sexta-feira, 8 de junho de 2012

Pesquisa investiga condições de mulheres latino-americanas em países europeus


O mundo contemporâneo, sobretudo após a globalização, impôs novas realidades a estudantes e trabalhadores. Uma delas é a migração. Com a demanda de profissionais em muitos países da Europa, o número de imigrantes em solo europeu tornou-se assunto de Estado em países como Inglaterra e França, além de tema de pesquisas nas maiores universidades do mundo.
Por isso, a professora doutora Ana Beatriz Gonçalves, do Programa de Pós-Graduação em Estudos Literários da Universidade Federal de Juiz de Fora (UFJF), começou este ano a trabalhar com o tema da migração, em parceria com as professoras Graciela Ravetti, da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), e Else Vieira, da Queen Mary University of London .O trabalho busca investigar a condição das mulheres latino-americanas que emigram para países europeus, especialmente para a Inglaterra. Para tal, as três pesquisadoras pretendem abordar as condições de vida e trabalho das mulheres latino-americanas na Europa.
A pesquisa se propõe a avaliar produções em literatura e vídeos documentais, escritos e produzidos por autores latino-americanos, que falem sobre o assunto. Segundo Ana Beatriz, sua função no projeto é a de investigar as obras literárias. “São mulheres que viveram a situação de serem imigrantes, de viver em solo estrangeiro, escreveram sobre isso e publicaram seus livros.” Ela afirma que, além da própria condição de imigrante, as condições de vida e trabalho impostas às imigrantes são, muitas vezes, decepcionantes. “Elas vão à Europa com a esperança de ganhar dinheiro e voltar ao Brasil, mas costumam arcar com uma carga de trabalho abusiva, viver uma série de problemas. Isto acaba se tornando um tema importante na obra dessas escritoras.”
Para a professora Graciela Ravetti, que coordena o projeto, as dificuldades para as imigrantes começam cedo, desde a obtenção dos vistos de trabalho. Além disso, muitas vezes a condição de vida que é oferecida às imigrantes brasileiras impede que alcancem o sonho de ascensão social. “Quando elas conseguem o visto, acabam tendo de arcar com trabalhos invisíveis, como fazer faxinas de edifícios à noite. Também costumam acumular serviços, trabalhando três turnos por dia.”
O imigrante e sua relação com a nova terra
Um aspecto importante da pesquisa da professora Ana Beatriz é a “relação sujeito/território”, ou seja, os estudos sobre qual é a relação que as pessoas mantêm com o lugar onde vivem. Neste tipo de estudo, pergunta-se, ao avaliar as produções literárias, de que forma ou o quanto as autoras se identificam com o lugar de onde escrevem, se elas sentem-no como seu ou procuram transforma-lo.

Para Ana Beatriz, um fator relevante ao avaliar a relação sujeito/território nos tempos de migrações é o fenômeno, que atinge alguns imigrantes, da falta de identificação territorial. “Às vezes, um imigrante vai morar num país e não se identifica com o local. Mas, quando volta ao lugar de origem, também já não entende aquele lugar como seu.” Segundo ela, a academia costuma chamar a essas pessoas de “indivíduos desterritorializados”. A professora, no entanto, não gosta do termo. “Desterritorialização não é o que melhor define a atual situação dessas pessoas.”
Para abordar a situação de falta de território que permeia a obra de muitos imigrantes, Ana Beatriz prefere um conceito elaborado pelo professor Rogério Haesbaert, da Universidade Federal Fluminense (UFF). “Ele não fala em sujeitos sem território. Ele fala em indivíduos com múltiplos territórios. Brasileiros, por exemplo, que vivem nos Estados Unidos e vão todo ano à Europa, são multiterritorializados.” Ana Beatriz ainda aponta alguns dos aspectos negativos desta nova realidade: “As pessoas ficam sem um lugar, acabam formando guetos, que são comuns na Europa e nos Estados Unidos”.
Apoio aos imigrantes
Ao estudar a questão da representação da mulher imigrante na Europa em vídeos documentais e obras literárias, as professoras Ana Beatriz Gonçalves, Graciela Ravetti e Else Vieira pretendem levar o assunto à discussão junto às comunidades de brasileiros na Europa, realizando reuniões periódicas em Londres, Lisboa ou em outras das principais cidades que recebem imigrantes latino-americanos.
Como um primeiro passo, este objetivo já rendeu frutos para o trabalho das três professoras. Segundo Ana Beatriz, elas já conseguiram realizar uma reunião com a presença do vice-prefeito de Londres. “Foi quando eu visitei a Inglaterra para uma reunião com representantes comunitários latino-americanos. Ele estava lá para discutir a possibilidade de realizar uma semana ou mês da América Latina na Inglaterra, com muitas atividades culturais.”
Contudo, as docentes não querem apenas suscitar uma discussão. Elas buscam resultados práticos que auxiliem os atuais e os futuros imigrantes brasileiros. “Estamos em processo de publicação de uma cartilha de orientação aos imigrantes, em linguagem simples e de distribuição gratuita, expondo muitas situações pelas quais eles podem passar”, explica Graciela Ravetti. De acordo com ela, estas iniciativas já encontraram apoio do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e da Secretaria de Mulheres do Governo Federal.
O trabalho ainda está no começo e deve ganhar mais apoio e novos objetivos nos próximos anos. Graciela, inclusive, reitera a importância dessa pesquisa para a realidade das mulheres imigrantes latino-americanas. “O objetivo é oferecer informações que possam ajudar, informar às imigrantes sobre seus direitos, reduzir o sofrimento e melhorar a qualidade de vida dessas mulheres.”
Hélio Rocha – estudante de Comunicação Social

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