A Secretaria de Assuntos Estratégicos (SAE) estima,
com base em um levantamento feito por uma comissão de especialistas e pesquisas
com empresas e o público em geral, que é necessário trazer cerca de 6 milhões
de profissionais estrangeiros qualificados para suprir a demanda nacional.
Entre os países com
menor número de estrangeiros per capita, o Brasil apresenta hoje, segundo o
ministro-chefe interino da SAE, Marcelo Neri, um “fechamento ao fluxo de
pessoas”: os estrangeiros representam apenas 0,2% da população, porém, com os
seis milhões previstos, o percentual subiria para 3%.
Trata-se de trazer mão
de obra qualificada, sobretudo para as áreas da construção, engenharia e saúde,
sugere Neri – isto é, entre os seis milhões de novos profissionais, um
contingente de arquitetos, urbanistas e engenheiros civis estrangeiros.
A estratégia é vista
pelo ministro como suplementar à qualificação da mão de obra nacional, que,
segundo associações sindicais, é suficiente em termos numéricos mas
precisa, de fato, ser melhor valorizada e qualificada.
"Apagão de mão de obra"
A expressão é
frequentemente empregada por analistas para se referir a uma suposta escassez
de mão de obra de profissionais altamente qualificados no Brasil. Segundo país
com maior dificuldade para preencher vagas, o Brasil está apenas atrás do Japão
nessa lista, e a falta de candidatos disponíveis e de especialização são
apontadas por empresários como as duas principais razões do problema.
Entretanto,
uma pesquisa de 2011 promovida pelo Instituto de Pesquisa Econômica
Aplicada (Ipea) negou
a existência desse “apagão” no topo da pirâmide profissional. “O verdadeiro
apagão está na base, na mão de obra pouco qualificada, que é onde os salários
estão subindo mais", diz o ministro Marcelo Neri.
Neri
aponta que nos últimos anos algumas áreas começaram a dar sinais de que a
oferta interna de profissionais não seria suficiente para acompanhar o mercado
em crescimento do país. Um levantamento da Brasil Investimentos e Negócios (Brain) -
consultoria que realiza pesquisas sobre a inserção do Brasil no mercado
internacional e colabora com a SAE - afirma que arquitetura, engenharia civil,
engenharia química e medicina são éreas em que o país precisa de mais profissionais
do que os disponíveis.
Segundo o Brain, outro
benefício da importação de profissionais são os empregos criados a partir dessa
estratégia: cada profissional estrangeiro empregado no Brasil poderia gerar
entre 1,3 e 4,6 empregos para brasileiros.
"Temos claramente
obras paradas porque não tem engenheiro civil. Quando se coloca um engenheiro
civil lá, se gera emprego para mestres de obras e outros. Isso é bom para a
economia", afirma Luiz Sacconato, analista da Brain. "É algo
complicado, vai mexer com sindicatos e associações de classe. Mas não queremos
tirar o emprego de ninguém, são empregos complementares."
Divergências
A maior parte dos
profissionais estrangeiros que chegam hoje ao Brasil são qualificados para
trabalhar nas indústrias de extração de petróleo e construção civil – sobretudo
em obras de infraestrutura.
Todavia,
a falta de arquitetos e engenheiros locais para atender a demanda é questionada
por muitos, entre os quais o presidente da Federação Nacional dos Arquitetos, Jeferson Salazar, e
o presidente da Federação Nacional dos Engenheiros, Murilo Pinheiro.
Salazar afirma ainda
que, apesar da demanda, o setor público ainda não absorve a quantidade de
profissionais arquitetos e urbanistas que chegam todos os anos ao mercado de
trabalho – aproximadamente 7 mil e todo o Brasil.
"Nos últimos 25
anos, o número de escolas no Brasil cresceu 6 vezes. A quantidade de jovens
arquitetos com subemprego ou desempregados no país é imensa e o governo não tem
nenhum plano para utilizar esse exército de mão de obra", comentou o
presidente da FNA.
Com um pensamento
semelhante, Pinheiro aponta: "A demanda por profissionais nessas áreas
realmente aumentou, mas não está faltando. Se for preciso trazer um engenheiro
de uma matéria que não existe aqui, (a importação) é de fato interessante, mas
não entendo a necessidade de trazer amplamente engenheiros civis.”
A opinião geral entre os
que questionam a posição da SAE é de que a “importação” de mão de obra
qualificada é interessante, contanto que se justifique de algum modo – como por
exemplo, trazendo contribuições em áreas específicas ainda inexistentes ou
embrionárias no Brasil - , mas a simples necessidade de trazer mão de obra
qualificada estrangeira parece não convencer líderes de entidades de classe,
sindicatos e os próprios profissionais.
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