Governador do Acre defende direito de ir e vir de
imigrantes haitianos e questiona polêmica com paulistas: 'É só porque são
negros?'; acordo com o governo federal deve
melhorar fluxo de recém-chegados
O governador do Acre, Tião Viana
(PT), concedeu entrevista dia (12) ao Roda Viva, da TV Cultura,
em que alertou sobre a necessidade de o Brasil se preparar para garantir, de
fato, os direitos garantidos aos refugiados no país, como abrigo, alimentação e
transporte. "O Brasil se colocou nessa posição, de receber bolivianos, peruanos,
pessoas de todo o continente. Nos próximos anos, vão vir mais pessoas. É só ver
como é a movimentação de imigrantes na Europa, por exemplo. Então você precisa
atender a essas pessoas, garantir o que está na Constituição ao estrangeiro que
recebe o visto. Claro que vai criar problemas, mas tem de fazer de forma
conceitual, eficiente, modelo", disse, ao ser questionado sobre a saída de
haitianos do Acre rumo a cidades de Rio Grande do Sul l, Santa Catarina e
São Paulo.
"Já comuniquei diversas vezes ao governo
federal que esse é um problema real e que vai aumentar. Vai se transformar em
um problema de dimensão nacional", afirmou.
Viana comentou ainda os
desentendimentos com o governo estadual de São Paulo, que reagiu de forma
surpresa com a chegada dos haitianos. "No ano passado , oito mil bolivianos
entraram pelo Acre, pegaram vistos e foram para São Paulo. Não houve reclamação
então por que? Criou-se uma crise aqui quando chegaram apenas 138 haitianos. No
Acre, já chegamos a receber 300 em um dia", garantiu. Ao
comentar a chegada de haitianos na capital paulista, a secretária de Justiça e
Defesa da Cidadania do estado de São Paulo, Eloisa de Souza Arruda, chegou a
afirmar que o governo do Acre agia como "coiote" – agente
que facilita a entrada ilegal de imigrantes. "Com que autoridade e por que
motivo eu iria prender as pessoas aqui? Se o cidadão está com visto no país,
tem de valer para ele o que está na Constituição. Oferecemos transporte a uma
minoria que nos solicitou para encontrar a familia", rebateu o
governador.
Os maiores questionamentos do
governador, no entanto, foram dirigidos à reação de grupos que se manifestaram
de forma preconceituosa nas redes sociais em relação aos
imigrantes haitianos. "O que eu chamo de elite paulistana é isso, quem tem
essa mente fechada, preconceituosa, que não compreende que este é um mundo de
solidariedade. Que reagiram nas redes sociais mandando 'levarem embora os
negros'", ressaltou. "Por isso, me sinto no direito de questionar a
polêmica. É só porque são negros?", indagou.
Viana anunciou acordo fechado com os
governos do estado de São Paulo, com a prefeitura e com o governo federal para
a chegada dos haitianos: o apoio principal de entrada no país terá de ser,
obrigatoriamente,Rio Branco , capital do Acre, de forma que os
imigrantes não partam para outros estados antes de ter a documentação
concluída. Para isso, o Brasil tentará garantir que o visto de entrada seja emitido já
em Porto Príncipe, no Haiti. "O Acre é a principal entrada e será lá o
principal ponto de apoio. Fechamos hoje esse acordo com o Mercadante [Aloizio,
ministro da Casa Civil]", contou.
Diego Sartorato, da RBA
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