O número de alunos
de outros países no Brasil cresce a cada ano. É o que indicam os dados do
Itamaraty. Entre os anos de 2012 e 2013, o número de vistos temporários
emitidos para estudantes estrangeiros (Vitem IV) subiu 5%. Para se ter uma
ideia, no ano de 2005, o número de Vitem IV emitidos foi de 5.770; em 2013,
oito anos depois, esse número subiu para 12.547. A expectativa é que o ano de
2014 traga ainda mais alunos, desde o ensino fundamental até para programas de
pós-graduação.
Existem muitas
maneiras de ingressar no Brasil para estudar. Uma delas é através dos programas
de mobilidade estudantil da Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes). Entre 2011 e 2012, 1.576 estudantes de instituições ligadas
ao Ministério da Educação (MEC) deram entrada no país pela Capes. Alguns
países, através de programas de convênio, trazem alunos para o Brasil para
fazer graduação e pós-graduação. Sulei Mali, 26, está cursando Turismo há 1 ano
e 8 meses na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE) através do programa
Programa de Estudantes Convênio de Graduação (PECG). Natural de Guiné-Bissau,
Sulei queria ir para o Marrocos, mas a oportunidade de estudar no Brasil era
mais acessível. “O programa PECG oferecia mais vagas para estudar no Brasil”,
afirma.
Em Pernambuco, a
situação segue favorável. Segundo dados da Diretoria de Relações Internacionais
da UFPE, no ano de 1999 apenas um estudante estrangeiro veio para a
universidade, contra 137 em 2012, ano com maior número de alunos de
outros países. Alguns intercambistas de ensino fundamental e médio também estão
na rede pública de ensino do Estado. Atualmente, 46 alunos de países como
Portugal, El Salvador, França, Argentina, Armênia e Japão estudam em escolas
estaduais.
Quando veio estudar
música no Brasil, em 1997, Alcides Lopes só sabia tocar o que tinha aprendido
com uma pequena revista de cifras. Natural de Cabo Verde, chegou ao Brasil
através do PECG, oferecido pelo governo cabo-verdiano para os estudantes do
país. Escolher o Brasil foi quase natural. A começar pela língua, portuguesa,
Cabo Verde tem uma afinidade cultural muito grande com o Brasil. Lá se vê
novelas produzidas aqui, escuta-se música brasileira. “Existem muito mais
coisas em comum entre Brasil e Cabo Verde do que a gente desconfia”,
comentou.
Somente em 2006,
nove anos após começar a graduação na UFPE, Alcides se formou. "Esse
atraso teve várias razões. Uma delas foi porque os estudantes africanos que vêm
para o Brasil sofrem muito com o atraso de bolsas. Eu já fiquei três meses sem
receber, tive que trancar um semestre todo para poder trabalhar, pra me virar
na vida", conta. Permaneceu no Brasil até o ano de 2010, trabalhando como
professor de música e de inglês. Ao ensinar em escolas públicas e particulares,
presenciou parte dos problemas do Brasil. "Quando eu trabalhei em escola
pública, existia um descaso muito grande. As escolas eram muito sucateadas,
havia muita criminalidade em certas áreas. Eu já tive que ficar trancado dentro
de uma escola porque tinha alguém atirando do lado de fora querendo matar um
aluno", lembra Alcides, que voltou ao Brasil em 2012 e agora faz mestrado
em Antropologia. “Acredito que o que me fez voltar para o Brasil foi ter
conhecido minha atual esposa. Eu tinha planos de ir para a Noruega, que oferece
programas de apoio a estudantes africanos, mas acabei preferindo ficar no
Brasil. Hoje, não tenho planos para voltar nem tão cedo”, completa.
Ao ser questionado
sobre a forma com que Brasil o acolheu, Alcides afirma que a “Afinidade com o
Brasil e a receptividade do brasileiro foi muito grande. Eu não tive
dificuldade de me integrar à cultura brasileira, muito pelo contrário. Fiz uma
banda, conheci o Nordeste inteiro, aprendi muito da cultura local. As pessoas
eram muito receptivas, principalmente quando eu dizia que era da África”. Ser
negro e vindo de um país africano nunca trouxe para ele problema ou motivo para
discriminação ou racismo. “Uma coisa interessante é que quando eu cheguei
todo mundo queria me levar em um terreiro, mas eles não entendiam que no meu
país a religião era católica, não temos essas manifestações religiosas. A formação
da África na consciência coletiva brasileira é meio mitológica, se cultiva uma
África que já não existe”, avalia o mestrando.
A cultura
brasileira também atraiu o jovem franco-suíço Quentin Jaques, de 19 anos.
Natural de Genebra, Suíça, morava em Lyon, na França, onde estudava cinema na
Université Lumìere Lyon 2. Veio ao Brasil atraído pelo cinema brasileiro.
“Desde que entrei na faculdade, eu queria sair da França e já gostava da
cultura brasileira porque conheci alguns brasileiros lá”, relembra Jaques, que
está no Brasil há quatro meses estudando cinema na UFPE.
Para o estudante de
cinema, as principais dificuldades foram a língua e problemas para se
estabelecer na cidade. “Para resolver os meus documentos, o CPF, a matrícula da
faculdade, não me deram muitas informações, não explicaram muito bem. Eu tinha
que me deslocar muito de um lado para o outro sem saber para onde ir.”
O Brasil recebeu
bem Quentin, que tem planos de voltar após o intercâmbio. “Fui surpreendido. Os
brasileiros são muito calorosos, muito receptivos. Eu rapidamente fiz muitos
amigos por aqui. Pretendo voltar, gostei muito do país”, diz. O franco-suíço
também comentou a atitude de algumas pessoas quanto a França. “Geralmente as
pessoas têm uma imagem supervalorizada de lá. É verdade que é um país mais
desenvolvido, mas nem tudo lá é tão bom quanto se pensa”, completa.
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