domingo, 8 de agosto de 2010

Um dos maiores desafios da Europa é integrar os imigrantes

Maomé. Esse já é o nome mais registrado em crianças nascidas em 2009
na cidade de Bruxelas, a capital da Europa. Em Antuérpia, os cartórios
registraram no ano passado mais crianças com o nome Maomé que Adam. Em
Londres, o nome do profeta já é o terceiro mais registrado entre os
recém-nascidos. O fenômeno da explosão de famílias muçulmanas,
sul-americanas, asiáticas e africanas na Europa está obrigando
governos da região a enfrentar um dos maiores desafios sociais das
últimas décadas: garantir a integração desses imigrantes

Ao mesmo tempo, projeções econômicas apontam que, sem os estrangeiros,
a população europeia sofrerá uma contração até 2050 e o crescimento
econômico estará comprometido por falta de mão de obra. Em 60 anos, a
Europa passou de uma região de emigração para o local mais cobiçado
por imigrantes de todo o mundo. Por ano, são 500 mil estrangeiros
irregulares que conseguem entrar no bloco. Os imigrantes já são
responsáveis por 12% do Produto Interno Bruto (PIB) europeu. Entre os
que trabalham sem vistos, a estimativa é de que sejam 8 milhões de
estrangeiros.

Hoje, os muçulmanos já são 15 milhões vivendo na Europa. Apesar de o
número representar apenas 3% da população local, nunca a taxa foi tão
alta desde que os mouros deixaram a península ibérica há alguns
séculos. O Leste Europeu sofreu, nos últimos anos, uma verdadeira
drenagem da população para as capitais dos países da Europa Ocidental.
Dois milhões de romenos deixaram o país desde sua adesão à União
Europeia (UE), em 2007. Teodora Petri, uma romena que trabalha em
Barcelona, é uma das que acreditam que tomou o caminho certo ao deixar
Bucareste. Na Polônia, o cálculo aponta que outros 2 milhões de
cidadãos foram tentar a sorte no Ocidente, principalmente na
Inglaterra.

A situação ficou ainda mais crítica em 2009. Quando achavam que o muro
havia sido derrubado e que agora poderiam desfrutar a liberdade de
trabalhar nos demais países do continente, a crise econômica caiu como
um banho de água fria. Muitos, agora, começam o caminho de volta. Na
Espanha, a taxa de desemprego entre os imigrantes já supera a marca de
35%, contra 16% para os espanhóis. No Reino Unido, dados oficiais
mostram que em 2008, por conta da recessão, o recuo de imigrantes
vindos do Leste Europeu foi de 44% no ano passado. Já a saída de
estrangeiros do país aumentou em 50%, chegando a 66 mil.

A realidade é que, mesmo com a saída de muitos, a expansão da
imigração foi acompanhada nos últimos anos por uma crise sem
precedentes, desemprego e recessão. A reação de governos e partidos de
direita foi a de aumentar as iniciativas para limitar a entrada de
estrangeiros. Alemanha e Reino Unido passaram a exigir um teste
escrito para selecionar quem receberia vistos. Na Espanha, o governo
paga para aqueles que queiram abandonar a Europa de vez. A tensão
ainda ganhou uma conotação religiosa. O uso da burca começa a ser
banido em vários países, assim como a construção de minaretes, a
proibição de tribunais islâmicos ou projetos de novas mesquitas.

De outro lado, partidos de extrema-direita na Europa tentam ganhar
espaço e votos de uma população fragilizada diante da pior crise
econômica em 70 anos, usando exatamente a ameaça islâmica como
plataforma de campanha eleitoral. “O pior que pode acontecer agora é
que o tema de imigração se transforme em um tema populista”, afirmou o
ex-presidente de Portugal e alto comissário de Refugiados da ONU,
Antonio Guterres. Seu alerta é de que de nada servirá limitar a
entrada dos estrangeiros. “A Europa precisará da população estrangeira
para continuar a crescer. A taxa de natalidade local não será
suficiente nem mesmo para financiar as aposentadorias”, disse
Guterres.
Estudos da ONU mostram que, até 2050, a população europeia passará de
731 milhões de pessoas para 664 milhões se a imigração for barrada.

Fonte: Cruzeiro do Sul

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