Segundo o governo italiano, cerca de 7 mil estrangeiros menores de idade
e desacompanhados são registrados anualmente no país
Crianças pequenas, de até oito anos,
e adolescentes estão entre os milhares de imigrantes que desembarcam sozinhos
anualmente na costa da Itália - criando o temor de que uma geração de jovens sem pais
fique em situação de extrema vulnerabilidade e exposta a explorações.
De acordo com o governo italiano, cerca de 7 mil
estrangeiros menores de idade e desacompanhados são registrados anualmente no
país. Para especialistas o número é muito maior, já que os dados não incluem
adolescentes que não foram cadastrados ao ingressar na Itália.
A maioria chega pela ilha de
Lampedusa, na Sicília, em embarcações improvisadas, depois de terem caminhado a
pé durante meses e atravessado o deserto subsaariano vindos de Eritreia, Egito,
Mali e Costa do Marfim, entre outros países africanos.
Também há crianças provenientes do Afeganistão e da Turquia, que passam
pela Grécia até ingressarem pelos portos de Veneza ou de Ancona, escondidas em
caminhões.
"O desembarque de imigrantes (na
Itália) país acontece há anos e, ainda assim, o país não está preparado para
recebê-los", diz à BBC Brasil a responsável pela Proteção de Menores da
organização Save the Children no país, Carlotta Bellini.
"Não há um plano nacional de
acolhimento e proteção para os menores estrangeiros desacompanhados."
Neste ano, o número de jovens imigrantes aumentou 800% em relação ao
mesmo período de 2013. Segundo a Save the Children, foram 5,6 mil, dos quais
3,8 mil desacompanhados.
"A maioria dos que chegam ao
país sem um familiar ou responsável são meninos com idadeentre 14 e 17 anos,
mas nossos voluntários encontram diariamente crianças de oito, nove anos de idade que viajam
sozinhas", conta Bellini.
Direitos
As leis italianas garantem a estes menores o direito de serem abrigados no país e de terem acesso a saúde e a educação, além de outras formas de tutela.
As leis italianas garantem a estes menores o direito de serem abrigados no país e de terem acesso a saúde e a educação, além de outras formas de tutela.
Mas, para isso, é preciso ter sido identificado, fotografado e ter suas
impressões digitais registradas ao chegar no país.
No entanto, muitos adolescentes, principalmente da Eritreia e do
Afeganistão, evitam esse cadastro pelas autoridades, porque querem continuar a
viagem até países do norte da Europa, como Suíça e Noruega.
Isso ocorre porque a Convenção de
Dublin estabelece que o direito de asilodeve ser garantido
pelo primeiro país onde o imigrante foi registrado, a não ser que o menor de
idade tenha um parente em um outro Estado da Comunidade Europeia.
Neste caso, a lei prevê que o governo italiano entre em contato com as
autoridades do outro país para localizar este familiar e verificar se ele
realmente pode assumir a responsabilidade pelo menor.
"Esse processo quase nunca é realizado. Além disso, muitos destes
jovens não conhecem ninguém nestes países e, ainda assim, pretendem seguir
viagem, especialmente neste período de dificuldade econômica que a Itália atravessa",
explica Bellini.
Traficantes
Roma é um lugar de passagem, onde traficantes de pessoas, na maioria das vezes da mesma nacionalidade dos menores, interceptam estes jovens.
Roma é um lugar de passagem, onde traficantes de pessoas, na maioria das vezes da mesma nacionalidade dos menores, interceptam estes jovens.
Há pontos específicos da cidade onde
essas comunidades se reúnem, como edifícios ocupados e acampamentos próximos
a estações de trem.
"É muito difícil entrar em
contato com esses meninos, porque os adultos exercem um controle enorme sobre
eles, pedindo dinheiro tanto para encontrar um lugar para dormir
quanto para organizar as viagens ao exterior", diz a
representante da Save the Children.
"Geralmente, eles ficam na cidade apenas uma semana antes de partir
novamente. O risco de exploração é evidente."
BBC BRASIL
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