quinta-feira, 21 de junho de 2012

Deslocamentos forçados em 2011 atingiram recorde de 800 mil pessoas


 Relatório lançado pelo Alto Comissariado das Nações Unidas para Refugiados (ACNUR) mostra que o ano de 2011 registrou um número recorde de deslocamentos forçados entre fronteiras internacionais, e que mais pessoas tornaram-se refugiadas desde o ano 2000.
Em uma análise inédita, o relatório Tendências Globais 2011 (ou Global Trends 2011) detalha a extensão do deslocamento forçado no contexto das grandes crises humanitárias iniciadas no fim de 2010, na Costa do Marfim, e seguidas pela Líbia, Somália e Sudão – entre outros países. O documento revela que 4,3 milhões de pessoas foram forçadas a se deslocar neste período, sendo que 800 mil tornaram-se refugiadas.
“O ano de 2011 vivenciou o sofrimento humano em uma escala épica. O custo pessoal foi enorme para todos aqueles que tiveram suas vidas drasticamente afetadas em tão curto espaço de tempo”, disse o Alto Comissário da ONU para Refugiados, António Guterres. “Temos que agradecer ao sistema internacional de proteção, que se manteve firme na maioria dos casos, deixando as fronteiras abertas. Estamos num momento de desafio”, comentou o chefe do ACNUR.
Em todo o mundo, 42,5 milhões de indivíduos terminaram o ano de 2011 em uma situação de refúgio, seja como refugiados (15,42 milhões), deslocados internos (26,4 milhões) ou solicitantes de refúgio (895 mil).
Apesar do grande número de novos refugiados, as estatísticas de 2011 ficaram ligeiramente abaixo dos 43,7 milhões de deslocados registrados ao final de 2010. Essa diferença se deve, principalmente, ao grande número de deslocados internos que puderam voltar para suas casas no ano passado. Foram 3,2 milhões de pessoas, o que configura o maior retorno de deslocados internos em uma década. Entretanto, entre a população refugiada, o número de repatriações voluntárias em 2011 (532 mil) foi a terceiro mais baixo em uma década.
Visto por uma perspectiva de dez anos, o relatório mostra diversas tendências preocupantes. Entre elas, o fato de que o deslocamento forçado afeta grandes grupos de pessoas ao redor do mundo, em um nível superior a 42 milhões de indivíduos nos últimos cinco anos consecutivos. Outra tendência preocupante é relacionada ao fato de que os refugiados permanecem nesta situação por muitos anos, vivendo em campos de refugiados ou em condições precárias nas áreas urbanas. Do total de 10,4 milhões de refugiados sob mandato do ACNUR, quase 75% (7,1 milhões) estão pelo menos cinco anos em exílio, aguardando uma solução para esta situação.
Nem todas as 42,5 milhões de pessoas forçadas a se deslocar até o final de 2011 estão sob o mandato do ACNUR. Cerca de 4,8 milhões de refugiados de origem palestina estão registrados pela agência UNRWA (United Nations Relief and Works Agency for Palestine Refugees). Entre os 26,4 milhões de deslocados internos, 15,5 milhões recebem assistência e proteção do ACNUR. Em conjunto, o número de refugiados e deslocados internos sob mandato do ACNUR – hoje em 25,9 milhões de pessoas – cresceu entre 2010 e 2011, chegando a 25,9 milhões de pessoas (um crescimento de 700 mil indivíduos). 
Origem e destino – Numa escala global, o Afeganistão continua sendo o principal país de origem de refugiados (2,7 milhões), seguido pelo Iraque (1,4 milhão), Somália (1,1 milhão), Sudão (500 mil) e República Democrática do Congo (491 mil).
Cerca de 80% dos refugiados do mundo vivem próximos dos países de origem, impactando ainda mais as populações de refugiados já existentes nestas regiões. De acordo com o relatório, os principais países de destino são Paquistão (1,7 milhões de pessoas), Irã (886,5 mil), Quênia (566,5 mil) e Chade (366,5 mil).
Entre os países industrializados, a Alemanha é o único que integra o grupo dos principais destinos, com uma população refugiada (571,7 mil pessoas). O relatório ressalta, entretanto, que a África do Sul foi o país que mais recebeu pedidos individuais de refúgio em 2011 (107 mil), tendência verificada nos últimos quatro anos.
Américas – Apesar de a região ter o menor número de refugiados (8%) em relação ao total mundial, a situação ainda assim é preocupante. O número de pessoas sob o mandato do ACNUR cresceu de 19,2 milhões em 2005 para 33,9 em 2011, dos quais mais de 4 milhões são refugiados, deslocados internos, retornados ou apátridas na América Latina e na região do Caribe. Nas Américas o sentido de solidariedade com os refugiados é marcante, notado pelos esforços em garantir a proteção dos refugiados por países que mantém suas fronteiras abertas apesar de também enfrentarem problemas internos e crises econômicas. A maioria dos refugiados na América é de origem colombiana (392,6 pessoas).
O Equador continua sendo o país com a maior população refugiada (55 mil)  e com 20 mil solicitações de refúgio em trâmite. Em segundo lugar, a Costa Rica reconheceu 12,571 refugiados. O número de refugiados cresceu também no Chile (1,674), Panamá (2,262) e no Brasil (4,477).
Apátridas – O ACNUR foi criado há 60 anos com o mandato original de proteger especificamente os refugiados, mas nas últimas seis décadas o trabalho da agência tem incluído a ajuda a deslocados internos em diversos países e também apátridas – pessoas sem cidadania reconhecida por nenhum país e, consequentemente, sem a garantia de direitos humanos que a acompanha. O relatório Tendências Globais 2011 mostra que somente 64 governos mantêm registros de apatridia, o que significa que o ACNUR teve acesso apenas às estatísticas de aproximadamente 25% dos estimados 12 milhões de apátridas no mundo.
O relatório Tendências Globais 2011 é o principal relatório anual do ACNUR sobre o cenário mundial de deslocamento forçado. Dados adicionais são publicados nos Anuários Estatísticos e nos relatórios semestrais sobre as solicitações de refúgio nos países industrializados.
Por: ACNUR

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