O valor enviado ao exterior via
remessas aumentou 89,8% em um ano, segundo dados do Banco Central. Desde abril,
as remessas somam mais de R$ 100 milhões por mês, batendo recordes consecutivos
de volume.
A Bolívia, com seus
quase 80 mil imigrantes no Brasil, figura como um dos principais destinos de
remessas. Dê olho nesse filão, corretoras tentam cada vez mais entrar nas
comunidades de imigrantes. Na festa boliviana, no início do mês passado, o
Remessa Expressa, serviço da corretora Cotação, participou das celebrações com
um estande.
O investimento das
corretoras na ampliação do número de pontos de remessa é constante. Pela
Remessa Expressa, é possível fazer a transferência em algumas lojas da própria
corretora, mas também em lojas parceiras, que podem ser lan houses, locutórios
(empresas de serviço onde é possível fazer, por exemplo, ligações
internacionais), varejistas do setor têxtil, cabeleireiros, agências de turismo
e de venda de passagens e outras. "A aproximação do local onde o imigrante
mora ou trabalha facilita o serviço", diz o diretor da Cotação, Alexandre
Fialho.
Na Cotação, a
quantidade de remessas cresceu 65% em julho deste ano em relação a julho de
2013, informou Fialho. O correspondente ganha na fidelização do cliente, já que
passa a oferecer mais um serviço ao imigrante, e também financeiramente, pois
recebe uma comissão por remessa. "A demanda é tão grande que, para alguns
correspondentes, o serviço se torna a principal fonte de receita."
Na Western Union, é
possível fazer o envio de dinheiro em 13 mil pontos no Brasil. Para se
aproximar do público, além de participar de comemorações locais como festas
folclóricas, foram feitas parcerias com redes do varejo como Riachuelo e Gazin.
"O mercado de remessas está intimamente ligado à dinâmica da imigração. A
partir de 2007, em razão do boom econômico e do pleno emprego, o Brasil se
tornou um polo atrativo de imigrantes", diz o diretor de desenvolvimento
de negócios para América Latina da Western Union, Luiz Eduardo Citro.
No ano passado, o
mercado de remessas movimentou US$ 580 bilhões. "Se fosse um país, seria o
21.º PIB mundial, à frente de nações como Suécia e Noruega", compara
Citro, que também é presidente da Associação Brasileira das Empresas
Prestadoras de Serviços de Microtransferência de Dinheiro (ABM Transf).
Envio seguro
Os ganhos dos
imigrantes ao usar o serviço são na agilidade - as corretoras afirmam que em
até uma hora o familiar já pode retirar o dinheiro em algum ponto parceiro no
país de destino - , além da segurança do envio. Foi justamente isso que levou o
boliviano Juan Marcelo Cabello, há oito anos no Brasil, a começar a utilizar o
serviço. "No começo, fiz uma transferência para uma pessoa que repassava o
dinheiro na Bolívia para meus familiares, mas não senti segurança no sistema. Anotavam
o valor em um caderno, não tinha comprovante."
Com mulher e filha
brasileiras, há seis anos o médico boliviano de 37 anos passou a usar a remessa
para enviar mensalmente de US$ 1 mil a US$ 1.300 para os pais e a irmã que
moram em Santa Cruz de La Sierra (Bolívia). "Há meses de emergência em que
transfiro mais."
Além de toda a
operação ser registrada, outra medida de segurança adotada pelo mercado é
informar no momento da operação o nome e os dados de quem vai sacar o dinheiro,
o que inibe desvios do valor. Em média, a remessa custa 5% do valor transferido
e tem IOF de 0,38%. O tempo para poder sacar varia de acordo com o local de
destino, mas em geral em menos de 24 horas o dinheiro fica disponível. O saque
pode ser feito em algum agente conveniado, como instituições financeiras ou
mesmo lojas parceiras.
Comunidades
Cabello soube do
serviço de remessa por conhecidos na Rua Coimbra, local onde se concentra a
comunidade e onde há até uma feira boliviana, na qual a Remessa Expressa
participa com correspondente. Se o imigrante quiser ir até uma loja da
corretora em vez de enviar o dinheiro pelo correspondente, ele não precisa
andar muito. A proximidade com a comunidade fez com que a corretora abrisse,
por exemplo, uma loja no Shopping D, na qual a maior parte do público é formada
por imigrantes residentes do Brás e Pari.
Para tentar ganhar a
confiança do cliente, alguns atendentes são de outros países que falam
espanhol. Outra estratégia de aproximação se dá na divulgação do serviço. No
jornal em espanhol El Chasqui, que circula nas comunidades de imigrantes, a
Cotação faz alguns anúncios. A maior divulgação, porém, ainda se dá no boca a
boca, por conhecidos e familiares que utilizam o serviço.
As remessas de
imigrantes costumam ter um tíquete médio mais baixo do que a de brasileiros,
segundo as corretoras. Na Confidence, por exemplo, a média é de US$ 400, ante
US$ 3 mil nas remessas feitas por brasileiros. Na Cotação, a média é de US$
300.
O Estado de S. Paulo.
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