Depois daquele que já é
considerado o pior desastre dos últimos tempos a envolver imigrantes no mar
Mediterrâneo, Federica Mogherini, alto representante da União Europeia para os
Negócios Estrangeiros e a Política de Segurança, defende que os governos europeus
devem estabelecer um conjunto de ações para proteger os imigrantes no
Mediterrâneo. Os ministros dos Negócios Estrangeiros reúnem-se esta
segunda-feira no Luxemburgo para discutir a situação.
“Dissemos demasiadas vezes
‘nunca mais’. Agora é a altura da União Europeia, enquanto tal, de resolver as
tragédias sem mais atrasos”, disse em comunicado Federica Mogherini. “Temos de
salvar vidas humanas todos juntos, assim como todos juntos temos de proteger as
nossas fronteiras e combater o tráfico de seres humanos.” Mas há muitos
governos que ainda estão relutantes em financiar os resgates no Mediterrâneo
com receio de que isso possa encorajar a imigração, refere a Reuters.
Em comunicado, a Comissão
Europeia concorda que “há vidas em riscos e que a União Europeia, como um todo,
tem o dever moral e humanitário de agir”. A Comissão Europeia está neste
momento a preparar, em conjunto com os estados-membros, agências europeias e
organizações internacionais, um Estratégia de Migração Europeia a ser adotada
até meados de maio. Atacar o problema na origem “é uma responsabilidade
conjunta de todos os 28 estados-membros e das instituições da União Europeia e
requer uma resposta europeia conjunta”.
Durão Barroso, ex-presidente
da Comissão Europeia, em entrevista à TSF reforçou a necessidade de uma
política de ajuda comum aos refugiados e lamentou que os países que mais
requerem ajuda não estejam disponíveis para esta política comum. “As
responsabilidades em relação, por exemplo, a ajuda a refugiados são
responsabilidades nacionais. Não é uma competência da União Europeia. Eu
gostava que fosse, só que os países procuram manter as suas prerrogativas nessa
matéria”, diz Durão Barroso. O primeiro-ministro italiano, Matteo Renzi,
reforça, citado pela Bloomberg, que “uma ação contra o tráfico humano tem de
deixar de ser uma prioridade exclusivamente italiana ou exclusivamente
maltesa”.
O ex-presidente da Comissão
Europeia lembra que todos os países têm de colaborar e disponibilizar os
próprios recursos porque a “Comissão Europeia não tem barcos, não tem
helicópteros, não tem aviões”. “As instituições europeias não podem fazer nada
se não forem os governos a por esses meios à disposição”, reforça. “Meios
humanos, financeiros, operacionais e logísticos. Isso agora começa a ser feito,
mas não é suficiente.”
A Comissão Europeia defende
que se deve atacar o problema na origem. Por um lado, os conflitos nos países
de onde vêm os emigrantes, por outro, as pessoas que continuam a proporcionar a
imigração ilegal. Na reunião com os ministros dos Negócios Estrangeiros,
Federica Mogherini vai apresentar opções para um futuro apoio dos
estados-membros à formação de um novo governo na Líbia, noticiou a Bloomberg.
“Vou apresentar um conjunto de propostas para a Líbia, uma das principais rotas
de tráfico ilegal de migrantes.” O primeiro-ministro italiano concorda que “não
pode haver uma solução para a crise da imigração se não for encontrada
estabilidade na Líbia”. “O problema não é controlar o mar, mas antes destruir
os traficantes de pessoas, os novos donos de escravos do século XXI.”
O secretário dos Negócios
Estrangeiros do Reino Unido, Philip Hammond, concorda que a União Europeia se
deve concentrar nos criminosos que organizam as viagens, conforme disse aos
jornalistas, no Luxemburgo, onde vai decorrer a reunião. A ministra dos
Negócios Estrangeiros sueca, Margot
Wallstroem, concorda que se
deve lidar com a situação que se está a viver, mas que acima de tudo é preciso
prevenir este tipo de acontecimentos. E para isso é “preciso garantir que os
estados-membros contribuem em solidariedade”, afirma a ministra, acrescentando
que a União Europeia falhou, “não fez o suficiente”.
“A questão principal é
construir em conjunto um sentido de responsabilidade europeia sobre o que está
a acontecer no Mediterrâneo, sabendo que não há nenhuma solução fácil, nenhuma
solução mágica”, disse Federica Mogherini, citada pela Bloomberg.
Observador
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