sexta-feira, 31 de janeiro de 2020

Romance sobre migração mexicana revolta comunidade hispânica nos EUA

O polêmico romance "American Dirt" em destaque na livraria Barnes&Noble em Manhattan, que também o elegeu para seu clube do livro



Elogiado por Stephen King e Oprah Winfrey, o novo romance "American Dirt", lançado na semana passada em inglês e espanhol (com o título "Tierra americana") com uma agressiva campanha de marketing, prometia ser "um novo clássico americano".

Mas ao invés disso, sua autora, a americana Jeanine Cummins, tem sido acusada por escritores hispânicos de explorar a tragédia dos migrantes mexicanos em um ano eleitoral nos Estados Unidos e validar estereótipos, como os citados pelo presidente Donald Trump para justificar sua política anti-imigratória.

O romance conta a história de uma mexicana, dona de uma livraria, que foge para os Estados Unidos com seu filho pequeno a bordo da "Besta" ("La Bestia"), o trem de carga utilizado por migrantes, após sobreviver ao assassinato de quase toda a sua família em uma festa de debutante pelas mãos de narcotraficantes.

A publicação do livro gerou uma intensa polêmica sobre a apropriação cultural, a marginalização dos escritores hispânicos por parte da indústria editorial americana, os riscos de espalhar ideias falsas quando não se conhece bem o assunto sobre o qual se escreve e os limites responsáveis da ficção.

A tempestade surpreendeu a Flatiron Books, que na noite de quarta-feira suspendeu a turnê de Cummins para promover o livro.

"Baseados em ameaças específicas a livreiros e à autora, acreditamos que existe um risco real para a sua segurança", disse Bob Miller, presidente da editora, em um comunicado.
- "Explorador" -
O escritor Stephen King apresentou o livro como "maravilhoso". Don Winslow afirmou que "é o 'As Vinhas da Ira' dos nossos tempos", em alusão ao consagrado livro do escritor John Steinbeck, com o qual ganhou o prêmio Pulitzer de melhor ficção em 1940.

E uma adaptação para o cinema do livro de Cummins já está em andamento.
Mais de 120 escritores, no entanto, inclusive a romancista mexicana Valeria Luiselli e a escritora hispânica Myriam Gurba, que iniciou o debate, assinaram uma carta aberta enviada a Oprah para que reconsiderasse sua decisão de recomendá-lo para seu clube do livro, uma seleção que garante sucesso nas vendas.
AFP / Laura BONILLA CALMulher folheia o polêmico romance "American Dirt", na livraria Barnes&Noble de Manhattan, Nova York
"Esta não é uma carta que pede para silenciar ou censurar", dizem, mas desejam que não se promova um livro, que dizem que "é explorador, simplifica demais e está mal informado; cai com muita frequência no fetichismo do trauma e no sensacionalismo da migração e da vida e da cultura mexicanas".
A atriz mexicana Salma Hayek chegou a publicar uma selfie com o livro sem saber da polêmica, mas pediu desculpas em seguida.
As fotos tuitadas pela própria Cummins de um jantar com lagosta para o lançamento do livro que mostra arranjos florais decorados com arame farpado, em alusão à capa do livro, tampouco ajudaram.

"Border chic", criticou Myriam Gurba no Twitter. Segundo os escritores que assinaram a carta, as imagens são "cruéis" e "insensíveis".
- "Ignorância e negligência" -

"Este é um livro que simplifica o México, que utiliza mal o espanhol, é um livro onde a protagonista, que é mexicana, não faz coisas que fazem sentido para um mexicano", disse à AFP Ignacio Sánchez Prado, mexicanista e professor de estudos latino-americanos da Washington University em St. Louis, Missouri.

O acadêmico diz não acreditar que só os mexicanos possam escrever bem sobre o México. Mas Cummins "o fez mal" e a principal responsabilidade é do "aparato editorial", avaliou Sánchez Pardo, que criticou "a ignorância e a negligência" da Flatiron na edição do livro.
A autora, que se define como branca e 'latinx' (sua avó é porto-riquenha), não comentou a polêmica nas redes sociais, mas advertiu no The New York Times que "existe um perigo às vezes de ir longe demais no silenciamento das pessoas".

"Ninguém tenta censurar Cummins. Pode continuar produzindo o que quiser", disse à AFP o escritor Daniel Olivas, autor de um livro de poemas sobre a fronteira, "Crossing the border: collected poems" e um dos signatários da carta enviada a Oprah.

"Mas a promoção deste livro como 'o grande romance americano' e 'um feito deslumbrante', da proporção de John Steinbeck, é simplesmente mortificante quando muitos escritores latinxs recebem uma mera fração desta atenção e compensação monetária", afirmou, em alusão ao autor contemplado com o Nobel de Literatura (1962).

A Flatiron, que obteve os direitos do livro após uma disputa aguerrida e um cheque de sete dígitos para Cummins, não respondeu aos pedidos da AFP para comentar a controvérsia e entrevistar a autora.

O presidente da editora se disse "orgulhoso" de ter publicado o livro, mas admitiu que nunca deveria ter sido apresentado como um romance "que define a experiência do imigrante". Lamentou que "uma obra de ficção bem intencionada tenha gerado um rancor tão virulento".

"'Rancor virulento'. Que forma de nos humanizar, de compreender nosso problema", ironizou no Twitter outro signatário da carta, o escritor hispânico David Bowles, que descreveu o romance como "um melodrama de porno-trauma".

AFP

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Número de trabalhadores estrangeiros no Japão totaliza 1,66 milhão

O número de trabalhadores estrangeiros no Japão atingiu um recorde de 1.658.804 em outubro do ano passado, um aumento de 13,6% em relação ao ano anterior, à medida que as empresas os contratavam em meio à escassez de mão-de-obra causada pelo rápido envelhecimento da população do país, segundo dados do governo, que mostrou na última sexta-feira (31).
O Ministério do Trabalho atribuiu o 12º aumento anual consecutivo a uma política do governo que visava atrair trabalhadores estrangeiros mais qualificados e contratar estudantes para empregos de meio período. Ele também disse que houve maior participação da força de trabalho por residentes permanentes e cônjuges dos japoneses devido a melhores condições de emprego.
O número da manchete foi o mais alto desde que dados comparáveis foram disponibilizados em 2008. Os estagiários de países em desenvolvimento do programa técnico interno do Japão também contribuíram para o aumento, informou o Ministério da Saúde, Trabalho e Bem-Estar.
Trabalhadores de nacionalidade chinesa representam cerca de um quarto de toda a força de trabalho estrangeira em 418.327, seguidos por vietnamitas em 401.326 e filipinos em 179.685.
O número de chineses aumentou 7,5% em relação ao ano anterior, enquanto os números para vietnamitas e filipinos aumentaram 26,7% e 9,6%, respectivamente, informou o ministério.
Por setor, a manufatura contratou o maior número de trabalhadores estrangeiros em 483.278 do total, seguido pelo varejo em 212.528, com 266.503 trabalhadores classificados em “outros serviços”.
Tóquio tinha o maior número de trabalhadores estrangeiros, com 485.345, seguido por Aichi em 175.119 e Osaka em 105.379.
Dados separados da Agência de Serviços de Imigração do Japão mostraram sexta-feira 189.000 novos estagiários técnicos entraram no Japão em 2019, um aumento de 26% em relação ao ano anterior 
Ipc Digital
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quinta-feira, 30 de janeiro de 2020

Mais da metade dos profissionais de cooperativa médica em SC são migrantes ou imigrantes

Parte dos profissionais que se encaixam na situação destacada na matéria (Foto: Unimed/Divulgação)
Estimulados por uma reportagem do colega Lucas Paraizo sob o título "SC tem mais de 5,7 mil imigrantes cadastrados em sistema do governo; maioria é do Haiti", publicada dia 27 de janeiro no Diário Catarinense, a área de Recursos Humanos da Unimed Grande Florianópolis encaminha um levantamento onde constata que, mais da metade dos profissionais daquela cooperativa médica, são de outros estados, países e regiões distintas de Santa Catarina. E conclui que a diversidade cultural amplia olhares em todos os setores da empresa, que é do ramo da saúde.

Cada vez mais receptivos com brasileiros vindos de outras regiões do país e de estrangeiros que escolheram residir na Grande Florianópolis, a capital de SC e arredores assumem de vez sua natureza hospitaleira.

Atualmente, não há um cadastro “oficial” que mensure por aqui a quantidade de brasileiros procedentes de outros lugares do Brasil ou o número total de estrangeiros que vivem em território catarinense. Os dados quantificam, apenas, os declarados imigrantes, sendo mais de 5,7 mil no Estado, dos quais 1,3 mil residem na Grande Florianópolis. A estimativa do governo é que o número de estrangeiros seja maior por conta do turismo e da imagem positiva do estado em relação ao restante do país.
O movimento da receptividade que vemos na capital e região espelha empresas a seguirem pelo mesmo caminho. Dos atuais 1.143 colaboradores da Unimed Grande Florianópolis, 53% nasceram em outros estados ou em diferentes regiões de Santa Catarina (salvo a Grande Florianópolis).

A barreira geográfica também não é empecilho para quem está do lado de lá da fronteira, visto que cinco profissionais da Singular nasceram no exterior, sendo três haitianos, um uruguaio e um chileno.

Um deles é David Sudney, que deixou a cidade de Ouanaminthe (Wanament), no Haiti, para buscar no Brasil oportunidades de estudo e trabalho. Dos cinco anos residindo em Palhoça, dois deles foram completados recentemente na cooperativa médica, onde atua na equipe de higienização do Hospital Unimed.

Adaptado à cultura local, David recorda que o idioma foi o grande desafio na chegada ao Brasil, mas superado pelas aulas de português que frequentou. À vontade no lugar que decidiu viver, David está cada vez mais perto de conquistar os objetivos que o trouxeram até aqui:

— Estudar, trabalhar e construir uma família — diz ele, convencido de que a proximidade com o ambiente hospitalar amadurece os planos de cursar a faculdade de Farmácia, Radiologia ou outro curso na área da saúde.

Dentre as regiões, sul é maioria

O comportamento e hábitos característicos de outros estados não são incomuns no dia a dia da empresa, sobretudo porque a Unimed Grande Florianópolis acolhe brasileiros das cinco regiões do Brasil.
Os sulistas são a figura mais representativa e correspondem a 87% dos colaboradores. Na sequência, sudeste (8%), norte (2%), nordeste (2%) e centro-oeste (1%) completam o quadro geográfico de profissionais.

Valorização das diferenças

O fato da Unimed contar com mais da metade de colaboradores vindos das cinco regiões do país, outras partes de Santa Catarina e de países diferentes demonstra o quanto ela está aberta para diversidades culturais, o que na visão da psicóloga Thais Mara Torquato é positivo pelo impacto que as diferenças causam nas equipes.
A psicóloga, que também é analista de seleção e desenvolvimento, avalia que pessoas com diferentes contextos e culturas geralmente se complementam por lançarem olhares distintos para o mesmo processo ou problema enfrentado. Para ela, a diversidade cultural é benéfica desde que os colegas aceitem as pessoas como elas são, por isso defende um discurso de receptividade alinhado entre as equipes.
— Se aprendermos a valorizar e respeitar a realidade do outro, todos crescem juntos! — complementa.

Nsctotal

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UE "não está preparada para lidar com outra vaga massiva" de migrantes


0 alerta é feito por Michael Spindelegger, diretor-geral do Centro Internacional para o Desenvolvimento de Política Migratória (ICMPD, na sigla em inglês), por ocasião da apresentação das perspetivas desta organização com sede em Viena (Áustria) para os próximos 12 meses no campo das migrações
UE "não está preparada para lidar com outra vaga massiva" de migrantes

Em declarações hoje citadas pelo 'site' EUobserver, Michael Spindelegger admitiu que tanto os países dos Balcãs Ocidentais como os Estados-membros da União Europeia (UE) não terão capacidade de lidar com um outro potencial fluxo em massa repentino.

"Se não começarem a resolver o problema nos países de trânsito, terão uma emergência nos seus países e não conseguirão lidar com isso. Irá acontecer o mesmo que em 2015 e 2016", afirmou.
O relatório do ICMPD "Perspetivas migratórias 2020" antevê, segundo o EUobserver, uma forte probabilidade do fluxo de migrantes provenientes de países como o Irão ou a Líbia ou de regiões como a América do Sul aumentar significativamente nos próximos 12 meses, caso as condições naqueles territórios continuarem a deteriorar-se.

O documento do ICMPD, organização internacional que visa promover a cooperação internacional na área das políticas migratórias, também destaca que, em 2019, os venezuelanos e os colombianos entraram para o grupo das cinco nacionalidades com mais pedidos de asilo.

"Isto é realmente algo singular que nunca observámos nos últimos anos", frisou o responsável, mencionando que a maior parte dos pedidos foi apresentado em Espanha.

Esta entrevista a Michael Spindelegger também surge após os alertas da chanceler alemã, Angela Merkel, sobre a atual situação na Líbia e a possibilidade deste país que enfrenta uma guerra civil se tornar "uma nova Síria", onde cerca de 6,7 milhões de sírios fugiram só em 2018.
Spindelegger, que era ministro dos Negócios Estrangeiros da Áustria antes de assumir a liderança do ICMPD em 2016, afirmou encarar de forma positiva a proposta alemã, lançada no final do ano e que provocou então polémica, de estabelecer centros perto ou fora do território comunitário para triagem, para tratar dos pedidos de asilo e dos repatriamentos de pessoas cujos pedidos de proteção sejam negados.
"Penso que poderá ser algo a ter em conta e que poderá ajudar a encontrar um caminho para sair do impasse em que nos encontramos", referiu o responsável, numa referência às reformas do sistema comum de asilo propostas ao longo dos anos no seio da UE e que foram regularmente bloqueadas.
Segundo Michael Spindelegger, tal ideia iria erradicar as quotas de acolhimento de refugiados, um método segundo o qual (alguns) Estados-membros da UE aceitaram receber um número pré-determinado de requerentes de asilo que chegavam ao território europeu.

Este método, criado em 2015, criou um fosso entre os parceiros europeus, colocando Estados-membros do sul e do norte da Europa contra países como a República Checa, Hungria, Polónia e Eslováquia, que recusaram participar no sistema de quotas para a realocação de refugiados.

Na passada sexta-feira, Ylva Johansson, a comissária que gere a pasta dos Assuntos Internos na nova Comissão Europeia, avançou que quer um pacto sobre a migração entre os Estados-membros da UE, anunciando que irá apresentar um projeto de reforma da legislação sobre migração e asilo na próxima primavera.

Para tal, a comissária iniciou uma ronda pelas capitais europeias para preparar este "novo pacto sobre migração e asilo", defendido e prometido pela presidente do executivo europeu, a alemã Ursula von der Leyen.

"O meu objetivo é acalmar o debate sobre a migração", explicou Ylva Johansson, então, numa entrevista à agência de notícias France Presse (AFP).

"Esta não é a única área em que os Estados-membros têm posições muito distantes uns dos outros, mas noutras áreas temos conseguido sentarmo-nos à volta de uma mesa e negociar até chegarmos a um acordo (...) ou a uma solução que melhore" a situação, afirmou a comissária.
Na mesma entrevista, Ylva Johansson não revelou a solução que vai propor, mas referiu que "a relocalização obrigatória está, obviamente, bloqueada, mesmo sabendo que a relocalização voluntária não será suficiente".

"A solução estará algures no meio destes" dois extremos, adiantou na altura.

Minuto a minuto

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quarta-feira, 29 de janeiro de 2020

OCDE cria cenários hipotéticos para desenhar impacto de migrações no futuro

Acampamento de imigrantes em Ciudad Juárez, México
Acampamento de imigrantes em Ciudad Juárez, México (Arquivo/AFP)
É o ano de 2035. Um imigrante quer se estabelecer na França, mas a análise de todas as suas ações e comportamentos graças ao grande volume de dados sugere às autoridades que ele não se integrará adequadamente. Sua solicitação é rejeitada. Ficção cientifica? Não para a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).
Nos próximos anos, é provável que as mudanças climáticas, distúrbios geopolíticos e o envelhecimento da população continuarão acelerando os fluxos migratórios. Mas outros fatores, como as novas tecnologias, podem "mudar o jogo", antecipa a OCDE em um documento apresentado recentemente em Paris em um fórum sobre migrações.
Essas projeções para "por volta do ano 2035" não são inteiramente o resultado da imaginação. Os cenários apresentados são "plausíveis e perturbadores o suficiente para merecer a atenção e a preparação dos formuladores de políticas", segundo o relatório.
Por exemplo, com base nos dados pessoais disponíveis e usando "avanços tecnológicos", poderia-se "selecionar imigrantes com base em estimativas precisas e detalhadas de seu potencial de integração".
O Reino Unido já utiliza, por razões de segurança, big data para o processo de visto, e os Estados Unidos podem pedir aos migrantes acesso às suas redes sociais, ressalta o relatório.
Sua generalização pode levantar a problemas éticos, mas também "levar a melhores processos de integração e maior aceitação pública da migração", estima a OCDE.
Impactos gigantescos
O chefe de migração internacional da OCDE, Jean-Christophe Dumont, diz que foram criados cenários hipotéticos, sobretudo os que podem causar "impactos gigantescos". "Vamos imaginar que podemos prever um comportamento com base em dados pessoais. Que selecionamos com base na probabilidade de alguém ficar doente, cometer um crime, integrar-se com mais ou menos facilidade, aprender um idioma. Não estamos longe disso", afirmou.
Outra hipótese levantada pela OCDE é que não se pode mais viver na clandestinidade, pois os governos podem geolocalizar os clandestinos e saber onde estão em tempo real. "Não estamos longe disso na China com o reconhecimento facial, com o controle das redes sociais. Mas estamos confortáveis com esse tipo de futuro?", questiona Jean-Christophe Dumont.
Para Nina Gregori, diretora do Escritório Europeu de Apoio ao Asilo (Easo), "ser capaz de antecipar os movimentos das pessoas é uma coisa boa". "Identificar todas as pessoas que estão em nosso território" poderia ter um "impacto positivo" para estrangeiros em situação irregular, estima, pois "existem setores inteiros da economia, como a agricultura, que são semi-dependentes da mão de trabalho de imigrantes em situação irregular".
Contrapoderes
Para o diretor da associação Fórum de Refugiados, Jean-François Ploquin, "quanto mais nos aproximamos dos sistemas de controle, mais são necessários contrapoderes". "Tudo isso levanta, por exemplo, a questão do enorme problema da confiabilidade dos dados. O fato de um jovem africano declarar sua idade na Itália para entrar na Europa não significa que ele não seja menor", diz.
A OCDE recomenda que os governos não baseiem suas políticas "exclusivamente" em algoritmos e inteligência artificial. A organização também vê outros possíveis fatores para a migração em massa, como uma transição bem-sucedida para uma ecologia livre de carbono que levaria a uma queda nos preços do petróleo.
Os países exportadores de ouro preto, particularmente no Oriente Médio, que atualmente dependem fortemente de mão-de-obra migrante, veriam não apenas o retorno desses migrantes aos seus países de origem, mas também um êxodo potencial de suas populações, alerta a OCDE. A combinação de vários fatores pode gerar "uma tempestade perfeita de desequilíbrios migratórios internacionais", conclui.

AFP

ACNUR firma parceria com Museu da Imigração de SP para eventos sobre refúgio

Com o objetivo de dar luz a debates sobre a temática do refúgio e dos direitos humanos, o Museu da Imigração (MI) – instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo – e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) lançam uma parceria para ações a serem realizadas no complexo da antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás, zona central da capital paulista, em 2020.
Com o objetivo de dar luz a debates sobre a temática do refúgio e dos direitos humanos, o Museu da Imigração (MI) – instituição da Secretaria de Cultura e Economia Criativa do Estado de São Paulo – e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) lançam uma parceria para ações a serem realizadas no complexo da antiga Hospedaria de Imigrantes do Brás, zona central da capital paulista, em 2020.
Como parte das atividades gratuitas a serem promovidas, está o lançamento do relatório internacional “Tendências Globais”, que acontecerá em junho no auditório do museu. O documento trará os dados atualizados sobre os contextos globais da situação das pessoas refugiadas, deslocadas internas, retornadas, solicitantes de refúgio e apátridas.
“O Museu da Imigração sempre abordou as experiências enfrentadas nos deslocamentos humanos de ontem e de hoje. A condição de refúgio, consequentemente, esteve presente e se mantém como parte das ações museológicas. Nesse cenário, firmar parceria com o ACNUR é um passo importante para a instituição, pois aproximará os visitantes, por meio de diferentes linguagens, da realidade vivenciada por essas pessoas”, comenta a diretora-executiva do museu, Alessandra Almeida.
Além do lançamento do relatório “Tendências Globais”, os visitantes poderão prestigiar, ao longo dos próximos dois anos de vigência da parceria, exposições itinerantes do ACNUR, projeções de filmes e documentários com títulos ligados aos assuntos relacionados a ambas as instituições e seminários, encontros, rodas de conversas e celebrações sobre essas temáticas em questão. As programações serão divulgadas no site e nas mídias sociais do ACNUR e do MI.
“O ACNUR tem em seu mandato a proteção efetiva das pessoas que buscam proteção internacional. Ao conciliarmos esforços com o Museu da Imigração, este notório espaço de diálogo sobre os deslocamentos humanos, asseguramos a garantia de direitos das pessoas refugiadas em suas mais diversas formas de expressão. A diversidade cultural que integra uma programação acessível, como a agenda que teremos conjuntamente, fortalece a empatia e a solidariedade àqueles que buscam recomeçar as suas vidas com dignidade”, afirma o representante do ACNUR no Brasil, Jose Egas.

Histórico

Desde a sua criação, em 1993, o MI preserva a história e memória dos mais de 2,5 milhões de migrantes internacionais e nacionais, incluindo refugiados, que passaram pela Hospedaria, fomentando, a partir da sua reinauguração em 2014, o diálogo e reflexão sobre o fenômeno dos deslocamentos humanos e questões relacionadas à violação dos direitos humanos.
A Agência da ONU para Refugiados, cujas atividades iniciaram em janeiro de 1951, visa proteger e assegurar os direitos de pessoas em situação de refúgio e deslocamento forçado, trabalhando para garantir que qualquer pessoa possa exercer plenamente o direito de buscar e receber refúgio em outro país e, caso deseje, regressar ao seu local de origem de forma segura.

Museu da Imigração

Rua Visconde de Parnaíba, 1.316 – Mooca – São Paulo/SP
Tel.: (11) 2692-1866
Funcionamento: de terça a sábado, das 9h às 17h; e aos domingos, das 10h às 17h
R$10 e meia-entrada para estudantes e pessoas acima de 60 anos | Grátis aos sábados
Acessibilidade no local – Bicicletário na calçada da instituição
www.museudaimigracao.org.br
Acnur
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sábado, 25 de janeiro de 2020

FEPAL debate migração, racismo e xenofobia no Fórum Social das Resistências

Atividade, realizada no auditório do Ministério Público Federal do RS, reuniu acadêmicos, ativistas e representantes de movimentos sociais e associações
A vice-presidente da FEPAL, Fátima Ali, participou na manhã de hoje do encontro Convergência das Migrações: Contra o Racismo e contra a Xenofobia, parte da programação do Fórum Social das Resistências, que ocorre em Porto Alegre até amanhã (25). A atividade, realizada no auditório do Ministério Público Federal do RS, reuniu acadêmicos, ativistas e representantes de movimentos sociais, coletivos e associações.
Em sua fala, Fátima analisou brevemente o atual contexto político de retrocessos nas garantias dos direitos humanos e reforçou a importância da mobilização por representatividade e respeito. “Falar sobre a Questão Palestina é falar do projeto de resistência de um povo, seja nos territórios palestinos ocupados, seja como migrantes ou refugiados. Saímos da situação de um povo quase destruído, em 1948, nos organizamos no mundo todo e passamos a ter voz e reconhecimento”, disse.
Vice-presidente da FEPAL destacou a resistência do povo palestino nos territórios ocupados e em diáspora pelo mundo
Para ela, a resistência da população palestina ao processo de limpeza étnica conduzido pelo Estado de Israel pode servir de inspiração a migrantes e grupos étnicos de outras regiões na luta por dignidade. “Na Palestina, temos convivido com o racismo desde a Nakba, e no Brasil e outros países também, um preconceito que se manifesta numa grande confusão sobre religião e identidade”, observou.
Imigrante de Guiné Bissau e estudante da UFRGS, Vanito Ianium Vieira Cá, falou sobre os desafios de integrar-se à sociedade e ao Estado brasileiro, questionou a narrativa da “crise migratória” arquitetada pelos países hegemônicos e enfatizou o papel de ações de combate à violência e à desigualdade para atacar o racismo e a xenofobia. Alessia Dro, do movimento das mulheres do Curdistão, destacou a importância do feminismo e de uma rede de solidariedade entre América Latina e Oriente Médio para a construção de um mundo mais tolerante às diversidades.
Participaram ainda representantes do Fórum Permanente de Mobilidade Urbana, do Fórum das Migrações da UFRJ POSCOM/UFSM, do Conselho Federal e Regional de Psicologia e de associações de imigrantes. A moderadora foi Catalina Revollo Prado, do Colectivo La Clandestina. O Instituto Parrhesia também auxiliou na organização do encontro.

Fepal 
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Organização Internacional para as Migrações realiza capacitação para jornalistas sobre a questão migratória



A ação será no dia 06 de fevereiro, em São Paulo, e contará com três módulos de aprendizagem sobre o tratamento jornalístico da questão imigratória. A data limite para a inscrição é 2 de fevereiro e as vagas são limitadas.
A realização da capacitação é uma parceria entre o Escritório Regional da América do Sul da Organização Internacional para as Migrações - OIM e o Escritório Nacional da OIM no Brasil.


Módulos
A capacitação é composta por três módulos:
1.Conceitos e tendências sobre migração 
No primeiro módulo, "Conceitos e Tendências sobre Migração", são fornecidas noções fundamentais sobre o assunto. Começando com a definição da palavra "migrante", uma visão geral das tendências da migração no mundo, suas variáveis, números, fatores que causam, consequências e alguns dos principais desafios da migração atual, entre outros.
2. Migração e Mídia
O segundo módulo, "Migração e mídia", aborda a relação entre a agenda jornalística e a migração. Será feita a reflexão sobre as diferenças entre percepção e realidade, como a cobertura da mídia influencia na criação de estereótipos em torno da migração, o papel da mídia em ajudar a prevenir a xenofobia e a demolir mitos, entre outros. Além disso, será realizada uma prática baseada em 10 pontos para o Tratamento Jornalístico da Questão Migratória, que inclui, entre outros, diretrizes e terminologia apropriadas para o tratamento jornalístico do assunto, destacando exemplos específicos de cobertura da mídia e fornecendo fontes para obter dados e informações sobre migração.
3. Dinâmica atual da migração na região. Estudo de caso: fluxos venezuelanos
No terceiro módulo, é feita referência à dinâmica atual da migração na região sul-americana, incluindo o fluxo de venezuelanos como um estudo de caso.
Expositores
Ezequiel Texidó, Oficial Regional de Parcerias e Políticas da OIM para a América do Sul
Juliana Quintero, Oficial Regional de Mídia e Comunicação da OIM para a América do Sul
Expositores de Agências da ONU convidadas.
Inscrição  
O interessado na capacitação deve enviar a solicitação de inscrição para o e-mail robuepress@iom.int com as seguintes informações: 
No assunto do e-mail: Capacitação para Jornalistas em São Paulo – Brasil
No corpo do e-mail:
Nome e sobrenome
Meio de comunicação ou assessoria para o/a qual trabalha
Editorias que costuma cobrir
Breve descrição do motivo pelo qual gostaria de participar da capacitação

Mais informações aqui.

Portal da Imprensa

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sexta-feira, 24 de janeiro de 2020

ACNUR e Santos FC firmam parceria para inclusão de pessoas refugiadas no esporte

Como pontapé inicial da parceira, 11 crianças refugiadas de diferentes nacionalidades entrarão em campo com os jogadores do Santos na partida contra o Red Bull Bragantino, quinta-feira (23), às 19h15, na Vila Belmiro, em Santos (SP), no primeiro jogo da equipe pelo Campeonato Paulista de Futebol 2020.
Após a entrada em campo, as crianças acompanharão os jogos das arquibancadas com seus pais, proposta que será mantida ao longo do ano. A partir de fevereiro, as crianças refugiadas já poderão ser inscritas nas 60 escolas de futebol franquiadas, em 13 unidades da federação.
Estádio Urbano Caldeira - Vila Belmiro. Foto Wikimedia Commons/Nelson R. de Lima Filho (CC)
Estádio Urbano Caldeira – Vila Belmiro. Foto Wikimedia Commons/Nelson R. de Lima Filho (CC)
O Santos Futebol Clube e a Agência da ONU para Refugiados (ACNUR) firmaram parceria que prevê o apoio do organismo das Nações Unidas na capacitação dos profissionais do time e a indicação de pessoas refugiadas para atividades de inclusão social.
O termo de cooperação inclui acesso de crianças refugiadas às escolas de futebol oficial do Santos FC em todo o Brasil, assim como a promoção do tema do refúgio em campanhas conjuntas de comunicação.
Representantes de ACNUR e Santos FC disseram que o compromisso ultrapassa as iniciativas dentro de campo, ampliando o conhecimento e o alcance de mensagens sobre o tema dos refugiados.
“Como marca reconhecida mundialmente, o Santos Futebol Clube tem responsabilidade social com questões que envolvam não somente o Brasil, mas também o exterior. É preciso olhar com serenidade e sensibilidade para as histórias de vida de pessoas refugiadas”, disse José Carlos Peres, presidente do clube.
“O ACNUR enxerga o esporte como uma ferramenta fundamental de desenvolvimento pessoal e integração social, reforçado pela convivência e espírito de coletividade entre seus participantes”, disse o representante do ACNUR no Brasil, Jose Egas.
“Tendo um importante clube como o Santos como parceiro estratégico para a implementação de iniciativas de inclusão e comunicação, novas pessoas se sensibilizarão para que os refugiados possam ser bem acolhidos em nosso país.”
Como pontapé inicial da parceira, 11 crianças refugiadas de diferentes nacionalidades entrarão em campo com os jogadores na partida contra o Red Bull Bragantino, quinta-feira (23), às 19h15, na Vila Belmiro, em Santos (SP), no primeiro jogo da equipe pelo Campeonato Paulista de Futebol 2020.
Após a entrada em campo, as crianças acompanharão os jogos das arquibancadas com seus pais, proposta que será mantida ao longo do ano. A partir de fevereiro, as crianças refugiadas já poderão ser inscritas nas 60 escolas de futebol franquiadas, em 13 unidades da federação.

Sobre o ACNUR

Criado em 1950 por resolução da Assembleia Geral da ONU, o ACNUR protege e assegura os direitos de refugiados e populações apátridas em todo o mundo. Por seu trabalho humanitário, recebeu duas vezes o Prêmio Nobel da Paz (1954 e 1981).
Atualmente, a agência conta com quase 12 mil funcionários e está presente em cerca de 130 países. No Brasil, o ACNUR atua em cooperação com o Comitê Nacional para os Refugiados (CONARE) e em coordenação com os governos federal, estaduais e municipais, a sociedade civil e o setor privado.
Acnur
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Expulsão de estrangeiro: anulação de decreto é atualização normativa, diz governo

Resultado de imagem para ministerio da justiça
O Ministério da Justiça e Segurança Pública esclareceu que o decreto publicado nesta quinta-feira, 23, sobre expulsão de estrangeiros “faz parte de um processo de atualização normativa”. Em nota, a pasta explicou que o decreto apenas revoga expressamente um decreto anterior que, tacitamente, não estava mais em uso, e que “a competência do Ministro da Justiça e Segurança Pública para deliberar sobre expulsões permanece a mesma”, conforme prevê a regulamentação da nova Lei de Migração, de 2017.
“A revogação expressa do decreto do ano 2000 foi recomendada pelo próprio Ministério da Justiça e Segurança Pública”, diz a nota do ministério.
Diário Oficial da União (DOU) desta quinta-feira traz decreto presidencial revogando o Decreto 3.447/2000, no qual o presidente da República delegava ao ministro de Estado da Justiça a competência para resolver sobre a expulsão de estrangeiro do País e a sua revogação. O decreto anulado foi editado na gestão do então presidente Fernando Henrique Cardoso.
A Secretaria-Geral da Presidência reforçou que “a revogação de hoje tão somente reflete o esforço que o governo federal vem fazendo para limpar o ordenamento jurídico infra-legal, revogando expressamente decretos em desuso ou revogados tacitamente”.
A pasta também destacou que a Lei de Migração deu lugar ao antigo Estatuto do Estrangeiro e que, nesse novo marco legal, a competência para decidir sobre a expulsão de estrangeiros já é do ministro de Estado da Justiça e Segurança Pública.
Mix Vale
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quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Fuga de cérebros: os doutores que preferiram deixar o Brasil para continuar pesquisas em outro país

Todos são doutores recentes e resolveram deixar o país em busca de melhores oportunidades para desenvolver seu trabalho em um ambiente mais favorável à ciência. Eles seguem uma tendência, não registrada nas estatísticas oficiais, mas que aparece nos muitos relatos de migração de talentos para outros países que vem aumentando, conforme pesquisadores chefes de grupos no país e jovens que foram embora, ouvidos pela BBC Brasil. Uma espécie de diáspora de cérebros, que vem preocupando a comunidade científica nacional, por causa das consequências disso para o desenvolvimento do Brasil.

Fuga de cérebros
A pesquisadora Ana Maria Carneiro, do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas (NEPP), da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) está iniciando uma pesquisa pesquisa que tentará entender as trajetórias de migração da diáspora brasileira de Ciência, Tecnologia e Inovação e também as motivações e locais de inserção. "Entretanto, não há fontes de dados sistemáticas que permitam mensurar o tamanho deste fenômeno, pois é necessário ter informações sobre a saída, local de estabelecimento, tipo de inserção profissional e perfil sociodemográfico, especialmente a escolaridade", explica.
Está prevista no projeto a realização de um levantamento sobre o fenômeno, mas provavelmente não haverá informação quantitativa exaustiva que permita afirmar quantos brasileiros de alta qualificação vivem no exterior e se houve um movimento de ampliação, diz. "Será possível, no entanto, ter pistas qualitativas sobre a migração de pessoas altamente qualificadas."
Há alguns números de outras fontes, entretanto, que podem lançar luz sobre o problema. Embora não discrimine por profissão ou ocupação a saída definitiva de brasileiros para a o exterior, a Receita Federal mostra que o número passou 8.170 em 2011 para 23.271 em 2018, ou crescimento de 184%. Em 2019, até novembro, 22.549 pessoas fizeram declaração de saída definitiva do país. O crescimento foi mais acentuado a partir de 2015, quando o número foi de 14.981. Em 2016, pulou para 21.103, crescendo para 23.039 em 2017.
Entre esses migrantes, estão muitos cientistas, de acordo com o relato de acadêmicos ouvidos pela BBC News Brasil.
Segundo o geólogo Atlas Correa Neto, da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) "é um dreno geral", que inclui doutores mais antigos além de candidatos ao mestrado e também ao doutorado. Não se trata apenas de pessoas indo para realizar um curso, uma especialização ou realizar um projeto de pesquisa.
"Trata-se de saída em definitivo", diz. "Quem tem possibilidade está indo, mesmo sem manter a ocupação de cientista. Esse movimento não se restringe à área tecnológica e também afeta as ciências sociais. Aliás, se eu pudesse, se tivesse condições financeiras e sociais adequadas, iria embora também."

Debandada em áreas tecnológicas

bióloga Bianca Ott Andrade em pesquisa de campoDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionTemendo ficar desempregada, bióloga Bianca Ott Andrade mudou-se para os Estados Unidos, onde faz pós-doutorado na Universidade do Nebraska-Lincoln
De acordo com o pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Luís da Cunha Lamb, que atualmente é secretário de Inovação, Ciência e Tecnologia do seu Estado, o fenômeno é mais intenso nas áreas que ele chama de "portadoras de futuro e com impacto econômico visível".
"Notadamente em ciência da computação, algumas áreas das engenharias, biotecnologia e medicina, por exemplo", diz. "Em particular, com o crescimento e o impacto da inteligência artificial em todas as atividades econômicas, os profissionais desta área têm oportunidades no mundo inteiro. Estamos perdendo jovens em áreas científicas, que são portadoras de futuro. Mundo afora, dominar setores como computação, estatística e matemática tem muito valor no mercado."
O biólogo Glauco Machado, do Instituto de Biociências da Universidade de São Paulo (USP), também enumera algumas razões pelas quais a saída de pesquisadores está ocorrendo.
"Ela tem a ver com a redução do número de bolsas, o baixo valor das de mestrado e doutorado, que não são reajustadas há vários anos, e o pessimismo em relação a uma futura contratação — especialmente para as áreas em que o principal empregador é a própria academia -, que é fruto da recessão econômica que aflige o país há pelo menos cinco anos", diz.
Em nota, a Capes informou que há 7.699 bolsas congeladas e um total de 87.018 bolsas ativas. O CNPq, por sua vez, suspendeu em agosto, 4,5 mil bolsas que não estavam sendo usadas, segundo a instituição.
Ele acrescenta que, ao mesmo tempo, é importante olhar para o que está acontecendo fora do Brasil.
"Várias universidades no exterior estão criando programas de atração de talentos internacionais", diz.
É o caso, por exemplo, das universidades de Genebra, na Suíça, e Saskatchewan, no Canadá.
"O investimento em pesquisa e tecnologia tem crescido em vários países desenvolvidos e as oportunidades de bolsas e eventualmente trabalho em algumas áreas são maiores no exterior do que aqui. Portanto, sair do país é algo bastante atrativo para um profissional no início de sua formação."
Eduardo Farias Sanches, de 39 anos, que o diga. Ele considera que teve sorte de receber um convite para ir embora em um momento oportuno, "devido ao incessante ataque do governo federal às universidades (especialmente as públicas) e o corte de despesa em pesquisa e desenvolvimento, o que é uma lástima para a nova geração de pesquisadores que, assim como eu, está tentando se firmar no meio científico".
"Fico muito triste com essa situação, ao ver que muitos bons pesquisadores não terão um horizonte razoável no Brasil", lamenta. "Infelizmente para o país, a tendência é essa debandada aumentar".
Graduado em Fisioterapia pela Universidade Federal de Santa Maria (UFSM), em 2007, com mestrado (2014) e doutorado (2015) na Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), Sanches foi contemplado com uma bolsa de excelência do governo suíço, para desenvolver um projeto de pesquisa na Universidade de Genebra com duração de um ano.
Depois desse período, foi convidado por seu chefe, Stéphane Sizonenko, a permanecer lá, mas optou por retornar ao Brasil, onde tinha compromisso com seu antigo orientador. Ficou dois anos aqui, período em que o convite anterior para retornar a Suíça foi refeito. Dessa vez, ele aceitou e voltou para lá, em setembro de 2019.
Pesou na escolha a possibilidade de melhores salários. "Aqui na Suíça, além de ser levada muito a sério, a pesquisa científica é considerada profissão, ou seja, contribuo com impostos e tenho direito a aposentadoria", conta.
"Além disso, há melhores condições de trabalho, que são inegavelmente ótimos atrativos a deixar o meu país. No Brasil, a ciência e a cultura não são estimuladas e a inserção de pessoas altamente capacitadas no mercado de trabalho, por não haver incentivo à pesquisa e desenvolvimento, se torna muito difícil. É triste admitir que seremos uma nação meramente exportadora de commodities e importadores de tecnologia de ponta."
Procurados pela reportagem, o Ministério da Educação e a Casa Civil da Presidência da República disseram que quem poderia comentar o tema era a Capes, que, em nota, respondeu:
"A Capes aumentou em 9,1% o seu orçamento de 2018 para 2019, que subiu de R$ 3,84 bilhões para R$ 4,19 bilhões. Atualmente, há 95,4 mil bolsistas no País e 8,7 mil no exterior. Também foram lançados 21 editais de cooperação internacional e mais R$ 80 milhões para pesquisas de pós-graduação na Amazônia Legal, além de 1.800 bolsas que auxiliam no desenvolvimento regional. Para 2020, o Ministério da Educação busca meios para recompor o orçamento com outras ações orçamentárias. Nenhuma bolsa será cortada e todos os programas da CAPES serão mantidos."
O CNPq, por sua vez, respondeu, também por meio de nota:
"O êxodo dos pesquisadores brasileiro para outros países é uma preocupação, que norteia uma série de iniciativas que o CNPq tem fomentado para aperfeiçoar e ampliar mecanismos de fixação de nossos profissionais da ciência e tecnologia. Dentro das limitações orçamentárias e legais que se aplicam ao CNPq, a agência investe, por exemplo, em programas que, em parceria tanto com instituições públicas quanto a iniciativa privada, incentivam a realização de projetos de pesquisa científica, tecnológica e de inovação dentro de empresas e indústrias.
O objetivo é, além de contribuir com a formação de recursos humanos mais qualificados, garantir empregabilidade dos pesquisadores. Importante ressaltar que em países como Japão, Coreia do Sul, Israel, EUA e China, mais de 60% do total de seus pesquisadores estão alocados em empresas, segundo dados de 2018 da OCDE. No Brasil, esse percentual é de apenas 18%."
Procurado pela BBC News Brasil, o MCTIC não retornou a solicitação até a conclusão desta reportagem.

Medo do desemprego ou de interrupção das bolsas

Renata LeonhardtDireito de imagemARQUIVO PESSOAL
Image captionGeóloga formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Renata Leonhardt recebeu uma bolsa da Universidade de Saskatchewan, uma das 15 melhores universidades do Canadá em pesquisa
Bem mais jovem, com 23 anos e cursando um mestrado, a geóloga Renata Leonhardt, formada na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e com estágio em empresas do setor petrolífero, igualmente partiu do Brasil em busca de melhores oportunidades e salários. Ela recebeu uma bolsa da Universidade de Saskatchewan, uma das 15 melhores universidades do Canadá em pesquisa.
O medo de ficar desempregada depois de formada foi outro motivo que a levou a ir embora.
"Até pouco tempo antes de me formar, o setor de óleo e gás ainda estava na expectativa de se recuperar da última crise", diz Renata. "Mas depois, as oportunidades na minha área ficaram um tanto escassas, mesmo para recém-formados que haviam estagiado anteriormente e buscavam contratação, como era o meu caso."
O atual cenário político brasileiro também foi levado em conta por Renata em sua decisão. "Ele não está muito favorável para a ciência", explica. "Eu temia, por exemplo, ficar sem bolsa no meio do curso — algo que era crucial para que eu continuasse a pesquisa."
Em agosto, o CNPq chegou a anunciar que havia risco de não pagamento dos seus mais de 80 mil bolsistas a partir de outubro. Isso não ocorreu, no entanto. O governo conseguiu cumprir o compromisso.
Essas também foram algumas das razões da bióloga Bianca Ott Andrade, formada pela Universidade Federal do Paraná (UFPR), para se mudar para o exterior, no caso, Estados Unidos, onde faz pós-doutorado, na Universidade do Nebraska-Lincoln.
"No Brasil, eu tinha uma bolsa de pesquisadora de pós-doutorado, que ia se encerrar no final de 2019, mas havia grandes chances de ficar desempregada", conta.
Além disso, contribuiu para a decisão de Bianca a atuação do atual governo nas áreas de ciência e educação, com menos incentivo ao ensino superior e a políticas ambientais.
"Eu trabalho com ciência e educação, é isso o que eu amo, é o que eu sei fazer. Sinto que não tem espaço pra mim, pelo menos não agora. Decidi dar um tempo para minha cabeça."
No caso de Gustavo Requena Santos, razões pessoais e profissionais se somaram para que ele decidisse se mudar para o exterior.
"Sou casado com um americano e no final da minha bolsa de pós-doutorado na USP, em meados de 2017, ele obteve uma oferta de trabalho para voltar aos EUA e decidimos nos mudar", conta.
"Entretanto esta não foi a maior razão pela qual saímos do Brasil. Foi uma oportunidade para mudarmos para um local com melhores condições e perspectivas para o futuro."
Ele diz ainda que, como profissional, apesar de quase 10 anos de experiência em pesquisa, se sentia desvalorizado, sem benefícios ou vínculo empregatício. "O cenário ficou insustentável", explica. "Por isso, resolvi me mudar."

Menos valor para a economia

Seja qual for o motivo de cada um para ir embora, o certo é que o Brasil está perdendo jovens doutores, quando o número deles, em qualquer idade, já é menor que a média internacional. De acordo com dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE), apenas 0,2% da população brasileira possui doutorado, enquanto a média dos países pertencentes à organização e de 1,1%.
Segundo dados do CNPq, o Brasil tem hoje 7,6 doutores por 100 mil habitantes, índice que está estabilizado.
"Esse número não é suficiente, haja vista que países desenvolvidos têm um número muito superior", diz a bioquímica Ângela Wise, da UFRGS, membro titular da Academia Mundial de Ciências e secretária regional da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência (SBPC) no Rio Grande do Sul.
"Como é o caso do Japão, que é o país desenvolvido com o menor número de doutores: 13 por 100 mil habitantes. O Reino Unido, por sua vez, tem atualmente 41, enquanto Portugal, 39,7; Alemanha, 34,4; e os Estados Unidos, mais de 20."
É muito pouco, segundo o engenheiro cartográfico Antonio Maria Garcia Tommaselli, do campus de Presidente Prudente, da Universidade Estadual Paulista (Unesp), cujo grupo de pesquisa já perdeu três doutores para instituições europeias.
"Para um país com uma economia complexa como a do Brasil e que precisa agregar valor tecnológico aos seus produtos, em vez de apenas exportar matérias-primas, o ideal seria dobrar ou triplicar o atual número de doutores", diz.
Apesar de ver aspectos positivos na diáspora, no cômputo geral, Tommaselli a considera prejudicial ao país.
"O lado positivo é que ela significa que formamos cientistas de classe internacional", explica.
"O dramático é que estamos perdendo os melhores pesquisadores e que nos substituiriam no futuro, levando consigo todo o investimento feito com recursos públicos e o conhecimento altamente especializado que eles detêm. Um erro estratégico que será sentido em alguns anos, com o apagão científico em várias áreas", ressalva.
Mas não é só isso. "O mais grave é que o governo atual não tem qualquer política para reter estes cientistas, ao contrário, entende como remédio reduzir a formação de doutores", critica Tommaselli.
"Encontramos o mesmo cenário em vários grupos de pesquisa brasileiros de expressão internacional e as consequências futuras serão muito ruins para a economia, que se baseia em conhecimento", acrescenta.
Segundo Atlas, não haverá renovação do quadro de pesquisadores e professores de nível superior.
"Ou, sendo menos pessimista, ela será aquém da necessária", diz. "Haverá déficit de cientistas. E eles e os educadores terão menos conhecimento. Seremos piores. Sem investimentos, sem incentivos, será feita ciência de baixa qualidade, os avanços serão pífios. Novas tecnologias não serão desenvolvidas, as já existentes não serão aperfeiçoadas. Nos tornaremos ainda mais dependentes de outros países e de multinacionais em termos de ciência, tecnologia e cultura."
BBCNEWS
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