Pe.
Alfredo J. Gonçalves, cs
O socorro chega, mas em geral chega tarde demais. O
governo italiano, junto com a Guarda Costeira, faz o esforço de resgatar os
fugitivos da pobreza e da violência. Falta, porém, o apoio efetivo dos outros países
da União Europeia. Enquanto os debates prosseguem no parlamento de Bruxelas, as
embarcações continuam enfrentando as águas do Mediterrâneo, tentando alcançar
as margens da Ilha de Lampedusa. Frágeis e improvisadas, nem todas conseguem
superar a travessia. Às dezenas e centenas, os refugiados e prófugos são
atirados ao mar, sendo engolidos pelas ondas bravias. Acumulam-se os mortos
anônimos nesse estranho cemitério de migrantes.
E a pergunta mil vezes repetida, sempre incomoda e indigesta,
levanta novamente o clamor já conhecido e notório: até quando esse massacre
silencioso e silenciado? Até quando a guerra e a miséria seguirão desenraizando
e expulsando os filhos e filhas de suas terras de origem? Até quando a
comunidade internacional, especialmente a ONU e a ACNUR, limitar-se-á a
discursos diplomáticos e promessas imcumpridas? E a sociedade civil, em suas
mais diversas organizações, até quando assistirá de braços cruzados? Nas
palavras do Papa Francisco, prevalece a “globalização da indiferença”.
Na medida em que a “primavera árabe” se converte num
verão calcinante e desértico, na África subsaariana, ou no verão de fogo dos
países conflagrados por conflitos armados do mesmo continente africano e do
Oriente Médio (Síria, Iraque, Nigéria, Somália, Tunísia, etc.), continuará o processo
de migração em massa em direção à Europa. Com isso, regiões em situação de
risco e vulnerabilidade, histórica e estruturalmente, acabam golpeadas tanto por
condições adversas de existência quanto por fanatismos religiosos e ideológicos
totalitários e inconsequentes. Disso resulta o medo e a fome, o desespero e a
fuga.
Além do mar Mediterrâneo, idêntico SOS dissemina-se hoje
por todo o globo terrestre. No mundo inteiro, cresce o volume de pessoas e
famílias que se deslocam de um lado para outro. Diferentemente das migrações
históricas, entretanto, aqui não se tratam de movimentos migratórios com origem
e destino mais ou menos determinados. Não se trata de arrancar a planta da própria
terra natal e, de maneira definitiva, fixar-lhe as raízes num outro lugar. Mais
do que uma transplantação, o vaivém dos migrantes atualmente tornou-se mais
complexo e caótico, chegando ao ponto de não mais se saber o ponto de partida e
de chegada de muitos fluxos de migrantes. As pessoas tendem a migrar e
remigrar, continuando a buscar a sorte num solo que possa ser chamado de pátria.
Por outro lado, devido ao aumento da violência em suas
distintas formas, cresce em proporção bem mais grave o número de refugiados, prófugos
e “desplazados”. Conflitos intestinos ou guerras civis estão por trás de não
poucos deslocamentos compulsórios. Neste caso, nos defrontamos com o tipo de
migração mais dramática, pois os envolvidos em tais movimentos, sob pena de
perseguição e morte, “não podem voltar atrás”. A vida e o sonho de futuro estão
na frente e é preciso caminhar.
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