Um estudo divulgado nesta quarta-feira pela University College London
(UCL) questiona os dois principais argumentos contra a entrada de imigrantes no
Reino Unido: o impacto econômico na economia e uma suposta precarização da
mão-de-obra.
O estudo mostra que a chegada de trabalhadores estrangeiros não apenas
injeta dinheiro na economia britânica, como aumenta o número de profissionais
qualificados no país.
Em termos de impacto econômico, os autores do estudo, Christian Dustmann
e Tommaso Frattini, estimam que a imigração tenha gerado um superávit de quase
23 bilhões de libras (cerca de R$ 92 bilhões) na economia britânica entre os
anos de 2000 e 2011, sustentado pelo pagamento de impostos.
O montante, segundo os pesquisadores da UCL, é maior do que estes
imigrantes recebem da previdência britânica na forma de benefícios. Os imigrantes
da União Europeia injetaram 34% mais do que receberam em benefícios. A
proporção cai para 2% entre os imigrantes de fora do bloco.
A imigração se transformou nos últimos anos em um dos mais polêmicos
assuntos na Grã-Bretanha e surge em pesquisas como um das principais
preocupações do eleitorado britânico. Em especial a entrada dos imigrantes de
países da Europa Oriental.
A chegada destes profissionais é apontada por especialistas políticos
como uma das razões para o crescimento do partido Ukip, de agenda
anti-imigração e que pode ser a grande surpresa das eleições-gerais de 2015 na Grã-Bretanha.
Segundo o estudo, entre 2000 e 2011, a maior contribuição para a
economia britânica veio dos países da União Europeia: 20 bilhões de libras, o
equivalente a R$ 80 bilhões. Destes, cerca de 65% vieram dos membros fundadores
do bloco (França, Itália e Alemanha, por exemplo).
A injeção de caixa da União Europeia foi engrossada ainda em 5 bilhões
de libras (cerca de R$ 20 bilhões) provenientes justamente de "vizinhos do
Leste", como a Polônia e a República Tcheca.
Já as entradas de indivíduos de países fora da UE, como o Brasil,
deixaram quase 3 bilhões de libras (cerca de R$ 12 bilhões) na Grã-Bretanha no
mesmo período.
"Uma preocupação crucial do eleitorado é se os imigrantes pagam
impostos e contribuem para a previdência social. Nossa análise mostra um quadro
geral de uma contribuição fiscal positiva, em especial dos imigrantes vindos de
países da União Europeia", explica Dustmann.
Escolaridade superior
O relatório, O Impacto Fiscal da Imigração na Grã-Bretanha, revela
também que o nível médio de escolaridade dos imigrantes em alguns casos é
superior ao da população britânica. Em 2011, por exemplo, o percentual de
britânicos com diploma universitário era de 21%, ao passo que o de imigrantes
da UE era de 32% e o de trabalhadores de fora do bloco, 38%.
O número de indivíduos com escolaridade incompleta também era maior
entre nativos.
Para o editor de Economia da BBC, Robert Peston, o estudo traz um
contra-argumento interessante para o debate sobre a imigração na Grã-Bretanha.
"Este relatório responde a uma questão fundamental. Os migrantes da
Leste Europeu têm contribuição positiva para o erário público. São pessoas
jovens, com bom nível de escolaridade, e que trabalham duro", afirma.
Mas Dustmann e Frattini também apontam para problemas causados pela
imigração a longo prazo.
O envelhecimento populacional e o crescimento familiar tendem a exigir
maior comprometimento de gastos do governo. Mas os pesquisadores acreditam que
esses fatores possam ser equilibrados pelo retorno de imigrantes aos países de
origem e por sua maturação profissional.
"Um grande número desses imigrantes estão no começo de suas
carreiras e possivelmente subempregados por causa de dificuldades de linguagem.
Ou seja, longe de alcançar seu pleno potencial econômico", escreveram os
acadêmicos.
BBCBRASIL
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