O anúncio pela Áustria
nesta quarta-feira de que construirá uma cerca ao longo da fronteira com a
Eslovênia, que também integra a União Europeia (UE), para controlar o fluxo de
migrantes, representa uma nova ameaça ao tratado de livre circulação de
Schengen.
A
ministra do Interior austríaca, Johanna Mikl-Leitner, não forneceu detalhes
sobre como seria esta cerca, a primeira entre dois países do espaço Schengen,
mas negou que seja um muro anti-imigrantes.
"Isto
é sobre garantir uma entrada ordenada e controla em nosso país, e não sobre
fechar a fronteira", declarou ao canal de televisão Oe1.
"Nas
últimas semanas vários grupos de imigrantes se mostraram impacientes,
agressivos e emotivos. Temos que tomar precauções", completou.
"Uma
cerca também tem uma porta", acrescentou a ministra, respondendo assim às
críticas de seus parceiros europeus, dois dias após uma cúpula europeia para
tentar evitar que os Estados adotem medidas unilaterais nesta crise.
A
decisão austríaca poderia desencadear, como teme a UE, decisões semelhantes por
outros países por onde transitam os refugiados provenientes da Turquia e da
Grécia, que querem alcançar países europeus, principalmente a Alemanha.
O
primeiro-ministro esloveno, Milo Cerar, lembrou que seu país estava pronto para
uma decisão deste tipo e que seu governo "está preparado para construir
uma barreira" ao longo de sua fronteira com a Croácia, se necessário.
"Isto
mostra que a política europeia em questão de imigração e acolhida de refugiados
não funciona (...), o que coloca em jogo os princípios de Schengen",
comentou à AFP Olivier Clochard, pesquisador do CNRS e presidente da rede
Migreurop, sobre o anúncio de Viena.
Na
terça-feira, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, alertou que a crise
migratória poderia causar "um terremoto no panorama político
europeu", porque ameaça o princípio da livre circulação.
O
regulamento de Dublin, texto base da política de asilo europeia, que confia a
análise dos pedidos de asilo ao país de chegada dos refugiados, também passou a
ser questionado: "não funciona (...) deve ser mudado", declarou
presidente da Comissão Europeia, Jean-Claude Juncker.
A
decisão de construir a cerca já teve um impacto sobre as relações
tradicionalmente amistosas entre a Áustria e a Alemanha, e o líder conservador
da Baviera, Horst Seehofer, acusou seus vizinhos de desviar milhares de
refugiados para o seu país, sem aviso prévio.
Por
sua vez, o ministro do Interior alemão, Thomas de Maizière, denunciou um
comportamento "incorreto" do governo de Viena, enquanto o porta-voz
do governo de Berlim disse que construir "cercas ou muros" não é a
solução.
"Não
acreditamos que o problema atual dos refugiados, a crise dos refugiados que
afeta a todos na Europa, possa ser resolvido com a construção de barreiras ou
muros", afirmou Steffen Seibert.
Convite
da Alemanha
De
acordo com a ministra do Interior austríaca, "a realidade é que as pessoas
querem ir para a Alemanha, porque se sentem convidados", em uma alusão à
política de acolhimento dos refugiados da chanceler Angela Merkel, cada vez
mais criticada dentro de seu próprio país pelos conservadores.
Apesar
de sua política aparentemente favorável aos imigrantes, o governo de Berlim
anunciou novas medidas para expulsar os migrantes econômicos, particularmente
aqueles nos Bálcãs.
Por
sua parte, o ministro Maizière chamou nesta quarta-feira de
"inaceitável" o grande número de jovens afegãos que procuram asilo na
Alemanha, pedindo para que voltem a seu país para reconstruí-lo.
A
Alemanha prevê acolher este ano entre 800.000 e um milhão de requerentes de
asilo. Sírios, albaneses e afegãos lideram a lista de solicitações.
Até
agora este ano, cerca de 700 mil imigrantes e refugiados chegaram à Europa pelo
Mediterrâneo, um número que pode aumentar pela situação de conflito na Síria.
O
plano adotado na cúpula de domingo prevê criar 100.000 vagas para acolhimento
na Grécia e nos Bálcãs e melhorar a coordenação entre os países da "Rota
dos Bálcãs".
Sérvia,
Croácia e Eslovênia já começaram a colaborar e desde terça-feira trens
funcionam trens que levam os imigrantes de um país para outro.
Desde
que a Hungria decidiu fechar suas fronteiras, a rota de migrantes vindos da
Sérvia e da Croácia foi desviada para a Eslovênia, um país pequeno por onde
circularam cerca de 90.000 pessoas desde 17 de outubro.
Enquanto
a Europa tenta deter o fluxo de migrantes, ao menos cinco pessoas, incluindo
três crianças, morreram em quatro naufrágios ao largo da costa grega.
AFP
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