sábado, 4 de abril de 2015

Empresa de ônibus dá desconto de até 20% para imigrantes saírem do AC


Devido à grande demanda de imigrantes que procuram a rodoviária de Rio Branco, uma empresa de ônibus dá até 20% de desconto no valor das passagens. De acordo com o sub-encarregado da agência de transporte, Elço Pinheiro da Silva, a empresa resolveu oferecer os descontos para facilitar a saída dos estrangeiros do Acre para outros estados brasileiros. Ao menos 70 imigrantes deixam o estado todos os dias por meio da empresa. O abrigo para imigrantes na capital enfrenta superlotação, nesta quinta-feira (2), 957 pessoas estavam no local, que tem capacidade física para 240.

Um dos motivos para a superlotação do abrigo é que a empresa contratada, em abril de 2014, para realizar o transporte dos imigrantes até São Paulo suspendeu o serviço devido uma dívida que supera R$ 3 milhões. Com isso, os estrangeiros estão tendo que deixar a cidade por conta própria.

"Os imigrantes estão viajando com recurso próprio e por conta disso a maioria deles não têm o valor certo para comprar as passagens de ônibus para seguir viagem. Então, a empresa tem dado descontos de até 20%, levando em consideração cada caso. Eles chegam, perguntam o valor da passagem e dizem quanto que têm em dinheiro, então fazemos a negociação", explica o sub-encarregado da agência.

O haitiano Marcelo Noel, de 31 anos, disse que está viajando por conta própria, pois o ônibus responsável pelo transporte deles até o sul do país não está realizando as viagens. Segundo ele, resolveu pagar a passagem porque tem pressa em chegar em São Paulo e começar a trabalhar para trazer a esposa e o casal de filhos, um de 7 e outro de 5 anos.
"Estou com pouco dinheiro, vim para o Brasil em busca de emprego na área da construção civil. Vim para a rodoviária e vou pagar minha passagem para São Paulo. Consegui um bom desconto e isso ajudou bastante. Quero começar a trabalhar logo para poder trazer minha família para o Brasil", conta Noel.

Quando o valor máximo do desconto ainda não é suficiente para pagar o trecho que o imigrante deseja, Elço explica que a empresa tenta adaptar e oferece um trecho mais barato e que o estrangeiro consiga chegar mais perto possível do seu destino final.
Mais de mil imigrantes estão hospedados em abrigo, que só tem capacidade para 150 pessoas. 

Mais de 900 imigrantes estão hospedados em abrigo, que só tem capacidade para 150 pessoas. (Foto: Veriana Ribeiro/G1)

"O objetivo da empresa é que esses imigrantes não fiquem parados, porque a maioria dos que chegam em Rio Branco, querem seguir viagem para outros estados do Brasil. Então, resolvemos facilitar a saída deles daqui para que eles cheguem em outros estados e consigam seus empregos como desejam", diz Elço.

A empresa teve ainda que disponibilizar ônibus extras para atender à demanda que tem crescido nos últimos dias. "Por dia, a empresa trabalha com três ônibus saindo todas as noites, e em dias alternados, três ônibus durante o dia. Mas, para atender a demanda, tivemos que aumentar para seis ônibus, de acordo com a procura", afirma o sub-encarregado da agência.

Segundo Elço, a maioria dos passageiros são imigrantes. Os ônibus têm capacidade para 44 passageiros e desses, ao menos 30 são estrangeiros. Nesta quarta-feira (1), um ônibus foi fechado somente com haitianos seguindo para São Paulo.

Rota de imigração

Imigrantes chegam ao Acre todos os dias através da fronteira do Peru com a cidade de Assis Brasil, distante 342 km da capital. A maioria são imigrantes haitianos que deixaram a terra natal, desde 2010, quando um forte terremoto deixou mais de 300 mil mortos e devastou parte do país. De acordo com o governo do estado, desde 2010, mais de 32 mil imigrantes entraram no Brasil pelo Acre.

Eles vêm ao Brasil em busca de uma vida melhor e de poder ajudar familiares que ficaram para trás. Para chegar até o Acre, eles saem, em sua maioria, da capital haitiana, Porto Príncipe, e vão de ônibus até Santo Domingo, capital da República Dominicana, que fica na mesma ilha. Lá, compram uma passagem de avião e vão até o Panamá. Da cidade do Panamá, seguem de avião ou de ônibus para Quito, no Equador.

Por terra, vão até a cidade fronteiriça peruana de Tumbes e passam por Piura, Lima, Cusco e Puerto Maldonado até chegar a Iñapari, cidade que faz fronteira com Assis Brasil (AC), por onde passam até chegar a Brasiléia.

G1

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