segunda-feira, 15 de setembro de 2014

A imigração segundo o Conde de Gouvarinho

Com a globalização dos nossos tempos, o capital ganhou como nunca a capacidade de se movimentar para qualquer parte

Alguns dos melhores professores vinham de qualquer parte da Grécia Antiga para trabalhar em Atenas. No século XV, a Espanha contratava Colombo e muitos outros italianos para comandar os seus navios. Mais tarde, na Revolução Industrial, a França e a Alemanha recrutaram técnicos e engenheiros ingleses para melhorar os seus métodos de produção fabril.
A verdade é que, com a globalização dos nossos tempos, o capital ganhou como nunca a capacidade de se movimentar para qualquer parte do planeta. Mas a mão-de-obra não. Enfrenta ainda hoje obstáculos de natureza social e política. E tem piorado com a crise e o desemprego, como provam as últimas eleições europeias.
Desde 1993, com a liberalização plena do movimento de capitais, uma empresa portuguesa não precisa de autorização do Governo para INVESTIRhttp://cdncache1-a.akamaihd.net/items/it/img/arrow-10x10.png na Europa. Se pretender dar emprego, aqui, a um cidadão estrangeiro, não temos Le Pen, mas os burocratas entram em ação. E os preconceitos também.
A nossa política de imigração tem muitas características absurdas que são comuns à maioria das nações desenvolvidas: quanto maior é a qualificação do imigrante, maior é a resistência e a desconfiança. Mas levámos mais longe esta atitude defensiva.
A socióloga e especialista em demografia, responsável da Pordata, Maria João Valente Rosa concordava, numa recente conversa que tivemos, que Portugal desperdiçou "uma oportunidade histórica no seu passado recente com a entrada de muitos imigrantes do Leste", porque "duvidamos das suas qualificações e, muitas vezes, colocamos essas pessoas em trabalhos totalmente desqualificados".
As fronteiras abriram-se naturalmente na década passada a cientistas do Leste. Chegaram os engenheiros que precisamos e as médicas que não temos. Uns, para a construção civil. Outras, para cuidar dos nossos filhos. Ou seja, para carregar tijolos e mudar fraldas.
O desleixo e a mal disfarçada proteção aos empregos dos locais formaram o caldo de cultura para que ninguém olhasse para o problema com vontade de o resolver. Por isso foram os primeiros a debandar, quando a crise fechou ainda mais o mercado de trabalho. Segundo as últimas estatísticas disponíveis, no ano passado, não chegava a 4% da população residente o número de estrangeiros com presença regular em Portugal - uma das mais baixas taxas da Europa e da própria OCDE.
O problema é que, embora não o queiram, as sociedades europeias estão cada vez mais dependentes das migrações para o seu dinamismo populacional. No caso português, além de saldos naturais negativos (morrem mais pessoas do que nascem), o saldo migratório também se tornou negativo nos últimos anos. É o tiquetaque da bomba demográfica que ameaça implodir os sistemas de segurança social e as dinâmicas econômicas que os suportam.

Dinheiro Vivo


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