Na mesma linha da nossa proposição para resolver alguns problemas graves
do Japão, ainda que os japoneses sejam os melhores conhecedores do assunto, um
artigo publicado pelo The Japan Times,com base num despacho da
agência AFP, sugere a necessidade de uma rápida mudança do
tratamento que os japoneses continuam dando aos trabalhadores estrangeiros.
Todos reconhecem que a população japonesa está diminuindo e se tornando mais
idosa, necessitando da ajuda de trabalhadores estrangeiros para execução dos
trabalhos considerados mais duros, onde os japoneses não estão mais dispostos a
atuar. São os relacionados aos cuidados dos idosos dependentes, bem como os
relacionados com a manutenção de muitas de suas rodovias, para citar os casos mais
frequentes. O governo de Shinzo Abe vem ampliando o chamado TTIP – Industrial
Trainee and Technical Internship Program, passando de três anos de permanência
no Japão para cinco anos, mas não vem combatendo os abusos que ocorrem, fazendo
com que muitas pessoas sejam exploradas nas tarefas mais duras. Informa-se que
cerca de 50 mil chineses estão neste programa, havendo também outros
estrangeiros.
Todos sabem que no Japão sempre existiram os chamados “empreiteiros de
mão de obra”, que no passado exploravam os próprios japoneses pouco
qualificados. Há um tradicional sistema de subcontratações dos recursos humanos
para trabalhos temporários naquele país, que sempre geraram abusos que não
conseguem ser coibidos, pois algumas das organizações que atuam neste segmento
aproximam-se das chamadas mafiosas, como todos sabem, mas continuam sendo
lamentavelmente toleradas. Em 1985, quando eu era responsável pelo Pavilhão do
Brasil na EXPO TSUKUBA 85, pensava que estava pagando condignamente aos
funcionários japoneses que permitiam a sua operação. Vim a saber que, mesmo
utilizando uma grande empresa japonesa de primeira linha, eles haviam
subcontratado os serviços e os trabalhadores japoneses recebiam uma pequena
parcela do que estávamos pagando.
O Japão tem mais de um milhão de helpers mas necessita da ajuda de estrangeiros para cuidar dos seus idosos
Apesar das boas intenções deste programa TTIP, que visaria que
estrangeiros se acostumassem ao idioma local bem como aprendessem algumas
habilidades profissionais, o fato concreto é que tem sido usado para
suplementar o fornecimento de recursos humanos de baixa qualificação. A ponto
de existir uma organização chamada Rede de Solidariedade com Migrantes no
Japão, um grupo não governamental para apoiar estes estrangeiros. Alguns
japoneses chegam a admitir que existe uma espécie de trabalho escravo de
estrangeiros, muitos que contraíram empréstimos para ir ao Japão.
Alguns países como os Estados Unidos, sob iniciativa do presidente
Barack Obama, procuram legalizar a presença de trabalhadores estrangeiros,
dentro de determinadas condições, ainda que recebam restrições dos republicanos
que alegam que o executivo estaria tomando estas medidas sem consultar a
maioria parlamentar.
Os principais imigrantes no Japão são oriundos da China, do Vietnã e da
Indonésia, admitindo-se também vistos temporários para descendentes de
japoneses até a terceira geração, que se cogita estender para outras. Diante
dos problemas que estão sendo enfrentados pelo Japão, seria recomendável, para
maior agressividade nestas políticas, aumentar a população e o seu
rejuvenescimento. Isto ajudaria a ampliar a demanda local, pois os jovens
sempre estão entre os que estão aumentando suas demandas de variados produtos,
notadamente quando estão melhorando o seu padrão de vida.
Algumas autoridades alegam que não conseguem controlar os comportamentos
dos intermediários, pois temem o seu poder, inclusive junto aos parlamentares.
Os japoneses precisam enfrentar estas dificuldades, para sanar problemas mais
graves de seu país.
Alguns japoneses entendem que estes estrangeiros necessitam se sentirem
bem acolhidos ao Japão, o que parece ainda muito longe da realidade. Portanto,
estes pontos de vista não são somente de observadores do exterior, mas também
de alguns segmentos do Japão que precisam ser apoiados para acelerar as
mudanças nas bases fundamentais daquele país.
Paulo Yokota
Nenhum comentário:
Postar um comentário