Duarte Marques
Ex-deputado do PSD
Uma política de migrações humanista passa por receber o maior número de pessoas que seja possível acolher com dignidade, qualidade de vida e a quem se possa proporcionar condições de vida saudáveis e equivalentes às dos locais. Humanismo não é acumular pessoas em barracões, em condições desumanas e sem qualquer tipo de higiene
Portugal é um
país acolhedor de imigrantes porque essa é a nossa natureza, faz parte da nossa
história e raramente foi tema de desentendimento político, partidário ou
ideológico. Ao contrário de outras temáticas, as políticas de migrações em
Portugal foram claramente evolutivas e afortunadas. Afortunadas porque Governo
atrás de Governo melhoraram os instrumentos e políticas que encontraram, não
houve recuos ou o desfazer de políticas bem desenhadas mas sim incrementos. Ou
pelo menos não tinha acontecido até 2017.
Tudo corria com
relativa tranquilidade até ao momento em que o SEF colapsou. Após um período de
inédito crescimento do turismo associado à pressão nos aeroportos pela falta de
espaço e de recursos humanos, tudo explodiu com uma pressão migratória inédita
de refugiados do norte de África. As polémicas em torno do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras, a começar pelo caos nas zonas de espera dos
aeroportos, a falta de condições e dimensão para os centros de detenção
temporária e principalmente com o caso do homicídio do ucraniano Lhor foram o
detonador de vários erros cometidos pelo Governo da Geringonça na área das
migrações.
Se o
acolhimento de refugiados através do programa de “recolocação” apoiado pela
União Europeia desde a Grécia não correu mal e apenas pecou pela falta de
preparação e de realismo na integração (integrar refugiados não é a mesma coisa
que tomar conta de idosos), o que foi altamente compensado pelo voluntarismo
dos portugueses de norte a sul do país, já a alteração da Lei 23/2007 feita em
julho de 2017 foi um verdadeiro detonador para o disparate e que teve um efeito
de chamada ímpar na UE. Portugal passou a ser a porta de entrada fácil no
espaço Schengen. Nunca quis acreditar, mas evidências não faltam que esta
decisão pretendia apenas “aliviar” a carga burocrática no SEF.
Uma política de
migrações humanista passa por receber o maior número de pessoas que seja
possível acolher com dignidade, qualidade de vida e a quem se possa
proporcionar condições de vida saudáveis e equivalentes às dos portugueses.
Humanismo não é acumular pessoas em barracões, em condições desumanas e sem
qualquer tipo de higiene.
Quando fui
Relator da reforma da política europeia de migrações no Conselho da Europa
fiquei feliz quando recebi as críticas de ambos os extremos. Receber todas as
pessoas sem condições adequadas é um disparate e uma irresponsabilidade, tal
como impedir a entrada de todos os que nos procuram é uma tontice ainda maior.
Neste tema exige-se bom senso e responsabilidade.
Mas se o
humanismo já é razão suficiente para justificar acolher tanto migrantes como
refugiados, as necessidades de mão de obra e o envelhecimento da população
obrigam os países do hemisfério norte a olhar para os migrantes económicos como
uma ajuda fundamental para a nossa sustentabilidade. Mas para isso é preciso
criar condições, ter regras e fiscalizar para evitar casos como o da Mouraria
ou dos abusos em algumas explorações agrícolas. O desnorte foi tal no anterior
Governo de António Costa que chegámos ao ponto, felizmente evitado, de enviar
estes imigrantes a aguardar decisão para uma ala da prisão de Caxias.
O esforço de
acolhimento de migrantes económicos ou refugiados deve ser partilhado por todos
os países mesmo se, em momento de dificuldade ou recessão os mais populistas
usam esta realidade e as ajudas a estas pessoas como arma de arremesso político
quando os “locais” passam por dificuldades.
Quando se
debatem seriamente questões relacionadas com migrantes ou refugiados, que,
repito, é preciso não confundir, exige-se seriedade e ponderação dos
argumentos. Criar políticas de atração de determinados perfis não é ser
extremista ou xenófobo, trata-se sim de procurar colmatar mais eficazmente as
necessidades que claramente temos em matéria de mão de obra. Procurar trazer os
mais qualificados não significa fechar a porta aos outros, principalmente aos
refugiados. Aliás, quando vejo alguns responsáveis políticos a tentar
ridicularizar iniciativas como a do PSD que procurava criar, finalmente, uma
política estruturada de atração e acolhimento de estrangeiros ouvimos
representantes dos partidos da esquerda, PS e BE a falar em segregação e de
imigrantes de primeira e de segunda, esquecendo que o governo que apoiam,
através do SEF, faz precisamente o mesmo quando desloca equipas de inspetores
aos campos de refugiados na Grécia para fazer uma “triagem” ou “seleção” dos
refugiados candidatos a vir para Portugal ao abrigo do programa de recolocação
da União Europeia que o Governo português, e bem, se orgulha de ser um grande
contribuinte. E um visto Gold não é segregação? Pois.
O atraso na
definição da entidade que irá receber as competências do SEF na área documental
destes imigrantes, concorre também para o agravamento do sentimento de
frustração por parte destes imigrantes. É importante que tenhamos presente que
nem todas as comunidades imigrantes demoram o mesmo tempo no processo de
integração. Urge definir estratégia nacional para a imigração e que esteja em linha
com as estratégias dos demais países europeus.
Portugal é um
país acolhedor de imigrantes porque essa é a nossa natureza, faz parte da nossa
história e raramente foi tema de desentendimento político, partidário ou
ideológico. Ao contrário de outras temáticas, as políticas de migrações em
Portugal foram claramente evolutivas e afortunadas. Afortunadas porque Governo
atrás de Governo melhoraram os instrumentos e políticas que encontraram, não
houve recuos ou o desfazer de políticas bem desenhadas mas sim incrementos. Ou
pelo menos não tinha acontecido até 2017.
Tudo corria com
relativa tranquilidade até ao momento em que o SEF colapsou. Após um período de
inédito crescimento do turismo associado à pressão nos aeroportos pela falta de
espaço e de recursos humanos, tudo explodiu com uma pressão migratória inédita
de refugiados do norte de África. As polémicas em torno do Serviço de
Estrangeiros e Fronteiras, a começar pelo caos nas zonas de espera dos
aeroportos, a falta de condições e dimensão para os centros de detenção
temporária e principalmente com o caso do homicídio do ucraniano Lhor foram o
detonador de vários erros cometidos pelo Governo da Geringonça na área das
migrações.
Se o
acolhimento de refugiados através do programa de “recolocação” apoiado pela
União Europeia desde a Grécia não correu mal e apenas pecou pela falta de
preparação e de realismo na integração (integrar refugiados não é a mesma coisa
que tomar conta de idosos), o que foi altamente compensado pelo voluntarismo
dos portugueses de norte a sul do país, já a alteração da Lei 23/2007 feita em
julho de 2017 foi um verdadeiro detonador para o disparate e que teve um efeito
de chamada ímpar na UE. Portugal passou a ser a porta de entrada fácil no espaço
Schengen. Nunca quis acreditar, mas evidências não faltam que esta decisão
pretendia apenas “aliviar” a carga burocrática no SEF.
Uma política de
migrações humanista passa por receber o maior número de pessoas que seja
possível acolher com dignidade, qualidade de vida e a quem se possa
proporcionar condições de vida saudáveis e equivalentes às dos portugueses.
Humanismo não é acumular pessoas em barracões, em condições desumanas e sem
qualquer tipo de higiene.
Quando fui
Relator da reforma da política europeia de migrações no Conselho da Europa
fiquei feliz quando recebi as críticas de ambos os extremos. Receber todas as
pessoas sem condições adequadas é um disparate e uma irresponsabilidade, tal
como impedir a entrada de todos os que nos procuram é uma tontice ainda maior.
Neste tema exige-se bom senso e responsabilidade.
Mas se o
humanismo já é razão suficiente para justificar acolher tanto migrantes como
refugiados, as necessidades de mão de obra e o envelhecimento da população
obrigam os países do hemisfério norte a olhar para os migrantes económicos como
uma ajuda fundamental para a nossa sustentabilidade. Mas para isso é preciso
criar condições, ter regras e fiscalizar para evitar casos como o da Mouraria
ou dos abusos em algumas explorações agrícolas. O desnorte foi tal no anterior
Governo de António Costa que chegámos ao ponto, felizmente evitado, de enviar
estes imigrantes a aguardar decisão para uma ala da prisão de Caxias.
O esforço de
acolhimento de migrantes económicos ou refugiados deve ser partilhado por todos
os países mesmo se, em momento de dificuldade ou recessão os mais populistas
usam esta realidade e as ajudas a estas pessoas como arma de arremesso político
quando os “locais” passam por dificuldades.
Quando se
debatem seriamente questões relacionadas com migrantes ou refugiados, que,
repito, é preciso não confundir, exige-se seriedade e ponderação dos
argumentos. Criar políticas de atração de determinados perfis não é ser
extremista ou xenófobo, trata-se sim de procurar colmatar mais eficazmente as
necessidades que claramente temos em matéria de mão de obra. Procurar trazer os
mais qualificados não significa fechar a porta aos outros, principalmente aos
refugiados. Aliás, quando vejo alguns responsáveis políticos a tentar
ridicularizar iniciativas como a do PSD que procurava criar, finalmente, uma
política estruturada de atração e acolhimento de estrangeiros ouvimos
representantes dos partidos da esquerda, PS e BE a falar em segregação e de
imigrantes de primeira e de segunda, esquecendo que o governo que apoiam,
através do SEF, faz precisamente o mesmo quando desloca equipas de inspetores
aos campos de refugiados na Grécia para fazer uma “triagem” ou “seleção” dos
refugiados candidatos a vir para Portugal ao abrigo do programa de recolocação
da União Europeia que o Governo português, e bem, se orgulha de ser um grande
contribuinte. E um visto Gold não é segregação? Pois.
O atraso na
definição da entidade que irá receber as competências do SEF na área documental
destes imigrantes, concorre também para o agravamento do sentimento de
frustração por parte destes imigrantes. É importante que tenhamos presente que
nem todas as comunidades imigrantes demoram o mesmo tempo no processo de
integração. Urge definir estratégia nacional para a imigração e que esteja em
linha com as estratégias dos demais países europeus.
A terminar, não
podia deixar de destacar que o elemento mais perigoso de um imigrante ou
refugiado é precisamente a frustração. Essa linha é muito ténue e ocorre
sobretudo quando as expectativas criadas pelos programas ou pelos anúncios ou
promessas não são correspondidas depois na realidade. Ora, isso ocorre com os
atrasos na legalização, na dificuldade em encontrar emprego, nas condições de
habitação ou até na expressão da língua local. Isto acontece quando são
prometidas facilidades, sonhos e oportunidades e depois apenas encontram
frustrações e promessas falhadas que levam estas pessoas a uma nova situação de
pobreza. Se os portugueses, e em particular os que procuram fazer demagogia com
este tema, lessem os três últimos Relatórios anuais da Provedora de Justiça
(disponíveis em Relatórios Anuais de Atividade – Provedoria de Justiça
(provedor-jus.pt)) ficariam incrédulos com a forma desumana como o Estado trata
os imigrantes e sobretudo os refugiados que acolhe.
Apetece
perguntar: como é que um país com a nossa história, com tanto consenso político
em torno do tema, com tantas condições, consegue acolher tão mal muitos dos
estrangeiros que procuram uma vida melhor no nosso país?
expresso.pt
www.miguelimigrante.blogspot.com
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