Para dez refugiados congoleses
que vivem no Rio de Janeiro, o passado, o presente e, agora, o futuro estão
tingidos de vermelho e preto. Admiradores do clube de futebol Flamengo desde
que viviam em seus países, eles tornaram-se torcedores da equipe no Brasil e,
graças a essa paixão, foram contratados para trabalhar em dez das 56 lojas
oficiais do clube espalhadas pelo país.
Essa história não poderia ter
melhor ponto de partida do que o Estádio do Maracanã. Tudo começou em agosto,
durante o lançamento do projeto "Futebol das Nações", projeto
desenvolvido no templo do futebol brasileiro pela Cáritas Arquidiocesana do Rio
de Janeiro e pelo Complexo Maracanã, em parceria com o ACNUR. Na ocasião, o
presidente do consórcio que administra o estádio, Sinval Andrade, convidou
cerca de 30 refugiados para assistir de camarote ao jogo entre Flamengo e
Vasco, que seria disputado no dia seguinte.
Por meio de uma iniciativa
espontânea, alguns deles, que já conheciam e acompanhavam o time Rubro-Negro na
República Democrática do Congo, decidiram organizar uma torcida para apoiar o
time. Assim nasceu a Fla-Refugiados, cujo sucesso foi imediato.
Um mês depois, em outra partida
entre Flamengo e Vasco, novamente no Maracanã, a Fla-Refugiados foi reconhecida
oficialmente pelo clube. Representantes da torcida receberam um diploma e uma
camisa personalizada das mãos do presidente do Flamengo, Eduardo Bandeira de
Mello.
A acolhida parecia completa,
mas um novo gesto a tornaria ainda mais especial. Ao tomar conhecimento da
Fla-Refugiados, o diretor da empresa que administra as lojas oficiais do
Flamengo, Marcelo Plaisant, entendeu que também poderia contribuir. "Por
meio do clube, conheci um pouco das histórias dos refugiados e, então,
começamos a conversar com alguns franqueadores. Esta é uma época de contratação
de vendedores. Já estávamos admitindo brasileiros e resolvemos abrir mais cinco
vagas para os refugiados", explicou.
Após ser informada das
oportunidades de emprego, a Cáritas RJ encaminhou dez refugiados para o
processo seletivo. O que aconteceu em seguida foi surpreendente. "Todos
falavam português, estavam muito entusiasmados e eram extremamente
profissionais, além de terem histórias de vida impressionantes", contou
Marcelo Plaisant. "Era difícil selecionar só cinco. Decidimos contratar os
dez. As lojas que não estavam precisando de vendedores ofereceram vagas para
que eles trabalhassem no estoque ou na personalização de camisas."
O próprio Marcelo fez questão
de ligar para cada um dos candidatos para contar que eles haviam sido
selecionados. Um deles foi Prince Mbeko, professor de matemática que agora será
vendedor em uma das lojas oficiais do clube.
"Não é fácil mudar de
profissão", disse o congolês de 29 anos. "No início será um pouco
diferente, porque eu estava acostumado a ter um giz na mão e agora terei que
convencer os clientes a comprar os produtos, mas rapidamente ficará mais fácil.
Para mim, essa oportunidade representa uma mudança de vida, porque, sem
emprego, você não pode realizar seus sonhos."
Ninguém sabe disso melhor do
que Miguel Mpanzu. O congolês, que trabalhava como fotógrafo em seu país,
estava desempregado desde sua chegada ao Brasil, há um ano. "A pessoa que
não trabalha não se sente bem. Sem trabalho, você não pode nem comprar pão.
Agora estou muito feliz porque o Flamengo está me dando uma oportunidade."
Miguel já tem planos para o
dinheiro que vai ganhar no novo emprego. "Tenho uma esposa e três filhos,
mas, quando a minha cidade foi atacada, cada um foi para um lado. Até hoje não
sei onde eles estão. Vou guardar o dinheiro para conseguir encontrar minha
família e trazê-la para cá", comentou o fotógrafo, que agora se sente
ainda mais rubro-negro. "Fiz a escolha certa, nunca vou mudar de time.
Perdendo ou ganhando, sempre Flamengo."
Por Diego Felix, do Rio de
Janeiro
Por: ACNUR
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