A decisão do governo
brasileiro em facilitar a entrada de haitianos no país por via terrestre vem
surtindo efeito. Dados do Ministério da Justiça revelam que os estrangeiros
estão preferindo viajar legalmente ao Brasil, por via aérea, em vez de se
sujeitar à exploração dos "coiotes" peruanos. Aos traficantes,
eles pagavam até US3,5 mil para chegar até o Acre. De lá, os imigrantes se
deslocam para o Sul e Sudeste em busca de trabalho. Porém, mesmo com a
diminuição da entrada pelas estradas, o número de imigrantes no abrigo em Rio
Branco, é ainda alto. Com capacidade para até 200 pessoas, o alojamento
abrigava 127 haitianos.
Os últimos dados mostravam que o número de haitianos no país já
passa de 45,6 mil. Ao contrário dos outros estrangeiros que entram no Brasil,
eles são considerados refugiados por razões humanitárias. A decisão foi tomada
em uma resolução do Conare (Conselho Nacional de Refugiados), depois que vários
haitianos estavam viajando ao país, após o terremoto que destruiu parte da
nação caribenha.
Rota
Os haitianos entram pelo
Acre quando viajam por meio terrestre. Eles deixam seu país, se deslocam até a
República Dominicana e depois Equador. De Quito, eles atravessam parte do Peru
pela Rodovia Transoceânica até Assis Brasil, já em território brasileiro. Nos
primeiros meses, a Polícia Federal impedia a entrada dos estrangeiros, que
ficavam em Iñapari, uma pequena cidade, no Peru. Mas por questões humanitárias,
o acesso foi concedido.
No início da imigração, os estrangeiros ficavam em um antigo
clube em Epitaciolândia, na divisa do Acre com a Bolívia, esperando a
legalização de seus documentos pela PF. Depois, eles eram transferidos para Rio
Branco, onde se alojavam em uma antiga chácara alugada pelo governo estadual.
Mesmo com uma capacidade para abrigar até 200 pessoas, no local já ficaram até
mais de 300 imigrantes, entre haitianos e imigrantes de outros países da
África.
As instalações eram insalubres,
como mostrou uma série de reportagem do Fato
Online, no mês de junho. Alguns imigrantes seguiam por conta própria para
outras regiões do país, enquanto durou um impasse entre os governos federal e
dos estados de São Paulo e Acre. Depois de muita discussão, ficou decidido que
a União iria repassar recursos para as regiões que receberem os haitianos,
garantindo-lhes emprego.
Um dos maiores problemas
enfrentados pelos imigrantes foi a exploração dos coiotes, que cobram até US$
3,5 mil para atravessá-los até o Brasil. Para evitar que isso acontecesse, o
ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esteve na Bolívia, Peru e Equador,
nações usadas como rotas para que os estrangeiros chegassem ao Acre. Além
disso, a embaixada brasileira em Porto Príncipe passou a emitir mais vistos,
fazendo com que os imigrantes entrassem no país de forma clandestina e pelas
mãos de traficantes de seres humanos.
Isso fez com que, pela primeira vez, os números revertessem.
“Come este gesto humanitário, de liberação do visto, hoje o fluxo de entrada de
haitiano no Brasil é maior por via aérea do que pelas estradas”, comemora o
secretário nacional de Justiça, Beto Vasconcelos, um dos responsáveis pelas
negociações em torno dos estrangeiros. Hoje, segundo ele, pelo menos 45 mil
haitianos entraram no pais. Ele explica que, embora a quantidade tenha
aumentado, é um número pequeno em relação a outras nações, onde o número de
imigrantes provenientes Caribe chega a dois milhões de pessoas.
Apesar do alerta dado em Porto Príncipe pela embaixada
brasileira e autoridades haitianas, o fluxo pelas estradas não acabou. Segundo
funcionários do governo do Acre, o número de haitianos que atravessam a
fronteira caiu mais da metade, mas todos os dias ainda chegam estrangeiros. “No
abrigo temos 127 pessoas, que chegaram na última semana”, conta o coordenador
do alojamento, em Rio Branco, Lucinei Peres Cardoso. Ele conta que diariamente,
novos grupos de cinco a 10 imigrantes chegam a Rio Branco. Não só mais
haitianos, mas de outros países da África e até de Cuba.
Fato Online
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