A principal falha do
CRBE é a de ter sido criado como um simples conselho consultivo ou de
assessoria, sem condições para propor iniciativas e tomar decisões. Em outras
palavras, está sob a tutela do Itamaraty. A experiência desse ano e meio de
CRBE mostrou igualmente haver necessidade de uma sintonia do órgão emigrante
com a linha política do governo.
A
solução é o governo criar uma Secretaria de Estado dos Emigrantes capaz de
levar avante medidas em favor da emigração e, ao mesmo tempo, ter como titular
um líder qualificado sintonizado com a linha política do governo.
O
projeto, cujo texto integral é submetido, pela primeira vez, a todos os
emigrantes para debate e ao conhecimento e debate de políticos, deverá ser alvo
de discussões e complementos num planejado I Encontro do Estado do Emigrante,
em gestação, com apoio de líderes emigrantes vivendo nas diversas regiões do
mundo.
Tão
logo sejam reunidos os fundos necessários para as despesas, será concretizado
na Europa ou nos EUA o Encontro, do qual participarão lideranças emigrantes,
políticos próximos da emigração sob o olhar de representantes da grandes
imprensa brasileira e da imprensa comunitária.
Segue
o projeto base, ao qual qualquer emigrante ou cidadão brasileiro poderá
acrescentar com observações sua contribuição.
PROJETO INSTITUCIONAL
CRIAÇÃO DA SECRETARIA DE ESTADO EMIGRANTE
OBJETIVO:
Criação
de uma Secretariade Estado dos Emigrantes ou da Emigração junto ao governo
brasileiro.
INTRODUÇÃO:
De
acordo com o IBGE nós emigrantes somos pouco mais de 400 mil, mas o Ministério
das Relações Exteriores, com dados fornecidos pelos Consulados, calcula em mais
de 3 milhões os brasileiros vivendo fora do Brasil. Antes da crise do subprime
nos EUA, da baixa do dólar e da crise provocada pela especulação na Europa, o
número era perto de 4 milhões.
Quem somos :
Numa
primeira análise, é preciso separar uns dos outros. No Japão,onde agora deve
haver 300 mil (muita gente retornou ao Brasil com a crise),todos os emigrantes
são legais, reconhecidos ou documentados. Só saem do Brasil se tiverem emprego
certo no Japão e existe um órgão encarregado, no Brasil, de preencher as
oportunidades de trabalho existentes no Japão com a mão de obra brasileira. Os
emigrantes no Japão são na quase totalidade netos de antigos imigrantes
japoneses no Brasil e um número reduzido de cônjuges sem origem japonesa.
Como
o Japão não dá a nacionalidade para filhos, netos ou bisnetos de seus
imigrantes, a condição de imigrantes no Japão inclui os emigrantes brasileiros
e seus descendentes.
Essa
mesma situação ocorre nos países europeus de jus sanguinis, como Alemanha e
Suíça, onde mesmo os filhos dos nossos emigrantes ali nascidos continuam sendo
considerados estrangeiros brasileiros. Essa situação de não poder adquirir a
nacionalidade no país de emigração dificulta uma plena integração e a situação
de estrangeiro imigrante se passa de pai para filho.
De
acordo com nossa interpretação são considerados emigrantes tanto os pais que
saíram do Brasil como seus filhos, nascidos nos países que não dão nacionalidade
local. Mas consideramos emigrantes apenas os pais vindos do Brasil, nos países
que concedem a nacionalidade local aos filhos dos imigrantes. É o caso,
principalmente, dos Estados Unidos, onde basta nascer para ser americano. Ou em
países como a França, onde o filho do estrangeiro que ali vive se torna
facilmente francês. Outra exceção são os filhos de casais mistos, que têm
também a nacionalidade do pai ou da mãe nos países de jus sanguinis.
Os Problemas :
A
Ata Consolidada distribuída na III Conferência Brasileiros no Mundo tem 43
páginas, enumera em diversos capítulos as principais questões relacionadas com
os emigrantes, levantadas pelos próprios emigrantes nas duas primeiras
conferências Brasileiros no Mundo. São mais de 150 itens,distribuídos entre
Serviço e Assistência Consular, Políticas para as Comunidades Brasileiras no
Exterior, Questões Relacionadas com a Educação, Previdência Social, Trabalho,
Saúde, Assistência Social e Direitos Humanos. Ainda Cultura e Comunicação
e Questões Relacionadas com Economia e Investimentos.
JUSTIFICATIVA :
Quando
um simples caderno inicial de encargos envolve mais de 150 tópicos principais
de questões, aplicáveis a mais de 3 milhões de pessoas, fica evidente não ser
possível serem tratados pelos consulados ou por uma subsecretaria, dentro de um
Ministério voltado apenas para questões políticas de representação do governo em Relações Exteriores
e dotado de tabelionatos ou consulados.
Em
2006/7, uma CPMI do Senado tratou das questões ligadas à imigração no
Brasil e aproveitou para incluir um capítulo voltado aos emigrantes. Ao final
dos trabalhos, decidiu-se pela necessidade de se pedir ao governo a criação de
uma Secretaria Especial voltada à Emigração.
Durante
a 1ª Conferência Barsileiros no Mundo (Palácio do Itamaraty, Rio de
Janeiro/2008), nosso então recente movimento Estado do Emigrante,decidiu
distribuir um abaixo-assinado. Representados por quatro pessoas, Rui Martins,
vivendo na Suíça; Carmen Lúcia Tsuhako, do Japão; Joana Oberg, da Suécia; e
Denise da Veiga Alves, advogada, emigrante em Genebra, vivendo em Brasília a
serviço de uma Ong suíça e que teve ação fundamental junto a parlamentares,
imprensa e governo, na luta pela aprovação da PEC 272/00 em favor dos
Brasileirinhos Apátridas.
Nosso
abaixo-assinado reuniu 135 assinaturas, era mais que a maioria absoluta dos
emigrantes presentes, e pedia em lugar de uma simples Ata de reivindicações, a
criação de uma Comissão de Transição para um órgão institucional emigrante, que
poderia ser uma Secretaria de Estado dos Emigrantes.
No
entanto, o embaixador Oto Maia decidiu ignorar o abaixo-assinado que nos
levaria ao órgão institucional emigrante, propondo um simples Conselho
Provisório que se transformou no atual CRBE (Conselho de Representantes
Brasileiros no Exterior).
PROCESSO TRANSICIONAL :
Imagine-se
a Subsecretaria das Comunidades Brasileiras no Exterior (SGBE), retirando-se
dela os diplomatas, coloque-se no lugar emigrantes das quatro regiões e seja
nomeado(a) pelo governo federal um(a) emigrante titular. É essa a Secretaria de
Estado dos Emigrantes com sede, é claro, em Brasília.
O Tripé :
Esse
tripé constituído de uma Secretaria de Estado, Parlamentares Emigrantes e
Conselho de Emigrantes permitiria aos emigrantes agirem diretamente junto ao
Executivo, junto ao Legislativo e disporem de uma ampla tribuna consultiva.
Portanto, participação plena, legítima e democrática dos emigrantes.
A Secretaria:
Um
órgão não subordinado ou inserido dentro de outro ministério, com titular
próprio e independência para gerir e administrar seus recursos. Agindo como
interlocutor junto ao governo e demais ministérios, em busca de parcerias que
visem atender as demandas dos brasileiros da diáspora. Entendemos que a criação
pelo governo de uma Secretaria de Estado dos Emigrantes deverá ser dirigida por
um titular emigrante e uma equipe de emigrantes, nomeados pela Presidência da
República (como ocorre com todos os ministérios, secretarias de Estado e cargos
de confiança), pois a lógica e experiência nos leva a crer que o emigrante
conhece profundamente a realidade em que vivemos.
Parlamentares Emigrantes:
É
coerente e justo que os emigrantes votem em candidatos ao parlamento igualmente
emigrantes que vivam, conheçam os problemas e representem a mesma região dos
eleitores. Essa questão da eleição de deputados federais emigrantes e senadores
pelos emigrantes parece consensual, pelo apoio obtido pelo senador Cristovam
Buarque na I Conferência Brasileiros no Mundo.
A
importância de ter parlamentares emigrantes em Brasília é evidente – eles iriam
apresentar propostas de leis na Câmara Federal e no Senado em favor dos
emigrantes, atendendo as reivindicações apresentadas pelo Conselho de
Emigrantes e igualmente a pedido da Secretaria de Estado dos Emigrantes, cujos
projetos de regulamentos, regimento, normas, portarias passariam pela aprovação
da Presidência da República, enquanto os projetos de lei teriam de ser
aprovados pelos parlamentares.
Conselho de Emigrantes:
Deverá
ser um conselho de interlocução e de contato dos emigrantes com a Secretaria de
Estado dos Emigrantes e seus parlamentares emigrantes, porque suas
reivindicações seriam entregues a representantes com poderes de levá-las a
termo. No sistema atual as reivindicações não passam do filtro do Itamaraty e,
na verdade, é a SGBE quem aplica a política de emigração.
Por
que o Conselho de Emigrantes deve ser amplo e ter uma centena de representantes
eleitos ?
Porque
deve representar todos os grupos e segmentos da população emigrante, nisso se
incluindo associações filantrópicas denominacionais, grupos religiosos de
evangélicos a católicos, espíritas e outros que existam, associações de
despachantes, escritórios de advocacia, empresas de remessas, associações
esportivas e culturais. E deve representar as comunidades brasileiras em todos
os países onde existam emigrantes brasileiros. Esses conselheiros se
manifestarão sobre a ação desenvolvida pela Secretaria de Estado dos
Emigrantes, dos parlamentares emigrantes e lhes farão sugestões e
reivindicações.
A
conquista pelos emigrantes de sua independência institucional deve ser o
resultado de ações junto aos emigrantes, suas associações e conselhos de
cidadania e junto ao governo, parlamento, políticos, imprensa e mecanismos de
pressão.
É a
isso que se propõe o movimento Estado do Emigrante, pois os brasileiros no
Exterior já constituem, na verdade, um Estado virtual.
Este
texto de projeto é uma proposta aberta de discussão para todos quantos comungam
da necessidade de um órgão institucional emigrante sem a tutela do Itamaraty.
Nossa intenção com a participação de núcleos, setores, grupos, associações e
cidadãos emigrantes que nos apoiam é a de promover o I Encontro do Estado do
Emigrante (na Europa ou nos EUA),onde se debaterão os princípios constituintes
do movimento.
Contamos
com seu apoio e participação,
Rui Martins, membro titular no
Conselho de Representantes CRBE, Brasileirinhos Apátridas e Estado do
Emigrante,
ClaudiaTamsky, socióloga, emigrante
residente em Boston,
Direto da Redação
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