Migrantes lançados ao mar, represálias na cidade alemã de
Colônia contra os estrangeiros, o pesadelo da xenofobia que renasce. A crônica
das últimas semanas na Europa e no Mar Mediterrâneo nos interpela e sob o
convite do Papa Francisco somos chamados a vencer o grande medo da atualidade e
responder aos desafios com o Evangelho da Misericórdia.
No último domingo, 17 de janeiro, celebramos o Dia
Mundial do Migrante e do Refugiado e, por ocasião do Ano da Misericórdia, o
Jubileu dos Migrantes. Talvez esse dia tenha passado despercebido ou pouco
aprofundado na sua real importância. Mas o Papa Francisco, que segue de perto a
sorte de nossos irmãos deserdados já no último 12 de setembro havia divulgado
uma mensagem com o tema “Os emigrantes e refugiados interpelam-nos. A resposta
do Evangelho da misericórdia”.
A mensagem de Francisco toca o coração e captura a
atenção evidenciando a realidade de um exercito de pessoas, migrantes e
refugiados, disperso por todo o mundo. Trata-se de uma realidade que diz
respeito a 60 milhões de pessoas: são pessoas refugiadas ou forçadas a migrar,
seja dentro, seja fora de seu país ou ainda pessoas que escolhem, por várias
razões, de se deslocarem de um país para outro.
O Papa nos faz ver que essa realidade não é uma realidade
do passado, ou somente de algumas regiões do mundo, mas faz parte do nosso
mundo atual, ao nosso redor. Não podemos ser cidadãos deste mundo, desta terra
sem fazer as contas com o fato de que milhões de pessoas estão em movimento
contra a sua vontade.
Como responder a tudo isso? Francisco dá uma resposta
forte: somo todos irmãos e irmãs. Qualquer um que queira dizer “eu sou eu, eu e
a minha família estamos aqui e vocês são migrantes e refugiados”, erra. O Santo
Padre nos diz que somos todos uma família, somos todos filhos de Deus. Neste
Ano da Misericórdia devemos colocar isso em prática.
Creio que este sentimento colocou em movimento no último
domingo uma iniciativa italiana; mais de 27 mil paróquias se uniram com Roma
para participar pessoal ou idealmente de uma manifestação na Praça São Pedro,
antes e após a oração do Angelus, com mais de 5 mil pessoas entre migrantes e
refugiados.
E na sua alocução Francisco saudou os presentes,
recordando que cada um traz consigo uma história, uma cultura, valores
preciosos, e frequentemente infelizmente também experiências de miséria, de
opressão, de medo. “A presença de vocês aqui na Praça – disse - é sinal de
esperança em Deus. Não deixem que roubem de vocês a esperança e a alegria de
viver, que brotam da esperança da Divina Misericórdia, também graças as pessoas
que acolhem vocês e os ajudam.
O Dia Mundial do Migrante e do Refugiado, junto com o
Jubileu foi e continua sendo uma ocasião propícia neste Ano Santo da
Misericórdia, para encorajar a sensibilização sobre o fenômeno migratório e dar
sinais concretos de solidariedade e atenção a tantas pessoas que vivem pelas
estradas deste mundo.
Já no último dia 11 de janeiro recebendo os embaixadores
acreditados junto à Santa Sé, Francisco citou de modo especial no seu discurso,
os migrantes. O Papa comentou as razões que levam à fuga de milhões de pessoas:
conflitos, perseguições, miséria extrema e alterações climáticas. Razões estas
que são resultado da “cultura do descarte” e da “arrogância dos poderosos”,
sacrificando homens e mulheres aos ídolos do lucro e do consumo.
O tema dos migrantes e dos refugiados nos interpela. As
dramáticas imagens de homens, mulheres e crianças mortas no mar testemunham “os
horrores que sempre acompanham guerras e violências” e a incapacidade do homem
de defender e tutelar o próprio homem.
A Igreja, como discípula de Jesus, é chamada a anunciar a
liberdade aos prisioneiros das novas escravidões da sociedade moderna.
Francisco deseja relacionar, de modo explícito, o fenômeno da migração com a
resposta dada pelo mundo e, em particular, pela Igreja. O Papa convida o povo
cristão a refletir durante este Jubileu sobre obras de misericórdia corporais e
espirituais; entre elas se encontra a de “acolher os estrangeiros”. Um desafio
lançado, uma esperança a ser vivida.
(Silvonei José)
Radio Vaticano
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