sábado, 30 de novembro de 2019

Congresso cria comissão permanente para fiscalizar fluxos migratórios ao Brasil

BIE - 04/05/2018 - Refugiados venezuelanos embarcam em avião da Força Aérea Brasileira, em Boa Vista (RO), com destino à Manaus e São Paulo.  Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil

Será criada na quarta-feira (4) a Comissão Mista Permanente sobre Migrações Internacionais e Refugiados (CMMIR). O evento ocorrerá no plenário da Comissão de Relações Exteriores (CRE) do Senado, na sala 7 da Ala Alexandre Costa, a partir das 11h. Na ocasião, também serão eleitos o presidente, o vice-presidente e o relator do colegiado.

O grupo terá 11 senadores e 11 deputados, escolhidos pelo critério da proporcionalidade partidária. Criada a partir de um ato conjunto dos presidentes do Senado, Davi Alcolumbre, e da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia, a CMMIR terá como missão fiscalizar e monitorar, de modo contínuo, questões que tratem de movimentos migratórios nas fronteiras do Brasil e sobre os direitos dos refugiados. A comissão focará principalmente as políticas públicas de controle migratório e causas e efeitos de fluxos de migrantes internacionais para o Brasil.


 Agência Senado

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Menino de 10 anos entrevista refugiados e migrantes venezuelanos em abrigo de Roraima

O venezuelano Moisés, de 10 anos, habituou-se a percorrer as tendas do abrigo temporário para refugiados e migrantes em Boa Vista (RR) – onde vive com sua família há um ano -, em busca de boas histórias.
Com uma câmera de papelão e um microfone de plástico, ele entrevista pessoas venezuelanas interessadas em contar suas trajetórias, mesmo que o resultado da conversa não seja gravado para a posteridade.
“Pergunto às pessoas como foi sua jornada da Venezuela até o Brasil”, explica o aspirante a repórter. “As responsabilidades de um jornalista são contar as notícias, falar com as pessoas e informar bem.” Leia o relato da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR).
O venezuelano Moisés, de 10 anos, habituou-se a percorrer as tendas do abrigo temporário para refugiados e migrantes em Boa Vista (RR) – onde vive com sua família há um ano -, em busca de boas histórias.
Com uma câmera de papelão e um microfone de plástico, ele entrevista pessoas venezuelanas interessadas em contar suas trajetórias, mesmo que o resultado da conversa não seja gravado para a posteridade.
“Pergunto às pessoas como foi sua jornada da Venezuela até o Brasil”, explica o aspirante a repórter. “As responsabilidades de um jornalista são contar as notícias, falar com as pessoas e informar bem.”
Bem articulado para uma criança de sua idade, Moisés parece estar no caminho certo para uma carreira no jornalismo.
Ele costuma vasculhar espaços entre as fileiras de tendas do abrigo em busca de possíveis entrevistados, caminhando diretamente até aqueles que lhe agradam.
Na maioria das vezes, as pessoas aceitam seus pedidos de entrevista, e acabam compartilhando suas histórias, muitas vezes comoventes.
A estimativa é de que cerca de 4,6 milhões de refugiados e migrantes da Venezuela estejam fora de seu país. A maioria chegou a outros países da América do Sul, incluindo o Brasil, que recebeu cerca de 224 mil venezuelanos.
Eles deixaram a Venezuela por conta da escassez de alimentos e medicamentos, da hiperinflação galopante, da insegurança generalizada, da perseguição e do colapso dos serviços públicos. A maior parte chega por terra, atravessando a fronteira rumo ao estado amazônico de Roraima.
Moisés e sua família deixaram tudo para trás há mais de um ano, e viajaram de ônibus para o sul de sua cidade natal, El Tigre, até chegar a Pacaraima, cidade brasileira na fronteira entre os dois países.
A família conseguiu viajar de Pacaraima até a capital Boa Vista, onde conseguiram um lugar no abrigo temporário Rondon 3, que recebe apoio da Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) e de parceiros.
Moisés, sua mãe, avó, irmã de 13 anos e madrinha dividem um pequeno abrigo, dormindo apertados em colchões de espuma.
Desde sua chegada, o menino e seu onipresente microfone tornaram-se figuras frequentes no abrigo. Agora, ele conhece as histórias de muitos de seus vizinhos.
Mas, como qualquer bom jornalista, Moisés escuta mais do que fala e, por isso, tende a manter a própria história para si.
No entanto, sua avó, Nelly, falou um pouco sobre o menino. “Moisés é um garoto muito sensível”, disse, acrescentando que ele sofre de uma forma de autismo que pode ter sido resultado da malária que sua mãe contraiu durante a gravidez, o que a deixou hospitalizada nos primeiros quatro meses de vida da criança.
Após a doença da mãe, Moisés foi morar com o pai, permanecendo na casa dele até ser retirado de lá aos 3 anos de idade, por apresentar sinais de desnutrição e maus-tratos. Seu pai agora vive na Itália e, com sua mãe lutando contra o câncer, vovó Nelly agora é a guardiã legal de Moisés e de sua irmã.
Nelly trabalha duro para garantir que a vida das crianças seja o mais pacífica e alegre possível, considerando as circunstâncias.
“Se Moisés tem um dia difícil na escola, ele volta para casa e me diz que precisa de tempo para que a fumaça saia de sua cabeça”, contou Nelly. “Ele tem uma grande imaginação e uma mente vívida.”
Moisés parece processar suas experiências – e um mundo de pensamentos – por meio de interações mediadas por um microfone de brinquedo e pelas lentes da câmera de papelão.
“Quero me tornar jornalista por causa do que está acontecendo na Venezuela”, disse ele. “Há muita fome. Não há luz.”
Onu
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sexta-feira, 29 de novembro de 2019

Depois da fronteira: a vida das crianças imigrantes

O drama de pessoas que fogem da miséria e da fome e atravessam fronteiras está mais perto do que se imagina. Desde 2017, mais de 200 mil venezuelanos vieram para o Brasil em busca de uma vida melhor. Entre os imigrantes, chegaram cerca de 10 mil crianças e adolescentes, segundo estimativas do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef). A equipe do Caminhos da Reportagem esteve em Pacaraima e Boa Vista, em Roraima, para acompanhar a situação desses meninos e meninas ao chegar e se adaptar na vida no Brasil.
Crianças em abrigo oficial de imigrantes em Boa Vista - RR
Crianças em abrigo oficial de imigrantes em Boa Vista - RR - Divulgação/TV Brasil
Logo ao cruzar a fronteira, os venezuelanos são recebidos em abrigos provisórios, onde aguardam para seguir para Boa Vista ou outra cidade brasileira. A travessia e a vida nos abrigos têm um impacto forte nas crianças. Diego Hernandéz tem apenas 10 anos, mas já entende o porquê de ter deixado sua terra natal: “A Venezuela está pobre e muitos venezuelanos estão passando dificuldade, a metade do país já foi embora porque a coisa estava feia lá”.
Quem participa do acolhimento dessas crianças e adolescentes vive o cotidiano de ver como eles chegam. “O estado emocional, muitas vezes elas chegam sem entender o que está acontecendo e são crianças com poucas roupas e grande necessidade de coisas básicas, como roupas e fraldas”, explica o tenente-coronel Barcellos, coordenador da Operação Acolhida em Pacaraima. Para minimizar o impacto, o Unicef mantém 23 Espaços Amigos da Criança em Roraima, com atendimento pedagógico e atividades de recreação. A professora Sorimar Tremária, da ONG Visão Mundial, que atua nesses espaços, conta que as crianças se surpreendem com o pouco que têm para brincar. “Só um lápis de cor e um papel já fazem a diferença para elas, que dizem que na Venezuela não tinham isso, porque era muito caro”, relata.
Crianças venezuelanas na fronteira do Brasil com a Venezuela
Crianças venezuelanas na fronteira do Brasil com a Venezuela - Divulgação/TV Brasil
Há abrigos específicos para a população indígena, onde a saúde das crianças é prioridade no atendimento. Nossa equipe encontrou uma mãe com seu bebê que, ao chegar ao abrigo com um ano de idade, estava tão desnutrido que não andava, não levantava nem chorava. A equipe de nutricionistas deu atenção especial à criança, com alimentação reforçada, vitaminas e acompanhamento. “Hoje eu vejo o Nelwin com dois anos correndo pelo abrigo e é uma felicidade muito grande”, conta Cintia de Lima, uma das nutricionistas que acompanhou o bebê.
Gestantes
Muitas mulheres atravessam a fronteira grávidas para terem seus bebês no Brasil. Em Boa Vista, nossa equipe encontrou mães como Yarinat Rosa, com sua filha Gabriela Natália, que nasceu na cidade. Ela diz que o medo de não ter atendimento adequado e a falta de remédios na Venezuela a fez migrar ainda grávida, ao lado dos outros três filhos. “Quando eu vim para cá, no setor que eu morava morreram 18 parturientes entre 16 e 25 anos, e elas deixaram muitas crianças órfãs”, lamenta.
arinat Rosa veio ao Brasil ainda grávida, fugindo da alta mortalidade materna e neonatal na Venezuela
Yarinat Rosa veio ao Brasil ainda grávida, fugindo da alta mortalidade materna e neonatal na Venezuela - Divulgação/TV Brasil
Boa Vista, que tem 400 mil habitantes, é uma das cidades do país que mais tem sentido o choque da imigração. A prefeitura está atenta e tem agido para incluir as famílias nas políticas públicas do município. “Estudando outros países com suas histórias de migração, nós temos conhecimento que isso é para sempre”, avalia a prefeita Teresa Surita. Nas escolas municipais, 12% das matrículas já são de crianças venezuelanas.
Na Escola Municipal Waldinete de Carvalho Chaves, o projeto De Mãos Dadas, que visa integrar as crianças venezuelanas com as brasileiras, foi além da inclusão cultural. Os professores se empenharam na estimulação de Oseas, de 7 anos, que tem paralisia cerebral e que na Venezuela os pais foram avisados de que ele nunca iria andar. Hoje o garoto já anda e tem uma vida mais independente. “No nosso país não se observa nem se dá esse tipo de educação que tem aqui no Brasil”, compara Temistocle Gonzáles, pai de Oseas.
Oseas (de óculos), de 7 anos, tem paralisia cerebral e no Brasil conseguiu se desenvolver além da expectativa
Oseas (de óculos), de 7 anos, tem paralisia cerebral e no Brasil conseguiu se desenvolver além da expectativa - Divulgação/TV Brasil

EBC

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Trajetória de mulheres empreendedoras imigrantes é tema de livro lançado por Lílian Mageski

Trajetória de mulheres empreendedoras imigrantes é tema de livro lançado por Lílian Mageski
Em uma obra que reúne 50 histórias de mulheres que deixaram o Brasil e tornaram-se empreendedoras nos Estados Unidos, a Presidente da Associação de Mulheres Empreendedoras (AME) mostra a realidade de quem ultrapassou as fronteiras geográficas e superou seus próprios limites.
Referência internacional em empoderamento e empreendedorismo feminino, Lílian Mageski lança seu primeiro livro, onde narra com detalhes os passos que trilhou em sua jornada desde a infância na capital pernambucana até os dias atuais, nos Estados Unidos.
Sua história inspiradora traz importantes reflexões sobre o tema que aborda com excelência: a união feminina e seu poder transformador.

Sobre a experiência, a autora esclarece: “É com muita honra que estou dando início a um sonho antigo: transformar em livro a desafiadora experiência de uma mulher, brasileira, imigrante, mãe, empreendedora, que teve a coragem de deixar o seu país e construir uma nova história na América. São muitos os aspectos que envolvem esse processo desde o seu início e, somente quem passa por essa decisão, seja por escolha ou necessidade, conhece o sabor das lágrimas derramadas durante o percurso. Doces ou amargas, o valor e o significado de cada uma delas está impregnado de coragem, ousadia e, acima de tudo, amor. E é por isso que não faz sentido contar apenas a minha história.
Esse amor multiplicado pela participação de cada uma destas 50 mulheres guerreiras, desbravadoras audaciosas, que vai impactar milhares de outras vidas ao redor do mundo. Acredito na força da união feminina e no potencial empoderador intrínseco no lema “Juntas somos mais fortes”. O sucesso, portanto, desse projeto nasceu da união das mulheres – daquilo que as une, ainda que estejam distantes: suas trajetórias de superação e vitória. Este é um guia de como vencer longe de seu país de origem. É para ler e empoderar!”
braziliantimes
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quinta-feira, 28 de novembro de 2019

Migrantes internacionais somam 272 milhões, 3,5% da população global

Enquanto a maior parte da população global permanece vivendo no país de nascença, cada vez mais pessoas estão migrando em busca de melhores oportunidades, especialmente de emprego, segundo relatório publicado nesta quarta-feira (27) pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O documento estimou a existência e ao menos 272 milhões de migrantes internacionais no mundo em 2019, o que corresponde a 3,5% da população mundial. Esse número representa um aumento de 23% na comparação com 2010, quando havia 220,78 milhões de migrantes, ou 3,2% da população global, segundo dados da OIM.
O retorno voluntário assistido e a reintegração é um componente indispensável da abordagem integrada à gestão da migração. O objetivo é promover o retorno e a reintegração de migrantes que não podem ou não querem permanecer em seus países de acolhimento – de modo ordenado e humano – e desejam regressar voluntariamente aos seus países de origem. A implementação bem-sucedida desses programas requer a cooperação e a participação de uma ampla gama de interlocutores – incluindo migrantes, sociedade civil e governos, tanto nos países anfitriões quanto nos países de origem. As parcerias entre a Organização Internacional para as Migrações (OIM) e várias partes interessadas nacionais e internacionais são essenciais para a implementação efetiva desses programas, desde a fase de pré-retorno até a etapa de reintegração.
O documento estimou a existência e ao menos 272 milhões de migrantes internacionais no mundo em 2019, o que corresponde a 3,5% da população mundial. Foto: OIM
Enquanto a maior parte da população global permanece vivendo no país de nascença, cada vez mais pessoas estão migrando em busca de melhores oportunidades, especialmente de emprego, segundo relatório publicado nesta quarta-feira (27) pela Organização Internacional para as Migrações (OIM).
O documento estimou a existência e ao menos 272 milhões de migrantes internacionais no mundo em 2019, o que corresponde a 3,5% da população mundial. Esse número representa um aumento de 23% na comparação com 2010, quando havia 220,78 milhões de migrantes, ou 3,2% da população global, segundo dados da OIM.
A necessidade de emprego é a principal razão para pessoas migrarem internacionalmente, e os trabalhadores migrantes constituem a maioria dos migrantes internacionais do mundo, com a maior parte deles vivendo nos países de alta renda, destacou a OIM.
O relatório mostrou também que o deslocamento forçado tem registrado recordes no mundo, com o número de pessoas internamente deslocadas atingindo 41 milhões, e o número de refugiados chegando a aproximadamente 26 milhões.
Lançado durante reunião do Conselho da OIM de 2019 pelo diretor-geral da organização, António Vitorino, a décima edição do Relatório Mundial sobre Migrações de 2020 tem como objetivo fornecer informação sobre migrações para pesquisadores e tomadores de decisões.
“Como o relatório mostra, continuamos crescendo e melhorando a captação de informação e de dados, que podem nos ajudar a entender melhor os recursos básicos da migração em tempos cada vez mais incertos”, disse Vitorino.
Entre os assuntos abordados no relatório, estão mobilidade humana e mudanças climáticas, migração perigosa e infantil, migração e saúde, entre outros temas.
O embaixador e representante permanente das Ilhas Marshall da ONU em Genebra, Doreen Debrum, presente no lançamento, destacou a importância de relacionar mudanças climáticas e migrações. Segundo ele, seu próprio país está em risco diante das mudanças do clima, o que provavelmente causará deslocamentos forçados.
O embaixador alemão na ONU, Michael von Ungern-Sternberg, lembrou que a migração se tornou uma questão intensamente debatida em sociedades em todo mundo.
“Isso é um bom desenvolvimento. Ainda assim, temos que encarar o risco da politização indevida e a deturpação de fatos”, disse. “O Relatório Mundial sobre Migrações irá contribuir para uma discussão construtiva sobre essa questão tão sensível e abrirá caminho para a cooperação internacional.”
Assim como a edição de 2018, o relatório conta com uma série de capítulos escritos por especialistas da OIM, profissionais de migração e alguns dos principais pesquisadores do tema do mundo.
Marie McAuliffe, co-editora da edição de 2020, falou sobre a importância de parcerias. “Para retratar as últimas evidências em migração, os capítulos temáticos foram escritos por alguns dos principais pesquisadores do tema, e o relatório foi co-editado com o ilustre professor acadêmico Binod Khadria, da Universidade Jawaharlal Nehru, na Índia”, disse.
A edição de 2020 é a primeira a ser publicada exclusivamente em plataformas digitais, em reconhecimento a necessidade de produções de materiais ambientalmente sustentáveis, tanto no processo de divulgação quanto em seu conteúdo.
Leitores de todo o mundo, incluindo dirigentes políticos, acadêmicos, especialistas em migração, jornalistas, estudantes e o público em geral poderão baixar a publicação de maneira gratuita em inglês e espanhol, enquanto outras traduções continuam.
Na literatura acadêmica, pesquisadores citaram o relatório de 2018 em mais de 550 publicações, teses e dissertações. Blogs utilizaram a pesquisa como documento principal para fazer checagem de fatos de reivindicações infundadas sobre migração. Além disso, figuras e infográficos ajudaram muitos usuários de diferentes áreas a compreender os dados e informações do relatório.
“Diversos capítulos da publicação são perfeitos para introduzir novos assuntos para os meus estudantes”, disse Jacqueline Bhabha, professora da Universidade de Harvard, dos Estados Unidos. “O relatório é muito bem escrito e bem pesquisado”, completou.
Como a migração continua sendo uma questão de grande interesse, o relatório de 2020 é essencial para atender a crescente demanda por pesquisas de alta qualidade e baseadas em evidências sobre o assunto, segundo a OIM. Além disso, ele também ajuda a desmascarar notícias falsas e a desinformação que visam influenciar o público e o discurso político.
Onu
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Como o Advocacy Tem Fomentado Melhores Condições de Trabalho na Indústria da Moda

Estima-se que a indústria da moda empregue cerca de 60 a 75 milhões de pessoas no mundo todo. Somente no Brasil, dentro da indústria têxtil e de confecção, o número estimado é de 1,5 milhão de trabalhadoras e trabalhadores formais segundo dados da Abit (Associação Brasileira da Indústria Têxtil). A moda, principalmente o setor da costura, ainda é altamente intensiva em mão de obra, dependendo de muitas pessoas para criar, produzir e vender uma roupa.
Os primeiros escândalos de violação de direitos humanos ligados à produção de roupas pós globalização apareceram nos anos 90. Mas foi nos anos 2010 que cada vez mais pessoas começaram a entender que a indústria da moda global estava relacionada com condições precárias e trabalho análogo à escravidão.
Desde então, uma série de ações têm sido tomadas, com marcas assumindo compromissos públicos, trabalhando para implementar rastreabilidade na rede produtiva, melhorar práticas de compliance [1] e limpar suas redes de fornecimento de trabalho escravo e infantil. Mas nada disso está acontecendo sem uma enorme dose de esforço de organizações da sociedade civil. Por meio de advocacy, há uma série de pessoas trabalhando nos bastidores para ajudar a construir, aprovar e implementar políticas públicas e legislações responsáveis por garantir estas mudanças.
O advocacy pode ser entendido como um sinônimo de defesa e argumentação em favor de uma causa. É um processo de reivindicação de direitos que tem por objetivo influir na formação e implementação das políticas públicas [2]. Podemos observá-lo, na prática, com as melhoras de condições de trabalho de trabalhadoras e trabalhadores da indústria da moda em Bangladesh. Após a tragédia do Rana Plaza, duas organizações foram criadas para inspecionar fábricas e parar sua produção caso o espaço não fosse seguro aos funcionários. O Acordo sobre Segurança Contra Incêndios e Edifícios em Bangladesh e a Aliança para a Segurança dos Trabalhadores de Bangladesh – ou, simplesmente Acordo e Aliança – fizeram uma grande diferença na fiscalização de empresas, prevenindo que outros acidentes acontecessem. ONGs e sindicatos se uniram para pressionar que marcas aderissem às ambas organizações.
Já o advocacy no México alavancou a reforma trabalhista mais significativa para o país em cem anos. Jill Tucker, Diretora de Direitos e Trabalho do Instituto C&A, explica como a atuação de entidades contribuiu para que o governo mexicano passasse a atuar mais próximo dos trabalhadores, fornecendo um sistema de justiça trabalhista imparcial, independente e justa: “as organizações de defesa do trabalho – muitas lideradas por mulheres – foram fundamentais não apenas para garantir a adoção das reformas, mas também para trabalhar com os legisladores na estrutura e redação das novas leis”.
Os principais pilares da emenda mexicana são: a incorporação de um Registro Federal Nacional de Sindicatos, a legitimação de CBAs [3] e centros de conciliação; estabelecimento de tribunais trabalhistas locais e federais; mudanças nos sindicatos, fornecendo mais responsabilidades aos sindicatos e permitindo que os funcionários participem mais livremente da atividade sindical, se assim o desejarem.
 

A rede de advocacy no Brasil

O Brasil tem uma complexidade particular por sua extensão e diversidade, logo a prática do advocacy torna-se uma questão de avaliar os melhores meios de incidir sobre um público. Marina Novaes, Gerente de Programas do Instituto C&A, avalia a atuação do advocacy no Brasil como avançada. “Temos uma estrutura normativa muito boa, mas nosso problema está mais na implementação do que na aprovação de novas leis”, explica. Aqui, o Instituto C&A fecha atualmente um ciclo de cinco anos de apoio a organizações que incidem diretamente na política à nível municipal, estadual e federal, trabalhando com grupos em situação de vulnerabilidade, como migrantes e costureiras domésticas.
Uma das organizações apoiadas pelo Instituto é a Missão Paz, entidade referência em acolhimento de migrantes em São Paulo e uma das organizações atuantes na criação e implementação da Lei da Migração, que substituiu o Estatuto do Estrangeiro de 1980. Foram décadas de luta da sociedade civil para a atualização da lei criada no período da ditadura, no qual a segurança nacional entendia o migrante como uma ameaça ao país.
O movimento foi feito junto com outras organizações, como a Conectas, ONG voltada à promoção de direitos humanos, com forte atuação de advocacy em âmbito nacional. “O trabalho que fizemos juntos foi para mudar o paradigma de segurança nacional para o de direitos humanos. Uma vez aprovada a lei, nós temos um rol de princípios e garantias nos seus artigos que não existiam anteriormente”, afirma Letícia Carvalho, assessora de advocacy da Missão Paz.
Para a indústria da moda, com foco especial nas confecções de São Paulo onde trabalham milhares de migrantes, a legislação amplia o escopo de proteção dos migrantes trabalhadores. Um exemplo é a possibilidade de se associar aos sindicatos. Já que os migrantes não podem votar, a associação sindical é uma forma de atuação política para garantia de trabalho digno. A atuação conjunta dos grupos foi essencial para que a voz do migrante fosse ouvida. “Quando entramos nesses espaços de tomada de decisão do poder público, não basta sermos ouvidos, temos que ser levados em consideração para que consigamos produzir mudanças”, completa ela.

Compreensão e fortalecimento de grupos

Atuar com advocacy para condições de vida e trabalho exige uma compreensão dos espaços ocupados, seu histórico, ambiente e as necessidades do grupo. E quando se tem pouca ou nenhuma informação sobre ele? Foi para solucionar esta problemática que o Fundo Saap, um dos braços da ONG Fase, decidiu fazer um mapeamento com nove grupos de costureiras no Agreste Pernambucano e sete na cidade do Rio de Janeiro.
A pesquisa levantou a realidade desconhecida das costureiras autônomas que não foram absorvidas por empresas da indústria da moda. “Nossa ideia foi produzir algum tipo de incidência – não só política -, para que elas percebam que as condições em que vivem são passíveis de alteração”, explica Taciana Gouveia, coordenadora do Fundo Saap. A primeira parte deste projeto foi focada no conhecimento do ambiente e de quem são estas mulheres. O resultado do mapeamento foi apresentado em um seminário na Assembléia Legislativa de Pernambuco e na Comissão da Mulher Negra, na Alerj (Assembleia Legislativa do Estado do Rio de Janeiro) com o objetivo de começar a abrir o diálogo com o poder público sobre o tema.
Ao incidir junto às costureiras, é possível trabalhar com um horizonte de criação de políticas públicas – como creches e serviço de saúde noturno – , valorização da mão de obra e organização do grupo. “Elas passam 10, 12, 14h isoladas, dentro de casa trabalhando. Se elas conseguem se articular, é possível trabalhar com a construção da precificação justa de suas peças”, afirma. Taciana reconhece o advocacy a nível estadual como o mais assertivo para o grupo de costureiras: “o nível estadual é onde você consegue pensar um conjunto de políticas urbanas, de equipamento sociais, de acesso a serviços, como saneamento, mobilidade, tarifa energética”, completa.
Assim como a Fase, que buscou mapear e conhecer as necessidades dos grupos de costureiras no Agreste Pernambucano e na cidade do Rio de Janeiro, a REDEH (Rede de Desenvolvimento Humano) também desenvolveu uma pesquisa sobre a realidade das costureiras formalizadas e informalizadas de Nova Friburgo, Rio de Janeiro. “Elas opinavam em querer fazer alguma coisa, estarem juntas, se gostariam de conhecer mais seus direitos. Passamos a fazer oficinas, rodas de conversa, que misturavam conteúdo, autocuidado e questões do corpo”, explica Maria Aparecida Schumaher, mais conhecida como Schuma, uma das coordenadoras do projeto Alinhavando Vivências.
Através destas atividades, o grupo trabalhou questões sensíveis como empoderamento, participação política, exercício da cidadania, da não violência contra as mulheres e questões de gênero. “O projeto quase virou uma identidade política. Essas mulheres perceberam que a vida pode ter outros lugares além do lugar de cuidado, resignação, de trabalhar feito uma louca, voltar pra casa e fazer o terceiro turno”, ressalta, “isso foi o primeiro ponto, de encontrar-se consigo mesma”.
TODOS DEVEMOS UMA DÍVIDA AOS ATIVISTAS DA SOCIEDADE CIVIL E ATUANTES DE ADVOCACY QUE LIDERARAM O CAMINHO PARA EXPOR VIOLAÇÕES E PRESSIONAR POR CONDIÇÕES DE TRABALHO JUSTAS E DECENTES 
O projeto, que terminou seu primeiro ciclo em setembro, passa por um momento de transição, no qual, em dezembro, voltará com a Rede de Mulheres de Friburgo. Proposta pelas participantes, a rede contará com cinco núcleos, entre eles o monitoramento e proposição de questões latentes para o avanço de sua cidadania. A ideia do grupo é incidir a nível municipal. “Eu não tenho que aceitar essa condição de estar reservado a mim apenas o trabalho e não a participação social, a participação política. Você tem que saber que é importante estar nos conselhos municipais da criança e do adolescente, da mulher – é um direito delas”, reforça Schuma.

Sociedade civil e advocacy como chave da mudança

O que os exemplos no Brasil e no mundo comprovam é que precisamos de atuação e incidência política se quisermos melhores condições de trabalho na indústria da moda. Para Marina, este entendimento veio com a experiência: “a gente está numa fase de entender que advocacy é uma estratégia transversal a todos os programas. Ele é fundamental para conseguirmos promover uma mudança mais sistêmica”.
Já Jill afirma que quase todas as melhorias que aconteceram na indústria global de vestuário têm no coração da ação a sociedade civil e cobertura da mídia. “Sem isso, é improvável que marcas, varejistas e fabricantes teriam estabelecido programas de conformidade social e sustentabilidade, e as condições provavelmente seriam piores do que atualmente”, reforça, “Todos devemos uma dívida aos ativistas da sociedade civil e atuantes de advocacy que lideraram o caminho para expor violações e pressionar por condições de trabalho justas e decentes”.


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quarta-feira, 27 de novembro de 2019

Câmara aprova regras para revalidação de diplomas de médicos formados no exterior

O Plenário da Câmara dos Deputados aprovou nesta terça-feira (26) o Projeto de Lei 4067/15, do Senado, que regulamenta o Revalida, um exame nacional de revalidação de diplomas estrangeiros de médicos. Devido às mudanças, a matéria retornará ao Senado.
O texto aprovado é um substitutivo apresentado pelo relator, deputado Ricardo Barros (PP-PR). O projeto foi votado após um acordo que envolveu a tramitação da Medida Provisória 890/19, sobre a criação do programa Médicos pelo Brasil.
O relator da MP, senador Confúcio Moura (MDB-RO), havia inserido pontos sobre o Revalida, que acabaram sendo incorporados ao texto do projeto.
O Revalida atesta, por meio de provas escrita e prática, os conhecimentos e as competências de médicos, brasileiros ou estrangeiros, formados no exterior. A novidade em relação ao modelo atual é a participação de faculdades privadas de Medicina no processo.
Segundo o texto aprovado, o Revalida será implementado pela União e acompanhado pelo Conselho Federal de Medicina (CFM). Os exames poderão ter a participação de instituições de educação superior públicas e privadas que tenham curso de Medicina com avaliação 4 e 5 no Sistema Nacional de Avaliação da Educação Superior (Sinaes).
Atualmente, o exame conta apenas com a participação de universidades públicas e é regulado por uma portaria.
Sistema Único de Saúde
A rigor, o Revalida não é obrigatório para a revalidação de diplomas estrangeiros, regulada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação (9.394/96), mas facilita o processo, que pode demorar muito tempo.
Com a nova sistemática, as faculdades que participarem do exame poderão revalidar os diplomas dos candidatos aprovados e não somente as universidades públicas, como é a regra geral para quaisquer diplomas expedidos no exterior.
O exame pretende verificar se o médico formado em outro país detém os conhecimentos, as habilidades e as competências para atender as necessidades do Sistema Único de Saúde (SUS) em nível equivalente ao exigido pelas diretrizes curriculares nacionais do curso de graduação em Medicina no Brasil.
Se o projeto virar lei, o Revalida será aplicado semestralmente, e os candidatos terão acesso ao edital com 60 dias de antecedência do exame escrito.
Preço
O substitutivo aprovado reajusta os valores que poderão ser cobrados dos candidatos. Hoje são devidas taxas de inscrição de R$ 150,00 para a prova escrita e de R$ 450,00 para o exame prático.
Os novos valores serão de até 10% da bolsa mensal de médico-residente para a primeira etapa, o equivalente a R$ 333 atualmente; e até o valor integral dessa bolsa para a segunda etapa (R$ 3.330,00).
Quem passar na primeira etapa e for reprovado na segunda poderá tentar mais duas vezes essa segunda fase sem precisar se submeter à primeira novamente.
Agencia Camara
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Lançamento de aplicativo para migrantes e refugiados


 
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O aplicativo OKA. O app é uma espécie de bússola de serviços e políticas públicas para migrantes, refugiados, solicitantes de refúgio e deslocados internos no Brasil. A boa nova é que toda a informação contida no aplicativo, que é gratuito, pode ser acessada mesmo sem conexão com a internet o lançamento do aplicativo sera no dia 10 de dezembro as 18h30. No museu da Imigraçao em São Paulo 
Refugiados e outros migrantes muitas vezes têm dificuldades para acessar informações sobre serviços públicos relevantes. Quando esses dados estão disponíveis, eles se encontram fragmentados.  Ao compilar informações de diversas fontes, o aplicativo OKA agiliza o acesso a informações e serviços essenciais. Para respeitar a confidencialidade e privacidade dos usuários, nenhum dado individual será armazenado.
Principais funcionalidades do aplicativo:
-Filtros para refinar a busca pelos serviços e políticas mapeados no aplicativo (ex: localização urbana/rural, por faixa etária, por demandas específicas e status migratório)
– Informações georreferenciada a cerca de programas e instituições federais, estaduais e municipais e demais redes de apoio para o público alvo (ONGs, Agências internacionais e iniciativas locais da sociedade civil)
– Acesso remoto e offline
– Contatos de emergência e redes de proteção para grupos mais vulneráveis.
– Hiperlinks dentro do app para facilitar o entendimento dos requisitos. Por exemplo, a pessoa acessa um serviço que tem como requisito o CPF. Para um imigrante, que pode não saber o que significa CPF, basta ele clicar na palavra que aparecerá a explicação do que é o documento e como ele pode obter.
Museu da Imigraçao
Data : 10 de Dezembro 2019
Endereço: R. Visc. de Parnaíba, 1316 - Mooca, São Paulo
Horario 18:30h
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segunda-feira, 25 de novembro de 2019

Migrantes na globalização silenciosa e silenciada

Resultado de imagem para Migrantes na globalização

globalização tem seus agentes renomados, suas marcas mundialmente conhecidas, seu marketing apelativo e estridente, suas redes capilares entrelaçadas por todo o planeta. Tem também seus novos "caminhos da seda", por onde circulam o volume do capital e o conjunto das mercadorias, ligando o Oriente ao Ocidente, o Sul ao Norte, as economias centrais aos países periféricos e/ou emergentes. Através da Internet, tem ainda suas redes virtuais de comunicação, criada à própria imagem e semelhança.

Entretanto, ao lado dessas figuras que desfilam hoje pelo palco profusamente iluminado, a globalização dispõe igualmente de obscuros, labirínticos e tortuosos bastidores. Por estas vias sombrias, movem-se milhões e milhões de pessoas, tentando construir um amanhã menos penoso e brutal. Quase sempre invisíveis e inobservadas, às vezes emergem dos porões da sociedade, com manifestações momentâneas e eloquentes, pelas inóspitas encruzilhadas dos caminhos - um verdadeiro clamor que se ergue aos céus.

Trata-se de uma multidão sem nome e sem rosto, sem endereço fixo e sem horizonte. São migrantesrefugiadosprófugosexiladosexpatriadosapátridasmarítimostrabalhadores temporários ou itinerantes - gente que se desloca na esteira da riqueza e da tecnologia, das mercadorias e das informações, dos megaempreendimentos e das rotas do turismo. À sombra da economia formal, marcham sub-repticiamente verdadeiros exércitos de trabalhadores sem os documentos legais, num vaivém que percorre veredas cada vez mais complexas, as quais muitas vezes cruzam e recruzam com as "estradas reais" do dinheiro e da renda.

Multidões que procuram superar todo tipo de adversidade, rompem obstáculos, leis e fronteiras, dando origem a uma economia subterrânea, mas nem por isso menos extensiva a todos os cantos do mundo. Fazem circular produtos que, em boa parte, tomam emprestadas as marcas famosas e consolidadas, fabricando bugigangas e bijuterias de toda sorte, num comércio que corre paralelo, à sombra ou submerso à economia oficial. Uma atividade intensa e buliçosa, mas simultaneamente silenciosa e silenciada. Uma história dos migrantes nem sempre contada.

Para quem se encontra num processo de fuga - seja das guerras, da pobreza ou das catástrofes climáticas - a pressa se impõe. Não há tempo a perder. Deve refazer a própria vida em tempo breve, da forma mais rápida possível. A vergonha das "mãos vazias" costuma ser o pesadelo do migrante. Por isso, e devido ainda a uma situação de extrema vulnerabilidade, os estrangeiros sem trabalho tornam-se presas fáceis de um recrutamento que, a cada esquina, está à espreita para dar o golpe. E são recrutáveis não somente para o comércio informal, mas por vezes para o tráfico de drogas, armas e até seres humanos.

A grande maioria nada pretende além de empregoteto e pão. Um simples solo pátrio que possa acolher e abrigar seu sonho de um futuro menos tumultuado. Porém, apesar de braços fortes e disponíveis para o trabalho, raramente encontram as portas abertas. Rechaçados do palco cheio de luzes, cores e sons, escondem-se atrás das cortinas, buscando nos obscuros bastidores o que lhes é negado de forma legal à luz do sol. Daí a queda previsível e à vezes sem retorno nas armadilhas cuidadosamente preparadas pelo mundo do crime organizado.

Que outras alternativas construir? Como desenvolver relações humanamente justas e solidárias entre os países de origem e países de destino? Em vez de muros, que tipo de pontes erguer entre um polo e outro? E como, entre lugares de saída e lugares de chegada, passando pelas barreiras do trânsito, respeitar os direitos e a dignidade da pessoa humana?

Unisinos
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