segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Mudança na imigração facilita entrada de haitianos no Brasil e afasta "coiotes"

A decisão do governo brasileiro em facilitar a entrada de haitianos no país por via terrestre vem surtindo efeito. Dados do Ministério da Justiça revelam que os estrangeiros estão preferindo viajar legalmente ao Brasil, por via aérea, em vez de se sujeitar à exploração dos "coiotes" peruanos. Aos traficantes, eles pagavam até US3,5 mil para chegar até o Acre. De lá, os imigrantes se deslocam para o Sul e Sudeste em busca de trabalho. Porém, mesmo com a diminuição da entrada pelas estradas, o número de imigrantes no abrigo em Rio Branco, é ainda alto. Com capacidade para até 200 pessoas, o alojamento abrigava 127 haitianos.
Os últimos dados mostravam que o número de haitianos no país já passa de 45,6 mil. Ao contrário dos outros estrangeiros que entram no Brasil, eles são considerados refugiados por razões humanitárias. A decisão foi tomada em uma resolução do Conare (Conselho Nacional de Refugiados), depois que vários haitianos estavam viajando ao país, após o terremoto que destruiu parte da nação caribenha.

Rota

Os haitianos entram pelo Acre quando viajam por meio terrestre. Eles deixam seu país, se deslocam até a República Dominicana e depois Equador. De Quito, eles atravessam parte do Peru pela Rodovia Transoceânica até Assis Brasil, já em território brasileiro. Nos primeiros meses, a Polícia Federal impedia a entrada dos estrangeiros, que ficavam em Iñapari, uma pequena cidade, no Peru. Mas por questões humanitárias, o acesso foi concedido.  
No início da imigração, os estrangeiros ficavam em um antigo clube em Epitaciolândia, na divisa do Acre com a Bolívia, esperando a legalização de seus documentos pela PF. Depois, eles eram transferidos para Rio Branco, onde se alojavam em uma antiga chácara alugada pelo governo estadual. Mesmo com uma capacidade para abrigar até 200 pessoas, no local já ficaram até mais de 300 imigrantes, entre haitianos e imigrantes de outros países da África.
As instalações eram insalubres, como mostrou uma série de reportagem do Fato Online, no mês de junho. Alguns imigrantes seguiam por conta própria para outras regiões do país, enquanto durou um impasse entre os governos federal e dos estados de São Paulo e Acre. Depois de muita discussão, ficou decidido que a União iria repassar recursos para as regiões que receberem os haitianos, garantindo-lhes emprego.
Um dos maiores problemas enfrentados pelos imigrantes foi a exploração dos coiotes, que cobram até US$ 3,5 mil para atravessá-los até o Brasil. Para evitar que isso acontecesse, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, esteve na Bolívia, Peru e Equador, nações usadas como rotas para que os estrangeiros chegassem ao Acre. Além disso, a embaixada brasileira em Porto Príncipe passou a emitir mais vistos, fazendo com que os imigrantes entrassem no país de forma clandestina e pelas mãos de traficantes de seres humanos.
Isso fez com que, pela primeira vez, os números revertessem. “Come este gesto humanitário, de liberação do visto, hoje o fluxo de entrada de haitiano no Brasil é maior por via aérea do que pelas estradas”, comemora o secretário nacional de Justiça, Beto Vasconcelos, um dos responsáveis pelas negociações em torno dos estrangeiros. Hoje, segundo ele, pelo menos 45 mil haitianos entraram no pais. Ele explica que, embora a quantidade tenha aumentado, é um número pequeno em relação a outras nações, onde o número de imigrantes provenientes Caribe chega a dois milhões de pessoas.  
Apesar do alerta dado em Porto Príncipe pela embaixada brasileira e autoridades haitianas, o fluxo pelas estradas não acabou. Segundo funcionários do governo do Acre, o número de haitianos que atravessam a fronteira caiu mais da metade, mas todos os dias ainda chegam estrangeiros. “No abrigo temos 127 pessoas, que chegaram na última semana”, conta o coordenador do alojamento, em Rio Branco, Lucinei Peres Cardoso. Ele conta que diariamente, novos grupos de cinco a 10 imigrantes chegam a Rio Branco. Não só mais haitianos, mas de outros países da África e até de Cuba.
 Fato Online

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