de serem presos como a razão para sair.

À medida que se aproxima o prazo de 1 de novembro, o Alto Comissariado da ONU para os Direitos Humanos pede às autoridades paquistanesas que suspendam os regressos forçados de cidadãos afegãos antes que seja “tarde demais para evitar uma catástrofe de direitos humanos”. 

Shamdasani enfatizou o apelo por proteção aos necessitados e a garantia de que quaisquer regressos futuros sejam seguros, dignos, voluntários e totalmente consistentes com o direito internacional.

Violações do direito internacional

Ela afirmou que as deportações sem determinações individualizadas de circunstâncias pessoais, incluindo quaisquer deportações em massa poderiam ser consideradas como violação do direito internacional e dos direitos humanos.

Em particular, seriam violadas a Convenção contra a Tortura e Outros Tratamentos ou Penas Cruéis, Desumanos ou Degradantes, da qual o Paquistão é Estado Parte, e a do Direito Internacional dos Refugiados.

A porta-voz ressaltou ainda que, à medida que o inverno se aproxima, “quaisquer deportações em massa irão certamente aprofundar a terrível crise humanitária no Afeganistão”. 

O país enfrenta o impacto devastador de uma série de terremotos que atingiram a província de Herat este mês, deixando pelo menos 1,4 mil mortos e 1,8 mil feridos, segundo dados oficiais. 

Onunews

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sexta-feira, 27 de outubro de 2023

Caritas internationalis: os migrantes climáticos precisam de proteções definidas

 

Foto Wikipedea 


Apresentado, neste 26 de outubro, o relatório da confederação que analisa as experiências das pessoas deslocadas dentro e fora das fronteiras devido às mudanças climáticas no âmbito global: o documento, uma contribuição para o debate global sobre como enfrentar as lacunas existentes em questões de prevenção, finanças, proteção jurídica e política.

Antonella Palermo – Vatican News

A ligação entre mudanças climáticas e a migração forçada é cada vez mais preocupante. A Caritas internationalis, que divulgou o relatório intitulado “Deslocados por um clima em mudança: vozes da Caritas sobre a proteção e o apoio às pessoas em movimento”, é a porta-voz da urgência de prevenir ações para limitar os danos de forma coordenada entre os Estados.

20 milhões de pessoas se mudam por causa das mudanças climáticas

A mobilidade, dentro e fora das fronteiras nacionais, induzida por eventos extremos ligados às variações climáticas do planeta, é aprofundada à luz do trabalho das Caritas locais em diferentes regiões. Faz-se um balanço das dificuldades enfrentadas pelos refugiados em 20 países. “O documento – lê-se no comunicado de apresentação – procura contribuir para o debate global sobre como enfrentar as lacunas existentes no planejamento, finanças, proteção jurídica e política para prevenir tais violações dos direitos humanos e as perdas e danos associados”. Maria Amparo Alonso, diretora de Defesa e Comunicação da Caritas Internationalis, falou sobre isso.

A pesquisa foi realizada com referência constante à mensagem do Papa para o Dia Mundial do Migrante e do Refugiado. “Queríamos entender a partir de uma perspectiva integrada qual é a realidade das pessoas que se deslocam, o seu acolhimento, os desafios. Na última década - sublinha - mais de 20 milhões de pessoas foram deslocadas todos os anos dentro das fronteiras de seus países devido a eventos meteorológicos extremos, mas isso é apenas parte do quadro porque observamos que esse fenômeno se refere a uma degradação progressiva do ambiente de onde fugiram”. Alonso especifica que “existem atualmente 3,3 bilhões de pessoas que vivem em nações de elevada vulnerabilidade humana, mas na realidade o número pode ser ainda maior”.

Alonso também conta a sua experiência pessoal de viver e trabalhar durante dois anos (de 2000 a 2002) na zona fronteiriça entre o Quênia e a Somália, onde viviam duas comunidades, uma de agricultores e outra de nômades. “Depois de uma seca forte e prolongada, os nômades começaram a invadir os territórios dos outros. Vinte anos depois a situação piorou. Aqueles que invadiram os territórios, agora já não têm gado", explica, falando de uma espécie de espiral viciosa em que estas pessoas ficam ainda mais frágeis porque carecem de proteção adequada. “Na Oceânia, por exemplo, as comunidades indígenas têm de se deslocar para outras ilhas, para outras áreas. Os pescadores são obrigados a tornarem-se agricultores”, refere ainda.

Prevenir a violação dos direitos humanos

“Perguntamo-nos quais as medidas que cada país implementa para responder a esta realidade”, afirma a diretora que insiste na necessidade de trabalhar para prevenir toda violação dos direitos humanos relativa a este tipo de contextos. “Às vezes as ferramentas existem, mas é necessário agir”: esta é uma “lacuna” crítica. “Há também a necessidade de construir bases de dados ad hoc, é muito importante neste momento histórico. O que os membros da Caritas nos dizem é que estas pessoas têm que enfrentar situações de precariedade, desintegração do núcleo familiar, discriminação, abuso, exploração, conflito. Por exemplo, na Somália e Djibuti, assiste-se a um aumento considerável no número de crianças não acompanhadas que chegam aos seus serviços. É essencial planejar a fim de reduzir o custo das intervenções que enfrentamos."

A Laudate Deum nos confirma que falta coragem para agir

“Da Cop28 (Conferência da ONU sobre o clima que terá início em Dubai no final de novembro - ndr) esperamos que o pensamento coletivo da criação do Fundo para Perdas e Danos seja fortalecido porque é necessário aumentar significativamente o financiamento para garantir proteção holística dos sujeitos”. Alonso expressa ao Papa Francisco a gratidão de todos aqueles que estão comprometidos em garantir um futuro digno a quem é obrigado a abandonar a sua pátria pela Exortação Apostólica Laudate Deum: “É uma inspiração que nos confirma no nosso trabalho. Quando o Papa fala do aumento da temperatura que corre o risco de ter consequências terríveis, devemos acolher isso como uma esperança. Ele insiste na coragem. Na verdade, falta a coragem. Pode haver preocupação, mas falta coragem e as ações que propomos no relatório responde precisamente a este apelo do Pontífice”.


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Escalada de conflitos deixa mais 4 milhões de deslocados nos últimos 3 meses

 Mulheres deslocadas esperam para receber assistência monetária em Kivu do Norte, República Democrática do Congo

Acnur/Blaise Sanyila
 
Mulheres deslocadas esperam para receber assistência monetária em Kivu do Norte, República Democrática do Congo

O número de pessoas deslocadas pela guerra, perseguição, violência e violações de direitos humanos em todo o mundo pode ter ultrapassado os 114 milhões no final de setembro.

O dado foi anunciado nesta quarta-feira pela Agência das Nações Unidas para Refugiados, Acnur, que lançou o seu Relatório Parcial de Tendências sobre deslocamentos. 

Destruição de vidas inocentes

Os principais motores do movimento forçado no primeiro semestre de 2023 foram a guerra na Ucrânia e conflitos no Sudão, República Democrática do Congo e Mianmar. 

Além disso, uma combinação de seca, inundações e insegurança na Somália e uma prolongada crise humanitária no Afeganistão, também receberam destaque no relatório. 

O alto comissário da ONU para os Refugiados, Filippo Grandi, disse que "o foco do mundo agora é, com razão, na catástrofe humanitária em Gaza. Mas, globalmente, muitos conflitos estão se proliferando ou escalando, destruindo vidas inocentes e deslocando as pessoas".

Segundo ele, “a incapacidade da comunidade internacional de resolver ou prevenir conflitos está impulsionando o deslocamento e a miséria.” 

Os migrantes desembarcam vindos do rio Chucunaque depois de cruzar a selva de Darién
OIM/Gema Cortes
 
Os migrantes desembarcam vindos do rio Chucunaque depois de cruzar a selva de Darién

4 milhões de deslocados em 3 meses

Até o final de junho, 110 milhões de pessoas haviam sido deslocadas à força em todo o mundo, um aumento de 1,6 milhão em relação ao final de 2022, de acordo com o relatório. 

Mais da metade de todas as pessoas que são forçadas a fugir nunca cruzam uma fronteira internacional. 

Nos três meses de junho até o final de setembro, o Acnur estima que o número de deslocamentos forçados cresceu em 4 milhões, elevando o total para 114 milhões. 

O conflito no Oriente Médio eclodiu em 7 de outubro, para além do período abrangido pelo levantamento.

Grandi disse que "à medida que assistimos ao desenrolar dos eventos em Gaza, Sudão e outros locais, a perspectiva de paz e soluções para refugiados e outras populações deslocadas pode parecer distante.” 

Ele acrescentou que mesmo em um contexto desafiador não se pode desistir de encontrar soluções para os refugiados.

Países de renda média e baixa são o principal destino

Países de rendas baixa e média acolheram 75% dos refugiados e outras pessoas que precisam de proteção internacional. Globalmente, 1,6 milhão de novos pedidos de asilo individuais foram feitos nos primeiros seis meses, o maior número já registrado.

Pouco mais de 404 mil retornos de refugiados foram registrados, mais do que o dobro do mesmo período de 2022. 

O relatório foi lançado na véspera do segundo Fórum Global de Refugiados, o maior encontro mundial sobre refugiados e outras pessoas deslocadas à força, que acontece em Genebra, de 13 a 15 de dezembro. 

Na ocasião, governos, refugiados, autoridades locais, organizações internacionais, sociedade civil e setor privado se reunirão para fortalecer a resposta global e buscar soluções para os níveis recordes de deslocamento.


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