sábado, 9 de junho de 2012

Migração de homens põe mulheres no comando da zona rural do México


A cada um dos últimos dez anos, cerca de 200.000 homens mexicanos deixaram o país em direção aos Estados Unidos.
O resultado tem sido uma reformulação contínua da cultura e da rotina daqueles que são deixados para trás, muitas vezes obrigando as mulheres a se tornar o chefe da família. À medida que essa mudança se aprofunda, está abalando um dos pilares mais tradicionais da cultura local: o machismo mexicano.
Quando os preços do café despencaram há mais de uma década, o companheiro de Leonor Fernández saiu de casa e a deixou com cinco filhos nesta região montanhosa do sul do México para trabalhar na Carolina do Norte. No começo, ele enviava remessas, mas depois o dinheiro e os telefonemas pararam de chegar.
"Acho que ele começou outra vida lá. E esqueceu completamente da gente", diz Fernández.
Para sobreviver, Fernández passou a administrar a propriedade cafeeira de um hectare da família. Logo, ela organizou mais de cem produtores locais de café e começou a viajar sete horas em um táxi compartilhado para a cidade mais próxima, Oaxaca, pelo menos uma vez por mês para vender seu café. Finalmente, ela foi nomeada supervisora-chefe do Conselho Estadual de Café de Oaxaca. "No começo, você se sente como se o mundo tivesse desabado na sua cabeça, mas pouco a pouco você vai se abrindo e achando tranquilidade", diz ela.

Como os preços do café subiram no ano passado, Fernández aproveitou para comprar outro hectare de terra para cultivar café e melhorou seu guarda-roupa, que até então consistia principalmente de roupas indígenas tradicionais. Também em 2011, de surpresa, seu ex-companheiro, Dario Pereda, voltou e pediu perdão. Mas Fernández disse que não. "Eu me sinto muito mais livre."
Pereda diz que ele não se esqueceu da família, mas muitas vezes não podia enviar dinheiro para casa porque seu trabalho não era estável.
Os papéis tradicionais dos sexos no México não estão desaparecendo e é improvável que desapareçam. Os homens permanecem no comando na zona rural do México, onde pelo menos 6,6 milhões deles trabalhavam na agricultura durante o censo de 2010, em comparação com cerca de 1,6 milhão de mulheres. Muitas mulheres dependem das remessas dos maridos emigrantes, que voltam a assumir a liderança dos negócios da família quando regressam. Mas em muitos casos, as relações mudam permanentemente.
O caso de Fernández não é raro. A maioria dos homens que migram do México nunca mais volta, segundo o Conselho Nacional de População do país. Muitos param de enviar dinheiro a suas mulheres, dizem elas. Quase 80% das remessas dos migrantes vêm dos filhos, não dos maridos, diz Antoinette Barron, professora de economia da Universidade Nacional Autônoma do México.
As mulheres são agora as principais provedoras de 1,19 milhão das 6,2 milhões de famílias que, calcula-se, vivem na zona rural do México, um salto de mais de 30% em comparação a dez anos atrás. Mais da metade dos produtores que participam de todos os programas agrícolas do Ministério da Agricultura é de mulheres, contra apenas 30% cerca de quatro anos atrás.
E nos poucos casos em que os homens voltam dos EUA, muitas vezes assumem uma maior participação nos deveres da casa, pelo menos temporariamente, como lavar pratos e cozinhar, que foram obrigados a aprender enquanto viviam no exterior, dizem os pesquisadores.
Mesmo quando a migração líquida do México caiu para zero, segundo um estudo divulgado em abril pelo centro de estudos Pew Hispanic Center, graças a mudanças demográficas e nas condições econômicas em ambos os lados da fronteira, as mulheres continuam a manter seu papel de liderança recentemente conquistado na economia rural.
As mulheres são responsáveis pelas culturas de milho em San José del Rincón, uma comunidade rural pobre no maior Estado do país, também chamado México. A Organização das Nações Unidas para a Alimentação e Agricultura, ou FAO, diz que 80% das famílias no programa de segurança alimentar são chefiadas por mulheres, devido à migração.
As mulheres estão mudando a economia rural lentamente. Fernández, a cafeicultora, disse acreditar que a produção de café orgânico do México está crescendo à medida que as mulheres — que, segundo ela, tendem a ter mais consciência ambiental — entram no negócio.
Depois que seu companheiro desapareceu, ela obteve certificações de "Comércio Justo" e de café orgânico e sua organização está ajudando outros produtores e produtoras a obter a certificação.
O governo mexicano, através do seu programa de transferência popular de crédito, o Oportunidades, e bancos privados especializados em microcrédito para a zona rural dão tratamento especial às mulheres.
O Compartamos, um banco de microcrédito, diz que 98% de seus clientes são mulheres. Os homens, o banco descobriu, são mais propensos a gastar o dinheiro em coisas como o consumo de álcool.
"Está comprovado que as mulheres, quando recebem dinheiro, dedicam seus esforços às suas famílias, enquanto que com os homens há o problema dos vícios", diz Daniel Manrique, gerente de relações públicas do Compartamos.
Rita Casimiro de la Cruz, uma produtora de café no Estado de Guerrero, ganhou um concurso nacional de qualidade da colheita de café um ano depois que seu marido mudou para o Arizona para encontrar trabalho. Quando ele ficou sabendo sobre o prêmio, voltou à pequena comunidade rural para comemorar.
"Eu disse a ele: 'ganhamos um prêmio', lembra Casimiro. Ele respondeu: 'Não. Você ganhou". Com um sorriso tranquilo, ela acrescentou: "A mulher também pode."



JEAN GUERRERO, de Sierra Mazateca, México

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