segunda-feira, 31 de outubro de 2016

A odisseia dos haitianos que deixam o Brasil em crise com destino aos EUA

Tangerinas colocadas sobre o asfalto demarcam os gols. Na rua da Casa do Migrante de Tijuana, no norte do México, dois times se formam a cada tarde. De um lado, mexicanos que estão fugindo de suas casas devido a ameaças dos bandidos – “Ou você paga ou te mato” – e já viram familiares e vizinhos serem assassinados; do outro, haitianos que deixaram o seu país, o mais pobre das Américas, por causa do terremoto de 2010, se instalaram no Brasil e agora voltam a se debater contra o desemprego e a pobreza. A bola é verde e amarela. Haitianos e mexicanos começam o jogo. Todos chegaram aqui para tentar marcar um gol entre as duas tangerinas e na fronteira dos Estados Unidos.
O time do Haiti é relativamente novo. Desde junho, homens e mulheres sozinhos, adolescentes e famílias com crianças foram chegando às centenas a Tijuana e Mexicali, o outro ponto fronteiriço da Baixa Califórnia, até lotarem os centros mexicanos de acolhida. A crise econômica do Brasil, onde trabalhavam na construção com vistos temporários, gerou uma rota migratória inédita. As cifras oficiais nos últimos meses rondam as 8.000 pessoas, e a previsão é que o fluxo continue crescendo.
O Alto Comissariado da ONU para Refugiados (Acnur), a Organização Internacional para a Migração e até o secretário nacional de Governo (Casa Civil do México), Miguel Ángel Osorio Chong, visitaram a região para tentar controlar uma situação que as organizações de direitos humanos definem como de crise humanitária. Igrejas e centros religiosos foram preparados nas últimas semanas para evitar que se repitam as imagens de haitianos dormindo sobre mantas nas portas dos albergues.
Ao final da pelada, Leonardo Flores e Fedner Charles, de 20 e 21 anos, colocam os pratos e os copos sobre as mesas do refeitório do albergue. Os dois estão há quase um mês na casa, uma espécie de cortiço de três andares construído por padres italianos, com capacidade para 140 pessoas e que chegou a abrigar 200. Um não fala a língua do outro, mas o idioma da bola e as brincadeiras de adolescentes bastaram para que construíssem uma amizade enquanto esperam ser recebidos pelas autoridades migratórias norte-americanas.
Flores e seu pai deixaram Acapulco na noite em que dois homens apareceram no restaurante de tortillas da família e dobraram o valor da extorsão habitual. “O clima já estava muito pesado”, contou. Uma semana antes, ele viu outro rapaz ter a cabeça estourada por um tiro enquanto esperava o ônibus. Para contar isso, Flores faz um gesto de pistola com a mão. Charles arqueia as sobrancelhas. Acaba de entender o que diz seu amigo. Ele também viu companheiros morrerem durante sua viagem.
Nove países e mais de 11.000 quilômetros depois, sua história é parecida com a dos outros Ulisses caribenhos encalhados no norte do México. O terremoto de 2010 devastou sua cidade, Porto Príncipe. Sua família, que tinha uma pequena mercearia,procurou refúgio no Brasil, que na época precisava de trabalhadores para remodelar suas cidades que seriam sede da Copa do Mundo de 2014. “Mas agora não há mais trabalho, e o aluguel das casas é muito alto”, conta, em português com sotaque francês. Com uma mochila e as economias da família – 3.000 dólares, dos quais já não resta nada – empreendeu a viagem. De ônibus e a pé.
O pior trecho foi a fronteira entre a Costa Rica e a Nicarágua, cujo Governo vedou a entrada de migrantes – cubanos, africanos e haitianos – rumo ao norte. Para cruzar a América Central, território das máfias de tráfico humano, foram obrigados a pagar coiotes, os guias das redes de traficantes.
Charles foi assaltado em Honduras enquanto dormia ao relento. Guillerme, 26 anos, boné de beisebol e trança africana, foi roubado pelo seu próprio coiote. “Eu lhe dei 500 dólares, mas ele sumiu.” Precisou esperar um mês na Costa Rica até que sua família lhe mandasse mais dinheiro via Western Union. Quando finalmente entrou na Nicarágua, através do lago Cocibolca, o maior da América Central, recorda que uma mulher que vinha doente da selva panamenha não teve a mesma sorte e se perdeu na água. “Os Estados Unidos são o único país que pode nos ajudar”, diz, remexendo viseira com uma mistura de aflição e esperança.
O México respondeu a este novo fluxo concedendo uma permissão temporária por 20 dias a partir da entrada dos migrantes por Chiapas (sul). Enquanto isso, os EUA aumentaram de 75 para 100 a quota de solicitações diárias de asilo na fronteira. A metade é para refugiados mexicanos – um fenômeno quase invisível no país, mas que no ano passado somou quase 300.000 casos –, e a outra metade é para não mexicanos. “Por causa dessa saturação, os migrantes haitianos estão passando muito mais do que 20 dias na cidade. Nós os ajudamos a marcar hora com as autoridades dos EUA, e estão dando um prazo de quase dois meses. Enquanto isso, convivem aqui com outros migrantes e com os deportados”, diz Leonardo Martínez, coordenador de outro albergue, o Refeitório de Café da Manhã do padre Chava.
Na entrada do centro, um pátio de terra, foi erguido um grande barracão de madeira para dar proteção aos novos visitantes. Deitadas sobre mantas, mães haitianas amamentam seus filhos, enquanto uma fila de idosos espera o desjejum. É o caso de um salvadorenho que, em vez de se identificar, prefere levantar a camiseta e mostrar o tórax: faltam-lhe duas costelas, porque ficou sem dinheiro e o coiote o jogou de um trem em movimento; ou um mexicano, natural de Guadalajara, que tampouco revela seu nome, mas diz ter sido deportado três vezes e estar decidido a uma quarta tentativa através do Ninho da Águia, um pequeno morro de Tijuana, estratégico para quem se infiltra pela cerca fronteiriça.
“Com os haitianos, estamos encontrando um perfil completamente diferente do tradicional. Pessoas de classe média baixa, com menos de quarenta anos, e 20% delas crianças. Além disso, vêm com a ideia muito clara de obter autorização de entrada nos EUA”, diz Araceli Almaraz, professora do Colégio da Fronteira Norte, que estuda os fenômenos migratórios.
Num ferro-velho a duas ruas do refeitório do padre Chava, junto a uma caminhonete com placa da Califórnia, dois amigos de barriga de fora observam, do balcão de um quiosque, uma mulher que cozinha. Magali, 28 anos, está preparando frango créole, empanado e frito com especiarias. “Não gostamos da comida mexicana”, diz Michel, seu marido, vestido de moletom e tênis Nike e com um iPhone na mão. Magali, que não quer falar, como todas as mulheres haitianas abordadas para esta reportagem, ganha 25 dólares por semana para trabalhar seis horas diárias nesta cozinha embutida, onde alguns de seus compatriotas vêm comer a três dólares por prato. Os donos do ferro-velho ganham um pouco de dinheiro, e Magali, com seu salário mais a renda do marido, paga uma pensão onde o casal espera a sua vez de passar pela fronteira.
A tese de muitos acadêmicos sobre o porquê deste fluxo agora, e o motivo de ser só na Baixa Califórnia, é que os migrantes haitianos chegam procurando as portas abertas por um tratado humanitário, o Status de Proteção Temporária, (TPS, na sigla em inglês), firmado depois do terremoto de 2010 e ainda vigente por mais um ano. “Mexicali e Tijuana são as únicas fronteiras onde o tratado é aplicado. Não ganham residência permanente nem qualquer status migratório, precisam estar permanentemente localizáveis, mas podem trabalhar enquanto solicitam o asilo, por exemplo, que é um processo muito mais longo e complexo”, diz a professora do Colef.
A possibilidade da deportação uma vez em território norte-americano parece descartada. Já a sombra do tráfico humano continua pairando. “Sempre houve fluxos de migrantes haitianos. Mas, além do efeito da saída deles do Brasil, este pico tão grande e o fato de a maioria viajar sem passaporte revelam que sem dúvida há redes que estão operando durante toda a rota”, afirma Mario Madrazo, diretor do Instituto Nacional de Migração do México.
Outras redes mobilizadas são a da solidariedade. Um dos funcionários da Casa do Migrante abre a porta da despensa. As estantes estão abarrotadas até o teto. “Este é uma cidade de migrantes”, conta, “e há muita empatia com quem chega e precisa de ajuda”. Assim é Tijuana, com suas ruas largas e poeirentas, onde com a mesma naturalidade se pode topar com um consumidor de heroína injetando-se a droga às 8h da manhã ou com algum dos restaurantes mais sofisticados e saborosos do país.





Tijuana (México) 
El Pais 
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CPLP debate livre circulação de pessoas

Chefes de Estado e de Governo dos nove membros da Comunidade dos Países de Língua Portuguesa (CPLP) aprovam na terça-feira, 1 de Novembro, em Brasilia, uma declaração que deve apostar na livre circulação de pessoas, bens e serviços e numa maior participação dos países observadores associados.
República Checa, Eslováquia, Hungria, Costa do Marfim e Uruguai serão aceites como observadores associados e juntam-se assim às ilhas Maurícias, Namíbia, Senegal, Turquia, Japão e Geórgia.
A CPLP vai defender a integração desses novos observadores e uma estratégia de atracção de mais membros interessados em associar-se à comunidade.
A livre circulação de pessoas no âmbito da CPLP vai ocupar grande parte das discussões dos ministros dos Negócios Estrangeiros nesta segunda-feira, 31, e dos Chefes de Estado e de Governo no dia seguinte.
A Declaração de Brasília deverá citar a situação política Guiné-Bissau.

VOA

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sábado, 29 de outubro de 2016

Migración de Nicaraguenses a EE.UU. sigue creciendo

Un estudio denominado Migración y Remesas realizado por la organización NicasMigrante revela que las mujeres nicaragüenses migrantes son más responsables que los hombres, en cuanto a envío de remesas se refiere.
Martha Cranshaw, coordinadora de NicasMigrante, dijo en el programa televisivo Esta Noche, que el envío de remesas de las mujeres es más estable, sus montos son superiores y en ocasiones se hacen cargo de las necesidades extras de la familia.
“Las mujeres son más responsable en términos generales que los hombres. El envío que realizan es de hasta el 75 por ciento sobre sus ingresos, es decir que si una mujer gana 300 dólares al mes, delega la cantidad de 225. Si por ejemplo, un familiar está enfermo y en el país no hay condiciones para atenderlo, se encarga de llevarlo al país en el que ella está para ayudar. Ocurre con las personas que están en Costa Rica u Honduras”, destacó Cranshaw.
La encuesta fue realizada en los departamentos de Managua, Rivas, Estelí, Chinandega y Granada, además incluye a familias con miembros migrantes y no migrantes.
“Nos interesaba tener bien identificado y saber cuál es la situación de las familias, en este estudio tomamos el tema de las remesas y alimentación, a nosotros nos interesa conocer qué cosas hay que cambiar, qué cosas tienen que aprender en función de desarrollar acciones, un acompañamiento de transformación de la realidad”, manifestó la coordinadora de NicasMigrante.
Diferencias entre migrantes
El estudio explica que existen diferencias entre el nivel de vida de los migrantes y sus familias, dependiendo del sitio donde trabajen. Por ejemplo, quienes viajan hacia el norte o Europa, tienen mayores posibilidades de hacer mejoras en sus casas, en las fincas o invertir en otros negocios. Los que trabajan en cruceros o en la misma región centroamericana, envían dinero, pero no pasan de los 75 o 100 dólares.
“Prefieren dar de comer a sus hijos y ayudar en su educación. Generalmente los migrantes hacen envíos mensuales, cuando tienen un buen nivel de vida, lo hacen de forma quincenal. Nosotros en el estudio concluimos que los envíos están entre los 150 y 15 dólares, aunque el Banco Central dice que son superiores”, continúa Cranshaw.
La especialista en temas de migración indica que la situación de las familias que reciben remesas en Nicaragua mejora, respecto a aquellos que no reciben ayuda del exterior.
El estudio también revela que el compromiso de los migrantes con sus familias depende de varios factores. Uno de ellos tiene que ver con la comodidad que tenga la persona, si ya tiene trabajo fijo o no.
“El migrante invierte lo poco que tiene para el viaje, pasaporte, transporte, para los primeros meses, que es cuando están recién llegados. Ese proceso de endeudamiento puede durar entre seis meses y nueve meses. Después es cuando ya pueden enviar dinero”, manifiesta Cranshaw.
Necesidad de migrar
La necesidad de migrar siempre está latente. La investigación realizada por NicasMigrante indica que siempre el hombre es quién mayor intención tiene de salir del país para mejorar la situación económica de su familia.
“El flujo de remesas disminuyó un poco, creemos que fue por el contexto político de algunos países y también sus políticas migratorias. Causó cierta incertidumbre”, confirma Cranshaw.
Otro dato importante del estudio es el origen de la mayoría de remesas que ingresan al país. Más del 50 por ciento es de Estados Unidos.
“La migración ha crecido 4.5 por ciento con respecto al año anterior. Ese 4.5 es significativo, si tomamos en cuenta el contexto desfavorable del clima electoral en Estados Unidos. Lo importante de todo esto, también es que la mayoría de migrantes en ese país están en condición de regularidad migratoria y los que no tienen permiso de trabajos, se asocian con familiares”, finaliza la experta.Compártelo:

Refugiados e brasileiros discutem novos projetos de negócios em SP

Em uma terceira rodada de debates em São Paulo no último sábado (22), cerca de 30 pessoas, entre elas refugiados, imigrantes e brasileiros, discutiram projetos de negócios voltados para solucionar problemas de estrangeiros que desembarcam no Brasil para reconstruir suas vidas.
A série de workshops é uma iniciativa da ONG Migraflix, com apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), do Google e do SEBRAE.
Participantes da série de workshops "Negócios Sociais", da ONG Migraflix, aprendem sobre o uso da ferramenta MVP. Foto: Migraflix/ José Roberto Comodo Filho.
Participantes da série de workshops “Negócios Sociais”, da ONG Migraflix, aprendem sobre o uso da ferramenta MVP. Foto: Migraflix/ José Roberto Comodo Filho.
Em uma terceira rodada de debates realizada em São Paulo no último sábado (22), cerca de 30 pessoas, entre elas refugiados, imigrantes e brasileiros, discutiram projetos de negócios voltados para solucionar problemas de estrangeiros que desembarcam no Brasil para reconstruir suas vidas.
Seis grupos vão apresentar iniciativas, já no formato de negócio inovador, a um corpo de jurados nos próximos dias 19 e 20 de novembro, na rodada final da iniciativa “Negócios Sociais”. O vencedor receberá uma consultoria do SEBRAE para o projeto se tornar realidade.
A série de workshops é uma iniciativa da organização não governamental Migraflix e tem o apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR), do Google e do SEBRAE.
Além de dar ferramentas para criar empreendimentos, os workshops têm como objetivo integrar brasileiros, refugiados e imigrantes e desafiá-los a propor ideias criativas e economicamente plausíveis para facilitar a vida de quem quer viver no Brasil.
Os seis projetos propostos vêm sendo aperfeiçoados desde o primeiro workshop, em 13 de agosto: uma plataforma na Internet para facilitar a busca de emprego; a montagem e distribuição de kits de boas-vindas em aeroportos; a recepção de refugiados em portos, aeroportos e pontos de fronteira; uma plataforma online para empresas recrutarem refugiados e imigrantes; outra para o compartilhamento de experiências, produtos e serviços entre refugiados imigrantes e brasileiros; e um banco de dados com oportunidades de hospedagem e moradia.

Refugiados empreendedores

Uma das mais entusiasmadas participantes do “Negócios Sociais” é a administradora de empresas Maha Mamo, que nasceu na Síria e passou a maior parte de sua vida no Líbano com sua família.
Maha jamais conseguiu ser reconhecida como cidadã desses dois países por razões religiosas e, refugiada no Brasil há dois anos, tornou-se uma das vozes mais vibrantes da causa da apatridia — pessoas que não são consideradas nacionais sob as leis de nenhum país. Por sua influência, seu grupo no workshop trata de uma das questões que mais a afligiu quando decidiu se refugiar no Brasil: a moradia.
“Recebi ordem de deixar o Líbano em 48 horas e, assim que consegui o visto para o Brasil, a única coisa que queria saber era onde eu iria dormir”, relatou. “Felizmente, antes de eu embarcar junto com meus irmãos, encontrei pelo Facebook uma família brasileira que aceitou nos hospedar, em Belo Horizonte”, completou Maha.
Já o grupo do engenheiro de telecomunicações Majd Soufan contribuiu para um dos projetos voltados para a recepção de refugiados nos pontos de chegada ao Brasil. “Todos precisam de informações básicas, como onde se abrigar, como encontrar água e comida, como solicitar o refúgio às autoridades, como conseguir um emprego”, explicou Soufan, que é refugiado sírio e vive no Brasil há três anos.
Na fase de busca por emprego, os refugiados no Brasil têm enfrentado o mesmo problemas que os brasileiros desempregados: a crise econômica. Mas, entre os vários empecilhos, os estrangeiros se ressentem dos burocrátivos processos de revalidação de diplomas. Diante disso, um dos grupos de empreendedores fixou-se em facilitar esse processo. Entre seus participantes, está o refugiado cubano José Angel Malbranche, que há um ano vive no país.
José Angel atua na sua área de formação: é graduado em Língua Inglesa, em Cuba, e trabalha como professor e tradutor desde que ingressou no Brasil. Mas não trouxe seu diploma, o que lhe causa entraves para se candidatar a um mestrado ou a um emprego em escolas. “Este workshop abriu a cabeça de todos nós e nos dá ferramentas para adotar projetos que vão ajudar muitas outras pessoas”, resumiu.
Ao avaliar o projeto de outro grupo, que pretende divulgar um folheto com informações básicas para refugiados recém-chegados ao Brasil, Alphonse Nyembo, da República Democrática do Congo, sugeriu a inclusão de um contato para auxílio psicológico imediato. “Os refugiados chegam muito abalados, têm medo do que vão encontrar no país que os acolhe. Quando uma pessoa é forçada a se deslocar devido à guerra, já está com problema psicológico”, comentou durante os trabalhos.
Onu

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sexta-feira, 28 de outubro de 2016

A onda xenófoba

Os partidos xenófobos e racistas estão em alta na Europa. A deriva anti-imigrante dos políticos reflecte sentimentos da sociedade. Na Alemanha trabalhadores de uma fábrica receberam com protestos um grupo de trabalhadores portugueses que ali iam fazer trabalho temporário.
Os partidos xenófobos e racistas estão em alta na Europa. Marine Le Pen vai à frente nas sondagens para as eleições presidenciais em França, que se realizam em 2017. Os governantes da Hungria e da Polónia recusam receber refugiados. Nações com tradição de tolerância e abertura aos estrangeiros, como a Holanda, a Dinamarca ou a Suécia, contam hoje com significativas forças políticas hostis aos estrangeiros. E nos Estados Unidos as posições xenófobas de Trump, contra árabes e mexicanos sobretudo, são alvo de um considerável apoio – ainda que, espera-se, não o suficiente para o eleger Presidente.
A deriva anti-imigrante dos políticos reflecte sentimentos da sociedade. Na Alemanha trabalhadores de uma fábrica receberam com protestos um grupo de trabalhadores portugueses que ali iam fazer trabalho temporário. A liberal Grã-Bretanha começa a fechar-se ao estrangeiro; multiplicam-se os ataques a imigrantes e os estudantes estrangeiros, incluindo os provenientes da UE, terão menos apoios no futuro, o que já levou a uma inédita queda de 9% no número de candidatos às universidades britânicas.
FRANCISCO SARSFIELD CABRAL
RENASCENÇA 
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Nota da CNBB sobre a PEC 241


A Presidência da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) divulgou nesta quinta-feira, dia 27 de outubro, durante entrevista coletiva à imprensa, a Nota da CNBB sobre a Proposta de Emenda Constitucional 241 (PEC 241), que estabelece um teto para os gastos públicos para os próximos vinte anos. O texto foi aprovado pelo Conselho Permanente da entidade, reunido, em Brasília, entre os dias 25 e 27 deste mês.
Leia o texto na íntegra:


Brasília-DF, 27 de outubro de 2016
P -  Nº. 0698/16

NOTA DA CNBB SOBRE A PEC 241


“Não fazer os pobres participar dos próprios bens é roubá-los e tirar-lhes a vida.”
 (São João Crisóstomo, século IV)

O Conselho Permanente da Conferência Nacional dos Bispos do Brasil-CNBB, reunido em Brasília-DF, dos dias 25 a 27 de outubro de 2016, manifesta sua posição a respeito da Proposta de Emenda à Constituição (PEC) 241/2016, de autoria do Poder Executivo que, após ter sido aprovada na Câmara Federal, segue para tramitação no Senado Federal.
Apresentada como fórmula para alcançar o equilíbrio dos gastos públicos, a PEC 241 limita, a partir de 2017, as despesas primárias do Estado – educação, saúde, infraestrutura, segurança, funcionalismo e outros – criando um teto para essas mesmas despesas, a ser aplicado nos próximos vinte anos. Significa, na prática, que nenhum aumento real de investimento nas áreas primárias poderá ser feito durante duas décadas. No entanto, ela não menciona nenhum teto para despesas financeiras, como, por exemplo, o pagamento dos juros da dívida pública. Por que esse tratamento diferenciado? 
A PEC 241 é injusta e seletiva. Ela elege, para pagar a conta do descontrole dos gastos, os trabalhadores e os pobres, ou seja, aqueles que mais precisam do Estado para que seus direitos constitucionais sejam garantidos. Além disso, beneficia os detentores do capital financeiro, quando não coloca teto para o pagamento de juros, não taxa grandes fortunas e não propõe auditar a dívida pública.
A PEC 241 supervaloriza o mercado em detrimento do Estado. “O dinheiro deve servir e não governar! ” (Evangelii Gaudium, 58). Diante do risco de uma idolatria do mercado, a Doutrina Social da Igreja ressalta o limite e a incapacidade do mesmo em satisfazer as necessidades humanas que, por sua natureza, não são e não podem ser simples mercadorias (cf. Compêndio da Doutrina Social da Igreja, 349). 
A PEC 241 afronta a Constituição Cidadã de 1988. Ao tratar dos artigos 198 e 212, que garantem um limite mínimo de investimento nas áreas de saúde e educação, ela desconsidera a ordem constitucional. A partir de 2018, o montante assegurado para estas áreas terá um novo critério de correção que será a inflação e não mais a receita corrente líquida, como prescreve a Constituição Federal.
É possível reverter o caminho de aprovação dessa PEC, que precisa ser debatida de forma ampla e democrática. A mobilização popular e a sociedade civil organizada são fundamentais para superação da crise econômica e política. Pesa, neste momento, sobre o Senado Federal, a responsabilidade de dialogar amplamente com a sociedade a respeito das consequências da PEC 241.
A CNBB continuará acompanhando esse processo, colocando-se à disposição para a busca de uma solução que garanta o direito de todos e não onere os mais pobres.
Nossa Senhora Aparecida, Padroeira do Brasil, continue intercedendo pelo povo brasileiro. Deus nos abençoe!

Dom Sergio da RochaArcebispo de Brasília
Presidente da CNBB

Dom Murilo S. R. Krieger, SCJArcebispo de São Salvador da Bahia
Vice-Presidente da CNBB

Dom Leonardo Ulrich Steiner, OFMBispo Auxiliar de Brasília
Secretário-Geral da CNBB

quinta-feira, 27 de outubro de 2016

Chegada de refugiados continuará se condições não mudarem

Questionada sobre o fato de se ter registrado, este ano, um recorde de mortes no Mediterrâneo (3.800), Marta Bronzin considerou que este número "demonstra que as causas que empurram as pessoas para sair não mudaram", referindo-se aos conflitos, como a guerra na Síria, mas também à pobreza extrema, que leva milhares de pessoas da África subsaariana a procurar a Europa através da rota central do Mediterrâneo.
A representante da OIM defendeu a necessidade de um "trabalho em conjunto" para garantir uma boa gestão das migrações e para que haja "benefícios para todos".
Em primeiro lugar, Marta Bronzin apontou a necessidade de colocar no centro "a proteção e a promoção dos direitos humanos fundamentais de todos, independentemente da categoria a que estas pessoas pertencem, tenham ou não direito à proteção internacional".
Outros pontos incluem não responder apenas aos "problemas imediatos", mas ter uma "visão mais ampla e de mais longo prazo" e que tenha em conta "as necessidades e os direitos dos próprios migrantes e as necessidades e vantagens dos países de origem, de trânsito e de destino", sustentou.
Sobre a resposta europeia à crise dos refugiados, Marta Bronzin defendeu o reforço do plano de recolocação, sem esquecer "a vulnerabilidade das pessoas e a perspectiva dos direitos humanos fundamentais".
Quanto à disponibilidade de Portugal para acolher cerca de dez mil pessoas, o dobro da quota atribuída, a chefe de missão da OIM considerou tratar-se de "um compromisso político muito forte, muito positivo, que deveria ser exemplo para outros países".
No mesmo sentido, o alto-comissário para as Migrações, Pedro Calado, destacou que Portugal é um dos quatro países europeus que mais pessoas têm recolocado, referindo, até ao final deste ano, terá recebido mil refugiados.
Pedro Calado salientou que, no ano passado, a Europa recebeu 1,3 milhões de pedidos de asilo, o correspondente a 0,2% da população europeia.
"Se um continente dos mais ricos do mundo não consegue garantir a redistribuição equitativa destas pessoas, eu pergunto então que problema é que poderemos resolver enquanto, sublinho, União Europeia?", criticou.
Também a presidente do Conselho Português para os Refugiados, Teresa Tito de Morais, garantiu que o número que chegará a Portugal é "perfeitamente assimilável" e não vai "desestabilizar o tecido social", mas, pelo contrário, vai promover "trocas culturais muito grandes e incentivar zonas do país que precisam de ser desenvolvidas".
Teresa Tito de Morais representou, nesta cerimônia, o secretário-geral eleito da ONU, António Guterres, que recebeu o título de associado honorário da Associação Mutualista dos Engenheiros, bem como a presidente da Federação Nacional Bancos Alimentares contra a Fome, Isabel Jonet.
O Presidente da República, Marcelo Rebelo de Sousa, que se encontra em visita de Estado a Cuba, enviou uma mensagem destacando que a eleição do antigo primeiro-ministro português para liderar a ONU "pode ser um motivo de esperança em termos universais e é certamente um motivo de orgulho em termos nacionais".
Mundo ao Minuto
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Grupo arrecada donativos para ajudar estrangeiros que passam por dificuldades

Devido à situação de famílias venezuelanas e haitianas vivendo em condições precárias em Boa Vista, um grupo de 23 pessoas decidiu se unir e criar o “Grupo Geração Solidariedade” com o intuito de arrecadar donativos para serem doados aos imigrantes que vieram em busca de uma vida melhor.
A primeira ação do grupo foi realizada no Dia das Crianças, em 12 de outubro, quando entregaram 427 brinquedos a crianças da Venezuela que vivem no conjunto Pérola, no bairro Airton Rocha, zona Oeste, e regiões vizinhas. “Nós conseguimos um pula-pula para elas se divertirem e distribuímos lanches, além de alimentos, fogão e eletrodomésticos doados às suas famílias”, disse um dos integrantes do grupo, Fábio Costa.
Segundo ele, as doações partem de voluntários conhecidos e de pessoas que acompanham as ações pelas redes sociais. “Divulgamos o trabalho voluntário no Facebook e nos grupos de WhathsApp”, disse ao informar que grupo estendeu seus trabalhos também a famílias vindas do Haiti, que é o país mais pobre das Américas, localizado no Caribe. “Não podemos deixar de ajudar essas pessoas que fogem da crise econômica e humanitária”, comentou.
“No final da semana passada e na segunda-feira, levamos sopa e alimentos para famílias que moram no bairro Pricumã, zona Oeste, e que fugiram da pobreza e dos desastres do Haiti”, disse o outro integrante Jader Oliveira. Para ele, ajudar estes imigrantes na fase inicial de chegada ao Brasil é importante para que possam se estabelecer e, com isso, conseguirem seguir suas vidas por conta própria.
“Por meio das primeiras famílias que ajudamos, fomos identificando outras que passam necessidade”, disse ao lembrar-se de crianças de uma casa que estavam há quatro dias se alimentando de pão e água. Ele lembrou também de outros imigrantes que precisam de ajuda em muitos bairros da Capital, a maioria na Zona Oeste, como Asa Branca e Liberdade. “Também daremos atenção às famílias brasileiras em condições de pobreza”, frisou.
O Grupo Geração Solidariedade agora está focado nas comemorações de Natal, quando pretende reunir famílias carentes no dia 23 de dezembro para uma ceia coletiva, além da distribuição de brinquedos, doces e cestas básicas. Para arrecadar os donativos, os integrantes continuam com intensa divulgação nas redes sociais.
Eles realizarão, no dia 12 de novembro, uma feijoada para arrecadar recursos que serão destinados a ajudar as famílias. Quem deseja participar do evento ou contribuir de alguma forma poderá entrar em contato com os integrantes pelo Facebook. Para localizar a página, basta digitar Grupo Geração Solidariedade. 
Contatos poderão ser feitos pelos telefones (95) 99172-6991 e (95) 99171-1755. (A.D)
Folha Web
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quarta-feira, 26 de outubro de 2016

OIT lança prêmio global para reportagens sobre trabalho e migração

A Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou uma competição global para reconhecer a cobertura da imprensa sobre questões relacionadas a trabalho e migração. As inscrições devem ser feitas até 31 de outubro pelo site da organização.
Enquanto em 2010 havia 25,1 milhões de trabalhadores migrantes na América do Norte, em 2015 esse número subiu para 37 milhões. Foto: X. Fonseca/CIMMYT.
Enquanto em 2010 havia 25,1 milhões de trabalhadores migrantes na América do Norte, em 2015 esse número subiu para 37 milhões. Foto: X. Fonseca/CIMMYT.
A Organização Internacional do Trabalho (OIT) lançou uma competição global para cobertura da imprensasobre trabalho e migração.
O objetivo é reconhecer reportagens sobre o tema, encorajando jornalistas a produzir matérias escritas ou em vídeo que, sem ignorar os aspectos negativos (isto é, casos de exploração e violação aos direitos humanos e trabalhistas), também foquem nos resultados positivos da migração para o trabalho, como a contribuição desses trabalhadores para seus países de origem, trânsito e destino.
A competição “Quebrando Estereótipos da Migração de Trabalho” é organizada pela OIT em colaboração com a Confederação Internacional de Comércio, a Organização Internacional dos Empregadores, o Escritório do Alto Comissariado das Nações Unidas para os Direitos Humanos (ACNUDH), Federação Internacional de Jornalistas, o jornal eletrônico Equal Times, as organizações Solidarity Center, Human Rights Watch e o Fórum de Migrantes da Ásia.
O concurso, iniciado em setembro, será encerrado em 31 de outubro. Jornalistas profissionais são convidados a submeter seus trabalhos de acordo com uma das seguintes categorias: reportagens escritas (online ou impressas) ou vídeos/multimídia.
As reportagens escritas não podem exceder 2 mil palavras e os vídeos/multimídia não podem ter mais de 5 minutos. As matérias devem ter sido publicadas entre 1º de janeiro de 2015 e 31 de outubro de 2016 para se qualificar à disputa.
Os projetos devem cobrir questões relacionadas ao trabalho e à migração. Refugiados e deslocados, que atuam como trabalhadores fora de seus países de origem, são considerados trabalhadores migrantes. Assim, reportagens que tratarem de trabalhadores migrantes internacionais e refugiados (que participem dos mercados de trabalho fora de seus países de origem) serão aceitas.

Prêmios

Dois trabalhos serão selecionados em cada categoria; cada vencedor receberá um prêmio de 1 mil dólares. As reportagens vencedoras serão publicadas no site da OIT e promovidas amplamente como exemplo de bom jornalismo.

Requisitos

Para entrar na competição, os candidatos devem preencher formulário até 31 de outubro às 23h59 (19h59 de Brasília). São aceitas candidaturas em três línguas: inglês, francês e espanhol. Reportagens em outras línguas serão aceitas caso o candidato apresente tradução em uma das três línguas mencionadas. Os vencedores serão anunciados oficialmente em 18 de dezembro, Dia Internacional dos Migrantes. Caso haja dúvidas, a OIT pode solucioná-las por meio do e-mail Labour-Migration-Media-Competition@ilo.org.

Critérios de julgamento

Um painel de cinco jurados irá avaliar os dez melhores trabalhos das duas categorias: reportagens escritas e vídeos/multimídia. A organização encoraja trabalhos equilibrados que cubram diferentes aspectos da migração de trabalho e reflitam visões das várias partes envolvidas: trabalhadores migrantes, empregadores, governos e sindicatos. Além de garantir que todas as reportagens sejam alinhadas à ética jornalística, todas as candidaturas serão julgadas com base no seguinte critério:

Criatividade:

Contribui para um melhor entendimento da migração para propósitos de emprego, e de migrantes e refugiados atuando no mercado de trabalho; retrata uma opinião equilibrada refletindo as visões de vários atores (trabalhadores migrantes, governos, empregadores e sindicatos); apresenta soluções criativas para garantir a proteção trabalhista e superar os desafios do mercado de trabalho (se possível, comparando a situação antes e depois da introdução de novas legislações, novas políticas migratórias, acordos bilaterais etc); ajuda a combater estereótipos, xenofobia ou discriminação nos mercados de trabalho; aborda novas perspectivas de migração trabalhista (por exemplo, o recrutamento justo).

Precisão:

Reúne material usando fontes em primeira mão; inclui tradução em inglês, francês ou espanhol que seja fiel ao original, caso partes do trabalho estejam em outras línguas.

Proteção:

Protege grupos vulneráveis, fontes e outros componentes sensíveis da reportagem sem fornecer informação desnecessária que possa colocá-los em risco (incluindo identidades visuais, nomes, localizações etc); use terminologia baseada em direitos.
OIT

Sofrimento dos refugiados é responsabilidade de todos

Em sua catequese, o Pontífice deu sequência à reflexão sobre as obras corporais de misericórdia. Na semana passada, falou sobre dar de comer e de beber. Desta vez, comentou outras duas: era estrangeiro e me hospedastes; estava nu e me vestistes.
“A crise econômica, os conflitos armados e as mudanças climáticas obrigam tantas pessoas a emigrar. Todavia, as migrações não são um fenômeno novo, mas pertencem à história da humanidade. É falta de memória histórica pensar que são características dos nossos anos”, disse o Papa, citando como exemplo episódios bíblicos, como o de Abraão, do povo de Israel e da própria família de Jesus. “A história da humanidade é história de migrações: em todas as latitudes, não há povo que não tenha conhecido o fenômeno migratório.”
Crise econômica gera muros e barreiras
Hoje, lamentou o Papa, o contexto de crise econômica favorece atitudes de fechamento e não de acolhimento. Em algumas partes do mundo, surgem muros e barreiras. O instinto egoísta ofusca o trabalho de quem se esforça em assistir os migrantes.  Mas o fechamento não é uma solução; pelo contrário, favorece os tráficos criminosos. A única via de solução é a da solidariedade, à qual os cristãos são chamados com particular urgência.
“É um compromisso que envolve todo mundo, ninguém está excluído. As dioceses, as paróquias, os institutos de vida consagrada, as associações e os movimentos são chamados a acolher os irmãos e as irmãs que fogem da guerra, da fome, da violência e de condições de vida desumanas. Todos juntos somos uma grande força de amparo para quem perdeu a pátria, a família, o trabalho e a dignidade.”
A lição da senhora com o migrante no taxi
O Papa então contou aos fiéis um fato ocorrido poucos dias atrás, de um refugiado que procurava o caminho para atravessar a Porta Santa. Uma senhora ofereceu ajuda e parou um taxi para que acompanhasse o rapaz. No início, o taxista não queria que o migrante entrasse no carro, pois estava descalço e cheirava mal. Ao final acabou cedendo e, no caminho, ouviu a história de dor e sofrimento que o refugiado contou à senhora. Esta, quando quis pagar a corrida, ouviu do taxista que era ele quem deveria pagá-la, pois esta história havia mudado o seu coração. Esta senhora conhecia a dor de um migrante, porque tinha sangue armênio e conhecia o sofrimento do seu povo. “Pensem nessa história e pensem no que podem fazer pelos refugiados.”
Vestir os nus é restituir dignidade
Na sequência, o Papa comentou a outra obra corporal de misericórdia: vestir os nus. “Do que se trata senão restituir a dignidade a quem a perdeu?”, questionou o Pontífice. “Pensemos também nas mulheres vítimas do tráfico lançadas nas ruas ou a outros, demasiados modos de usar o corpo humano como mercadoria, até mesmo de crianças e adolescentes.  Do mesmo modo, não ter um trabalho, uma casa, um salário justo, ou ser discriminado pela raça ou pela fé são todas formas de “nudez” diante das quais, como cristãos, somos chamados a estar atentos e prontos à ação.
E esta foi exortação final de Francisco:
“Queridos irmãos e irmãs, não caiamos na armadilha de nos fecharmos em nós mesmos, indiferentes às necessidades dos irmãos e preocupados somente com os nossos interesses. É precisamente na medida em que nos abrimos aos outros que a vida se torna fecunda, as sociedades reconquistam a paz e as pessoas recuperam sua plena dignidade. E não se esqueçam daquela senhora, daquele migrante e do taxista do qual o migrante mudou a alma.”
(BF)
Radio Vaticano
www.miguelimigrante.blogspot.com

terça-feira, 25 de outubro de 2016

Paraná é o terceiro estado com maior número de estrangeiros trabalhando

(foto: AEN)

O número de trabalhadores estrangeiros com carteira assinada cresceu 354% em cinco anos no Paraná. Em 2010, o Estado tinha um contingente de 3.660 trabalhadores de outros países atuando no mercado de trabalho formal. Em 2015, esse número estava em 16.622, impulsionado pela vinda, principalmente, de haitianos e paraguaios. Entre 2005 e 2015, o número de estrangeiros aumentou oito vezes. 

Em números absolutos, o Paraná era, no ano passado, o terceiro Estado com maior número de estrangeiros no mercado de trabalho, atrás de São Paulo (47.023) e Santa Catarina (16.808). Os dados são de um levantamento realizado pelo Instituto Paranaense de Desenvolvimento Econômico Social (Ipardes) com base nos dados da Relação Anual de Informações Sociais (RAIS) do Ministério do Trabalho. 

Proporcionalmente, no entanto, a participação da mão de obra estrangeira sobre o total de empregados com carteira assinada no Estado ainda é inferior a 1%. O levantamento do Ipardes mostra que essa relação era de 0,53% em 2015,atrás apenas de Santa Catarina, com 0,76%. 

“Esse movimento se acentuou a partir de 2010, quando um volume grande trabalhadores de outras nacionalidades veio ao País em busca de mais oportunidades. O cenário de escassez de mão de obra e crescimento econômico abriram espaço para a vinda dos estrangeiros ”, diz Julio Suzuki Júnior, diretor presidente do Ipardes. 

HAITIANOS - Os trabalhadores haitianos representam atualmente a maior parcela da população estrangeira que atua no mercado de trabalho no Paraná. Em 2015, eram 6.989 haitianos com emprego formal no Estado, 42% do total. Em segundo lugar estão os paraguaios (3.393), seguidos pelos argentinos (694), portugueses (433) e os da região de Bengala (Nordeste da Ásia meridional), que somam 369 trabalhadores. 

O levantamento do Ipardes mostra que Curitiba é destino principal dos trabalhadores estrangeiros no Estado, com um total de 4.529 imigrantes em 2015. Em segundo lugar vem Cascavel, com 1.568, Foz do Iguaçu, com 1.296, Maringá (915), São José dos Pinhais, (707), Toledo (448), Londrina (403), Pato Branco (389), Pinhais (368) e Dois Vizinhos (337). 

SETORES - Em Curitiba, os estrangeiros estavam presentes, no ano passado, principalmente nos setores de comércio e serviços. No Interior, a indústria, especialmente a ligada ao agronegócio, é a principal empregadora. Muitos estrangeiros trabalham hoje em abatedouros de frangos e suínos na região Oeste do Estado. 

BARREIRA - Os migrantes, em geral, procuram se instalar em cidades onde já possuem amigos ou parentes, explica Fatima Yokohama, diretora adjunta do departamento de direitos humanos e cidadania da Secretaria de Justiça, Trabalho e Direitos Humanos. “É uma forma de se sentirem menos sozinhos e de terem algum suporte, porque ainda há, no início, a barreira da língua. Muitos trocam várias vezes de cidade em busca de mais oportunidades. Com a retração do emprego em Curitiba e região, por exemplo, muitos buscaram vagas no Interior nos últimos anos”, diz. 

BOA ESCOLARIDADE - De acordo com Angela Carstens, coordenadora de intermediação de mão de obra da Secretaria da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos, 3,5 mil estrangeiros buscaram as Agências do Trabalhador em todo Estado no ano passado. O número representou 4% do total de trabalhadores que buscaram uma colocação. Nesse ano, de janeiro a setembro, foram 2,5 mil, ou 5% do total. 

“Os haitianos que procuram as agências do Trabalhador em busca de uma vaga, por exemplo, são pessoas com boa escolaridade, que em geral dominam o francês e o inglês, além do crioulo. Há muitos professores que vieram para cá na época do terremoto no País e foram trabalhar na construção civil e nos abatedouros no Interior”, diz. 

VIDA MELHOR - O haitiano Reginald Alfred, que trabalhava como radialista e prestava serviços na área de telefonia no seu país de origem, veio para o Brasil em 2011 em busca de uma vida melhor. Desde então já passou pelo Acre, Rondônia e agora trabalha em um restaurante em Curitiba, com a esposa e o filho. 

Depois de trabalhar como tradutor na Polícia Federal e mais um ano em uma empresa em Rondônia, ele decidiu tentar a vida em Curitiba, por indicações de amigos. “Rondônia era muito quente. Cheguei a pensar em voltar, mas daí me falaram que São Paulo, Brasília e Curitiba eram bons e resolvi tentar”, diz. 

Alfred diz que a vida, no entanto, é difícil no Brasil e quase não sobra dinheiro para mandar para a família no Haiti. 

“Em Rondônia, ganhava R$ 800 e gastava R$ 450 de aluguel, luz, água e o que sobrava era para comida e alguma roupa”, diz. Ele lembra que o câmbio também tem trazido problemas. 

“Quando eu cheguei ao Brasil eu precisava de R$ 250 para comprar US$ 100. Hoje preciso de R$ 400 até R$ 500 para ter US$ 100. Faz tempo que não mando nada para a minha família. Tenho filha, mãe e pai e irmãos no Haiti. Porque a gente pensa em vir para o Brasil para economizar e ter uma vida melhor quando voltar. Retornar e não ter um carro e uma casa é difícil”, diz. 

MULTINACIONAIS - Apesar da predominância dos trabalhadores haitianos, cresceu a presença de várias outras nacionalidades no mercado de trabalho do Estado nos últimos anos. “O adensamento industrial, com a implantação de novas fábricas de multinacionais, trouxe muitas pessoas da Europa e do Japão para trabalhar no Estado”, lembra Suzuki Júnior, do Ipardes. 

O número de trabalhadores japoneses, por exemplo, passou de 121, em 2010, para 224 no ano passado. No mesmo período, o número de italianos passou de 89 para 157. Os espanhóis passaram de 56 para 137 e os chineses de 91 para 165 na mesma base de comparação. 


Estado tem rede de apoio para migrantes 

O Paraná foi o primeiro Estado do País a criar um conselho estadual específico para pensar soluções e melhorias para a situação dos migrantes. O Conselho Estadual de Migrantes, Refugiados e Apatriados (Cerma), criado pela lei 18.465/15, é composto de 18 integrantes, nove da sociedade civil e nove representantes do Executivo estadual. O secretário da Justiça, Trabalho e Direitos Humanos, Artagão Júnior, lembra que o governo foi instigado pela sociedade civil a criar uma política para migrantes partir de 2012, quando os haitianos começaram a chegar. “A iniciativa culminou com a criação, no dia 4 de outubro, de uma estrutura para atender melhor aos estrangeiros que vêm viver no Estado”, disse. 

INFORMAÇÃO - O Centro Estadual de Informação para Migrantes, Refugiados e Apátridas reúne informações sobre a documentação necessária para que o migrante possa regularizar sua situação no País e para que tenha acesso à educação e justiça. De acordo com Artagão Júnior, a intenção também é, em breve, oferecer cursos de português para estrangeiros no novo centro, o que deve ser viabilizado por meio de uma parceria com universidades. As conversas estão mais adiantadas com a Universidade Federal do Paraná (UFPR). 

RECOMEÇAR - O centro vem atendendo também refugiados, principalmente sírios, que vieram para o Brasil recomeçar suas vidas com a guerra naquele país. 

É o caso de Faiz Hiefa, que está há dois anos no Brasil, e Abdelaziz Abdellatif Abdelaziz Mohamed, está há um ano no País, que foram ao centro em busca de orientação de como proceder no mercado de trabalho. “O Centro é um grande apoio para nossa população aqui, pois facilita muito para ir atrás da documentação e trabalho. Aqui conseguimos sair com dicas e orientações para todas as nossas dúvidas”, diz Hiefa. Desde a sua abertura, no início do mês, o centro atendeu 14 pessoas. 

De acordo com o secretário, os migrantes vão em busca de informações sobre regularização da documentação e questões de saúde. Muitos também vão até o centro em busca de acolhimento
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BEM PARANÁ 


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