1º de Maio,
feriado, os veículos se revezam no estacionamento da Missão Paz, na Baixada do
Glicério, em São Paulo. Forma-se um entra e sai de pessoas que
chegam para doar roupas e mantimentos. Entre elas, há empresários com oferta de
empregos.
Alguns dizem que
não há solidariedade em São Paulo. Mas o fluxo de pessoas que
acorre ao local, onde centenas de pessoas estão abrigadas, se encarrega de
contradizer a afirmação.
São brasileiros que
vivem ou nasceram em São Paulo, uma metrópole com longa tradição de acolhimento
e que foi construída pela força dos migrantes e imigrantes. Há
ainda, entre os solidários, estrangeiros de vários países que aqui também foram
recebidos de braços abertos.
Desde a sua origem, o episódio acabou assumindo dimensões
que revelaram a precariedade de nossa capacidade de acolher grandes
deslocamentos humanos
Nos finais de semana, a comida é preparada por chefes de cozinha
brasileiros e também por um mosaico gastronômico de outras origens. Há a noite
chilena, a noite peruana, a noite boliviana e a noite italiana, com
comidas típicas de cada país.
Na edificação vizinha à bela igreja
Nossa Senhora da Paz, repleta de pinturas e esculturas, uma grande quantidade
de alimentos se acumula nos corredores. Há também colchões e cobertores.
Eles foram doados pelo município e
pelo governo estadual, mas principalmente por famílias, organizações
não-governamentais e entidades filantrópicas. Tem sido assim desde a notícia de
que centenas de imigrantes haitianos estavam chegando a São Paulo.
Eles desembarcaram em massa nos
terminais rodoviários intermunicipais de São Paulo, depois de percorrer cerca
de três mil quilômetros de estradas e rodovias.
A questão transcende as disputas entre governos, já
que nenhum governo isoladamente pode assumir uma responsabilidade como essa sem
a
Estima-se que,
aproximadamente, 1500 haitianos chegaram do Acre e de Rondônia no espaço de
menos de um mês. Esse número tão expressivo de pessoas pegou a
cidade de surpresa.
Medidas
emergenciais foram adotadas pela prefeitura e pelo governo estadual. O primeiro
atendimento se deu pela Igreja Católica, por meio da Missão Paz, que assumiu um
papel importantíssimo desde o primeiro instante. Aos poucos, umagrande rede de
solidariedade foi se formando e as soluções foram acontecendo.
O certo é que, desde a sua origem, o
episódio acabou assumindo dimensões que revelaram a precariedade de nossa
capacidade de acolher grandes deslocamentos humanos.
A questão transcende as disputas
entre governos, já que nenhum governo isoladamente pode assumir uma
responsabilidade como essa sem a União, que é a quem compete essa tarefa.
Queremos contribuir para que o país tenha condições
efetivas de receber de forma solidária quem vem ao Brasil em busca de um futuro
A solução passa por
aprofundar o diálogo e estabelecer uma real interação entre os três entes
federativos – municípios, governos estaduais e governo federal, com
basenuma efetiva política nacional de imigração.
O objetivo é
acolher de forma organizada os imigrantes, providenciar com celeridade os seus
documentos, verificar suas condições de saúde, enfim, criar condições
para que eles possam se integrar à sociedade brasileira, sem passar pela
angústia da longa espera em abrigos improvisados.
Estamos trabalhando em uma proposta
de política nacional migratória, com o concurso de diversos órgãos da Justiça e
que será entregue ao governo federal, para o início de um diálogo a respeito do
tema.
Com essa proposta,
queremos contribuir para que o país tenha condições efetivas de receber de
forma solidária quem vem ao Brasil em busca de um futuro melhor para as suas
famílias. Enfim, fazer com que essa perspectiva se concretize
de fato.
ELOISA DE SOUSA ARRUDA
52 anos, é secretária da Justiça e da Defesa da
Cidadania e procuradora da Justiça
UOL NOTICIAS
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