O presidente do
Governo e o principal líder da oposição espanhóis trocaram hoje críticas sobre
o tema da imigração, com o primeiro a acusar o segundo de demagogia e este a
exigir explicações sobre a recente tragédia em Ceuta.
Em causa estava a tragédia ocorrida este mês em
Ceuta quando pelo menos 17 imigrantes morreram ao tentarem chegar à costa da
cidade espanhola no norte de África.
Vídeos divulgados mostram agentes da Guarda Civil a
disparar projéteis para a água - responsáveis policiais haviam negado que isso
tivesse acontecido - o que suscitou fortes críticas da oposição e de
organizações de apoio aos imigrantes.
Alfredo Pérez Rubalcaba, líder do PSOE, referiu-se
ao assunto durante a sua réplica ao presidente do Governo, Mariano Rajoy, na
sessão de hoje do debate do estado da nação, que decorre até quarta-feira no
Congresso de Deputados em Madrid.
Para Rubalcaba - que foi ministro do Interior no
anterior Governo socialista - é essencial que o que ocorreu em Ceuta "se
clarifique pela honra e respeito que merece a Guarda Civil".
O líder socialista disse querer diferenciar entre a
política de imigração, que "deve ser uma política de Estado" e um
acontecimento "dramático que custou a vida a 15 pessoas" devido
"à atuação de alguns guardas-civis que não são defensáveis".
Considerando que "em nenhum protocolo está
consignada a ação de disparar com material anti-distúrbio contra gente que quer
entrar em Espanha", Rubalcaba exigiu ao presidente do Governo
"primeiro a verdade e depois a responsabilidade" pelas mortes.
Mariano Rajoy acusou o secretário-geral socialista
de demagogia, considerando que entre 2004 e 2011, quando os socialistas
estiveram no Governo, nunca criticou o executivo, apesar de ter havido 20 mil
tentativas de entrada em Melilla e 17 mil em Ceuta.
"Isso ocorreu muitas vezes e nunca o reprovei
por nada", disse, afirmando que esta é a primeira vez que "se
ataca" o Governo desta forma.
Rubalcaba defendeu a sua intervenção, considerando
que a oposição tem sido prudente com o tema da imigração e se limitou a
"pedir uma explicação sobre um incidente que nunca antes tinha
ocorrido".
Antes da troca de críticas, Rajoy tinha
considerado, no seu discurso inicial, que a imigração e os fluxos migratórios
requerem uma atenção urgente e continuam a ser um problema que a Europa
comunitária "não decide resolver".
"Não necessito dizer-vos o nosso interesse na
matéria. Os recentes acontecimentos de Ceuta e Melilla chamam a atenção para um
dramático problema que a Europa comunitária não decide resolver", disse
Mariano Rajoy, no arranque do debate do estado da nação, que continua até
quarta-feira no Congresso de Deputados, em Madrid.
"É preciso reformar a cooperação com os países
de origem e trânsito, estabelecer uma cooperação mais estreita com organizações
internacionais correspondentes e redobrar a luta contra o tráfico de seres humanos
e a imigração clandestina, além de reforçar as atividades da Agência
Frontex", adiantou.
Mariano Rajoy dedicou ao assunto da imigração
apenas três frases do seu discurso de cerca de 90 minutos, do qual dois terços
foram destinados a temas económicos e em que se referiu ainda à corrupção e à
agenda independentista da Catalunha.
,Lusa
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