Especialistas sugeriram nesta quarta-feira (28) que a proposta
de nova Lei de Migração (PL 2516/15) inclua garantias para refugiados. O tema foi debatido
em audiência pública na comissão especial da Câmara dos Deputados que analisa o
projeto.
Para
o chefe da unidade legal do Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados
no Brasil, Gabriel Godoy, o enfoque da proposta é a garantia de direitos, o que
representa uma evolução à lei atual (Estatuto do Estrangeiro), que criminaliza
os imigrantes.
Godoy
sugeriu aprimoramentos no texto para refugiados e apátridas, aqueles que não
são considerados nacionais de nenhum país.
"Sugerimos
que o Comitê Nacional para Refugiados seja o órgão da administração brasileira
a fazer essa atividade de proteção e garanta que essa população tenha acesso
facilitado à naturalização”, disse o representante da ONU.
“Já
não se fala mais de criminalização da circulação indocumentada ou irregular,
até porque, no caso dos refugiados, o ingresso indocumentado ou com documento
falso é a única maneira de se deixar uma zona de conflito. É o que estamos
vendo com muitos refugiados sírios que têm buscado o Brasil para reconstruir
suas vidas", declarou.
Perspectiva solidária
O procurador federal dos direitos do cidadão Aurélio Rios considerou a proposta adequada a tratados internacionais assinados pelo Brasil. De acordo com Rios, a crise migratória mundial mostra que o País deve adotar uma perspectiva mais solidária em sua política.
O procurador federal dos direitos do cidadão Aurélio Rios considerou a proposta adequada a tratados internacionais assinados pelo Brasil. De acordo com Rios, a crise migratória mundial mostra que o País deve adotar uma perspectiva mais solidária em sua política.
Ele
também criticou os artigos que restringem direitos dos imigrantes, afirmando
que ferem o princípio da não discriminação. "Não se pode fazer
diferenciação entre os que já estão documentados e os que estão em processo de
legalização", disse.
Rios
sugeriu que os dispositivos relacionados à extradição sejam retirados do
projeto. "A nossa ideia sempre foi a de descriminalizar a migração. Não dá
para misturar as coisas, não devemos trazer esses aspectos para esse
projeto", alegou.
Direitos trabalhistas
O defensor público de São Paulo Daniel Chiaretti, integrante do serviço de atendimento ao imigrante, também sugeriu a exclusão de artigos que restringem o acesso à Justiça e a direitos trabalhistas dos imigrantes ainda não regularizados.
O defensor público de São Paulo Daniel Chiaretti, integrante do serviço de atendimento ao imigrante, também sugeriu a exclusão de artigos que restringem o acesso à Justiça e a direitos trabalhistas dos imigrantes ainda não regularizados.
"A
classificação de imigrantes indocumentados como ilegais, retirando deles uma
série de direitos, funda-se na ideia do estrangeiro como inimigo, como alguém
que está colocando em risco valores fundamentais do Estado. Mas, em geral,
esses temores são infundados. A ideia de que estrangeiros cometem crimes no
Brasil ou que vêm aqui roubar empregos são todas questões que empiricamente têm
sido afastadas ", disse Chiaretti.
O
representante do Ministério da Justiça na audiência, João Granja, ressaltou a
importância de conhecer os migrantes que chegam ao País. "Para que tenham
acesso às políticas públicas, é essencial que estejam documentados",
lembrou.
Ele
sugeriu a inclusão de salvaguardas na lei para os brasileiros que optarem por
mudar de nacionalidade. "Devemos evitar o risco de criar apátridas e ter a
segurança de que esses brasileiros vão obter cidadania regularmente",
destacou.
A
presidente da comissão especial que analisa o projeto, deputada Bruna Furlan
(PSDB-SP), quer votar a proposta no colegiado até o final do ano. O projeto já
foi aprovado pelo Senado e, depois de passar pela comissão, seguirá para o
Plenário da Câmara.
Agencia Camara
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