Organizações de direitos humanos debateram nesta quinta-feira,
em audiência pública na Câmara Municipal de São Paulo (SP), crimes cometidos
contra imigrantes africanos no Brasil. Para as entidades, esses atos têm a
xenofobia e o racismo como motivação.
Durante a audiência, os ativistas entregaram para Ribamar
Dantas, representante dos trabalhadores no Conselho Nacional de Imigração
(CNIg), um documento que pede a revisão da legislação migratória, bem como o
desenvolvimento de políticas públicas que inibam a discriminação racial. O
representante comprometeu-se a indicar, nos próximos dias, uma data para
discussão desses temas no conselho.
"Uma vertente de mobilização é a resposta na
investigação dos casos de violência e assassinatos. A outra é a política migratória
brasileira, que precisa urgentemente de revisão, para que, além de se pautar
pelos direitos, garanta particularidades de imigrantes negros e
africanos", avalia Cleyton Wenceslau Borges, advogado do Centro de
Direitos Humanos e Cidadania do Imigrante (Cdhic).
"Um brasileiro fez um insulto de cunho racista,
referindo-se aos angolanos como macacos. Houve discussão, mas sem agressão
física. O brasileiro, então, retornou atirando nas pessoas", relata o
estudante angolano Álvaro Bastos, de 24 anos, estudante de direito em uma
universidade particular paulista.
A Polícia Civil de São Paulo investiga o assassinato, mas,
segundo o advogado do Cdhic, o caso corre em segredo de Justiça. Um dos
encaminhamentos da audiência foi que, caso as investigações não transcorram de
forma a identificar e punir o culpado, o fato será levado às instâncias
federais, como Defensoria Pública da União e Ministério Público Federal.
"Estamos acompanhando se está sendo dado o
encaminhamento correto. Estivemos, inclusive, reunidos com a Secretaria de
Segurança Pública do estado, que demonstrou atenção ao caso", explicou
Rodrigo Jácomo, defensor público federal.
Jácomo já atuou em Cuiabá (MT), no caso do assassinato de
imigrante da Guiné-Bissau Toni Bernardo da Silva, de 27 anos, ocorrido em
setembro de 2011. Segundo o defensor, o acusado será levado a júri popular. Ele
informou ainda que, nesse caso, houve pedido formal de desculpas do governo
brasileiro ao governo guineense. O mesmo pedido foi requerido pelas entidades
de direitos humanos no caso da angolana Zulmira, por meio de uma representação
feita ao Ministério das Relações Exteriores, na semana passada.
Atos discriminatórios contra estudantes africanos também
estão sendo acompanhados por organizações de direitos humanos em Fortaleza, no
Ceará. Segundo relatório do Escritório de Direitos Humanos Frei Tito de
Alencar, estudantes africanos, em especial guineenses, são submetidos a
condições precárias de sobrevivência no estado, após imigrarem iludidos por
propaganda enganosa de faculdades particulares.
"A promessa de um custo de vida mais barato do que
eles realmente encontram aqui faz com que os estudantes se submetam a situações
ilegais para garantir a sobrevivência no país", explicou a advogada do
escritório, Talita de Araújo. A entidade acompanha também as investigações da
morte do estudante cabo-verdiano Jason Teixeira Hoffer Barreto, de 22 anos, em
Fortaleza, em agosto do ano passado.
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