Os haitianos Basilien Gené,
Patrick Grain e Leslí Gabriel já têm visto e carteira de trabalho (Crédito:
Edgar Maciel)
Dado é de pesquisa da
Organização Internacional para Imigrantes. Todos fazem a mesma rota: passam
pelo Peru e Equador até chegar ao Acre, no Norte do Brasil. Os haitianos
gastam, em média, US$ 5 mil para fazer a viagem, que dura quatro dias.
Nos últimos quatro anos,
mais de 38 mil haitianos já cruzaram a fronteira do Brasil sem visto: todos com
a ajuda de coiotes, contratados ainda no Haiti para ajudá-los a chegar por
aqui. Um investimento alto, que pode superar os US$ 5 mil. É o que mostra uma
pesquisa da Organização Internacional para Imigrantes, obtida com exclusividade
pela CBN.
Segundo o levantamento, eles
representam quase 60% dos haitianos que chegam no país, já que apenas cerca de
30 mil conseguiram o visto na embaixada brasileira. Durante a viagem, 63% deles
são furtados e chegam no Acre sem dinheiro algum.
Foi o caso de Basilien Gené,
de 28 anos, que está abrigado na Missão da Paz, no bairro da Liberdade, em São
Paulo. Ele saiu há 20 dias do Haiti e pagou US$ 4,5 mil para um coiote. Durante
a viagem, precisou desembolsar mais US$ 1,5 mil em propina para policiais no
Peru e no Equador. Sua mala, com todas as roupas, foi furtada no meio do
caminho. Em francês, Basilien conta que tentou por um ano o visto na embaixada,
mas não foi atendido.
'Não é fácil conseguir o
visto na embaixada. Nesse momento, as pessoas não conseguem tirar o visto por
US$ 200. Eu tentei ligar para a embaixada durante meses e sempre dá ocupado.
Quando me atenderam, nem meu nome pegaram. Tem pessoas que ficam meses
esperando. Por isso que optei por pagar o coiote e vir ilegalmente. Não podia
demorar mais.'
O pesquisador da OIM, Duval
Fernandes, avalia que a entrada irregular dos imigrantes é responsável pela
condição vulnerável dos haitianos no Brasil. Caso entrassem com visto, poderiam
até mesmo ajudar a movimentar a economia brasileira.
Nesta semana, a embaixada
brasileira anunciou que vai tentar coibir a entrada ilegal com uma campanha
para aumentar o número de vistos. O governo brasileiro subirá de 600 para dois mil
vistos mensais para haitianos interessados em viver no Brasil. Enquanto isso
não acontece, imigrantes como Leslí Gabriel, de 35 anos, caem em golpes em
busca da autorização para entrar no país. Ele chegou a pagar US$ 2 mil para um
coiote com suposta influência dentro da embaixada para agilizar o visto, mas
não teve sucesso.
'É muito difícil o visto
para o Brasil. Eu não sou de Porto Príncipe e não consigo ir até lá para fazer
o visto. O telefone está sempre ocupado. Por isso paguei para um coiote para
agilizar o visto para mim, só que ele sumiu. Sumiu com todo o meu dinheiro.
Fiquei mais dois anos juntando dinheiro para vir pro Brasil.'
Leslí gastou um total de US$
8 mil, entre coiotes e propinas para chegar ao Acre. Ficou preso durante dois
dias no meio da Amazônia porque não tinha mais dinheiro para continuar viagem.
Só foi liberado quando a família enviou a quantia para pagar aos coiotes.
Praticamente todos os 135 haitianos que chegaram em São Paulo nos últimos dias
fizeram o mesmo trajeto e passaram pelas mesmas dificuldades. A Agência
Brasleira de Inteligência estima que a rede de coiotes já faturou US$ 60
milhões em quatro anos.
A CBN fez contato com o
Ministério das Relações Exteriores para comentar o assunto, mas não teve
retorno.
Por Edgar Maciel
CBN
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