A campanha global #IBelong, promovida pelo Alto Comissariado das
Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) para acabar com a apatridia no mundo,
recebeu um grande número de adesões no 20º Encontro Nacional de Estudantes de
Relações Internacionais (XX ENERI), realizado na semana passada, em Brasília.
A campanha pretende, nos
próximos 10 anos, erradicar a apatridia – um limbo jurídico para milhões de
pessoas em todo o mundo que não têm nacionalidade reconhecida por nenhum país e
vivem sem garantias de seus direitos humanos. A ONU estima que existam cerca de
10 milhões de apátridas. Além deles, a cada dez minutos um bebê nasce sem
nacionalidade.
Organizado
pela Fundação Armando Alvares Penteado (FAAP), o evento reuniu em Brasília
1.200 alunos de faculdades de Relações Internacionais de todo o Brasil, para
debater temas relacionados à multipolaridade nas relações internacionais.
Durante o encontro, o ACNUR conseguiu mais de 800 assinaturas de congressistas
e palestrantes para a “carta aberta” da campanha #IBelong, também disponível no
site ibelong.unhcr.org.
A campanha #IBelong foi
lançada pelo ACNUR em novembro de 2014, no marco do 60º aniversário da
Convenção de 1954 das ONU sobre o Estatuto dos Apátridas. Com a campanha, o
ACNUR espera reunir 10 milhões de assinaturas na “carta aberta”, utilizando-a
para demonstrar o apoio popular ao fim da apatridia.
Entre os apoiadores da
#IBelong durante o XX ENERI estão personalidades da área de Relações
Internacionais, como o professor da Universidade de Chicago, John J.
Mearsheimer, o Diretor do Programa das Américas do Centro de Estudos
Estratégicos e Internacionais, Carl Meacham, e o professor emérito da
Universidade de Brasília, Amado Luiz Cervo.
Para o vice-diretor da
Faculdade de Economia da FAAP, Luiz Alberto Machado, a participação do ACNUR no
evento com o tema da apatridia é coerente com a missão das Relações
Internacionais de debater amplamente as questões dos direitos humanos em todo o
mundo. “Além disso, dar visibilidade à questão dos apátridas para um público
como o do ENERI pode contribuir para encontrar soluções para o problema”,
afirmou Machado.
"Ser apátrida
significa ter uma vida sem acesso à educação e a serviços de saúde, e mesmo sem
um trabalho legalmente reconhecido. É uma vida sem a possibilidade de transitar
livremente, sem perspectivas ou esperança", diz a carta endossada pelo
Alto Comissário para Refugiados, António Guterres. "A apatridia é
desumana. Nós acreditamos que é hora de acabar com essa injustiça", afirma
Guterres na “carta aberta” da campanha #IBelong.
Embora certas questões
sobre apatridia permaneçam politicamente controversas em alguns países, em
outros, acabar com ela pode ser tão simples quanto mudar algumas palavras nas
leis de cidadania. Durante a última década, as mudanças legislativas e
políticas permitiram que mais de quatro milhões de pessoas apátridas
adquirissem uma nacionalidade ou mesmo tivessem sua nacionalidade reconhecida.
Desta forma, ao
contrário de tantos outros problemas que os governos enfrentam hoje, o ACNUR
acredita que a apatridia pode ser resolvida com vontade política e ainda nestas
gerações.
O Brasil, que é
signatário das convenções sobre apatridia, tem pronto um projeto de lei que
cria o processo de determinação da condição de apátrida no Brasil,
estabelecendo direitos e obrigações para estas pessoas. O texto foi elaborado
pela Secretaria Nacional de Justiça e aguarda o fim de consultas internas para
ser encaminhado ao Congresso Nacional.
De acordo com o texto, o
Brasil reconhecerá como apátrida qualquer pessoa que “não seja considerado como
nacional ou cidadão por nenhum Estado”, como também quem não puder comprovar
sua nacionalidade “por circunstâncias alheias à sua vontade”.
Uma vez determinada a
situação de apatridia, o apátrida reconhecido pelo Brasil poderá adquir a
nacionalidade brasileira, extensível aos seus dependentes e integrantes do seu
núcleo familiar.
O projeto de lei
determina que o Comitê Nacional para Refugiados (CONARE) será o órgão
competente para processar o reconhecimento da condição de apatridia, sendo
renomeado como Comitê Nacional para Apátridas e Refugiados.
Por Beatriz Maya, em
Brasília.
Acnur
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