“Se não fizermos nada, penso
que este ano veremos meio milhão de migrantes atravessar o Mediterrâneo e,
potencialmente, dez mil morrerem.”
Koji Sekimizu,
secretário-geral da Organização Marítima Internacional
A imigração legal e ilegal
para a Europa continua a ser uma realidade nas suas fronteiras a sul. As poucas
e tardias medidas que a União Europeia tem tomado continuam a ser insuficientes
e, sobretudo, não evitam mortes e cegueiras ideológicas da esquerda à direita,
no panorama partidário e governativo do Velho Continente. Somos uma minoria, os
que trabalham e investigam quer acerca dos factos, quer acerca dos mitos e das
realidades, para que este problema tenha as abordagens correctas. E já o
fazemos há muitos anos. Mas o tempo passa. E o Mediterrâneo, outrora o mar e o
espaço de florescência entre povos e territórios, é cada vez mais sinónimo de
morte, desnorte tal e qual atoleiro do falhanço dos valores de vida europeus.
As instituições europeias,
em sucessivas reuniões e cimeiras do croquete, continuam a não ter coragem para
decidir, com uma visão de conjunto, a resolução do problema da imigração na
Europa. Mesmo com Jean-Claude Juncker a dizer que a Europa tem de ir mais longe
nesta matéria (agora com as famosas quotas e um novo pedido de intervenção
militar na Líbia...). O Mare Nostrum continua ao abandono. Os gritos, as mortes
nas fronteiras, no mar ou em terra, são cada vez mais indiferentes aos
europeus, sobretudo aos que “mandam”. Divorciados da realidade e confortáveis
com o que fizeram de errado, por exemplo, com a sua política externa de
vizinhança a sul, com o desmantelamento de regimes como o iraquiano, o líbio e,
na prática, também do sírio. Pródigos na utilização da justiça para tudo e para
nada, fogem disso como o diabo da cruz.
Ao nível das políticas
públicas de imigração, juridicamente, fazem de conta que são cultores dos
direitos e, sobretudo, dos deveres dos migrantes. Confundindo tudo num só
cardápio. Tudo é tratado por igual. Clandestino. Ilegal. Imigrante (legal e
ilegal). Refugiado. Deslocado. Etc., etc.
A sua obra-prima, maior e
melhor do que poucas outras, está no âmago do Mediterrâneo, nos últimos anos,
com mais de 22 mil mortes. Adivinhe-se de quem? De não europeus, é claro! A
Europa-fortaleza no seu pior. A Europa que definha demograficamente há décadas
e continua a fazer de conta que não precisa de ter uma política pública e,
consequentemente, um direito da imigração, uno, para enfrentar o fenómeno
migratório nas suas vertentes jurídicas, económicas, sociais e religiosas. No
século do movimento dos povos, num século em que as novas tecnologias de
comunicação e informação são cada vez mais usadas por traficantes e por gente
que, nesta matéria, nunca deveria ter conseguido organizar-se após o
desmoronamento de vários países árabes. A Europa, a nossa Europa, está nesta
matéria da imigração a fazer tudo ao contrário. Parece muitas vezes esquecer-se
e ter vergonha da sua herança humanista e do seu código genético cristão. A
Europa que já se esqueceu do que foi enquanto território exportador de pessoas
para os quatro cantos do mundo durante vários séculos. Vive iludida com muitos
mitos nesta matéria.
E não assume várias
realidades. De que é urgente abandonar a soberba na sua política externa e da
sua unipolaridade. E de que é urgente assumir uma política pública assente na
construção de uma verdadeira política de imigração europeia, com base nos
pilares da regulação dos fluxos migratórios e na efectiva integração dos
imigrantes no espaço europeu. Não dá votos. É polémico. Mas é bom que todos
nós, de manhã, à tarde e à noite, olhemos os nossos espelhos, mesmo que
sozinhos, e repitamos, a Europa precisa de mais imigrantes!, porque esta é a
mais elementar das verdades. Mesmo que envergonhados, esta é a verdade. E o
tempo vai continuar a mostrar-nos isso. Para além das nossas responsabilidades
humanitárias. E a esse propósito, onde estão os grandes arautos das nossas
finanças e da nossa justiça?
Opinião Mediterrâneo
Imigração
Nenhum comentário:
Postar um comentário