Por ordem das autoridades francesas, os migrantes do acampamento de
Calais (norte) são obrigados a deixar desde ontem quinta-feira (14) este local
conhecido como a "selva", onde vivem cerca de 4.000 clandestinos.
Em paralelo, foi encerrado nesta quinta (14), na mesma região, o
processo de um britânico que tentou fazer entrar ilegalmente na Inglaterra uma
menina afegã, resgatando-a desta "selva" para entregá-la a seus
parentes já instalados no país. O acusado foi condenado a pagar uma multa.
As construções precárias dos refugiados instaladas a menos de 100 metros
de uma rodovia que leva ao porto de Calais deverão ser removidas, por razões de
segurança, antes do próximo fim de semana, exigiram as autoridades francesas.
Os imigrantes em causa, entre 500 e 700, terão "prioridade"
por uma vaga nos contêineres que servirão de abrigo e que foram inaugurados na
segunda-feira.
"Disseram que este novo abrigo vai nos proporcionar melhores
condições de moradia, mas não há chuveiro ou cozinha, e as pessoas têm medo do
registo de impressões digitais", o que poderia fazê-los voltar para a
França caso entrem na Inglaterra, declarou à AFP Nouristani Sikander, de 42
anos, representante da comunidade afegã no acampamento.
Para que entrem no chamado Centro de Acolhimento Provisório (CAP), os
imigrantes deverão passar a palma da mão por um dispositivo de reconhecimento.
As autoridades prometeram que não vão registrar as impressões digitais, uma
demanda recorrente de imigrantes.
Para as autoridades, o centro garantirá a "segurança dos
imigrantes, dos moradores locais e dos usuários da rodovia", dado que os
imigrantes invadem regularmente a estrada para tentar entrar nos caminhões que
viajam à Inglaterra.
Stéphane Duval, diretor da ONG Vida Ativa que administra o CAP, declarou
nesta quinta-feira estar "satisfeito" e apontou para um aumento
gradual do número de abrigos.
Sikander Noristany ressalta que "as pessoas não vêm para a selva
para dormir e comer, mas para tentar passar para a Inglaterra. E temem os
contêineres, porque o centro parece uma prisão".
Por sua vez, parte da população local teme que o CAP gere a criação de
outros campos improvisados na região, onde as tensões devido à presença de
imigrantes têm aumentado, bem como as barreiras e medidas de segurança para
impedi-los de chegar ao porto e ao túnel que liga a França à Inglaterra sob o
Canal da Mancha.
Salvar menina
Neste contexto, o processo de um ex-soldado britânico acusado de tentar
fazer entrar ilegalmente na Inglaterra uma menina afegã, foi condenado a uma
multa de mil euros, em razão das "condições de transporte" da
criança.
Robert Lawrie, de 49 anos, pediu desculpas ao tribunal de
Boulogne-sur-Mer. "Não ponderei. Queria que a menina reencontrasse a sua
família, que vive a apenas oito milhas de Leeds, onde eu vivo", disse ele.
Diretor de uma empresa de limpeza e pai de quatro filhos, Lawrie que
ajuda os imigrantes em Calais, foi preso pela polícia francesa em 24 de
outubro. Além da menina de quatro anos, a polícia encontrou escondido em seu
caminhão dois eritreus. Mas eles embarcaram no veículo sem que ele percebesse.
Segundo suas declarações, ele encontrou o pai da menina quando levava
alimentos e roupas para os imigrantes, e ele pediu-lhe para que trouxesse a
menina para a Inglaterra.
Um abaixo-assinado em seu favor, que exortava que não poderia haver
prisão para quem "tentou salvar uma garota da selva", reuniu cerca de
170 mil assinaturas na França e na Inglaterra.
O tribunal o absolveu da acusação de ajuda e estadia irregular, punível
com cinco anos de prisão e uma multa de € 30.000, mas o condenou a pagar a
multa leve, tal como solicitado pela acusação, por "colocar em perigo a
vida de uma pessoa".
AFP
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