terça-feira, 13 de outubro de 2015

Com economia em crise, diminui o fluxo de estrangeiros para o Brasil


O número de autorizações de trabalho concedidas a estrangeiros caiu de 2014 para 2015. O MTE entregou 18.213 documentos no primeiro semestre deste ano, quase 3 mil a menos que em 2014

O número de trabalhadores nascidos em outros países que vêm ao Brasil para trabalhar caiu neste ano. De acordo com especialistas, a crise econômica é o motivo da diminuição.

Para deixar seu país, entrar em território brasileiro e exercer sua profissão, um italiano, por exemplo, precisa, antes, de uma autorização concedida pelo Ministério do Trabalho e Emprego (MTE). A quantidade desses documentos que foi entregue pelo órgão do governo caiu bastante em 2015 - e não só para aqueles que vêm da Itália.

No segundo trimestre deste ano, 8.801 autorizações de trabalho foram concedidas a estrangeiros. Em igual período de 2014, o número chegou a 10.511. A comparação entre o primeiro semestre dos dois anos também mostra diminuição no mesmo sentido: de 21.000 para 18.213.

"A gente vê que os estrangeiros estão voltando para seus países de origem por causa da baixa nas operações de várias empresas que sofrem com a crise", disse Pâmela Borges, diretora da Área de Global Mobility Services da Grand Thornton, em evento na Câmara Espanhola de Comércio. "Agora provavelmente vamos observar também um aumento no número de profissionais locais ou residentes no Brasil indo para o exterior", completou.

O movimento já era percebido anteriormente. Durante todo o ano de 2013, 62.387 autorizações de trabalho temporárias e permanentes foram concedidas. Nos 12 meses de 2014, o total ficou em 47.259. De acordo com o MTE, "mudanças nas resoluções e na gestão das autorizações temporárias" e "flutuações normalmente observadas ao longo da série histórica dos dados" foram as causas da diminuição nesse período. Entre 2011 e 2013, a variação foi menor, com queda de 7 mil documentos emitidos durante os dois anos.

As características das autorizações concedidas variam conforme o trabalho que será exercido. Mas, no geral, os documentos temporários valem por períodos que podem chegar a dois anos, enquanto que os permanentes tem validade superior a 24 meses. A concessão das duas categorias diminuiu no primeiro semestre de 2015, com queda de 1.600 autorizações temporárias e quase 100 permanentes.

Entre os países de onde saem mais estrangeiros para trabalhar no Brasil, os Estados Unidos se mantêm na liderança desde 2011. Ainda assim, houve baixa no total de norte-americanos que vieram ao País para trabalhar, de 2.959 para 2.539 entre o primeiro semestre do ano passado e os seis primeiros meses de 2015.

Depois dos EUA, aparecem Filipinas, Coreia do Sul, Reino Unido e Itália. Dentre estes, os sul coreanos foram os únicos que vieram em maior quantidade para o Brasil neste ano. O número de cidadãos do país asiático que receberam autorizações do Ministério do Trabalho subiu para 1.227, contra 632 no primeiro semestre de 2014. França, Índia, Rússia, Portugal e Japão também aparecem entre os dez países que mais enviaram trabalhadores para território brasileiro.

Dentre os estados do Brasil que mais receberam estrangeiros, o Rio de Janeiro lidera, tanto na comparação trimestral quanto na semestral. Em segundo lugar, aparece São Paulo, que foi o maior anfitrião brasileiro entre 2011 e 2013. No primeiro semestre de 2015, os cariocas receberam 7.515 trabalhadores de outras nacionalidades e os paulistas, 6.137.

Para Antônio Carlos Alves dos Santos, professor de economia da PUC-SP, "o Rio já tem a atração natural da cidade, que é símbolo do País, e também existe maior exposição por causa da Copa do Mundo e das Olimpíadas".

Mesmo com o acontecimento de grandes eventos esportivos, o fluxo de estrangeiros para o Rio de Janeiro também caiu, de 9.636 para 7.515, na comparação entre o primeiro semestre deste ano e igual período de 2014. O mesmo movimento foi percebido em São Paulo, com diminuição de 6.882 para 6.137. Já o Ceará, terceiro colocado na lista, recebeu, em 2015, maior quantidade de trabalhadores nascidos em outros países. O número chegou a 1.119, depois de ficar em 607 no ano passado. Completam a lista de maiores anfitriões os estados de Espírito Santo e Rio Grande do Sul.

A única área que recebeu quantidade consideravelmente maior de trabalhadores imigrantes é composta por agropecuária, trabalhos florestais e de pesca. Na comparação entre os primeiros semestres, o aumento foi de 12 trabalhadores em 2014 para 781 em 2015. Apesar da recessão econômica prevista para este ano, o setor agropecuário deve ter expansão de quase 3%, segundo estimativa do Banco Central (BC).

Escolaridade

Ao avaliar os trabalhadores de outros países por nível de instrução, pode-se ver uma maior retração na chegada daqueles que possuem ensino superior completo. Entre os estrangeiros com diploma universitário, 2 mil imigrantes a menos aterrissaram no Brasil durante o primeiro semestre de 2015. Sobre esse aspecto, Santos destacou que "há perda na qualidade de trabalho quando um país deixa de atrair mão de obra qualificada".

O professor também comentou que "o motivo que leva um indivíduo a mudar de um país para o outro é a expectativa de que a sua vida vá melhorar". E concluiu: "com a instabilidade econômica e a melhora relativa das economias europeia e norte-americana, há outros lugares mais atraentes do que o Brasil".

DCI

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