Após gastar milhões de euros de seu próprio bolso para equipar um barco,
uma família conseguiu salvar cerca de 3 mil vidas de imigrantes que tentavam
chegar à Europa e poderiam ter se afogado no mar.
Durante dois meses, os empresários Christopher Catrambone, sua mulher,
Regina, e a filha, Maria Luisa, ajudaram a transferir imigrantes ilegais para
barcos da Marinha italiana ou navios cargueiros. Alguns também foram abrigados
no barco da família, o Phoenix, e levados para a Itália.
Segundo a ONU, o número de imigrantes cruzando o Mediterrâneo, vindos
principalmente da África, bateu recordes este ano - eram 165 mil no início de
outubro. Pelo menos 2,2 mil pessoas morreram entre julho e setembro, de acordo com
o Comissariado da ONU para Refugiados, Acnur.
A ideia de resgatar os imigrantes em alto mar surgiu há cerca de um ano,
quando o casal fazia um cruzeiro de iate no Mediterrâneo. As férias dos sonhos
foram interrompidas quando eles avistaram um casaco de inverno flutuando na
água e ficaram sabendo que a peça, provavelmente, pertencia a um imigrante que
morrera na tentativa de chegar à Europa.
Viagem pelo Mediterrâneo e discurso do Papa Francisco inspiraram missão
Pouco depois, o casal - que tem um grupo de empresas seguradoras para
pessoas que atuam em áreas de conflitos - viram o papa Francisco pedindo, na
TV, que empresários ajudassem os necessitados.
O casal e a filha decidiram então montar o que, segundo eles, é o
primeiro barco de resgate de imigrantes privado do mundo. A operação foi
batizada de Migrant Offshore Aid Station (MOAS).
"Fiquei chocada com o número de imigrantes que são entulhados em
cada barco. Alguns são jogados no andar de baixo, onde ficam mais suscetíveis a
se afogar ou sufocar. Não dá para entender o quanto essa jornada é horrível até
você testemunhar de perto", diz Christopher.
Ele conta a história de um idoso da Palestina que vendeu tudo que tinha
por US$ 15 mil (cerca de R$ 38,5 mil) para financiar a viagem e de um casal de
sírios que, já no final da vida, teve que deixar sua cidade natal, Aleppo.
Imigrantes recebem água, comida, coletes e assistência médica
É até difícil entender o desespero que leva alguém a colocar sua
família em uma viagem tão perigosa. E, de certa forma, esses são os sortudos.
São os que conseguiram ter dinheiro para financiar a viagem. Muito deles tinham
bons empregos: eram professores, engenheiros, advogados", diz.
Crianças
A família, que vive em Malta, gastou dois milhões de euros (cerca de R$
6,5 milhões) para financiar a missão. O barco tem botes e dois drones de última
geração para ajudar na localização das vítimas.
Combatendo o ceticismo que considera ingenuidade que um casal de civis
se proponha salvar imigrantes tentando chegar ilegalmente à Europa, o diretor
do projeto era, até recentemente, o comandante das Forças Armadas de Malta. Membros
da tripulação têm experiência em operações militares, resgates marítimo e
medicina.
Ao se deparar com barcos de imigrantes em águas internacionais, a equipe
entra em contato com as autoridades mais próximas e comunica a posição do
barco. Enquanto aguardam instruções, usam os botes para se aproximar e fornecer
comida, água, coletes salva-vidas e assistência médica - o Phoenix tem um
paramédico a bordo.
Imigrantes são resgatados pela Marinha Para Regina, o mais marcante nesses dois meses foram as crianças.
"Recebemos uma doação de alguns brinquedos. O sorriso no rosto deles
quando entregamos os brinquedos não tem preço", disse.
"As crianças não sabem o que está acontecendo durante a viagem. É tão
bom ver uma menina de três anos rindo e dançando quando você está cercado por
tantos adultos que estão completamente conscientes do perigo", afirma.
A família espera conseguir mais recursos para realizar outra missão no
ano que vem
BBCBRASIL
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