sexta-feira, 8 de junho de 2012

Silêncio continua a matar


O seu autor é um médico, Kostas Moschochoritis, diretor da agência italiana da organização «Médicos sem Fronteiras», preocupado com o silêncio dos meios de comunicação sobre dramas atuais da humanidade. É o caso dos imigrantes que atravessam o deserto do Sinai, um «inferno» pouco falado pela comunidade internacional, onde jazem milhares de pessoas indefesas. “Se neste inferno estivessem envolvidos cidadãos ocidentais, toda a gente falaria dele. Infelizmente diz respeito a migrantes da Eritreia e não interessa a ninguém”, acusa Ran Cohen, da organização não governamental israelita, «Physicians for human rights», constituída por médicos e voluntários hebreus, muçulmanos e cristãos, envolvidos na assistência aos imigrantes que fogem dos horrores do deserto. 

O «drama do Sinai», como é conhecido, atinge milhares de eritreus e sudaneses que abandonam os seus países à procura de trabalho ou asilo. Durante a fuga são sequestrados e torturados por bandos de ladrões e beduínos do deserto do Sinai, entre Israel e o Egito, que pretendem obter resgates altíssimos das suas famílias. Caso contrário, são mortos. Mais de dois milhares estarão presos neste cativeiro. As suas condições de vida são inacreditáveis. Há casos de seres humanos que são «sepultados» e torturados em contentores metálicos, expostos ao calor abrasador do deserto semanas a fio, sem água nem pão, obrigados a contactar os parentes que se encontram na Europa para conseguirem o resgate. Alguns chegam a estar mais de seis meses nestas condições horríveis, vendidos a bandos de traficantes três e mais vezes.

Os que não sucumbem aos maus-tratos e conseguem libertar-se, tentam atravessar a fronteira em busca de refúgio em Telavive, onde se calcula que vivam em condições precárias mais de 40 mil. Sem possibilidade de integrar-se ou encontrar trabalho, enfrentam a barreira da lei israelita contra a imigração ilegal. Traumatizados, por vezes com problemas mentais, sem acesso aos cuidados de saúde e de reabilitação, não gozam do estatuto de refugiados; e indocumentados, não podem deslocar-se, permanecendo no meio de uma opinião pública hostil.

As autoridades policiais pouco têm feito para combater e desmantelar as redes do crime organizado, com ligações internacionais. Doutra forma seria difícil explicar como as vítimas conseguem o dinheiro para o resgate. Só muito lentamente, funcionários europeus e outros se começam a movimentar. É urgente o envio de uma missão de observação da União Europeia e da comunidade internacional para o Sinai. É importante e urgente “acender os holofotes” sobre este drama. A indiferença é crime!
A sociedade civil e as religiões não podem passar ao lado deste e de outros flagelos.

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