segunda-feira, 11 de maio de 2015

Centros de recepção na Itália pressionados com os milhares de resgates no mar

Eucaliptos, cactos e flores silvestres emolduram a estrada para a linda cidade de Ragusa, no sul da Sicília. Em um pátio perto de uma igreja barroca, um grupo de jovens de diversos países africanos sentam embaixo de duas oliveiras.
Como a Itália vem lutando para lidar com o grande número de pessoas resgatadas no mar, esse antigo monastério converteu-se em um abrigo de emergência para 75 refugiados e solicitantes de refúgio. Somente neste ano, 60 mil homens, mulheres e crianças atravessaram o mar, muitos em uma tentativa desesperada de encontrar segurança na Europa. Mais de 1,8 mil pessoas morreram nesta tentativa.
Zaidoun, um homem sírio de 30 anos com um sorriso amigável no rosto, está entre os que conseguiram fazer a travessia e agora se recupera em Ragusa. Há pouco mais de duas semanas, ele entregou todas as suas economias, 14 mil dólares, para coiotes no porto turco de Mersin. Eles ofereceram vagas para ele, sua esposa grávida e duas crianças pequenas para atravessar o mar Mediterrâneo, em um barco, até a Itália.
“Havia umas cem pessoas no barco – a maioria sírios, mas também alguns palestinos”, ele contou, segurando seu filho de um ano nos braços, enquanto sua filha, de três anos, estava agarrada em suas pernas. “Navegamos por cinco dias até a marinha italiana nos socorrer. Estamos felizes e gratos de estarmos vivos e salvos.”
Zaidoun e sua família foram levados para o porto Pozzallo, na Sicília, e, após passar pela triagem médica e registro, foram transferidos para Ragusa.
“Não existem padrões de desembarque e procedimentos de recepção na Itália”, observou Fabiana Giuliani, funcionária do ACNUR que acompanhou a chegada ao sul da Itália de inúmeros navios com sobreviventes de travessias. “Cada porto tem um procedimento diferente e eles dependem de se as pessoas foram resgatadas por navios comerciais ou pela guarda costeira”, ela disse. Ela disse também que nem todos os portos têm facilidades de recepção e existem diferentes tipos de centros de recepção, os quais fornecem acomodações de curto ou longo prazo para refugiados, migrantes e solicitantes de refúgio”.
As condições nesses centros variam, mas eles estão todos cheios. Agora, os imigrantes que estão chegando são transferidos para cidades mais longe, como Bolonha, no norte da Itália.
No ano passado, a marinha italiana lançou uma operação de busca-e-resgate no Mediterrâneo. Com o nome de Mare Nostrum, a operação utilizou um grande número de navios e aviões, que salvaram mais de 160 mil vidas. A maioria dos resgatados foi levada para o porto de Augusta, na província de Siracusa, na Sicília.
“Criamos um sistema para receber pessoas e para acomodá-las”, disse o prefeito de Siracusa, Armando Gradone. “Mas dependemos de voluntários para fazer o trabalho todo e os abrigos locais estão sobrecarregados. Mais equipes e recursos financeiros devem ser direcionados para lugares como Augusta e Pozzallo, pois estão recebendo milhares de pessoas. Nós precisamos de uma operação como o Mare Nostrum também em terra!”
Na periferia de Siracusa, em uma montanha com vista para o mar, uma antiga escola foi transformada em um centro temporário que oferece dormitórios para 60 pessoas. Eles recebem comida e têm acesso a internet. Também existe telefone público para que os residentes possam ligar para suas famílias para que saibam que sobreviveram à travessia.
“Para mim, o mais difícil é ver crianças pequenas que já sofreram jornadas terríveis”, confessa Gianpero Parrinello, o diretor do centro. “Este é um trabalho duro”.
Por William Spindler em Ragusa, Itália
Por: ACNUR

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