“Em 75 países, o amor gay é um crime. Em dez, a penalidade é a morte”, denuncia cartaz de ativista. Crédito: Patrik Nygren/Creative Commons
Lésbicas, gays,
bissexuais e transgêneros (LGBT) migrantes que obtiveram refúgio ou asilo nos
Estados Unidos ou no Canadá relatam abuso por parte de cuidadores, pais,
colegas e funcionários da escola no seu país de origem, como relata um estudo
da Universidade de Rutgers, publicado no Child
Abuse & Neglet.
A pesquisa
entrevistou 26 com indivíduos que obtiveram o estatuto de refugiado com base na
orientação sexual. Os participantes vieram de Barbados, Belarus, Jamaica, Irã,
Quênia, Kosovo, Malásia, Nicarágua, Nigéria, Peru, Rússia, Coréia do Sul,
Trinidad, Uganda, Ucrânia e Venezuela.
Este é o primeiro
estudo empírico que explora experiências de abuso de imigrantes que fugiram da
perseguição em seus países por conta da orientação sexual ou identidade de
gênero.
No geral, o
trabalho apoia conclusões de levantamentos anteriores. A maioria das pesquisas
aponta que crianças e jovens LGBT têm mais chance de passar por abusos que
contribuem para problemas mentais.
Entre eles, a
depressão, a ansiedade e o estresse pós-traumático, bem como pensamentos
suicidas e tentativas de suicídio. Os resultados indicam que os participantes
experimentaram abuso verbal, físico e sexual grave e prolongado durante a
infância e adolescência e que o abuso ocorreu em casa, na escola e na
comunidade. Além disso, houve pouco ou nenhum recurso de apoio ou proteção disponível.
Desde cedo, segundo
a pesquisa, jovens observam reações negativas dos pais e familiares por sua
maneira de falar e de vestir, sua escolha de atividades recreativas, amigos e
parceiros sexuais. Essas transgressões, segundo o estudo, são uma constante
fonte de conflito entre cuidadores.
O estudo relata
que, em comparação com o que já se sabe sobre a juventude LGBT nos Estados
Unidos, crianças e jovens nesses países têm menos apoio, o que afeta sua
resiliência. Além disso, por conta de leis e políticas, eles são obrigados a
mudar de país.
Mais um achado é a
tentativa dos familiares de “mudar” esses jovens. Ao entrarem na puberdade, é
comum que membros da família tenham estratégias para impor comportamentos. Nos
relatos, era frequente que os participantes fossem obrigados a orar, ler
a Bíblia ou se reunir com membros do clero a fim de “curá-los”.
Os participantes
também descreveram abusos por parte de colegas, professores e administradores
escolares. Todos, com exceção de quatro, relataram abusos por parte de colegas
e/ou funcionários da escola após serem percebidos como gays ou lésbicas.
O abuso geralmente
começa na escola primária e vai até o ensino médio. Alguns chegaram a ser
transferidos de escola. Outros, eventualmente, tiveram que sair da escola
porque o abuso foi considerado muito grave.
A falta de apoio é
muito comum. Segundo o artigo, muitos pais acreditam que os participantes eram
os responsáveis pelo abuso. Ainda, todos descreveram experiências de depressão,
ansiedade e estresse pós-traumático antes da migração.
Evidências preliminares
deste estudo sugerem que a exposição repetida a eventos traumáticos na infância
e na adolescência pode levar a população LGBT a desenvolver problemas de saúde
mental graves, incluindo síndromes complexas e traumas. A expectativa é de que
esse estudo contribua para políticas internacionais que ajudem a proteger esses
jovens em condição especial de migração.
Apesar do quadro
sombrio da vida antes da migração, o estudo relata que os participantes também
manifestaram níveis extraordinários de resiliência.
“Para lidar com
suas situações durante a infância e da adolescência, muitos ficaram imersos em
seus estudos e, portanto, se destacaram academicamente. Além disso, a busca de
refúgio ou de asilo deve ser considerada um ato de resistência por si só”,
escreveram os autores.
Link curto: http://brasileiros.com.br/VzixM
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