quinta-feira, 31 de dezembro de 2020

O vírus também ataca os direitos humanos

 

Um homem com máscara se debruça em uma barricada que impedia o acesso a um condomínio de Wuhan, em 14 de abril de 2020.NOEL CELIS / AFP

Michelle Bachelet já alertou. A alta-comissária de Direitos Humanos da ONU identificou o perigo em abril e acaba de insistir no final deste ano: a crise sanitária desatada pela covid-19 pode acabar infectando o organismo da democracia e das liberdades. E não há vacina contra esse vírus, “exceto mais direitos humanos”, como disse a ex-presidenta chilena. Desde que a pandemia foi declarada, em março passado, deixando quase dois milhões de mortos, aproximadamente 82 milhões de contagiados e o planeta em polvorosa, alguns regimes autoritários aproveitaram o medo de suas sociedades para transformar as máscaras em focinheiras e o confinamento em estados de exceção encobertos.

Vários especialistas em direitos humanos consultados por este jornal salientam que entre os males trazidos pela pandemia, além da crise sanitária e econômica, será preciso incluir um retrocesso das liberdades, inclusive nas democracias. O último estudo do Idea (Instituto para a Democracia e a Assistência Eleitoral, na sigla em inglês), um organismo intergovernamental com sede na Suécia e em parte financiado pela União Europeia, informa que quase a metade dos países democráticos (43%) e a maioria dos não democráticos (90%) adotaram medidas “ilegais, desproporcionais, indefinidas ou desnecessárias” desde o início da pandemia. Em seu relatório sobre o estado da democracia no mundo, o organismo enquadra 162 dos 195 em uma das três seguintes categorias: democracias (99), regimes híbridos (33) e regimes autoritários (30). Os critérios para isso são parâmetros como a existência de eleições confiáveis, o respeito aos direitos humanos e a igualdade entre os sexos.

O relatório afirma que neste ano houve uma erosão do Estado de direito sem igual nas últimas décadas. Por exemplo, em termos de liberdade de expressão, uma das restrições mais comuns, pela primeira vez desde 1975 há mais países em retrocesso do que em ascensão, uma tendência que já vinha sendo vista desde 2014. “Os elementos mais preocupantes se dão no que chamamos de regimes híbridos, como a Rússia, Turquia, Marrocos, Afeganistão e Paquistão, e nas democracias frágeis ou de baixa qualidade, como Polônia, Hungria, Índia, Filipinas e Sérvia, onde as ações do Executivo estão minando os princípios democráticos, uma tendência que, se não for revertida, poderia ter chegado para ficar”, afirma Alberto Fernández, um dos autores do relatório do Ideia, falando por telefone de Estocolmo.

“Embora ainda seja cedo para calibrar o impacto da pandemia e seja complicado tirar conclusões, foram aprovadas medidas que poderiam se manter no tempo, como as restrições à liberdade de imprensa ou de informação, que inclusive se tornaram leis em alguns países, enquanto outras, como as limitações de movimento ou de reunião, ninguém espera razoavelmente que se mantenham além da emergência sanitária”, acrescenta Fernández. Os Estados que se orgulham de terem enfrentado o vírus de maneira mais eficaz e com menor perda de vidas, segundo o cômputo da Universidade Johns Hopkins, conseguiram isso, argumenta o estudo, à custa de ignorar os direitos humanos, como ocorreu por exemplo na China, onde os médicos que alertaram para os primeiros sinais de epidemia em Wuhan foram silenciados e muitos jornalistas estrangeiros foram expulsos, ou em Cuba.

Em países como Islândia, Finlândia, Nova Zelândia, Noruega, Coreia do Sul, Taiwan e Uruguai, as medidas adotadas contra o vírus, segundo o relatório, em geral não violaram os direitos fundamentais, embora em muitas partes da Europa e nos Estados Unidos, com uma grande tradição democrática, os decibéis da polarização política tenham subido. “Reagiram de maneira eficaz à pandemia sem solapar as liberdades”, diz Fernández. Não foi assim, porém, na Hungria, Polônia, Ucrânia, Rússia, Eslováquia, Eslovênia, Belarus e Azerbaijão, onde a covid-19 serviu como pretexto para cercear liberdades básicas e para adiar eleições – uma medida eventualmente justificada pelo risco de contágio, mas muito bem aproveitada pelos regimes não democráticos ou autoritários, já que, das 185 votações previstas neste ano até outubro, 93 haviam sido adiadas, e só 92 aconteceram de fato – ou para silenciar críticos, quando não diretamente para esmagar a oposição, como em Bangladesh ou no Camboja.

Em outras zonas do mundo, como a América Latina e a África ―que tem o pior comportamento, com 76% de países com as liberdades em semáforo vermelho, só atrás do Oriente Médio―, a crise sanitária agravou a corrupção, a fragilidade das instituições, a pobreza, a desigualdade e a exclusão dos grupos mais vulneráveis, entre eles as mulheres, os imigrantes e as minorias raciais. Além disso, em oito países, entre eles o México e o Chile, coube às Forças Armadas controlar a pandemia e a segurança. Regimes como os da Venezuela, Cuba e Nicarágua se tornaram ainda mais autoritários, segundo o documento.

“Desde que a pandemia estourou, a democracia e os direitos humanos se deterioraram em 80 países”, adverte por email Amy Slipowitz, coautora do último estudo da organização Freedom House, intitulado Democracia sob confinamento. Segundo ela, “esta deterioração é particularmente preocupante nas democracias incipientes e nos Estados altamente repressivos”. Segundo o relatório dessa organização norte-americana, feito com a participação de mais de 400 jornalistas, trabalhadores sociais, ativistas e especialistas sobre 192 países, a lista inclui tanto ditaduras como democracias que rebaixaram os seus padrões.

Para a Freedom House, a pandemia acentuou a desconfiança na democracia, uma tendência latente que se exacerbou a partir da Grande Recessão de 2008. Embora a emergência sanitária diminua com a difusão de vacinas nos próximos anos, Slipowitz acredita que esse padrão será mantido. Ou seja, que continuará a propagação das chamadas fake news ou desinformação, tão bem manejadas neste ano por presidentes como Donald Trump e Jair Bolsonaro; será mais fácil para os Governos autoritários controlarem a população alimentando o pânico, ou crescerá o controle dos Estados através da videovigilância, como ilustra o caso da China. “No momento, todos os Governos deveriam assegurar-se de que as medidas de emergência são proporcionais e temporárias. Também deveriam garantir que a população tenha acesso a informação confiável sobre a pandemia, permitir a realização de eleições livres e confiáveis com medidas sanitárias adequadas, identificar e punir as violações de direitos humanos e combater a corrupção”, conclui Slipowitz.

 El Pais

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quarta-feira, 30 de dezembro de 2020

Atendimentos da Sedhast para refugiados, migrantes e apátridas garantiram direitos e passaram dos 900 no ano

 

Foto: Monique Alves

O Centro de Atendimento em Direitos Humanos (CADH), da Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (Sedhast), contabilizou 920 atendimentos somente neste ano, distribuídos entre refugiados, migrantes e apátridas que buscaram ajuda do Governo do Estado. Cidadãos venezuelanos foram um dos mais atendidos no período, 290 no total. Outras nacionalidades como haitianos e colombianos também entram na lista de atendimentos.

Os serviços prestados pelo setor, em síntese, são em sua maioria para o início do processo de regularização migratória: solicitação de residência ou refúgio; documentações necessárias ao processo de imigração e encaminhamentos de nacionais e estrangeiros para defesa de direitos.

“Uma procura natural que demonstra que estamos com atenção também para essa demanda da sociedade. Quem recebe atendimento pelo CADH/Sedhast e retorna para mais orientações, certamente teve seu problema encaminhado e ganhou confiança no nosso trabalho. Sempre buscamos um atendimento humanizado e de resoluções efetivas para essas pessoas que estão naturalmente longe de seus países”, aponta a titular da Sedhast, Elisa Cleia Nobre.

Mato Grosso do Sul também conta, nessa política específica, com o Comitê Estadual para Refugiados, Migrantes e Apátridas (Cerma/MS), que tem como objetivo auxiliar na implementação das políticas públicas voltadas aos direitos dos usuários, em todas as esferas da administração pública do Estado, visando à garantia da promoção e proteção dos direitos dos refugiados, migrantes e apátridas.

Também neste ano, mais de 90 passaportes de imigrantes haitianos em MS foram renovados ou emitidos por meio de parceria entre a Secretaria de Estado de Direitos Humanos, Assistência Social e Trabalho (Sedhast) e o Consulado do Haiti em Brasília (DF). Uma comissão do setor consular da embaixada do Haiti no Brasil esteve na Capital para realizar os atendimentos que foram previamente agendados por conta da pandemia de Covid-19.

Cerma/MS

O Comitê, que é ligado à Sedhast, tem em sua composição representantes governamentais e não governamentais. Sua secretaria executiva está localizada na Coordenadoria de Apoio aos Órgãos Colegiados (CAORC), situada na Rua Marechal Cândido Mariano Rondon, 713, Centro. Telefone: 3382 – 8702. E-mail: cerma.ms@gmail.com.

Leomar Alves Rosa, Sedhast

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Haitiano é anunciado como secretário em Maringá



 Emmanuel Predestin irá ocupar a recém-criada pasta da Juventude e Cidadania. O anúncio foi feito nas rede sociais do prefeito Ulisses Maia (PSD). Predestin é formado em agronomia pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e tem mestrado na área. Atualmente, ele dá aula de matemática e cursa doutorado na Universidade Estadual de Maringá (UEM). Segundo Maia, os pais do secretário nomeado permaneceram no Haiti. “Na gestão, ele será responsável pelas políticas públicas a favor da juventude, imigrantes, igualdade racial e cidadania em geral”, registrou o prefeito.


Agora, já são 12 o número de secretários confirmados para a próxima gestão de Ulisses Maia à frente da Prefeitura de Maringá.

CBN Maringa

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terça-feira, 29 de dezembro de 2020

Bálcãs: situação de emergência humanitária para os migrantes

 “Não é possível abandonar seres humanos na neve”. Diariamente milhares de refugiados tentam entrar na Europa a pé, pela rota da Bósnia. Com a intensificação dos controles nas fronteiras os migrantes são afastados com violência. Apelo do Centro Astalli e da Cáritas Ambrosiana

Migrante no Campo de Refugiados de Lipa, na Bósnia 

Nos Bálcãs existe o risco de uma catástrofe humanitária. O último alarme foi dado pelo Centro Astalli (Serviço dos Jesuítas para os Refugiados) após o vasto incêndio que nos últimos dias devastou o acampamento temporário para refugiados em Lipa, no noroeste da Bósnia, deixando mais de mil pessoas desabrigadas. Em um comunicado afirmam: “A situação nos Bálcãs, fronteira com a Itália, é uma violação dos direitos humanos contra pessoas que fogem da guerra e de crises humanitárias comoa o Iraque, da Síria e da Turquia. A situação foi também denunciada pela Organização Internacional para as Migrações e fala-se de catástrofe humanitária

Campo de Refugiados na Bósnia destruído por um incêndio

A rota balcânica

A rota balcânica de migrantes para entrar na Europa está oficialmente fechada desde março de 2016 com a entrada em vigor do acordo entre a União Europeia e a Turquia; na realidade, somente em 2018, mais de 60 mil migrantes foram registrados pelas autoridades dos países dos Balcãs Ocidentais. São famílias em fuga de guerras e violências nos seus países de origem: Síria, Afeganistão e Paquistão que se dirigem para a fronteira com a Croácia para enfim tentar atravessar os limites da União Europeia.

Tráfico de seres humanos na Bósnia

A vigilância das fronteiras e a brutalidade da polícia húngara contra os migrantes abriram as portas para uma nova rota através dos Bálcãs, passando pela Albânia, Montenegro e Bósnia. E assim, o tráfico de seres humanos também chegou à Bósnia. Aqui os refugiados pagam aos contrabandistas a passagem para a Croácia ou a Eslovênia, outros tentam atravessar a fronteira em caminhões ou trens. Porém, a maioria ainda tenta entrar em território croata a pé. É por isso que foram  intensificados os controles ao longo das fronteiras e os migrantes diariamente são afastados com violência pela polícia.

Maus-tratos

“Há dezenas de testemunhos de maus-tratos que registramos – lê-se no comunicado da Cáritas Ambrosiana - além dos perigos relacionados ao cruzamento de áreas com minas que remontam às guerras dos anos 90. As condições físicas e psicológicas dos migrantes se deterioram rapidamente e os riscos de confrontos com as comunidades locais aumentam”.

Refugiados tentam recostruir o Campo destruído pelo incêndio na Bósnia

Não é possível abandonar seres humanos na neve

O Centro Astalli dos Jesuítas apela para mais uma vez que a União Europeia ative canais humanitários e rotas legais de entrada. Para que sejam encontradas "soluções estruturais e prioritárias para a gestão controlada e segura da entrada de migrantes na Europa". "A Europa deve agora ativar planos de redistribuição dos migrantes em todos os estados membros pois eles têm o direito de serem acolhidos e protegidos” é o apelo do Padre Camillo Ripamonti, presidente do Centro Astalli. “Não é possível abandonar seres humanos na neve. Vamos pôr um fim à guerra contra os migrantes combatida com as armas da indiferença e do desprezo cego".

Bloqueados na Bósnia

Milhares de migrantes que esperam entrar na União Européia estão atualmente bloqueados na Bósnia, principalmente na região noroeste de Krajina, já que outras regiões se recusaram a aceitá-los. O perigo e a miséria foram agravados pela emergência inverno, que é muito rigoroso na região.

Radio Vaticano

migrantes,net 

GRATIDÃO, COMPROMISSO E ESPERANÇA AOS MISSIONÁRIOS E LEIGOS NAS MISSÕES SCALABRINIANAS.

O ano de 2020 foi uma verdadeira tempestade que abalou o mundo e o planeta. Enquanto, no meio da tempestade, alguns navegaram tranquilos com seus barcos fortes e seguros, muitos naufragaram com seus barcos precários e a grande maioria continua lutando confiantes e solidários em seus simples e pequenos barcos. Numa tempestade portanto o que nos distingue são os diferentes barcos que a enfrentam. Não estamos, portanto, no mesmo barco, mas sim, na mesma tempestade, onde, somente juntos podemos nos salvar e passado a crise, temos que aprender dela para reconstruir e recomeçar de forma diferente muitas coisas, porque a vida continua.

Acompanhando, vendo e escutando muitos coirmãos, missionários e leigos nas mais diferentes missões durante a pandemia, destaco três importantes presenças e que fizeram a diferença para centenas e milhares de pessoas. Esta é a “boa notícia” da família Scalabriniana no mundo das migrações. Por tudo isso Deus seja louvado.

-PRESENÇA SENSÍVEL

Diante de tanta dor, necessidade, carência, violência, incompreensões, abandono, medo, angústia, doenças, contaminação... a sensibilidade é fundamental para que as pessoas se aproximem para ver, escutar e agir nas circunstâncias e situações em que muitos migrantes, refugiados, marinheiros, pobres, pescadores... vivem o drama da dor, da necessidade e do sofrimento nesta pandemia.

Esta aproximação e presença nas casas e centros de acolhida, nas paroquias e missões Scalabrinianas foi muito forte, importante e significativa para muitas pessoas em situação de precariedade e de vulnerabilidade. É o passo necessário para que aconteça a mudança, a cura e a transformação das situações e das pessoas. O Deus da vida revelou esta verdade como o lugar teológico por excelência quando no Egito: “Viu, ouviu e baixou para libertar o seu povo da escravidão”. O próprio Jesus confirmou esta verdade e deu continuidade a iniciativa de Javé ao identificar-se com o migrante e com todos os que sofrem, quando disse: “Eu era migrante e vocês me acolheram, estava doente e foram me visitar, com fome e me deram de comer...”

Em nome da Direção Geral quero agradecer a esta presença sensível e próxima junto aos últimos, de todos os religiosos, missionários e leigos (as) comprometidos com a causa do Reino.

-PRESENÇA SOLIDARIA

De nada valeria ou serviria sentir compaixão e aproximar-se dos migrantes, refugiados, marinheiros, pobre, pescadores... sem uma ação concreta e imediata. Seria apenas uma presença indiferente sem maiores consequências, como aconteceu com o doutor da lei e o sacerdote do templo no encontro com o samaritano: “...o viram e passaram adiante”.

A solidariedade é consequência da sensibilidade de quem acredita e ao ver e escutar o sofrimento de alguém sente compaixão e toma iniciativa para mudar a situação e a realidade, dando continuidade e atualizando o gesto do Samaritano e de Scalabrini neste momento difícil da história.

Esta presença solidária que vimos nas mais diversas formas de ajuda, acompanhamento e assistência, nas múltiplas situações da pandemia, por exemplo, nas fronteiras, nos portos, nas capitais, nas casas e centros de acolhida, nas paróquias, nas casas de formação, centros de comunicação e de estudos, nos diferentes serviços, nas mais diversas missões e pastorais da família Scalabriniana e da Igreja foi impressionante. Foi simplesmente o maior testemunho, como um gesto de amor aos nossos irmãos e irmãs no caminho da vida.

Em nome da Direção Geral venho agradecer de coração a esta presença solidaria carregada de compaixão de todos os religiosos, missionários e leigos (as) comprometidos com a causa do Evangelho e o carisma Scalabriniano.

-PRESENÇA PROFÉTICA

A presença profética é aquela que dá sentido e completa as duas anteriores porque está carregada de esperança num futuro feliz, onde, no último dos tempos tudo se realizará conforme a vontade do Deus Criador, Salvador e Santificador, onde um dia seremos todos um no Senhor. Esta realidade, porém, já deve começar aqui e agora e neste sentido vimos e somos testemunhas desta presença amorosa dos nossos religiosos, missionários e leigos juntos a tanta gente que no caminho ou na travessia foi consolada, iluminada, motivada e fortalecida na sua fé e esperança para seguir seu caminho com a certeza de realizar seus sonhos porque o futuro já começou.

No caminho do migrante, refugiado, marinheiro, pescador... sempre há um santuário onde possam encontrar paz, conforto, consolo, uma palavra amiga, uma resposta à tanta pergunta, um motivo pelo qual vale a pena continuar o caminho... Esta espaço sagrado aconteceu e se realiza em todos os momentos e lugares em que os religiosos, missionários e leigos foram presença de Deus como uma mãe, um pai, um irmão (a), um amigo (a) com a capacidade de escutar e de acompanhar as pessoas em caminho nas suas condições de migração.

Em nome da Direção Geral também quero agradecer a esta presença profética aonde o Deus que veio, que virá e que continua vindo todos os dias, possa completar sua obra através de cada um de nós e das nossas comunidades para que juntos sejamos luz, sal e fermento no mundo das migrações e para a humanidade desde nossa humilde presença sensível, solidaria e profética.

Que o Bem Aventurado Scalabrini com a Mãe dos migrantes interceda junto a Deus pela família Scalabriniana que sonha com a cidadania plena e universal de todos os povos da única família humana.

Felizes festas e sempre em comunhão

Pe. Mário Geremia, CS

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segunda-feira, 28 de dezembro de 2020

Covid-19, informalidade e trabalho escravo: o ano dos imigrantes no Brasil

 


O capítulo quinto da Constituição Federal de 1988 garante que brasileiros e estrangeiros tenham os mesmos direitos fundamentais no país. 

No entanto, o ano de 2020 e a pandemia da covid-19 vieram para agravar ainda mais as desigualdades e as violações a que os imigrantes estão submetidos.

A começar pela doença, esta população tem um risco de infecção “ao menos duas vezes maior” do que o resto da população, segundo análise da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico.

A covid-19 entre os imigrantes

No Brasil, porém, ainda não se tem dados precisos de quantos imigrantes morreram pelo vírus. Isso porque, a nacionalidade não é um dos itens obrigatórios no preenchimento da declaração de óbito e da Autorização de Internação Hospitalar (AIH).

A situação foi denunciada por médicos e especialistas desde o princípio da crise sanitária, pois impedia que os estrangeiros fossem incluídos nos planos nacionais de resposta a emergências da covid-19 no Brasil. 

Em maio, a inclusão da população migrante nos planos de prevenção e enfrentamento à doença foi uma recomendação do Relator Especial sobre os Direitos Humanos dos Migrantes da Organização das Nações Unidas (ONU).

No mesmo mês, o Projeto de Lei 2726/2020 foi apresentado no Congresso Nacional pelo deputado federal Alexandre Padilha (PT), solicitando a inclusão da nacionalidade nos formulários do Sistema Único de Saúde (SUS). Houveram também outras mobilizações sobre o tema, como um abaixo-assinado organizado pela Rede de Cuidados em Saúde para Imigrantes e Refugiados.

Mas só em outubro, surgiram as primeiras respostas. A partir dos dados dos formulários do Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), excluindo os campos marcados como brasileiros ou deixados em branco, o Ministério da Saúde chegou a 2.950 notificações de infecções pela covid-19 em estrangeiros até o final de julho.

Dos 953 casos que se confirmaram, 715 mortes foram computadas - o que representa uma surpreendente mortalidade de 75% pela doença entre os estrangeiros.

Para especialistas, porém, os dados alarmantes, que vieram à tona após solicitação do Projeto de Promoção dos Direitos dos Migrantes (ProMigra), não poderiam ser considerados pela evidente falha nos registros de estrangeiros no SUS.

Dificuldades com o Auxílio Emergencial

Além da doença, os imigrantes foram condenados ao empobrecimento por não conseguirem receber o auxílio emergencial. O auxílio que não chegou para muitos, também fará falta para os poucos que receberam, já que a renovação do benefício não está prevista para 2021, conforme anúncio do Governo Federal.

No caso dos imigrantes, haviam impeditivos reais para o recebimento dos R$ 600, como a obrigatoriedade do CPF e do Registro Nacional de Estrangeiro (RNE) para o cadastramento, que muitos não tinham por conta da situação migratória ainda não regularizada. A Caixa Econômica Federal também não aceitou documentos dos países de origem para o recebimento.

Uma nota técnica enviada aos gerentes de agências da Caixa pela Defensoria Pública da União (DPU), ainda em abril, chegou a sugerir a mudança de parâmetros para o acesso ao benefício, que incluía a proposta de aceitação dos documentos estrangeiros. As sugestões, no entanto,  não foram aceitas pela Caixa.

Meses depois, no fim de setembro, a Caixa, a União e a Empresa de Tecnologia e Informações da Previdência (Dataprev) foram alvo de uma ação civil pública exigindo que os imigrantes e a população em situação de rua tivessem acesso ao benefício. 


Imigrantes buscando apoio no Centro de Apoio e Pastoral do Migrante (Cami) / Pedro Stropasolas

A ação, realizada em conjunto pela DPU, a Defensoria do Estado de São Paulo, o Ministério Público Federal (MPF) e o Ministério Público do Estado de São Paulo (MPSP) se ampara na Lei de Migração, que garante o direito à assistência social independentemente da situação migratória irregular  - o que contempla o recebimento do auxílio.

No total, segundo a Caixa Econômica Federal, o Auxílio Emergencial pago pelo Governo Federal beneficiou 149.019 estrangeiros que vivem no Brasil. Quase um terço deles são venezuelanos. Das 10 cidades com mais beneficiários, 8 estão em Roraima. Os dados foram obtidos pelo portal Poder360.

Desde o ano de 2000 até o dia do fechamento das fronteiras terrestres, em 19 de março, um total de 1.504.735 estrangeiros entraram com pedido de cadastro para a emissão do Registro Nacional Migratório (RNM).

O número, que não inclui os solicitantes de refúgio ou pessoas sem os documentos regularizados , é o mais próximo de uma estimativa da quantidade de estrangeiros que hoje vivem no Brasil. 

O levantamento é feito por pesquisadores do Observatório das Migrações em São Paulo e do Núcleo de Estudos de População "Elza Berquó" (Nepo), da Universidade de Campinas (Unicamp), por meio dos registros administrativos da Polícia Federal. A última atualização do Ministério da Justiça é de 2018. 

Solidariedade

Sem ações efetivas do poder público, a atuação de Associações de Migrantes e de organizações da sociedade civil foi o que se destacou no auxílio a essa população.

A distribuição de cestas básicas, kits de higiene e de proteção individual e o apoio para realização de cadastros para o recebimento do Auxílio Emergencial foram fundamentais durante o ano.

De março até julho, somente o Centro de Acolhimento e Pastoral do Migrante (Cami) distribuiu 4.515 cestas básicas e atendeu mais de 1.500 imigrantes e refugiados apenas no setor de regularização migratória.

Já, a União Social dos Imigrantes Haitianos (USIH), entidade que hoje corre risco de despejo por falta de verba, distribui mais de 600 cestas básicas aos haitianos.


Ações de solidariedade da USIH atendeu mais de 600 famílias haitianas durante a pandemia / Tácito Shimato

Regularização Já

A urgência da regularização migratória em tempos de pandemia também foi um tema defendido por diversos coletivos e organizações no Brasil com a campanha Regularização Já.

A ação foi inspirada em iniciativas de outros países, como Portugal, que concedeu anistia e regularizou a situação dos estrangeiros indocumentados para que pudessem ter acesso a direitos básicos - como ao sistema de saúde.

O Projeto de Lei 2.699/2020, da deputada federal Fernanda Melchionna (PSOL-RS) foi apresentado no Congresso Nacional em maio e previa a regularização imediata de documentação para todos os imigrantes que vivem no Brasil ou ingressaram até o início da pandemia. O PL, porém, ainda aguarda despacho na Câmara dos Deputados.

Enquanto não viam avanços, os estrangeiros enfrentavam filas e dificuldades para conseguir atendimentos na Polícia Federal. 

Deportações

A morosidade nos atendimentos, porém, não foi a mesma em relação às deportações. Nesse quesito, a polícia federal bateu recordes. Entre abril e julho, as deportações cresceram 9.200% em relação a 2019.

A nacionalidade mais afetada foi a boliviana, responsável por 70% dos registros. Parte dos estrangeiros expulsos do Brasil entraram no país justamente para buscar tratamento para a covid-19, segundo o MPF.

“O fechamento das fronteiras se deu quando já tínhamos transmissão local. Isso demonstra que a primeira vítima institucional e política desse enfrentamento desorganizado e preconceitos da covid no Brasil foram justamente os imigrantes nas suas possibilidade de seguir migrando, de seguir buscando formas de trabalho e de reprodução de suas existências em outros países”, avalia Luiz Felipe Aires Magalhães, coordenador-adjunto do Observatório das Migrações em São Paulo. 


Imigrantes da etnia Warao, da Venezuela, em abrigo na cidade de Pacaraima, em Roraima / Luis Robayo/AFP

No mês de maio, a suspensão temporária de deportações durante a pandemia foi uma recomendação da Organização das Nações Unidas, que incluía também proteção a essa população, independentemente da situação migratória irregular.

A falta de renda, impulsionada pela diminuição do comércio ambulante - principal alternativa econômica dos imigrantes no país -, também tornou a população migrante ainda mais suscetível ao aliciamento para o trabalho escravo contemporâneo.

“Nós temos no Brasil uma dificuldade muito grande de acesso e de regulamentação migratória. Isso por um lado impede o acesso a direitos e a cidadania, e por outro lado entrega os imigrantes de bandeja para as estratégias de exploração das forças de trabalho”, aponta Aires, que foi um dos organizadores da pesquisa "Impactos da Pandemia de Covid-19 nas Migrações Internacionais no Brasil", lançada no início de outubro.

Informalidade e escravidão contemporânea

Na cidade de São Paulo, o setor têxtil é onde o trabalho análogo à escravidão, a informalidade e as violações trabalhistas estão mais presentes entre os imigrantes e se acentuaram durante a crise sanitária. 

Em outubro, um levantamento organizado pela Repórter Brasil, a partir dos registros de fiscalizações do Ministério da Economia, revelou que  93,1% das mulheres resgatadas de situações de trabalho análogo à escravidão na capital paulista são imigrantes.

Já, o último levantamento da Secretaria de Inspeção do Trabalho, realizado entre 2010 e 2019, revelou que em média são feitos três resgates por mês de trabalhadores. Hoje, são cerca de 10 mil oficinas de costura somente na grande São Paulo.

Em resumo, a pandemia ‘confinou’ as famílias nas oficinas, trabalhando por mais de 14h ao dia e recebendo menos que um salário mínimo.

No Brás, a boliviana Suzana Campos mora onde confecciona as peças, com seis crianças mais o marido, também operador das máquinas.

Durante os meses da pandemia, não houve produção. Primeiro a falta de vendas, e depois a gestação que precisou de uma cesárea. A filha de 17 anos também costura e amamenta uma criança, lado a lado com Suzana, as duas com a mesma dedicação para as crias e ao pano, às vezes até às 3 da manhã.

“Antes da pandemia era muito melhor, porque todos os meus filhos iam para escola, eu conseguia pagar aluguel, pagar luz e quando começou cortou os serviços, as pessoas que nós trazíamos serviços, cortaram. Ficamos três meses sem costurar, sem nada. Só fazíamos máscara que pagavam 25 centavos. Tem cinco meses de aluguel atrasado. A moça já falou que tem que sair e não temos para onde ir”, revela.

Segundo a Subsecretaria de Políticas Públicas de Trabalho da Secretaria de Trabalho, 5.998 Carteiras de Trabalho foram emitidas para estrangeiros até agosto de 2020, o que equivale a 1,1% do total de emissões no país. Em 2019, foram 109.410 carteiras emitidas para estrangeiros, de um total de 4.832.752.

“A informalidade no trabalho migrante oferece uma possibilidade de reprodução do capitalismo em tempos de crise. Sempre foi muito bom para o capitalismo contar com força de trabalho indocumentada. Sempre foi muito útil para a economia super explorar os imigrantes”, finaliza Aires. 

O cenário leva incertezas para 2021, já que a inserção dos imigrantes no mercado brasileiro é uma realidade longínqua. 

Edição: Michele Carvalho

Brasil de Fato

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40% dos católicos suíços são migrantes. Bispos defendem pastoral multicultural

 “Os migrantes católicos não são somente multilíngues, mas também diversificados sob todos os pontos de vista. Isso requer um maior desenvolvimento da assistência espiritual orientada para a pastoral intercultural”, dizem os bispos suíços.


Great Minster Church, em Zurique  (ANSA)

O "rosto" da Igreja Católica na Suíça é cada vez mais multicultural. Os números falam por si: no país suíço vivem 3 milhões de católicos e, destes, cerca de 40% são provenientes de um contexto migratório. Por essa razão, a Conferência dos Bispos suíços decidiu fortalecer "a orientação, a organização e o financiamento da pastoral migratória na Igreja Católica".

Em uma nota divulgada nestes dias, os bispos suíços explicam que "se originalmente a Igreja na Suíça era solicitada para a assistência espiritual de trabalhadores migrantes provenientes de países europeus, e que se presumia que eles retornariam aos seus países de origem após alguns anos (“assistência pastoral de trabalhadores estrangeiros”), um quadro muito diferente se apresenta hoje. Os imigrantes são provenientes de todo o mundo e vão à Suíça não só por motivos profissionais, mas também como refugiados, como famílias ou para formação”.

Embora alguns tenham vivido na Suíça por gerações, mas continuem inseridos na cultura religiosa de seu país de origem, outros chegaram há alguns anos ou ainda outros não têm uma situação de residência regulamentada.

“Os migrantes católicos não são somente multilíngues, mas também diversificados sob todos os pontos de vista, observam os bispos. Isso requer um maior desenvolvimento da assistência espiritual orientada para a pastoral intercultural”.

Existem 110 missões "alloglot" da Igreja Católica na Suíça. Este é o nome dado às comunidades linguísticas que oferecem assistência espiritual local a pessoas de origem estrangeira. Ao longo dos anos, estas comunidades deram uma "considerável contribuição para a integração eclesial e social dos migrantes e viajantes", motivo pelo qual a Conferência Episcopal decidiu "ampliar no futuro" a pastoral migratória e, sobretudo "a concepção da Igreja como comunidade na diversidade”.

Segundo os bispos suíços, “a migração está evoluindo de forma dinâmica e colocará a Igreja e também a sociedade diante de novos desafios”. “A mobilidade, a migração e as diferenças culturais ampliam a concepção da Igreja como comunidade na diversidade”.

Trata-se, portanto, de favorecer "sinergias interculturais" para favorecer "uma maior convivência e uma abordagem consciente e respeitosa quer durante as Missas como na vida eclesial". “Afirmamos que a Igreja não tem fronteiras”, observa Dom Jean-Marie Lovey, bispo de Sion, responsável pela Pastoral dos Migrantes da Conferência Episcopal Suíça. “O fenômeno da migração expressa esse pensamento com mais força ainda. Mas é a nossa relação concreta com os migrantes que revela a autenticidade do que anunciamos”.

O diretor nacional da Migratio, Karl-Anton Wohlwend, conclui afirmando estar ansioso “pela implementação deste conceito e os impulsos que dele derivarão. A maior convivência da Igreja local e das comunidades aloglotas inspirará e enriquecerá a Igreja, tornando-a mais variada e colorida”.

 Agência Sir

Radio Vaticano

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sábado, 26 de dezembro de 2020

Pandemia fechou fronteiras e afetou direito a migrar

'Todo ser humano tem o direito de deixar qualquer país, inclusive o próprio, e a esse regressar'


Credit...Foto: Chris Grodotzki / Sea-Watch.org

A frase é do artigo 13 da Declaração Universal dos Direitos Humanos, documento histórico adotado pelas Nações Unidas (ONU) em 1948 e que delineou as prerrogativas básicas de uma pessoa, de qualquer pessoa, independentemente de sua origem, cor, etnia, religião ou classe social.

Ignorada sistematicamente em muitos países ao longo dos últimos 72 anos, essa premissa se viu diante de uma barreira inédita em 2020: a pandemia do novo coronavírus, que levou governos mundo afora a fecharem fronteiras para conter um agente infeccioso que, até agora, segue incontrolável.

Segundo relatório da Organização Internacional para as Migrações (OIM), em meados de julho mais de 2,75 milhões de migrantes estavam “presos” no meio de suas viagens por causa da Covid-19, sem conseguir voltar para casa e muitas vezes com vistos e permissões de estadia vencidos.

os.

“Tanto migrantes voluntários como refugiados sofreram impactos na pandemia. Na fronteira dos Estado Unidos com o México, pessoas que antes ficavam esperando o pedido de refúgio ou migração, mas tinham uma resposta no horizonte, mesmo no governo Trump, hoje não têm horizonte. Estão lá e não sabem até quando vão esperar”, diz Luís Renato Vedovato, pesquisador associado do Observatório das Migrações em São Paulo, grupo ligado à Universidade Estadual de Campinas (Unicamp).

Já na América do Sul, o governo Bolsonaro proibiu a entrada de estrangeiros no Brasil por via terrestre, embora tenha ignorado a via aérea, reconhecidamente aquela por meio da qual o coronavírus se espalhou por quase todos os países do mundo.

Uma portaria de 12 de novembro ainda diz que o descumprimento da proibição pode causar a “inabilitação de pedido de refúgio”, trecho que mira sobretudo venezuelanos.

“O interessante é que o governo fechou a fronteira terrestre, mas não a aérea, e o vírus se dissemina mais na aérea do que na terrestre. A ideia talvez fosse fechar a fronteira para diminuir a pressão sobre o sistema de saúde, mas a conduta do governo federal até agora não é a de reconhecer a existência de uma pandemia que preocupe”, acrescenta Vedovato.

Itália

Na Itália, um dos países mais atingidos pela pandemia em todo o mundo, o número de chegadas de migrantes forçados e refugiados via Mediterrâneo cresceu quase 200% até 24 de dezembro de 2020 (11.439 em 2019 e 34.001 neste ano), mas isso se deve sobretudo ao aumento no contingente de tunisianos, já que ONGs sofreram severas restrições para operar no mar.

Segundo o Ministério do Interior italiano, a Tunísia, que fica a pouco mais de 100 quilômetros da ilha de Lampedusa em linha reta, responde por quase 40% dos desembarques de migrantes forçados no país europeu em 2020, contra 23% em 2019.

Por outro lado, as ONGs que atuam no Mediterrâneo reclamam de restrições impostas pelo governo da Itália durante a pandemia. “No período de lockdown [março a maio], paramos todas as nossas operações. Utilizamos aquele tempo para criar protocolos de contenção para continuar fazendo socorro no mar. Infelizmente, ações de nível institucional não ajudaram, e algumas atrapalharam ainda mais”, diz à ANSA Giorgia Linardi, porta-voz da entidade alemã Sea Watch na Itália.

nção que, por questões geográficas, recai sobretudo em Itália e Malta no Mediterrâneo Central.

“O decreto de 7 de abril é um emblema do uso da pandemia como desculpa”, afirma Linardi. Além disso, o governo passou a colocar migrantes, refugiados e tripulantes de navios de ONGs em quarentena obrigatória de 14 dias após missões de socorro.

“Nenhum outro tipo de navio teve de fazer quarentena ao entrar na Itália”, ressalta a porta-voz da Sea Watch, acrescentando que, na visão da entidade, o país também nunca deixou de ter os requisitos para ser considerado “porto seguro”.

A quarentena obrigatória é realizada em balsas comerciais alugadas pelo governo italiano justamente para esse fim. Para a ONG, essa prática comporta uma limitação do direito à liberdade de movimento, já que é aplicada exclusivamente em migrantes e refugiados salvos no mar. “Teria sido possível organizar o acolhimento em terra”, diz Linardi.

A Sea Watch voltou ao mar em junho, logo após o fim do lockdown, mas fez uma única missão com o navio Sea Watch 3, que acabou apreendido pela Guarda Costeira italiana. Já a embarcação Sea Watch 4 foi interditada pelas autoridades em setembro.

O argumento da Guarda Costeira é de que esses navios apresentam “diversas irregularidades de natureza técnica e operacional que comprometem a segurança da tripulação e das pessoas resgatadas a bordo”.

No entanto, de acordo com Linardi, as autoridades italianas cobram um certificado para operar em áreas “SAR” (sigla em inglês para “busca e salvamento”), algo que não é exigido na Alemanha, país de origem da ONG. “A Itália se esquece ou decidiu não considerar que nossos navios têm bandeira estrangeira, então não estão sujeitos à jurisdição de outro país”, diz a porta-voz.

Outras entidades, como a SOS Méditerranée, enfrentaram o mesmo problema: o navio Ocean Viking ficou cinco meses apreendido na Sicília e só recebeu autorização para voltar ao mar em 21 de dezembro.

“As nossas equipes trabalharam dia e noite para que o navio pudesse zarpar e salvar vidas novamente. Enquanto isso, centenas de pessoas morreram no mar. [...] Repentinamente, os navios de ONGs não são mais considerados suficientemente seguros pelas autoridades italianas”, comentou Frédéric Penard, diretor de operações da SOS Méditerranée, em nota oficial.

Hábito

Para o professor Luís Renato Vedovato, o fechamento de fronteiras acabou sendo “naturalizado” durante a pandemia, e “quem mais sofre são migrantes e refugiados”.

“As consequências mais preocupantes vão recair sobre as pessoas que migram porque precisam. A tendência é que a gente veja cada vez mais preocupação sanitária nas fronteiras. Para entrar em um país, vou ter de apresentar uma lista de vacinas e exames”, afirma.

Nesse contexto, populações forçadas a sair de seus territórios podem enfrentar ainda mais problemas para se recolocar. “Vejo consequências devastadoras nessa área, mas, ao mesmo tempo, pode ser que haja um fortalecimento de organismos internacionais que trabalham com migrantes forçados”, ressalta Vedovato. (com agência Ansa)

Jornal do Brasil

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