Em
ano de Cinquentenário, partilho cinco das incontáveis memórias e marcas que
conservo relativamente ao serviço prestado de 2000 a 2007, com a minha
equipa de colaboradores, a CEP, Dioceses e Comunidades portuguesas através da
Obra Católica Portuguesa de Migrações (OCPM).
2.
As comunidades evangelizaram-me. Sabe-se que as estruturas são instrumentos e
meios de animação, coordenação, estudo e intervenção. Porém, não são tudo, pois
a vida nem sempre se deixa aprisionar pelas estruturas, secretariados e
hierarquias. Sempre entendi uma OCPM ao serviço da vida que borbulha na vida
dos migrantes “de ca e de la” e dos seus missionários. Foram as comunidades
locais – paroquias, movimentos e secretariados diocesanos – constituídas por
tantos leigos e religiosos anónimos, inspirados pelo Espírito e movidos por
autentica caridade, a dar as melhores respostas solidarias de acolhimento e
integração dos imigrantes. Assisti a bonitas iniciativas locais, espontâneas,
ecuménicas, culturais, missionárias avulsas de qualquer planeamento e prudência
institucional - muitas difíceis de narrar pela grandeza da generosidade e
comunhão!- que me ensinaram a liberdade evangélica de servir e a compaixão
pastoral para com os mais vulneráveis.
3.
Como fermento na massa. Continuei a forte ligação genética da OCPM à sociedade
civil e laicado. Foram confirmadas, mas também criadas novas parcerias
operativas. A nível interno, intensificámos parcerias com outros Secretariados
nacionais da CEP (Educação Cristã, Comunicação Social, Missões e Pastoral
Social, entre outros) com vista à sensibilização e formação. A nível externo,
colaborámos com movimentos eclesiais, outras igrejas, congregações,
associações, universidades e organizações cívicas - algumas com filosofias
arreligiosas - empenhadas nos direitos humanos dos migrantes e refugiados.
Recordo audiências com políticos e governantes, reuniões com militantes
associativos, encontros do SCAL e COCAI, participação em Plataformas cívicas e
apoio a Manifestações de rua em Lisboa em prol da legalização e direitos
(Chiado 2004 e Martim Moniz 2005) que, diga-se de passagem, me trouxeram
problemas com os superiores por verem envolvida uma estrutura da CEP.
4.
Agir juntos e a uma só voz. Em 2001 foi criado o FORCIM para garantir um
pensamento, linguagem, estratégia e ação conjunta dos grupos católicos
implicados, sobretudo, a nível, da imigração e asilo. Há pastorais, como a da
mobilidade humana, que não podem dispersar recursos, meios e isolar-se de
outras pastorais, nem dividir-se na leitura da realidade e ação evangelizadora.
Diante do silêncio de uns, outros procuraram organizar-se por amor do
Evangelho. Rodeámo-nos de assessores especializados voluntários (no campo
jurídico e da comunicação social...) para qualificar e promover a voz dos
católicos na “praça” pública. Cuidámos do diálogo com as instituições e
procurámos ser propositivos, e menos reativos. Recordo as interpelações do Governo,
SEF, ACIDI, SEC, Associações e Sindicatos para escutar nosso parecer competente
e humanista sobre leis e programas, como também apelando a nos unirmos a outras
organizações por razões de justiça e paz e de partilha de recursos, em favor
dos emigrantes portugueses, refugiados, trabalhadores imigrantes e vítimas do
tráfico de pessoas.
5.
Ligar as duas margens da ponte. Ao contrário do que acontece a nível do Governo
e suas estruturas, a Igreja entende a Mobilidade humana que atravessa o país,
como única realidade em permanente interação e transversalidade. Única rede, a
mesma estrutura, uma missão comum. Tem sido os portugueses emigrantes a
ensinar-nos como acolher os imigrantes. As estruturas criadas, desde os anos
sessenta, para as Comunidades portuguesas continuam a inspirar a estruturação
da pastoral para os imigrantes, hoje. Procurámos, de acordo com as emergências
surgidas, alimentar a providencial relação entre as dimensões: emigração e
imigração. A mobilidade e ponte de comunicação e trocas culturais e religiosas.
Nesse sentido, prosseguimos nas visitas a Diáspora em demanda urgente de
missionários, vigiamos os Media e Governo que teimavam ocultar a emigração,
retomámos os encontros dos delegados dos missionários dos portugueses, criámos
capelanias para os católicos de rito oriental e apoiámos a Igreja Ortodoxa em
expansão, convocámos o Encontro Mundial das Comunidades no Porto (2005).
Os
50 anos da OCPM ensinam que, no “repensar a Igreja em Portugal” há que
continuar a aproximar as experiências da emigração e imigração, incarnar a
mobilidade na pastoral comum, fazer convergir respostas e recursos para acolher
a dádiva magnífica das migrações, parte do desígnio de Deus e sinal do Reino,
para uma igreja toda missionária e comunional e para uma sociedade integrada.
Rui
M. da Silva Pedro, c.s.,
Antigo
diretor da OCPM
Em ano de
Cinquentenário, partilho cinco das incontáveis memórias e marcas que conservo
relativamente ao serviço prestado de 2. As comunidades evangelizaram-me. Sabe-se que as estruturas são instrumentos e meios de animação, coordenação, estudo e intervenção. Porém, não são tudo, pois a vida nem sempre se deixa aprisionar pelas estruturas, secretariados e hierarquias. Sempre entendi uma OCPM ao serviço da vida que borbulha na vida dos migrantes “de ca e de la” e dos seus missionários. Foram as comunidades locais – paroquias, movimentos e secretariados diocesanos – constituídas por tantos leigos e religiosos anónimos, inspirados pelo Espírito e movidos por autentica caridade, a dar as melhores respostas solidarias de acolhimento e integração dos imigrantes. Assisti a bonitas iniciativas locais, espontâneas, ecuménicas, culturais, missionárias avulsas de qualquer planeamento e prudência institucional - muitas difíceis de narrar pela grandeza da generosidade e comunhão!- que me ensinaram a liberdade evangélica de servir e a compaixão pastoral para com os mais vulneráveis.
3. Como fermento na massa. Continuei a forte ligação genética da OCPM à sociedade civil e laicado. Foram confirmadas, mas também criadas novas parcerias operativas. A nível interno, intensificámos parcerias com outros Secretariados nacionais da CEP (Educação Cristã, Comunicação Social, Missões e Pastoral Social, entre outros) com vista à sensibilização e formação. A nível externo, colaborámos com movimentos eclesiais, outras igrejas, congregações, associações, universidades e organizações cívicas - algumas com filosofias arreligiosas - empenhadas nos direitos humanos dos migrantes e refugiados. Recordo audiências com políticos e governantes, reuniões com militantes associativos, encontros do SCAL e COCAI, participação em Plataformas cívicas e apoio a Manifestações de rua em Lisboa em prol da legalização e direitos (Chiado 2004 e Martim Moniz 2005) que, diga-se de passagem, me trouxeram problemas com os superiores por verem envolvida uma estrutura da CEP.
4. Agir juntos e a uma só voz. Em 2001 foi criado o FORCIM para garantir um pensamento, linguagem, estratégia e ação conjunta dos grupos católicos implicados, sobretudo, a nível, da imigração e asilo. Há pastorais, como a da mobilidade humana, que não podem dispersar recursos, meios e isolar-se de outras pastorais, nem dividir-se na leitura da realidade e ação evangelizadora. Diante do silêncio de uns, outros procuraram organizar-se por amor do Evangelho. Rodeámo-nos de assessores especializados voluntários (no campo jurídico e da comunicação social...) para qualificar e promover a voz dos católicos na “praça” pública. Cuidámos do diálogo com as instituições e procurámos ser propositivos, e menos reativos. Recordo as interpelações do Governo, SEF, ACIDI, SEC, Associações e Sindicatos para escutar nosso parecer competente e humanista sobre leis e programas, como também apelando a nos unirmos a outras organizações por razões de justiça e paz e de partilha de recursos, em favor dos emigrantes portugueses, refugiados, trabalhadores imigrantes e vítimas do tráfico de pessoas.
5. Ligar as duas margens da ponte. Ao contrário do que acontece a nível do Governo e suas estruturas, a Igreja entende a Mobilidade humana que atravessa o país, como única realidade em permanente interação e transversalidade. Única rede, a mesma estrutura, uma missão comum. Tem sido os portugueses emigrantes a ensinar-nos como acolher os imigrantes. As estruturas criadas, desde os anos sessenta, para as Comunidades portuguesas continuam a inspirar a estruturação da pastoral para os imigrantes, hoje. Procurámos, de acordo com as emergências surgidas, alimentar a providencial relação entre as dimensões: emigração e imigração. A mobilidade e ponte de comunicação e trocas culturais e religiosas. Nesse sentido, prosseguimos nas visitas a Diáspora em demanda urgente de missionários, vigiamos os Media e Governo que teimavam ocultar a emigração, retomámos os encontros dos delegados dos missionários dos portugueses, criámos capelanias para os católicos de rito oriental e apoiámos a Igreja Ortodoxa em expansão, convocámos o Encontro Mundial das Comunidades no Porto (2005).
Os 50 anos da OCPM ensinam que, no “repensar a Igreja em Portugal” há que continuar a aproximar as experiências da emigração e imigração, incarnar a mobilidade na pastoral comum, fazer convergir respostas e recursos para acolher a dádiva magnífica das migrações, parte do desígnio de Deus e sinal do Reino, para uma igreja toda missionária e comunional e para uma sociedade integrada.
Rui
M. da Silva Pedro, c.s.,
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