São entre 800 e 850 os
imigrantes que a polícia francesa começou esta quarta-feira de manhã a expulsar
dos acampamentos onde vivem, em Calais, 650 deles na zona portuária, à espera
de uma oportunidade para chegar aoReino Unido. Depois de alertarem o Governo francês para a situação
sanitária “catastrófica” dos campos, várias Organizações Não Governamentais
(ONG), incluindo a Amnistia Internacional, denunciam que “unir uma iniciativa
terapêutica e uma expulsão é um simulacro de operação médica”.
À
chegada das forças de segurança e dos autocarros, descreve a AFP, a maioria dos imigrantes já
tinha deixado as suas tendas ou saído debaixo das lonas com que se cobrem,
rodeados de activistas que vaiavam os agentes da polícia antimotim. Imigrantes,
activistas e jornalistas agruparam-se à beira da estrada, junto ao campo
conhecido como “dos sírios”, onde vivem ainda muitos afegãos, num total de 400
pessoas.
O número de pessoas a
viver nestes acampamentos improvisados tem crescido muito nos últimos meses e
semanas, daí os alertas sucessivos de ONG e grupos de defesa dos direitos humanos. O objectivo da operação, afirmam as
autoridades, é combater a "epidemia de sarna". “É um carnaval”, diz à
AFP Cécile Bossy, dos Médicos do Mundo. “Eles nem sequer trouxeram os duches
que deveriam estar aqui durante a evacuação”, explica, lamentando uma operação
“nada profissional”.
Para
além do campo “dos sírios”, situado à entrada do porto de Calais, o
desmantelamento desta quarta-feira inclui ainda o acampamento “dos africanos”,
junto a um canal, e um terceiro, situado numa praça das redondezas.
"Isto
é triste, e não muda nada", disse à Reuters Jalal, um iraquiano de 20
anos. "Vou mudar a minha tenda para outro lugar mas daqui não saio. O que
é que eu posso fazer. Vou tentar de novo atravessar. Não cheguei até aqui para
desistir."
O
presidente de Pas-de-Calais, Denis Robin, um dos departamentos em que a cidade
está dividida, assegurou aos jornalistas presentes que o desmantelamento será
“acompanhado de apoio e do realojamento dos imigrantes mais frágeis”.
Mas, na véspera, na
carta enviada ao primeiro-ministro francês, Manuel Valls, várias associações
avisavam que “nenhuma solução alternativa de abrigo” tinha sido proposta,
antecipando várias consequências para esta expulsão: “errância das pessoas na
cidade, controlos policiais diários, violência, desespero e tomada de riscos crescentes para
tentar a passagem em direcção ao Reino Unido”.
Na
última sexta-feira, um imigrante morreu esmagado pelo carro debaixo do qual
tentava esconder-se para tentar chegar ao Reino Unido. Desde o início do ano,
pelo menos seis outros imigrantes morreram a tentar a passagem.
Em 2002, o Governo
francês encerrou o principal centro da Cruz Vermelha perto de Calais; desde então, no seu
lugar, nasceram campos improvisados, sem quaisquer condições com uma população cada vez maior.
Em Pas-de-Calais, no
noroeste da França, a Frente Nacional conseguiu 34% dos votos nas eleições europeias de domingo - um
dos melhores resultados do partido de extrema-direita que há muito defende uma
redução dramática da imigração e se opõe a Schengen, o acordo de abertura
de fronteiras e livre circulação de pessoas dentro da União Europeia.
Mundo p
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