Milhares de imigrantes
arriscam a travessia do Mediterrâneo para chegar à Europa
O céu claro sobre a cidade
líbia de Misrata é a senha. Significa que centenas de imigrantes tentarão
atravessar o Mediterrâneo rumo à Itália em busca de uma vida melhor.
Com o verão, as águas do
Mediterrâneo ficam mais calmas e, assim, mais imigrantes se arriscam na
travessia de barco.
Centenas de milhares de
pessoas fizeram a viagem nos últimos anos, a maioria de países da África
subsaariana, como Senegal, Eritreia e Somália.
Segundo a Organização das
Nações Unidas (ONU), mais de 500 pessoas morreram neste ano, número 30 vezes
maior do que no mesmo período do ano passado.
A União Europeia (UE) diz
que mais de 7 mil imigrantes foram resgatados no Mediterrâneo desde
sexta-feira. E outras centenas de pessoas deverão tentar chegar à Europa nos
próximos dias, segundo a guarda-costeira líbia.
Barco da guarda costeira líbia resgate centenas de migrantes no Mediterrâneo
Este barco levava 97
pessoas; embarcação foi resgatada pela guarda-costeira líbia após ficar 24h à
deriva no mar, nem todos sobreviveram
A tragédia mias recente
ocorreu no domingo, quando um barco com cerca de 550 pessoas virou na costa
líbia. A guarda costeira italiana resgatou 144 pessoas e lançou uma operação de busca pelos 400 desaparecidos, incluindo muitas mulheres e crianças.
Este barco levava 97 pessoas; embarcação foi resgatada pela guarda-costeira líbia após ficar 24h à deriva no mar, nem todos sobreviveram
Em 2014, segundo a ONU, 170
mil imigrantes atravessaram o Mediterrâneo para a Itália e cerca de 3,5 mil
morreram na viagem, tornando esta a travessia oceânica mais letal do mundo para
imigrantes.
Em novembro do mesmo ano a
Itália encerrou sua operação de resgate marítimo, o que provocou um alerta ONU,
que temia um aumento no número de mortes de imigrantes nas águas do
Mediterrâneo.
As travessias passaram a ser
patrulhadas por uma operação de segurança limitada da UE.
A esperança na Europa era de
que essa redução desanimasse imigrantes a tentar a travessia. Mas entre estes,
muitos dizem que o risco vale a pena, diante da vida ruim nos países de onde
vêm e a piora da situação na Líbia.
Centenas de pessoas que tentam atravessar são resgatadas por equipes no Mediterrâneo
Centenas de pessoas que
tentam atravessar são resgatadas por equipes no Mediterrâneo
É o caso de Mohamed, que
está no porto de Misrata e diz que tenta ir para a Itália há dois anos.
"Esta é a quarta vez
que tento atravessar. Nas outras três vezes, eles me trouxeram de volta. Eu
saio da prisão, trabalho todo dia, pego meu dinheiro para ir de novo",
diz.
"Para mim, este é o meu
destino. Eu tenho que fazer isso. É a minha chance. Porque podemos dizer: a
Europa é melhor que a África."
"É um jogo. É perigoso,
mas você acredita que é uma jornada de um dia. Se você passa dois ou três anos
aqui, em um dia você está na Itália. Você acredita nisso".
A agência de refugiados da
ONU (Acnur) pediu que a UE amplie seu sistema de resgate, e disse que não está
sendo feito o suficiente para salvar as vidas de um número crescente de
refugiados que tentam chegar à Europa.
Centro em Misrata está lotado de imigrantes: número dobrou em apenas uma semana
Mensagens rabiscadas nas
paredes de centro para imigrantes revelam desejos de liberdade e um futuro
melhor
Federico Fossi, porta-voz da
agência, disse à BBC não haver indícios de que o número de imigrantes que fazem
a travessia deva diminuir no curto prazo.
"Há pessoas que estão
fugindo de guerras e perseguição, como na Síria, e ditaduras, como na
Eritreia", disse
"As pessoas continuarão
atravessando e a Acnur pediu repetidamente à União Europeia que crie um
mecanismo de busca e resgate forte para salvar vidas".
'Vivo em busca da liberdade'
Num centro de detenção de
migrantes em Misrata, há cerca de mil pessoas - o dobro do que havia uma semana
atrás.
Muitos vieram da Eritreia,
de onde escaparam de uma ditadura, ou da Somália, onde fugiram da guerra.
Alguns estão aqui há sete meses.
Imigrantes em centro dizem que um único banheiro é dividido entre 500 pessoas
Muitos imigrantes dizem que,
apesar de perigosa, travessia ainda é melhor opção
Eles dizem não ter o
suficiente para comer ou vestir e reclamam das condições do prédio: estão
amontoados em grandes salas e um único banheiro é usado por 500 pessoas.
O governo líbio diz fazer o
possível para atendê-los.
As mensagens rabiscadas nas
paredes contam sobre a busca por um futuro melhor. "Vivo minha vida em
busca de liberdade", diz uma. "Vivo minha vida para ir para a
Itália", diz outra.
Ali Walujam é de Gâmbia e pagou
o equivalente a R$ 2,2 mil para a viagem.
"Pagamos por um grande
barco. Mas quando chegamos aqui, encontramos este barco (menor). E eles nos
forçam a entrar com uma arma. Se você não entrar, eles atiram".
Ele reclama das condições na
Líbia e diz que sair para trabalhar é "arriscar sua vida" todos os
dias.
Esta foi sua segunda
tentativa de atravessar para a Itália. Diz que foi a última. "Cansei.
Quero ir para casa, para a minha mãe".
BBCBRASIL
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