Ministério da Justiça pede
que ações sejam coordenadas com os estados.
Prefeito de SP reclamou de
não ser informado sobre nova leva de haitianos.
O Ministério da Justiça
anunciou na noite desta terça-feira (19) um acordo com o governo do Acre que
suspende o envio de imigrantes haitianos que estão naquele estado para outras
partes do país. Segundo o ministério, a transferência de imigrantes haitianos
para qualquer outro estado "está suspensa até que ações referentes a essa
questão estejam bem coordenadas entre os vários órgãos do governo federal,
estados e municípios".
A pasta não detalhou como
deve ser feito este trabalho de coordenação entre as três esferas de governo
nem até quando durará a suspensão, que já está valendo.
A assessoria de imprensa do
Ministério da Justiça informou que a pasta fez uma videoconferência na tarde
desta terça-feira com representantes do governo do Acre para selar o acordo
Nesta segunda-feira (18),
cerca de 80 haitianos desembarcaram em São Paulo vindos do Acre. Mais 1 mil
imigrantes estavam sendo aguardados na capital paulista nos próximos dias.
Estrutura
A Prefeitura de São Paulo
publicou uma nota na manhã desta terça-feira dizendo que não havia sido
informada de que até 1 mil estrangeiros chegariam à cidade e, por isso, não
teria estrutura para recebê-los.
Haitiana amamenta bebê após
chegar a SP, vinda do Acre (Foto: Gabriela Giló/Estadão Conteúdo)
"É difícil receber
estes haitianos sem termos 15 a 20 dias de antecedência para nos prepararmos.
São Paulo recebe bem os imigrantes, mas precisa de uma antecedência para
planejar, até para conforto dos imigrantes", disse o prefeito Fernando
Haddad em entrevista à rádio CBN.
A Secretaria Municipal de
Direitos Humanos e Cidadania de São Paulo emitiu nota na manhã desta terça
informando que foi surpreendida e que não recebeu qualquer notícia sobre a
chegada dos imigantes à cidade.
Em entrevista ao G1, o
secretário de Justiça e Direitos Humanos do Acre, Nilson Mourão, afirmou que
entrou em contato com o secretário de Direitos Humanos de São Paulo, Eduardo
Suplicy, na tarde desta terça, depois da publicação da nota divulgada pela
Prefeitura.
"Estamos procurando
resolver o problema sem polêmica. As informações que o governo de São Paulo ou
de qualquer outro estado quiser, nós fornecemos sem problemas. Por outro lado,
não procede a informação de que estamos enviado 1 mil imigrantes para São
Paulo. Haviam 1 mil imigrantes no abrigo, dentre os quais, um número que não
chega a metade estava se dirigindo para São Paulo, os demais foram para outros
estados", afirmou Mourão,
Haitianos sem ter onde
dormir aguardam definição por abrigo na Paróquia Nossa Senhora da Paz, na
região central de São Paulo (Foto: Carolina Dantas/G1)
O Ministério da Justiça
informou que o "governo federal tem desenvolvido ações que envolvem
diversos ministérios para apoiar a integração dos haitianos e outros imigrantes
no país".
A pasta destacou a
assinatura de um convênio com o estado do Acre no valor de R$ 1,02 milhão para
desconcentrar os destinos dos imigrantes, conforme padrões de demanda de
emprego do mercado de trabalho. O ministério disse que não procede a informação
de que o fluxo de haitianos tenha sido direcionado para a capital paulista pelo
Ministério da Justiça.
Arte rotas de haitianos para
entrar no Brasil (Foto: Arte/G1)
Desde o terremoto que
devastou o Haiti em 2010, imigrantes do país têm viajado durante dias e, muitas
vezes em condições degradantes, para buscar novas oportunidades de emprego no
Brasil.
A maior parte deles entra no
país pela cidade de Brasiléia, no Acre – estado que também não tem
infraestrutura para recebê-los.
Alguns dos imigrantes também
acabam buscando trabalho na República Dominicana e na Colômbia.
Chegada a São Paulo
O G1 foi na tarde desta
terça-feira na Paróquia Nossa Senhora da Paz, na Rua do Glicério, região
central de São Paulo, local que virou ponto de referência para os haitianos que
chegam na cidade.
Ali estavam vários haitianos
que tinham acabado de chegar à capital paulista.
Com R$ 6 mil, o haitiano
Obya Jobsillie, de 41 anos, conseguiu ajeitar sua vinda ao Brasil. Foram nove
dias de viagem, intercalando ônibus e avião, passando por Santo Domingo,
Colômbia e Equador até chegar ao Brasil, pelo Acre.
Quase dez dias depois, ele
chegou na noite desta segunda (18) em São Paulo, junto de mais de 80
imigrantes.
"Quero um emprego. Vim
para trabalhar e voltar melhor de vida", afirma Jobsillie.
O padre Paolo Parise é
responsável pelo local e está negociando ajuda com a prefeitura e governos. O
espaço está sobrecarregado e, como ajuda, recebe só 70 marmitas da prefeitura.
"Eles [haitianos] vêm
sempre na esperança de crescer na vida. A informação que eles recebem é de que
temos muitos empregos", diz o padre. Ele afirma ainda que os imigrantes
não sabem da atual crise econômica e que a maior parte deles ainda sonha em
trabalhar na contrução civil.
Enquanto não há resolução, o
padre está adaptando o espaço e acomodando as pessoas no chão de um galpão da
paróquia. "Estou conversando com a prefeitura e o governo. Tento fazer o
melhor, mas isso não é só nosso papel", explica Parise.
Carolina
Dantas
Do
G1 São Paulo
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